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quinta-feira, 9 de novembro de 2017

AFINAL... O QUE É A CHINA?

Por Carlos D'Incão

Uma das perguntas mais frequentes que sempre me fazem - como professor e como marxista - é essa: “A China é comunista ou capitalista?”

A minha resposta é simples: A China é comunista. Ou, melhor dizendo, a China é um país socialista dirigido por um Partido Comunista.

A partir daí começo uma explicação mais detalhada para quem se interessa pelo tema...

Segundo a filosofia marxista, o socialismo é um período de transição para o comunismo, um período onde a classe trabalhadora assume o poder político do Estado através de seu partido de vanguarda (o Partido Comunista) e executa ações na direção de superar a sociedade de classes, junto com seus antagonismos e limitações.

O Estado - segundo o marxismo - é um conjunto de instituições burocráticas que serve, hegemonicamente, aos interesses de uma determinada classe social. Quando a classe trabalhadora assume o poder do Estado, ela deve iniciar um processo de superação dessa formação social primitiva, pautada na exploração de uma classe social sobre as demais, cuja sociedade capitalista é sua última expressão.

Esse processo não é nada fácil, pois além de se realizar reformas estruturais no campo econômico, político e administrativo, esse novo Estado precisa implementar uma quantidade enorme de ações que visem a superação de todo um universo que compunha a “antiga sociedade”, como o combate às diferenças de gênero, os preconceitos e aspirações burguesas, as filosofias e crendices do passado, as diversas formas de opressão existentes em âmbitos privados, etc.

Por fim, o Estado socialista ainda viverá por um processo de agressão externa dos demais países capitalistas que visam sua destruição através do boicote, da sabotagem e - se possível - pela intervenção armada. Tudo isso porque a existência de um Estado socialista é, por si só, um péssimo exemplo aos povos oprimidos de todo o planeta.

Após a superação desses desafios, podemos dizer que uma nova sociedade começa a existir. Uma sociedade onde todos os homens e mulheres vivem em paz e são livres para se desenvolverem de acordo com suas aspirações e potencialidades. Aqui já não existirá um Estado a serviço de uma classe, pois não existem mais classes... o que existe é uma sociedade plural e rica, onde ninguém possui o direito de explorar o trabalho alheio.

Nesse momento, o Estado - no conceito marxista - deixa de existir. E a esse novo estágio chamamos de comunismo. Isso não significa, obviamente, que houve a supressão da administração pública e muito menos das numerosas instituições que são fundamentais para a existência de qualquer vida em sociedade.

O Estado deixa de existir no sentido de que já não existe uma sociedade de classes. Diferentemente dos anarquistas, os comunistas não acreditam que a simples existência de instituições constituídas de divisões e hierarquias “corrompem a alma dos Homens”. O comunismo é a superação do capitalismo por apropriação, é uma sociedade simplesmente mais evoluída.

A rigor nenhum país no Mundo é ou já foi comunista. A URSS, por exemplo, viveu ao longo de toda a sua existência sitiada pelos países capitalistas. Sofreu com uma guerra civil, com a invasão de mais de dez países sobre seu território, com uma série de boicotes e sabotagens, com um ataque monstruoso da Alemanha nazista e com uma guerra fria bilionária contra os EUA. Enfim, nunca teve condições de sonhar em evoluir para o comunismo...

E a China também não chegou nesse estágio comunista. É ainda um país socialista.

Mas alguns ainda possuem dúvidas e perguntam: “Como a China pode ser socialista se lá há grandes empresas capitalistas e relações de trabalho também capitalistas? Ainda que isso ocorra apenas em determinadas áreas, isso não retiraria o título ‘socialista’ da China?”

Em hipótese alguma.

Em primeiro lugar, fazer concessões capitalistas dentro do socialismo não é algo inventado pela China. Lênin e o Partido Bolchevique executou esse tipo de ação logo após a Guerra Civil na URSS. Essa experiência ficou conhecida como NEP (Nova Política Econômica) e visou reestruturar a economia da URSS em um período de colapso causado pela guerra.

A NEP acabou ajudando na superação dessa crise, mas acabou sendo substituída pelos planos econômicos planificados conduzidos pelo próprio Estado. Isso ocorreu porque o boicote mundial imposto contra a URSS impedia a entrada de qualquer capital estrangeiro... O Estado socialista soviético teve, enfim, que estruturar novas formas para estabilizar e fazer crescer sua economia...

Aqui podemos chegar a uma conclusão muito importante: para os marxistas, o caminho para o socialismo e para o comunismo não é um trilho, mas uma trilha. Não existe um só caminho e uma só fórmula engessada. Há, na verdade, vários caminhos para se chegar ao socialismo e qualquer teoria revolucionária-mecanicista é necessariamente anti-marxista e fadada ao fracasso, inclusive na análise histórica.

Voltemos agora à China.

A China adotou, a partir da década de 70, reformas econômicas que permitiram a abertura de seu país para investimentos capitalistas. Tudo foi feito de forma organizada e planejada. O que devemos perguntar aqui é: quanto poder ou influência política ganhou o capital estrangeiro na China, desde a sua abertura?

Resposta: Nenhum. Ao longo de todas essas décadas o Estado permaneceu sob o poder da classe trabalhadora chinesa e seu Partido Comunista.

Outra pergunta: Qual foi o impacto social que a entrada desse capital ocasionou?

Resposta: ele financiou a modernização do campo, industrializou gigantescas regiões que são exclusivamente de economia estatal, retirou da miséria mais de 300 milhões de chineses, colaborou para a implementação de um sistema de saúde público universal, ajudou a estruturar, para todos os chineses, um sistema educacional público que vai da educação infantil até a universidade, financiou um sistema habitacional para mais de um bilhão de cidadãos e fez a economia da China crescer 90 vezes até se tornar, no início do século XXI, a segunda maior economia do Mundo.

Bom... Está evidente aqui que o Estado Chinês usou o capital estrangeiro para o desenvolvimento de sua própria força produtiva, isto é, em benefício do seu próprio povo. Antes da Revolução de 1949 a China tinha uma expectativa de vida que não passava dos 60 anos. Hoje é um país onde o povo tem uma das maiores expectativas de vida. E... (pasmem) lá todo mundo se aposenta...

Desde a abertura da economia chinesa, o Mundo capitalista viveu 12 crises e 2 depressões econômicas. A China cresceu ao longo de todo esse período de maneira ininterrupta, sem nunca registrar um único período de recessão. Sua média anual de crescimento é de quase 10%...

Está aqui mais uma prova, nesse caso científica, de que ali não existe capitalismo. O que existe na China é uma economia socialista com concessões ao capital externo.

E não se trata de qualquer capital... É um capital produtivo, que gera emprego, renda, sem especulação e que é regrado por leis e contratos socialistas que o obriga a se tornar estatal após 20 anos, ficando a China inclusive com o direito de uso intelectual de suas invenções.

Por favor... que alguém me aponte no Mundo onde existe um país capitalista com todas essas características até aqui elencadas...

Mas... Alguém poderia perguntar: “Se a China é socialista, por que ela não sofre ataques como a URSS e Cuba? A China é inclusive a maior parceira econômica dos EUA...”

Vejamos. “A China não sofre ataques”... Sim... É verdade... Porém... Talvez isso seja porque ela possui armas nucleares, o maior exército do mundo (2,3 milhões de soldados) e gaste nominalmente 400 bilhões de dólares por ano em armas (o equivalente a quase 50 bilhões de dólares no mercado internacional). Se a China fosse “amiguinha” dos países capitalistas poderia ser tão desarmada como o Japão... Mas a China socialista não é, nunca foi e nunca será amiga do capital.

Agora, no que diz respeito à parceria econômica com os EUA, é preciso salientar que hoje a maior dívida pública dos EUA é com a China e ela fornece aos EUA a maior parte de sua tecnologia de ponta. Em suma, o que existe aqui é a dependência dos EUA em relação à China e não o contrário... Aos poucos a China está engolindo - a olhos nus - a suposta maior potência econômica do Mundo...

Por fim, alguém poderia dizer: “Mas me disseram que o socialismo acabou e na Rede Globo eu assisti que a China na verdade é um país capitalista com um partido comunista de mentirinha...”

Pois é... A questão é: quem é ingênuo a ponto de achar que os meios de comunicação controlados pela burguesia iriam falar outra coisa? Claro que vão dizer que o socialismo fracassou! E se a segunda maior economia do mundo é socialista... Claro que vão dizer que essa economia não é socialista!!! Vão dizer que é capitalista!!! Isso tem um nome: propaganda ideológica.

Afinal, é importante que nos países capitalistas os trabalhadores acreditem que não existe nenhum outro modelo econômico que funcione, que não o capitalista.

É importante que os trabalhadores acreditem que o socialismo não existe mais... E como pode ter alguém que possa achar que a China é pelo menos “em parte socialista”, vão dizer que o socialismo existe lá sob formas desumanas... através da censura, ditadura, opressão, etc... e o lado bom da China - que é a prosperidade econômica - surpresa! é fruto do capitalismo!

Porém, nada disso se sustenta perante os fatos... A China é um país socialista ponto final. E o Mundo capitalista está se curvando, cada dia que passa, um pouquinho mais ao seu poder econômico.

O último Congresso do Partido Comunista Chinês estabeleceu que a partir de 2025 a China não aceitará mais nenhuma forma de capital financeiro e até 2045 pretende ter uma economia 100% estabelecida em riquezas reais. Bem capitalista isso né...?

Mais uma vez, é preciso frisar que existem vários caminhos para o socialismo e para o comunismo. A China está simplesmente trilhando o seu próprio caminho.... Negar o carácter socialista da China só pode ser oportunismo ou ignorância...

O problema é que não é raro ouvir gente da esquerda brasileira falando que a China é capitalista... E sem perceber fazem uma enorme propaganda para o capitalismo... como se esse sistema fosse capaz de atingir as realizações que o sistema socialista chinês alcança todo ano... além disso acabam por desinformar seus interlocutores...

Já é chegada a hora de abrirmos um pouco mais os olhos e vermos o Mundo como ele é de fato: é um Mundo bem diferente daquele que está na televisão... É um Mundo onde os países capitalistas estão agonizando em uma crise infindável enquanto o país mais populoso do Mundo, o “planeta China” cresce economicamente cada vez mais, a cada ano.

Esse Mundo real, que não é mostrado pelos inimigos dos trabalhadores, nos aponta que o socialismo é o futuro de toda a humanidade. E esse é um futuro de prosperidade, paz, liberdade e sabedoria.

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