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sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Jean Wyllys quer garantia de direitos a prostitutas antes da Copa e Olimpíadas



Jean Wyllys, um dos poucos representantes do público LGBT em Brasília, é autor da Lei Gabriela, que regulamenta a prostituição (Foto: Divulgação)

Deputado teme pelo aumento da exploração sexual no país por turistas. Para os que questionam sua atuação, diz que a defesa das minorias é um bom motivo para colocar seu mandato em risco



São Paulo – O deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ), autor do Projeto de Lei 4.211, de 2012, que regulamenta a atividade dos profissionais do sexo, colocou entre as prioridades de seu mandato conseguir a aprovação de sua proposta antes da realização da Copa do Mundo de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016 devido à expectativa de milhares de turistas que haverá no país. O PL, batizado de Lei Gabriela em homenagem à escritora, presidente da ONG Davida e socióloga formada pela USP Gabriela Leite, que virou prostituta aos 22 anos, tem como objetivo garantir que o exercício da atividade do profissional do sexo seja voluntário e remunerado. A ideia também é garantir direitos trabalhistas a esse grupo e deixar clara a distinção entre prostituição e exploração sexual para finalidade legal, conceitos hoje confundidos pelo Código Penal.

A proposta defende que as pessoas tenham o livre direito de se prostituir, mas que a lei tipifique quando houver violação de seus direitos para finalidade sexual. “Exploração sexual é um crime, não só quando criança e adolescente são explorados, mas também quando os adultos o são. Se o profissional do sexo trabalha e fica com menos de 50% do que ganha, isso é exploração sexual, e deve ser combatido”, detalha. O PL aguarda designação de relator na Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da Câmara.

Jean Wyllys, também autor da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do casamento civil igualitário, que reconhece as uniões estáveis homoafetivas, compõe um pequeno grupo de parlamentares que defendem os direitos do público LGBT. A causa conta com alguns outros, tem respeito de poucos e a descrença de muitos que julgam que ele coloca em risco sua possibilidade de reeleição ao tratar de temas tão polêmicos, como também a defesa da proposta da Lei da Identidade de Gênero, apresentada pela deputada Erika Kokai (PT-DF) por meio do PL 4.241/2012, que dá o direito a uma pessoa de mudar o sexo, o nome e a imagem de registros quando o sexo psicológico dela divergir do sexo físico, caso de travestis, transexuais e intersexuais. 

Ele garante que encontrou um motivo para colocar em risco o seu próprio mandato, que é defender as minorias, os homossexuais, as prostitutas, as crianças e adolescentes infratores e arremata: "No Congresso Nacional, eles não fazem isso porque estão pensando nos seus interesses, na sua reeleição". 

Leia íntegra da entrevista.

O sr. pode detalhar o projeto de lei que prevê a regulamentação da prostituição?

Sim, é um projeto de lei que regulamenta o trabalho das profissionais do sexo, garantindo a elas direitos trabalhistas que hoje lhes são negados. O que há de mais importante nessa lei é uma distinção que faço entre prostituição e exploração sexual. Exploração sexual é um crime, não só quando criança e adolescente são explorados, mas quando adultos também o são. Se a profissional do sexo trabalha e fica com menos de 50% do que ganha, isso é exploração sexual, é algo que tem de ser combatido. Quando a pessoa é forçada a fazer algo que ela não quer, isso é exploração. A prostituição é escolha. O projeto distingue uma coisa da outra no sentido de enfrentar a exploração sexual. Nossa sociedade fica negando que a prostituição existe. Não quer reconhecer os direitos das prostitutas por uma questão moralista e hipócrita já que essa mesma sociedade é a que recorre aos serviços delas. Essa sociedade que nega permite que existam casas que funcionam no vácuo da ilegalidade onde crianças, meninas são exploradas, sobretudo as vindas do Norte e Nordeste.

Isso já pode ser encarado como tráfico de pessoas...

Exatamente, e distinguir o tráfico de pessoas do direito de ir e vir é uma forma de enfrentar a exploração sexual de crianças, adolescentes e adultos, enfrentar o turismo predatório sexual. É preciso regulamentar o trabalho das profissionais do sexo, como a Alemanha fez às vésperas da Copa do Mundo, em 2006. Meu projeto considera o fato de que o Brasil vai sediar dois grandes eventos que vão atrair milhões de turistas. Vai ser uma loucura e nós temos de proteger nossas crianças e adolescentes. Temos de levar a Vigilância Sanitária às casas de prostituição, temos de garantir às prostitutas campanhas de prevenção das DSTs (Doenças Sexualmente Transmissíveis), acesso a camisinha, a serviços de saúde.

Que direitos o sr. propõe?

A gente precisa reconhecer o trabalho das prostitutas e protegê-las, dar os direitos trabalhistas, aposentadoria, tudo, tratá-las com a dignidade que merecem porque o trabalho delas não é de agora. Os moralistas ficam me criticando: 'Ah, você, em vez de combater a prostituição...' Eu digo a eles: a prostituição é uma escolha. As pessoas têm o direito de prestar esse serviço, e ela tem de ser respeitada como prostituta, dentro da lei. Outra coisa, uma pessoa adulta, capaz, goza de liberdades individuais e essas liberdades têm de ser protegidas. Se ela escolhe fazer isso, que faça dentro da legalidade e com todas as garantias. Se a gente legaliza dessa maneira, a gente impede que crianças e adolescentes sejam exploradas porque não existe prostituição infantil. É um erro gravíssimo da mídia recorrer a esse termo, isso não existe, o que existe em relação a crianças e adolescentes é a exploração sexual. Prostituição é feita por uma pessoa adulta e capaz e consciente, que decide fazer aquilo.

Em que medida a prostituição pode ser confundida com tráfico de pessoas?

É importante distinguir tráfico de pessoas do direito de ir e vir. Muitas mulheres estão sendo impedidas de tomar sua decisão, de poderem se prostituir onde quer que escolham. Mas o tráfico humano é definido quando a pessoa é submetida a uma situação que não escolheu, quando é enganada, levada de seu lugar sem permissão. Quando ela vai de espontânea vontade para ser prostituída ela deve ser respeitada. Se ela cair na malha do tráfico, apesar de ter saído pela livre escolha, tem de ser protegida pelo governo. As representações diplomáticas têm de estar atuantes. Prostituição é acordo formal entre duas pessoas, até mesmo quando há agenciadores, desde que a porcentagem do agenciador não seja superior ao valor que vai ficar com a prostituta. Com os grandes eventos será grave o que vai acontecer. É preciso que a lei da regulamentação da profissão seja aprovada para proteger as profissionais do sexo e as crianças e adolescentes da exploração infantil.

O ambiente do Legislativo não parece propício a essas mudanças. Quais outros parlamentares estão nessa causa?

Tem a Manuela D'Ávila (PCdoB-RS), a Erika Kokai (PT-DF), o Doutor Rosinha (PT-PR), Artur Bruno (PT-CE), Teresa Surita (PMDB-RR), Carmen Zanotto (PPS-SC), Rosane Ferreira (PV-PR). Tem algumas pessoas do PT. Embora alguns deputados não sejam a favor nem contra podemos contar com eles. Há outros como Paulo Teixeira, que, apesar de este não ser assunto da vida dele, se ele for conclamado a votar, ele vota com a gente. 

E como o sr. avalia esse apoio tão restrito?

Nós temos aliados. Pena que as pessoas se sintam muito amedrontadas. Os deputados não colocam o poder em risco. Tem um provérbio árabe que diz que se você não encontra um motivo pra colocar o poder em risco você não é uma pessoa que vale a pena. |O poder tem de ser posto em risco. É preciso popularidade para se eleger, mas é preciso governar com certa impopularidade, porque você não pode governar agradando a todo mundo. Você vai tomar uma medida ou outra que vai desagradar de fato muita gente, e isso é importante em nome da justiça. Quando você faz isso em nome da justiça, pode até colocar o poder em risco, pode colocar o cargo em risco, mas você não está colocando sua conduta em risco, seu senso de justiça.

Qual sua avaliação do governo Dilma Rousseff nesta questão?

Toda minha crítica ao PT vem daí, porque o governo Dilma (Rousseff) não quer comprometer nada. O governo Lula (Luiz Inácio Lula da Silva) já era assim. Ela não quer comprometer a estabilidade da base, o projeto de longo prazo do PT no poder e com isso não faz os enfrentamentos necessários, não elabora as políticas necessárias, não destina os recursos para onde deve destinar. Quando a gente chega ao poder não se pode deixar picar pela mosca azul e achar que a gente vai permanecer ali pra sempre. Muita gente fala pra mim: 'Você é suicida, kamikaze, tá fazendo um mandato que não vai lhe permitir a reeleição'. E eu digo que vivi sem ser deputado até agora. O importante é que coloquei o mandato a serviço de uma causa justa, o bem de minorias. Não importa se as pessoas não vão votar em mim porque eu defendi as prostitutas, o direito da mulher, as crianças e adolescentes infratores, os homossexuais, não me interessa. O que importa é meu compromisso, minha consciência. Eu encontrei um motivo para colocar em risco o meu próprio mandato, que é defender as minorias. No Congresso Nacional, eles não fazem isso porque estão pensando nos seus interesses, na sua reeleição.

De que maneira o Estatuto da Diversidade Sexual vai colaborar para a causa e qual a expectativa de tramitação desse projeto?

O Estatuto da Diversidade Sexual precisa de 1,4 milhão de assinaturas para ser apresentado como um projeto de iniciativa popular. É uma pena que a presidência da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) não tenha acatado como uma proposição da entidade, mas a Maria Berenice Dias (advogada especialista em direito homoafetivo, presidente da Comissão de Diversidade Sexual da OAB federal que está à frente da proposta) encontrou forma interessante de tornar a proposta uma lei de iniciativa popular. Com o estatuto, ela criou um marco legal de proposições legislativas favoráveis ao público LGBT. Reuniu tudo neste marco legal chamado estatuto. Eu assinei, apoio publicamente, e agora vamos ver se haverá assinaturas suficientes para ser apresentado.

Há também a PEC do casamento civil igualitário de sua autoria...

O estatuto contemplava esta PEC, que visa a garantir no âmbito da Constituição o reconhecimento das uniões estáveis homoafetivas e todos os efeitos que a união deve ter, inclusive a sua conversão em casamento, e isso se traduz na luta concreta pelo casamento igualitário. A Berenice tirou o conteúdo desta PEC do estatuto porque a batalha em torno da PEC, feita especialmente com a visibilidade dos artistas, pode auxiliar o estatuto. Se a PEC passar, a chance do estatuto passar é maior. A PEC vai tramitar sozinha, mas vamos lutar também pelo estatuto

A Maria Berenice Dias tem a meta de conseguir as assinaturas em um ano, o sr acha possível?

Acho que sim, se colocarmos a questão de forma suprapartidária. O movimento LGBT não consegue ampliar a sua base social, não consegue ganhar capilaridade, não consegue seduzir a grande comunidade LGBT. O movimento não consegue isso porque está atravessado por questões partidárias. Deveria agir de maneira suprapartidária, mais solidária, buscar aliados em todos os partidos, seja no espectro direito ou esquerdo da política, para a gente conseguir chegar à grande comunidade LGBT, que se encontra dispersa, despolitizada, alheia à política. 

Como o sr. analisa a cruel marginalidade vivida por travestis e transexuais?

Da sopa de letra que compõe a comunidade LGBT, é o segmento mais vulnerável, cujos direitos são mais violados. É o grupo mais empurrado para a margem e, ao estar na margem social, é o grupo que mais tem conexões com o crime, seja como vítima ou como agente. Me sensibiliza muito. As travestis não podem esconder o signo do estigma. Nós, os homossexuais com identidade de gênero masculina assim como os homossexuais de identidade feminina, podemos esconder a homossexualidade. A gente pode negar. Aliás,a possibilidade de esconder isso é que fragmenta nossa comunidade, é que mina nossas forças. A sociedade nos empurra a negar, a não dizer, a ir pro armário. As travestis não têm como esconder isso porque não se trata de orientação sexual, mas sim de identidade de gênero, é uma metamorfose do corpo. Isso não pode ser discutido. Tem exclusão na escola, bullying, exclusão na família, no trabalho. O que resta a elas é a própria comunidade, e a comunidade não tem muita opção a não ser colocá-las nos moldes de vida da comunidade e necessariamente elas acabam indo para a prostituição porque não têm outro meio de sobrevivência. Não podem trabalhar como domésticas como vendedoras de lojas ou esteticistas. Existem poucas que trabalham em salões de beleza, mas muitas vezes nos próprios salões os clientes reclamam. É um grupo muito vulnerável, a despeito da quantidade, não importa a quantidade de travestis, o importante é que a gente se sensibilize em relação ao drama que elas vivem.

O que já foi pensado em termos de proteção a esse grupo no âmbito legislativo?

No que diz respeito à questão legislativa, nas funções de parlamentar há muito pouco a se fazer. Estamos na batalha pela Lei de Identidade de Gênero que vai garantir às travestis e transexuais e aos travestis e transexuais, trans homens e trans mulheres, o registro do nome social com a identidade de gênero correta para que não haja constrangimento em locais públicos, como aeroportos, e em concursos públicos. A Lei de Identidade de Gênero também quer garantir a cirurgia de transgenitalização sem necessariamente patologizar, tratar a transexual como uma pessoa doente e admitir cirurgia apenas nesse caso, que precise de um psiquiatra para diagnosticar. A lei é moderna, inspirada na lei argentina, e prevê cuidados especiais. Alguns argumentam, travesti não é doente, o Estado não tem se ocupar disso. Mas como não tem de se ocupar? A Constituição garante a todos nós saúde integral, bem-estar. Então, assim como a gravidez não é doença, mas exige cuidados especiais, também a transexualidade exige cuidados. E essa lei prevê esses cuidados. Prevê que os hospitais de referência tenham equipe multidisciplinar, treinada para atender às pessoas trans. A essa lei, de autoria da deputada Erika Kokai, vai estar apensado projeto da deputada Cida Diogo que vamos desarquivar, que é o projeto específico para o nome social.

Que outras iniciativas podem defender os direitos desse grupo?

Também estou fazendo a revisão da Lei de Licitação, a Lei 8666, para fazer com que empresas públicas, Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil, Petrobras, só contratem empresas prestadoras de serviços que tenham programas de equidade de gênero, que promovam igualdade racial, que tenham inclusão para negros e transexuais e travestis. Então, é a maneira que nós, parlamentares da frente parlamentar (Frente Parlamentar Mista pela Cidadania LGBT), encontramos de atuar em favor desta comunidade, que merece e tem nossa atenção. Mas é um grupo que precisa da atenção dos prefeitos, governadores. Essa é uma questão de política pública, das prefeituras, dos estados e do governo federal, por meio da Secretaria de Proteção à Mulher e a de Direitos Humanos. É menos de lei e mais de política pública que eles precisam. Envolve até a questão orçamentária. Precisa haver programas de inclusão que as impeçam de cair na prostituição. E que esta seja uma opção, uma alternativa para aquela que quer ser, mas que essa não seja uma condição.

Por: Evelyn Pedrozo, da Rede Brasil Atual

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Mauro Beting lê carta emocionante de adeus ao pai, o jornalista e palmeirense Joelmir Beting



'Explicar quem é Joelmir Beting é desnecessário. Explicar o que é meu pai não estar mais neste mundo é impossível'



Ao tomar conhecimento do falecimento de Joelmir, aos 75 anos, vítima de um acidente vascular encefálico que acabou o colocando em um coma irreversível, Mauro Beting publicou uma carta.
Palmeirense de coração como o pai, Mauro utilizou a paixão de Joelmir pelo clube para expressar seu sentimento:

“Como ele um dia disse no anúncio da nova arena, em 2007, como esteve escrito no vestiário do Palmeiras no Palestra, de 2008 até a reforma: “Explicar a emoção de ser palmeirense, a um palmeirense, é totalmente desnecessário. E a quem não é palmeirense… É simplesmente impossível!”.

“Explicar quem é Joelmir Beting é desnecessário. Explicar o que é meu pai não estar mais neste mundo é impossível.”


Leia a carta na íntegra:

"Nunca falei com meu pai a respeito depois que o Palmeiras foi rebaixado. Sei que ele soube. Ou imaginou. Só sei que no primeiro domingo depois da queda para a Segunda pela segunda vez, seu Joelmir teve um derrame antes de ver a primeira partida depois do rebaixamento. Ele passou pela tomografia logo pela manhã. Em minutos o médico (corintianíssimo) disse que outro gigante não conseguiria se reerguer mais.

No dia do retorno à segundona dos infernos meu pai começou a ir para o céu. As chances de recuperação de uma doença autoimune já não eram boas. Ficaram quase impossíveis com o que sangrou o cérebro privilegiado. Irrigado e arejado como poucos dos muitos que o conhecem e o reconhecem. Amado e querido pelos não poucos que tiveram o privilégio de conhecê-lo.

Meu pai.

O melhor pai que um jornalista pode ser. O melhor jornalista que um filho pode ter como pai.

Preciso dizer algo mais para o melhor Babbo do mundo que virou o melhor Nonno do Universo?

Preciso. Mas não sei. Normalmente ele sabia tudo. Quando não sabia, inventava com a mesma categoria com que falava sobre o que sabia. Todo pai é assim para o filho. Mas um filho de jornalista que também é jornalista fica ainda mais órfão. Nunca vi meu pai como um super-herói. Apenas como um humano super. Só que jamais imaginei que ele pudesse ficar doente e fraco de carne. Nunca admiti que nós pudéssemos perder quem só nos fez ganhar.

Por isso sempre acreditei no meu pai e no time dele. O nosso.

Ele me ensinou tantas coisas que eu não sei. Uma que ficou é que nem todas as palavras precisam ser ditas. Devem ser apenas pensadas. Quem fala o que pensa não pensa no que fala. Quem sente o que fala nem precisa dizer.

Mas hoje eu preciso agradecer pelos meus 46 anos. Pelos 49 de amor da minha mãe. Pelos 75 dele.

Mais que tudo, pelo carinho das pessoas que o conhecem – logo gostam dele. Especialmente pelas pessoas que não o conhecem – e algumas choraram como se fosse um velho amigo.

Uma coisa aprendi com você, Babbo. Antes de ser um grande jornalista é preciso ser uma grande pessoa. Com ele aprendi que não tenho de trabalhar para ser um grande profissional. Preciso tentar ser uma grande pessoa. Como você fez as duas coisas.

Desculpem, mas não vou chorar. Choro por tudo. Por isso choro sempre pela família, Palmeiras, amores, dores, cores, canções.

Mas não vou chorar por algo mais que tudo que existe no meu mundo que são meus pais. Meus pais (que também deveriam se chamar minhas mães) sempre foram presentes. Um regalo divino. Meu pai nunca me faltou mesmo ausente de tanto que trabalhou. Ele nunca me falta por que teve a mulher maravilhosa que é dona Lucila. Segundo seu Joelmir, a segunda maior coisa da vida dele. Que a primeira sempre foi o amor que ele sentiu por ela desde 1960. Quando se conheceram na rádio 9 de julho. Onde fizeram família. Meu irmão e eu. Filhos do rádio.

Filhos de um jornalista econômico pioneiro e respeitado, de um âncora de TV reconhecido e inovador, de um mestre de comunicação brilhante e trabalhador.

Meu pai.

Eu sempre soube que jamais seria no ofício algo nem perto do que ele foi. Por que raros foram tão bons na área dele. Raríssimos foram tão bons pais como ele. Rarésimos foram tão bons maridos. Rarissíssimos foram tão boas pessoas. E não existe outra palavra inventada para falar quão raro e caro palmeirense ele foi.

(Mas sempre é bom lembrar que palmeirenses não se comparam. Não são mais. Não são menos. São Palmeiras. Basta).

Como ele um dia disse no anúncio da nova arena, em 2007, como esteve escrito no vestiário do Palmeiras no Palestra, de 2008 até a reforma: “Explicar a emoção de ser palmeirense, a um palmeirense, é totalmente desnecessário. E a quem não é palmeirense… É simplesmente impossível!”.

A ausência dele não tem nome. Mas a presença dele ilumina de um modo que eu jamais vou saber descrever. Como jamais saberei escrever o que ele é. Como todo pai de toda pessoa. Mais ainda quando é um pai que sabia em 40 segundos descrever o que era o Brasil. E quase sempre conseguia. Não vou ficar mais 40 frases tentando descrever o que pude sentir por 46 anos.

Explicar quem é Joelmir Beting é desnecessário. Explicar o que é meu pai não estar mais neste mundo é impossível.

Nonno, obrigado por amar a Nonna. Nonna, obrigado por amar o Nonno.

Os filhos desse amor jamais serão órfãos.

Como oficialmente eu soube agora, 1h15 desta quinta-feira, 29 de novembro. 32 anos e uma semana depois da morte de meu Nonno, pai da minha guerreira Lucila.

Joelmir José Beting foi encontrar o Pai da Bola Waldemar Fiume nesta quinta-feira, 0h55."

O adeus do palmeirense Joelmir Beting

Aos 75 anos, faleceu na madrugada desta quinta-feira o criador do 'Gol de placa'

O céu pode até estar azul, o sol pode até estar brilhando, mas para nós do Esporte Interativo o dia será um pouco cinza. Um dos nossos está triste, e a família também. Faleceu nesta madrugada o jornalista Joelmir Beting, pai do nosso querido Mauro Beting. Como o pai, um exemplo de profissional além de grande amigo de todos.

“O melhor pai que um jornalista pode ser. O melhor jornalista que um filho pode ter como pai”. Assim, Mauro Beting definiu o pai, Joelmir Beting, minutos depois de anunciar a morte dele, nesta madrugada. O jornalista de 75 anos, 55 de carreira, morreu nesta madrugada, em São Paulo, vítima de um Acidente Vascular Hemorrágico. Joelmir trabalhou em várias emissoras de TV e de Rádio, além de ter sido colunista de alguns jornais.

Palmeirense fanático, Joelmir não soube oficialmente do segundo rebaixamento do clube. O filho, Mauro Beting – que é comentarista e apresentador de alguns veículos de comunicação, entre eles o Esporte Interativo -, diz que o pai intuiu a queda. Mauro prestou homenagem ao “babbo” (como ele e o irmão Gianfranco o chamavam) logo após o anúncio do falecimento, ao ler um texto na Rádio Bandeirantes. “No dia do retorno à segundona dos infernos meu pai começou a ir para o céu. As chances de recuperação de uma doença autoimune já não eram boas. Ficaram quase impossíveis com o que sangrou o cérebro privilegiado. Irrigado e arejado como poucos dos muitos que o conhecem e o reconhecem”.

"Explicar quem é Joelmir Beting é desnecessário. Explicar o que é meu pai não estar mais neste mundo é impossível".

OUÇA NA ÍNTEGRA: A homenagem de Mauro Beting a Joelmir Beting durante programa da Rádio Bandeirantes.



Fonte: http://br.esporteinterativo.yahoo.com

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

O documentário que faltava por aqui


De Maurice Capovilla "O último dia de Lampião" 1975

Sinopse:
"Depoimentos documentais somam-se à reconstituição das últimas 24 horas de Virgulino Ferreira, o Lampião.

Com narração de Sérgio Chapelin registram-se imagens e vozes de soldados da Volante e, também, de cangaceiros sobreviventes da emboscada (ocorrida em 28 de julho de 1938), na qual morreram Lampião, Maria Bonita e nove cangaceiros.

O cineasta pergunta a todos eles: 'onde você estava aquele dia?'. As filmagens contaram o episódio narrado, tanto sob o ponto de vista dos cangaceiros, quanto do ponto de vista dos 'macacos' (Soldados da Volante).

Começa em Piranhas, Alagoas, onde a tropa iniciou sua movimentação, até montar a emboscada na grota de Angico. Os sobreviventes foram levados aos locais onde tudo se passou. Atores e populares (alguns parentes dos envolvidos no conflito) atuaram.

A Polícia Militar de Alagoas forneceu o armamento e soldados da PM." , sinopse extraída do livro 'Cangaço, o Nordestern no Cinema Brasileiro', org.: Maria do Rosário Caetano, Avathar Soluções Gráficas, DF, 2005.)

Observações do Diretor

O tema do cangaço chegou à Blimp Film por acaso. *Um dentista, pesquisador do cangaço, era conhecido do diretor de produção da Blimp. Por isso, ele nos deixou, para nossa avaliação, enorme texto com dados importantes dos diversos bandos de cangaceiros, especialmente do bando de Lampião. O Guga (Carlos Augusto de Oliveira) me deu o material para eu dar uma olhada. Eram informações gerais e dispersas, abarcando um amplo universo dos conflitos do cangaço.

Achei interessante, pois a pesquisa citava nomes de cangaceiros e suas localizações no espaço geográfico do Nordeste. Entre eles, muitos se encontravam no coito de Angico por ocasião da morte de Lampião.

Propus então realizar um programa que centrasse o foco nos últimos dias de Lampião, isto é, as últimas 24 horas do bando. O Guga topou na hora e o Boni (José Bonifácio Oliveira Sobrinho, irmão dele e executivo da Globo) analisou e aprovou o projeto. Necessitávamos da aprovação dele, uma vez que o orçamento para esse filme extrapolava custos habituais.

'O último dia de Lampião' foi realizado em duas etapas. Na primeira viajei com a equipe precursora e subi de Salvador, passando por Alagoas e Sergipe, Até chegar ao Recife. Fui encontrando e captando depoimento dos cangaceiros. Em Alagoas encontrei dois soldados da volante, Abdon ePanta - este foi o militar que matou Maria Bonita.




Soldados Abdon e José Panta de Godoy


Em Piranhas, consegui o depoimento dos traidores, Joca Bernardes e Durval, o irmão de Pedro de Cândido, os dois coiteiros de Lampião, que nunca tinham confessado a traição.


João de Almeida Santos, o Joca Bernardes.

Voltei a São Paulo com o material, montei e segui para a segunda etapa, que consistia em reconstituir, a partir das entrevistas feitas, os fatos que culminaram com a morte de Lampião. De grande ajuda foi Cila, mulher de José Sereno - que estava hospitalizada em São Paulo. O depoimento dela tem valor de confirmar informações contraditórias. Cila era a melhor amiga de Maria Bonita, era também a figurinista do bando e foi a nossa também. Os chapéus foram confeccionados por Dadá, mulher de , na Bahia.




Enfim, tive sorte de encontrar testemunhas oculares da história, que deram a credibilidade necessária à reconstituição dos fatos (...)'

- Trecho de depoimento de Maurice Capovilla, extraído do livro 'Cangaço, o Nordestern no Cinema Brasileiro', org.: Maria do Rosário Caetano, Avathar Soluções Gráficas, DF, 2005."

"Depoimentos dos remanescentes do grupo residentes na capital paulistana que se achavam presentes no dia da morte de Lampião e daquele que deu o tiro inicial, Abdon, nunca antes entrevistado".

Vamos ao deleite...



Fonte: Canal do excelente DocsPrimus no You Tube. Texto: www.cinemateca.gov.br
Fotos: DocsPrimus e Prints do vídeo.

domingo, 25 de novembro de 2012

DANUZA LAMENTA QUE TODOS POSSAM IR A PARIS OU NY


Ser rico perdeu a graça, segundo a colunista; seu artigo deste domingo é um retrato da elite brasileira, que busca o prazer aristocrático e não se conforma com a ascensão social do resto; "Ir a Nova York já teve sua graça, mas, agora, o porteiro do prédio também pode ir, então qual a graça?", indaga



247 - Em Tóquio, presidentes de empresas varrem a calçada das ruas onde moram. Em Manhattan, banqueiros usam o metrô para ir ao trabalho. Em Berlim, cada vez mais, os ricos rejeitam ser proprietários. Em Paris, o que distingue a elite é o conhecimento. No Brasil, no entanto, aqueles que estão no topo da pirâmide precisam ser diferentes, especiais, exclusivos, aristocráticos. Prova disso é o artigo de Danuza Leão, publicado neste domingo, na Folha de S. Paulo. Ela afirma que ser rico perdeu a graça, porque hoje, numa ida a Paris ou Nova York, periga-se dar de cara com o porteiro do seu prédio. Resumindo, o que a elite brasileira mais deseja é a desigualdade ou a volta aos tempos de casa grande e senzala. Leia: 

Ser especial

Danuza Leão

Afinal, qual a graça de ter muito dinheiro? Quanto mais coisas se tem, mais se quer ter e os desejos e anseios vão mudando --e aumentando-- a cada dia, só que a coisa não é assim tão simples. Bom mesmo é possuir coisas exclusivas, a que só nós temos acesso; se todo mundo fosse rico, a vida seria um tédio.

Um homem que começa do nada, por exemplo: no início de sua vida, ter um apartamento era uma ambição quase impossível de alcançar; mas, agora, cheio de sucesso, se você falar que está pensando em comprar um com menos de 800 metros quadrados, piscina, sauna e churrasqueira, ele vai olhar para você com o maior desprezo --isso se olhar.

Vai longe o tempo do primeiro fusquinha comprado com o maior sacrifício; agora, se não for um importado, com televisão, bar e computador, não interessa --e só tem graça se for o único a ter o brinquedinho. Somos todos verdadeiras crianças, e só queremos ser únicos, especiais e raros; simples, não?

Queremos todas as brincadeirinhas eletrônicas, que acabaram de ser lançadas, mas qual a graça, se até o vizinho tiver as mesmas? O problema é: como se diferenciar do resto da humanidade, se todos têm acesso a absolutamente tudo, pagando módicas prestações mensais?

As viagens, por exemplo: já se foi o tempo em que ir a Paris era só para alguns; hoje, ninguém quer ouvir o relato da subida do Nilo, do passeio de balão pelo deserto ou ver as fotos da viagem --e se for o vídeo, pior ainda-- de quem foi às muralhas da China. Ir a Nova York ver os musicais da Broadway já teve sua graça, mas, por R$ 50 mensais, o porteiro do prédio também pode ir, então qual a graça? Enfrentar 12 horas de avião para chegar a Paris, entrar nas perfumarias que dão 40% de desconto, com vendedoras falando português e onde você só encontra brasileiros --não é melhor ficar por aqui mesmo?

Viajar ficou banal e a pergunta é: o que se pode fazer de diferente, original, para deslumbrar os amigos e mostrar que se é um ser raro, com imaginação e criatividade, diferente do resto da humanidade?

Até outro dia causava um certo frisson ter um jatinho para viagens mais longas e um helicóptero para chegar a Petrópolis ou Angra sem passar pelo desconforto dos congestionamentos.

Mas hoje esses pequenos objetos de desejo ficaram tão banais que só podem deslumbrar uma menina modesta que ainda não passou dos 18. A não ser, talvez, que o interior do jatinho seja feito de couro de cobra --talvez.

É claro que ficar rico deve ser muito bom, mas algumas coisas os ricos perdem quando chegam lá. Maracanã nunca mais, Carnaval também não, e ver os fogos do dia 31 na praia de Copacabana, nem pensar. Se todos têm acesso a esses prazeres, eles passam a não ter mais graça.

Seguindo esse raciocínio, subir o Champs Elysées numa linda tarde de primavera, junto a milhares de turistas tendo as mesmas visões de beleza, é de uma banalidade insuportável. Não importa estar no lugar mais bonito do mundo; o que interessa é saber que só poucos, como você, podem desfrutar do mesmo encantamento.

Quando se chega a esse ponto, a vida fica difícil. Ir para o Caribe não dá, porque as praias estão infestadas de turistas --assim como Nova York, Londres e Paris; e como no Nordeste só tem alemães e japoneses, chega-se à conclusão de que o mundo está ficando pequeno.

Para os muito exigentes, passa a existir uma única solução: trancar-se em casa com um livro, uma enorme caixa de chocolates --sem medo de engordar--, o ar-condicionado ligado, a televisão desligada, e sozinha.

E quer saber? Se o livro for mesmo bom, não tem nada melhor na vida.
Quase nada, digamos.

Reduzimos a desigualdade, aumentamos a renda dos mais pobres e a economia cresceu. Bolsa Família atende 17 milhões de brasileiros carentes. São 20 bilhões de reais por ano, apenas 0,46% do PIB


O jornalista recebe a ministra Tereza Campello, do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, para uma conversa sobre a eficácia dos programas de combate à miséria e transferência de renda no Brasil.

Dirceu: 'Eu estava marcado para morrer, mas não tenho vocação para a morte'

Durante 'Ato em Defesa do PT', em São Paulo, ex-ministro afirma que vai 'ficar de pé' e que sua inocência está 'registrada nos autos do STF'




São Paulo - O ex-ministro José Dirceu afirmou neste sábado (24) que estava “marcado para morrer” desde o início o processo político e midiático conhecido por mensalão. Da cassação de seu mandato de deputado pela Câmara Federal, em 2005, à condenação pelo STF na Ação Penal 470, agora, Dirceu fez um histórico detalhado dos vários momentos em que as leis e as regras democráticas foram reinterpretadas ou ignoradas para que a investida contra ele e o PT se transformasse num “julgamento de exceção, de caráter sumário”.

“Eu estava marcado para morrer. Só não fui fuzilado porque no Brasil não existe pena de morte. E o problema é que eu não tenho vocação para a morte. Vou ficar de pé”, disse o ex-ministro, arrancando aplausos das pessoas que compareceram ao Sindicato dos Engenheiros, no centro de São Paulo, para o “Ato em Defesa do PT”.

O ato foi organizado pela corrente O Trabalho – na abertura do 5º Encontro Nacional Diálogo Petista. A corrente, adversária histórica de Dirceu e de seu grupo dentro do partido, é uma das que estão mais à esquerda no espectro político petista. Segundo Markus Sokol, um de seus líderes, as divergências internas não impedem a solidariedade aos companheiros e a denúncia da maneira como se deu o julgamento, cujo objetivo real seria atingir o PT, a esquerda e as forças populares.

Participaram da plenária, que também contou com o ex-deputado José Genoino, igualmente condenado sem provas, representantes de movimentos sociais e da CUT, além da militância e de parlamentares, como o senador Eduardo Suplicy (SP) e o deputado estadual paulista Zico Prado.

Dirceu classificou de “desfaçatez” a série de manobras criadas para cassá-lo e depois condená-lo, em especial a “narrativa sem provas e sem contraditório” do STF, que “violou” princípios constitucionais como a presunção da inocência e o direito ao recurso a outras instâncias da Justiça.

“O que aconteceu (comigo) é grave e transcende ao julgamento, porque suspende as garantias individuais de todos os cidadão”, avaliou. Segundo ele, o seu caso e de outros criou uma jurisprudência segundo a qual, a partir de agora, qualquer pessoa pode ser condenada sem provas ou testemunhos.

“Mas estou tranquilo”, ressaltou. “Está documentado. Minha inocência está registrada para a história nos autos do próprio STF”.

Dirceu analisou o momento como uma “contra-ofensiva” das forças conversadores. “Como foram derrotados no campo político e social, e também no campo eleitoral, eles criaram outro campo, o da judicialização da política, com a instrumentalização da mídia”, acusou.

Ele afirmou que o PT só vencerá essa contra-ofensiva se fizer um “profundo” balanço político dos último dez anos e traçar uma estratégia de “luta comum”, entre todas as correntes internas e a sociedade, para os próximos dez.

“Aonde quer que eu esteja, quero participar desse debate”, concluiu.


Sobre o caso Rosemary e os lulofóbicos

Acima de tudo, ela é mais uma escada pela qual se tenta pegar novamente Lula


Lula é, certamente, o homem mais odiado pelo chamado 1%, para usar a já histórica expressão do Movimento Ocupe Wall St. (Para os 99%, o posto é de Serra, com o surgimento de uma concorrência potencial em Joaquim Barbosa, o Batman.)

É impressionante o júbilo com que é celebrada pelo 1% qualquer notícia que possa servir de munição contra Lula, o lulismo, o lulo-petismo e outras designações criadas pelos obsequiosos porta-vozes de um grupo pequeno mas barulhento que torce e trabalha para que o Brasil jamais se torne uma Dinamarca, ou uma Noruega, ou uma Finlândia.

São sociedades harmoniosas, não divididas entre 1% e 99%, como o Brasil. Apenas para registro, o Brasil campeão mundial da desigualdade – com todos os problemas decorrentes disso, a começar pela criminalidade – foi obra exatamente deste grupo.

O Estado brasileiro foi durante décadas uma babá do 1%. Calotes em bancos públicos eram sistematicamente aliviados em operações entre amigos – mas com o dinheiro do contribuinte. Cresci, como jornalista, nos anos 1980, com o Jornal do Brasil transformando dívidas com o Banco do Brasil em anúncios.

Este é apenas um caso.

O BNDES foi sequestrado, também, pelo 1%: a inépcia administrativa de tantas empresas familiares malacostumadas pela reserva de mercado era premiada com operações de socorro financeiro. Sempre com o dinheiro do contribuinte.

Apenas para registro também, lembremos que a reserva de mercado sobrevive ainda – não me pergunte por que – na mídia que tanto clama por competição, mas para os outros.

O 1% detesta Lula, não porque Lula tenha nove dedos, ou seja metalúrgico, ou fale errado, ou torça pelo Corinthians. Detesta Lula porque ele não representa o 1%. Se representasse, todos os seus defeitos seriam tratados como virtudes.

Não votei em Lula nem em 2002 e nem em 2006. Portanto, não tenho mérito nenhum na sua chegada à presidência e na consequente, e fundamental, mudança de foco do governo – ainda que cheia de erros — rumo aos 99%.

Mas não sou cego para não enxergar o avanço. O maior problema do Brasil – a abjeta desigualdade social – começou ao menos a ser enfrentado sob Lula.

Hoje, quando homens públicos em todo o mundo elegem a desigualdade social como o mal maior a debelar, parece óbvio que Lula tinha mesmo que prestigiar os 99% ao se tornar presidente.

Mas nenhum presidente na era moderna nacional viu o óbvio. Mesmo ao erudito poliglota Fernando Henrique Cardoso – de quem ninguém pode subtrair o mérito por derrubar a inflação – escapou o óbvio. Tente encontrar alguma fala de FHC, na presidência, sobre o drama da iniquidade social. Em qualquer uma das múltiplas línguas que ele domina. Zero.

É dentro desse quadro de colossal ódio a Lula que se deve entender a forma com quem está sendo tratado o caso de Rosemary Nóvoa de Noronha, indiciada por corrupção pela Polícia Federal em suas funções como chefe do escritório do gabinete da presidência em São Paulo.

Rosemary foi demitida imediatamente por Dilma, e agora vai responder pelas suas supostas delinquências, como um cruzeiro e uma plástica na faixa, pelo que foi noticiado.

Mas ela é personagem secundária na chamada Operação Porto Seguro. O protagonista é Lula, que a indicou. Nos artigos sobre a história, Lula ocupa o pedestal. “A mulher do Lula”, escreveu alguém.

Rosemary é uma escada pela qual, mais uma vez, se tenta pegar Lula. Estaria Lula envolvido na plástica suspeita de Rosemary? E no cruzeiro? O dinheiro terá vindo do valerioduto?

Chega a ser engraçado.

Tenho para mim o seguinte. Se os lulofóbicos dedicassem parte da energia que consomem em odiá-lo na procura honesta de formas de convencer os eleitores de que são mais capazes que Lula para combater a desigualdade social, eles já estariam no Planalto a esta altura, e do jeito certo, numa democracia: pelas urnas.



Via: http://mariadapenhaneles.blogspot.com.br

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Onde está a humanidade do ser humano?

Domingo (18) fui ao Morumbi assistir o jogo de estréia do Ganso, não sou torcedor do são Paulo, apenas acompanhei minha filha. Nos arredores do estádio tanto na entrada como na saída, vi a Guarda Metropolitana, Polícia Civil e Polícia Militar fazendo repressão a vendedores ambulantes, cambistas e flanelinhas. Não sou contra essas medidas, principalmente aos cambistas que continuam se divertindo no futebol brasileiro. 

Se o torcedor vai de carro é extorquido pelos flanelinhas para “garantir que seu veículo não seja danificado ou roubado”. Com relação aos vendedores ambulantes, sei que muitos deles utilizam dessa pratica para venderem drogas. Mas a grande maioria são trabalhadores honestos, que por falta de oportunidade utilizam esse meio para o sustento da sua família. 

Outro fato que me deixou indignado foi no metrô, uma senhora passou mal e corri para ajudá-la, mas devido o seu peso e seu estado(estava inconsciente ) não estava conseguindo retirá-la do vagão para um melhor socorro. Foi preciso uma senhora que me ajudava gritar para que mais pessoas fossem ajudar. Vi no rosto de algumas pessoas o desprezo e falta de sensibilidade com o ser humano. Reflitam sobre isso.

Será que as pessoas não ajudaram porque a senhora era negra? Ou por que ela urinou na roupa e ficaram com nojo? Ao colocá-la na plataforma, percebi que os funcionários do metro, não tinham conhecimentos de primeiros socorros. A filha ao ver a mãe naquelas condições entrou em desespero, pois o quadro de saúde começou a se agravar. Ao parar outro trem uma enfermeira viu aquela situação e desceu para ajudar. Ela percebeu que a senhora não estava respirando e começou a massagem cardíaca e desfibrilador para reanimá-la. 

Ao ligar para o SAMU, e informar a situação de saúde da mulher e pedir agilidade para o socorro, mesmo assim demorou aproximadamente 20 minutos.

Falta de sensibilidade muito mais comum do que parece, e infelizmente do que deveria ser, o mundo sofre deste mal.

Frei Betto: "É preferível morrer que ficar preso"


Dá título a este artigo afirmação do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, proferida a 13 de novembro. O ministro sabe o que diz. O Brasil tem a quarta maior população carcerária do mundo. Perde apenas para EUA, China e Rússia.

Hoje, nossas cadeias abrigam 515 mil pessoas em 1.312 unidades prisionais com capacidade máxima para acolher 306.500 detentos. Se o sistema judiciário brasileiro fosse menos lento e mais humanitário, 36 mil detentos já deveriam ter sido soltos ou beneficiados com a progressão de penas.

A Lei de Execução Penal assegura a cada preso seis metros quadrados de espaço na cela. Hoje, a maioria se espreme entre 70 centímetros e um metro quadrado. Daí as frequentes rebeliões.

O Brasil não tem política prisional e muito menos de reintegração social dos detentos. Diante da violência urbana, muitos clamam, ingenuamente, por mais cadeias. Pressionados pelo clamor popular, governos federal e estaduais investem em prisões o que deveriam destinar a escolas.

Nossas cadeias são verdadeiros queijos suíços, com multiplicidade de buracos. De dentro das celas, bandidos usam celulares para extorquir incautos (o golpe do sequestro de parentes) e comandar o crime organizado. Drogam-se com cocaína, maconha, crack, e recebem bebida alcoólica.

Privatizar presídios é a solução? Sim, para enriquecer empresários. Esse sistema estadunidense já é adotado nos estados de Pernambuco, Amazonas, Bahia, Ceará, Espírito Santo e Santa Catarina. A empresa dona do presídio cobra do Estado o que ele gasta, em média, com cada detento: R$ 1.500. E mais R$ 1 mil por cabeça. Ao todo, R$ 2.500 por prisioneiro. Ora, quanto mais tempo o preso permanecer ali dentro, tanto mais lucro. Sem que haja preocupação de reintegração social.

Nossas unidades prisionais estão sucateadas e abandonadas. Pela LOA (Lei Orçamentária Anual), elas deveriam ter recebido do governo federal, este ano, R$ 277,5 milhões. Mereceram apenas R$ 2.579,776,61 – menos de 1% do previsto!

Apenas no Piauí não há superlotação de cadeias. País afora, os presos são confinados em espaços exíguos, promíscuos, sem acesso a atividades esportivas, artísticas, escolares e profissionais.

O que fazer diante da falta de vagas em nossas unidades prisionais? Adotar a pena de morte? Multiplicar o número de penitenciárias?

Estive preso quatro anos (1969-1973). Dois, entre presos comuns de São Paulo – Penitenciária do Estado, Carandiru e Penitenciária de Segurança Máxima de Presidente Venceslau.

Nesta última, na qual fiquei mais de um ano, foi possível recuperar alguns detentos através de grupos bíblicos, teatro, desenho e pintura e, sobretudo, pela instalação de um curso supletivo de ensino médio, que interessou 80 dos 400 presos.

Nos dois anos em que trabalhei no Palácio do Planalto (2003-2004), tentei ressaltar a urgência de reforma em nosso sistema prisional. Em vão.

As delegacias e os estabelecimentos de apreensão de menores funcionam como ensino fundamental do crime. Os presídios, como ensino médio. As penitenciárias, como ensino superior.

Como é possível que o Estado não consiga algo tão simples quanto evitar a entrada de celulares na cadeia? Alguém consegue passar com celular escondido no controle dos aeroportos? Isto sim, merece ser imitado dos EUA: detentos usam orelhões para se comunicar com seus familiares e todas as ligações são grampeadas.

Nossos policiais são, em geral, despreparados, a ponto de considerarem direitos humanos como alforria de bandidos; alguns carcereiros dificilmente resistem à corrupção e tratam o preso como inimigo, e não como reeducando; o sistema prisional não é pensado tendo em vista a reinserção do preso como cidadão na sociedade.

A educação é a solução, fora e dentro das prisões. Como evitar a criminalidade se 5,3 milhões de jovens brasileiros, com idade entre 18 e 25 anos, estão fora da escola e sem trabalho?

Nossas penitenciárias poderiam funcionar como escolas profissionalizantes. Aulas de mecânica, alfaiataria, computação e culinária, associadas ao aprendizado de idiomas e à dedicação a práticas esportivas e artísticas (teatro, música, literatura), certamente esvaziariam as nossas cadeias. O progresso no curso equivaleria a retrocesso na pena.

Se o Estado e a sociedade não cuidam dos presos, eles mesmos tratam de buscar o que mais lhes convém: auto-organização em comandos; rede de informantes entre carcereiros e policiais; vínculos com os bandos que atuam em liberdade. E nós, cidadãos, pagamos duplamente: por sustentar um sistema inoperante e ser vítimas da recorrente espiral da violência.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Genoino diz ter Constituição e votos a seu lado para assumir vaga de deputado

 
 


O ex-presidente do PT, José Genoino, deve assumir em janeiro seu mandato de deputado federal. A afirmação foi feita na última segunda (19), quando recebeu em sua casa a reportagem da Rede Brasil Atual e da TVT para uma entrevista exclusiva. Genoino disse ter ao seu lado a Constituição e a soberania popular. “Está na Constituição. Tenho a legitimidade da soberania de 92 mil votos que recebi, o poder emana do povo.”

Segundo ele, a convocação não depende de sua vontade. “Se o parlamentar renuncia, o presidente da Câmara tem de convocar o suplente mais votado.” O petista refere-se à saída do deputado Carlinho Almeida, que abrirá uma vaga na Casa ao assumir a Prefeitura de São José dos Campos em 1º de janeiro (SP).

Assista neste vídeo trechos da entrevista veiculados pela TVT. A íntegra da reportagem estará na edição de dezembro da Revista do Brasil.

(Rede Brasil Atual)

Violência em São Paulo - Delegado-geral critica ações da PM na periferia

Polícia Militar realiza abordagens em bairros na zona norte de SP durante a Operação Saturação.
 Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil


O delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo, Marcos Carneiro Lima, criou uma saia-justa nesta quinta-feira 22 ao afirmar, durante a posse de Fernando Grella Vieira na Secretaria de Segurança do estado, que moradores da região metropolitana tiveram suas fichas criminais acessadas pelo sistema interno da corporação antes de serem assassinados. Segundo o delegado, as mortes estão acontecendo na periferia porque a sociedade acha que “matar pobre é matar o marginal de amanhã”.

A fala de Carneiro Lima acontece após meses de atritos entre a Polícia Civil e a cúpula da Segurança Pública de São Paulo. Durante a gestão de Antonio Ferreira Pinto, que caiu na quarta-feira 21 diante da alta no número de assassinatos ocorrida no estado em 2012, a corporação foi deixada de lado e as investigações sobre o crime organizado passaram a ser concentradas pela Polícia Militar, sobretudo a Rota. A mudança aconteceu depois que policiais civis foram investigados por envolvimento e extorsão a integrantes do Primeiro Comando da Capital.

Desde então o delegado-geral da Polícia Civil se tornou uma das vozes mais críticas dos planos de segurança do governo Alckmin. Ele verbalizou as queixas mais uma vez ao dizer que as mortes de civis no período têm relação com os assassinatos de 95 policiais desde janeiro – a maioria cometida em sequencia desde setembro.

Para Carneiro Lima, ela legitima a ação dos criminosos responsáveis pela onda de violência na Grande São Paulo. De acordo com reportagem publicada pelo site da Folha de S.Paulo, o delegado diz ver “indícios” de ações de extermínio em São Paulo, mas a polícia ainda não foi capaz de identifica-los.

“A gente nunca teve chacina nos Jardins aqui em São Paulo. Por que será? Por que é tão fácil matar pobre na periferia? Por que ainda existe uma grande parcela da sociedade que acha que matar pobre na sociedade é matar o marginal de amanhã. Isso é uma visão preconceituosa da própria sociedade que encara que essa ação de matar é uma ação legítima. Não é legítima.”

Para Carneiro, é difícil solucionar os crimes em São Paulo porque eles possuem uma lógica diferente de outros lugares do mundo. “Em São Paulo existe um diferencial. Quem tem interesse em matar um único alvo no boteco, muitas vezes mata mais dois ou três inocentes. Daí a dificuldade da polícia chegar à autoria”, afirmou.

Muito trabalho. O novo secretário, por sua vez, declarou durante a cerimônia de posse que buscará novas formas de atuação policial para combater o crime em São Paulo. “O tempo agora é de trabalho, de muito trabalho”, declarou.

Ainda segundo a Folha de S.Paulo, Grella recebeu a incumbência de botar uma “focinheira” na PM para evitar abusos.

O novo secretário foi procurador-geral do Ministério Público por quatro anos. Com perfil de conciliador, ele foi nomeado em 2008 pelo então governador José Serra e reconduzido ao cargo em 2010.
 

Sob controle do PCC


O crime organizado em SP, o PCC, está no poder. Matando, assaltando, traficando, incendiando ônibus, aterrorizando a população civil e os militares. Está havendo um recorde de pedidos de baixa na PM: eles estão com medo de morrer, com medo do poder do PCC.
 
 Por que o governador Alckmin não aceita a ajuda do governo federal? Diante de uma situação incontrolável da violência em SP, que aumenta a cada dia, ele apenas muda o Secretário de Segurança Pública, como se isso fosse diminuir a violência. Alckmin deveria ser menos orgulhoso, ter consciência que está colocando em risco a vida de milhares pessoas e solicitar ajuda ao governo federal.
 
A Força Nacional de Segurança, o Exército, a PF, juntos com a PM, a policia civil: para dar um basta na violência, garantir a segurança da população. Mas o Alckmin não quer isso, ele tem medo de ser reconhecido como incompetente, tem medo de não se reeleger em 2014. Ele não quer que o povo de SP reconheça o valor da ajuda do governo federal, do governo do PT, ao qual ele, do PSDB, faz oposição. Já passou a hora de o governo de SP, do PSDB, deixar em segundo plano suas ambições políticas e pedir socorro para a população de SP.
 
 Quantas pessoas, PMs ou crianças, terão que morrer, quantas famílias terão que ser destruídas para que o governo Alckmin admita sua derrota e aceite a ajuda do governo federal? A presidenta Dilma ofereceu ajuda total e irrestrita para SP, mas Alckmin não aceita e ainda tem a cara de pau de dizer que está tudo sob controle. Sob controle do PCC.
Jussara Seixas


segunda-feira, 19 de novembro de 2012

O "Mensalão" foi novela midiática e oportunismo jurídico para tentar destruir o PT. O que houve foi caixa 2.


Dirceu “foi condenado pelo que é, não pelo que fez”

 

Opinião é do ex-ministro da Justiça Marcio Thomaz Bastos; jurista afirma que a teoria do domínio do fato, usada pelo relator Joaquim Barbosa para condenar José Dirceu, é aplicada com cuidado em tribunais internacionais por não poder se isolar da responsabilidade do réu; ele também acredita que o julgamento da Ação Penal 470 "não faz bem ao Brasil"


247 – Ex-ministro da Justiça e advogado do réu José Roberto Salgado, vice-presidente do Banco Rural condenado a 16 anos de prisão pelo Supremo Tribunal Federal (STF), Marcio Thomaz Bastos acredita que José Dirceu "foi condenado pelo que é, e não pelo que fez". O jurista diz que o julgamento da Ação Penal 470, conhecido como mensalão, "não faz bem ao Brasil".

Segundo ele, que falou ao blog Poder Online, do iG, a teoria do domínio do fato, usada como base pelo ministro Joaquim Barbosa para condenar o ex-ministro da Casa Civil, é aplicada com muito cuidado em tribunais internacionais, pois não pode estar separada da responsabilidade do réu.

"Não advogo para o Zé Dirceu, mas sou amigo dele", justificou o jurista. Ele também acredita que "ao flexibilizar as regras de interpretação do crime de lavagem de dinheiro, o Supremo alargou a jurisprudência sobre os crimes de corrupção e 'endureceu muito' o direito penal", diz nota do blog.

Por isso, o crime teria se tornado um fenômeno jurídico tipicamente brasileiro, já que se caracteriza pela ocultação, o dolo e a reinserção dos recursos desviados na economia legal, fase que não teria sido caracterizada nos autos do processo do 'mensalão', segundo ele.

Em passagem pelo Brasil há uma semana, o jurista alemão Claus Roxin, que aperfeiçou a tese do domínio do fato, defendeu que, para ser condenado, é preciso que seja provado que o réu ordenou a execução do crime, e não que isso seja deduzido a partir de sua posição hierárquica.

O advogado de Dirceu, José Luís Oliveira Lima, marcou encontro com Roxin na Alemanha para o fim deste mês na expectativa de receber um parecer jurídico sobre o caso de seu cliente. Roxin disse que não conhece o caso "com detalhes", mas demonstrou interesse. O professor afirmou que quando retornar à Alemanha, em dezembro, "terá com certeza um conhecimento mais aprofundado do assunto".

No Dia da Bandeira, historiadores defendem maior discussão dos símbolos nacionais

Hasteada nos mais distintos locais, a Bandeira Nacional, um dos principais símbolos do Brasil, reúne uma série de detalhes obrigatórios que devem ser obedecidos, de acordo a com a legislação. O tamanho, a precisão nas cores, a disposição das estrelas e da faixa central devem ser seguidos à risca, assim como a forma como ela é homenageada e guardada. O 19 de novembro foi instituído Dia da Bandeira em 1889, logo depois da Proclamação da República.

No ensino fundamental, são obrigatórias as aulas sobre os símbolos nacionais, mas os historiadores defendem a ampliação da discussão sobre o tema. Eles sugerem que assuntos relativo aos símbolos – a Bandeira Nacional, o Hino Nacional, as Armas Nacionais e o Selo Nacional –, como as razões que os motivaram, sejam aprofundados.

O coordenador do Departamento de História do Centro Universitário de Brasília (Uniceub), professor Deudedith Rocha Júnior, disse à Agência Brasil que é essencial ensinar aos estudantes não apenas os aspectos visuais, técnicos e simbólicos, mas, sobretudo, o que representam os símbolos e porque são importantes.

“Os símbolos nacionais representam um marco da identidade brasileira. Cada um tem seu significado e importância. A Bandeira Nacional, por exemplo, passou por várias etapas para chegar à atual. O sentido de nação está diretamente ligado aos símbolos, mas também é importante observar que as mudanças na sociedade fazem com que eles sejam redesenhados”, explicou o historiador.

Em Brasília, a principal cerimônia envolvendo o assunto é a da troca da Bandeira Nacional, que ocorre a cada primeiro domingo do mês. No próximo dia 2, às 9h, a Marinha será responsável pela solenidade, pois há um sistema de rodízio entre as Forças Armadas e o governo do Distrito Federal na coordenação do evento.

No dia da cerimônia, a Bandeira Nacional é hasteada no mastro da Praça dos Três Poderes. Com 280 metros quadrados, a bandeira é a maior do país.

Fonte : Agencia Brasil

História do Brasil - Dia da Bandeira


A comemoração do dia da bandeira se constituiu como mais um elemento simbólico da construção da identidade nacional brasileira, o dia da bandeira simboliza a nação brasileira.

No dia 19 de novembro comemora-se o Dia da Bandeira do Brasil, essa comemoração passou a fazer parte da história do país após a Proclamação da República, no ano de 1889. Com o fim do período Imperial (1822-1889), a bandeira desenhada por Jean Baptiste Debret, que representava o império, foi substituída pelo desenho de Décio Vilares.

A substituição da bandeira imperial por uma bandeira republicana representa as mudanças que o Brasil passava naquele momento: mudanças na forma de governo e de governar, do regime imperial para uma república federativa. Além disso, a nova bandeira representava a simbologia que estava agregada ao republicanismo, como a ideia de um Estado-nação, o patriotismo e o surgimento do sentimento nacionalista, ou seja, a construção identitária do povo brasileiro, a identidade nacional.

As bandeiras não são restritas a serem simbologias somente do Estado-nação, ou de algum país, mas existem bandeiras que representam diversas regiões que integram o país e diferentes instituições e esferas sociais. Existem bandeiras que simbolizam times de futebol, torcidas organizadas, cidades, Estados, instituições religiosas e governamentais como cidades, exército, além das instituições comerciais, bandeira de uma empresa. 
  
Temos notícias de que as primeiras bandeiras foram visualizadas na antiguidade, eram utilizadas nos exércitos como meio de reconhecimento entre os diversos soldados. Atualmente, no mundo contemporâneo, todo Estado-nação possui uma bandeira nacional que representa e dá unidade à nação, ou seja, unifica diferentes povos. Dessa maneira, a instituição da comemoração do dia da bandeira acrescentou mais um elemento simbólico na construção da identidade nacional.

Leandro Carvalho
Mestre em História

sábado, 17 de novembro de 2012

Espaço - Vanessa da Mata


Vídeo: Dep Fed Luiza Erondina: Marco Regulatório das Comunicações



OS NEGROS, A CIDADANIA, A ECONOMIA E A ESCRAVIDÃO


DAVIS SENA FILHO: 
Os negros, observemos, pertencem às camadas mais pobres da sociedade brasileira, as que estão em risco constante de ser vítimas de todo tipo de miséria humana e de ignorância

Tem um pensamento que eu gosto muito. Mais do que gostar, eu acredito neste pensamento, porque, para mim, ele significa a verdade. "Raça não existe; o que existe é a espécie humana". Quando o homem, ou melhor, a humanidade se organizou em sociedades. Quando ela passou a dominar a agricultura e, consequentemente, construir cidades para alojar milhares ou milhões de pessoas, a luta pelo controle político e pela hegemonia econômica recrudesceu. Desta luta deriva todo tipo de preconceito, inclusive o pior deles: o racismo.

O preconceito do racismo é a forma mais infame e cruel de intolerância moral que o ser humano pôde expressar, porque se trata da negação da vida, da negação de Deus. O racista nega a vida e reafirma a indiferença, a desigualdade social e a violência. A pobreza material de grande parte dos povos da África negra e do povo brasileiro é intrínseca ao racismo. Eu quero afirmar, sem dúvida alguma, que a miséria material do nosso povo tem como raiz o racismo. Este sentimento, além de ser comportamental e cultural, o é também de fundo econômico, o que o torna intolerável para as pessoas civilizadas e de filosofia humanista e democrática.

Quando os ancestrais do povo brasileiro foram escravizados em um tempo de cinco séculos pelas potências colonialistas, o trabalho humano escravo foi visto como solução para que os colonizadores europeus pudessem ocupar os territórios por eles conquistados, além de desenvolver suas economias e, por conseguinte, disputar o mercado, em seus diferentes setores, pois a corrida pela hegemonia econômica e militar se encontrava em um processo de disputa entre a Inglaterra, a França, a Espanha, a Holanda e Portugal, dentre outros países, que buscavam riquezas, com o objetivo de colonizar terras e dominar os oceanos.

Com a explosão demográfica no continente europeu e o fim da Idade Média, considerada a era mais sombria das sociedades ocidentais, iniciou-se o ciclo das grandes navegações. Historiadores afirmam que foi a opção e a realidade encontrada pelos governos das potências europeias, para que a Europa não sucumbisse economicamente e seus povos não ficassem sem espaço para desenvolver suas atividades econômicas, principalmente a agricultura, razão pela qual foi efetivado o sistema de escravidão, com a cumplicidade entre os europeus e suas diversas nacionalidades, com apoio, inclusive, da Igreja da época, bem como de agentes africanos que participavam do tráfico negreiro.

A escravidão de africanos começou no Brasil ainda em meados do século XVI. Duarte Coelho, donatário da Capitania Hereditária de Pernambuco, solicitou, em 1539, ao rei de Portugal a isenção de impostos de "peças" africanas. As "peças", na verdade, eram os escravos. Grandes extensões de terras e agricultura baseada na monocultura de cana-de-açúcar, que propiciou ao Brasil colonial o Ciclo do Açúcar, foram as primeiras razões dos colonizadores para que o comércio de homens, mulheres e crianças negros se perpetuasse até o ano de 1888, quando oficialmente foi abolida a escravidão no Brasil.

O tráfico de escravos foi um comércio tão lucrativo que somente acabou em âmbito mundial em 1865. A partir deste ano, o Brasil se tornou o único no mundo ocidental a possuir escravidão institucionalizada. Essa realidade impedia a chegada de imigrantes que preferiam outros países das Américas. Enquanto o mundo se transformava por meio da revolução industrial, as nossas elites, principalmente os cafeicultores paulistas, insistiam, teimavam com o sistema de escravidão, o que prejudicou, sobremaneira o Brasil nos fóruns internacionais, bem como a sua economia, que, baseada na mão-de-obra escrava, não conseguia competir, satisfatoriamente, com os países, inclusive muitos da América do Sul, que pagavam salários aos trabalhadores, principalmente aos imigrantes europeus que tinham conhecimento técnico para exercer suas funções nas fábricas e no campo.

O Brasil foi o último País a dar fim ao comércio de escravos, além de Cuba, que, apesar de ter escravidão em seu território, a ilha caribenha era usada mesmo como entreposto de escravos, que eram distribuídos pelo Caribe, América do Norte e América Central. Países escravagistas como a Inglaterra, a França, a Espanha e a Holanda tinham grandes interesses econômicos nessas regiões. A presença da Espanha na América do Sul também era muito forte, bem como Portugal, pequeno país ibérico, mas que se tornou potência marítima, que, através do tempo, transformou o Brasil colonizado por ele em um País continental.

A escravidão dos negros africanos era uma escravidão essencialmente mercantilista. Sempre houve escravidão no mundo. A humanidade sempre pecou no que concerne a explorar à própria humanidade. Os países muito antigos, as sociedades antigas, os do tempo de Jesus Cristo e os de tempos anteriores ao do Filho de Deus escravizavam, mas, geralmente, eram troféus, os quinhões dos vencedores de guerras. Eram militares e civis que perderam guerras e pagaram com o preço alto da escravidão.

Por seu turno, a escravidão dos negros não tinha razões outras que não apenas a comercialização de seres humanos, por cerca de 450 anos, no mundo ocidental, que já tinha passado pelo Renascimento e se preparava para entrar no mundo moderno, que se iniciou, primeiramente, com as grandes navegações. O sentimento, realmente, é de vergonha. Não minha vergonha, não sua vergonha, não a vergonha dos milhões de negros brasileiros, mas daqueles que enriqueceram e conquistaram terras com a morte e a escravidão de milhões e milhões de homens e mulheres, que morriam nos navios negreiros, em cerca de 40%, vítimas de maus tratos, de todo tipo de doença, além de serem jogados aos mares, como punição ou por causa da fiscalização do exército e da marinha ingleses, cujo governo, no ano de 1806 para 1807, decidiu dar fim ao tráfico de escravos. A Inglaterra era a potência mundial daquela época.

Portugal, que edificou uma nação importante em termos mundiais na América do Sul, foi o maior mercador de escravos de todos os tempos, no que tange aos interesses especificamente comerciais e econômicos. O Brasil, além de ser o último País a libertar os escravos, foi também o destino de três milhões e 600 mil escravos, dos dez milhões que chegaram vivos e foram trazidos para as Américas. Como se percebe, o Brasil, nos séculos da escravatura, foi responsável por 36% de todo comércio escravagista em âmbito mundial. São realmente números assombrosos.

A escravidão dos negros foi e ainda o é a maior diáspora da história da humanidade. Se a comunidade negra internacional fosse rica e controlasse as mídias, a imprensa comercial e privada (privada nos dois sentidos, tá?), os bancos e as terras evidentemente que essa dolorosa história nunca deixaria de ser comentada, nunca seria esquecida, bem como o genocídio dos índios de todas as Américas nunca ficaria relegado a um segundo plano. Como se observa, a divulgação política da escravidão e dos massacres e genocídios dos negros e dos índios são também questões econômicas e financeiras, além de morais e de justiça, que nunca foi feita, e considero que nunca o será.

Os escravocratas nunca ganharam tanto dinheiro. A comercialização de pessoas era mais lucrativa do que a estratificação, a agricultura, a pecuária e a pesca. A indústria praticamente não existia, porque começou a se desenvolver na segunda metade do século 19, quando a Inglaterra começou — por questões econômicas e não morais —, que isto fique registrado, a perseguir e a afundar navios, boicotar economias e agredir militarmente os países que insistiam em traficar seres humanos com finalidade comercial. Era o início da industrialização, quando surgiu, de forma incipiente, a classe operária, melhor qualificada, sem direitos trabalhistas, contudo, assalariada, valores baixíssimos, trabalhadores explorados, porém, reitero, assalariados.

Os negros africanos, cujos filhos e descendentes são brasileiros, desembarcavam nos portos da Bahia, de Pernambuco e do Rio de Janeiro. Depois da chegada, eles eram espalhados, "distribuídos" por todo o País. Trabalhavam na mineração, na lavoura, na pecuária, nas instituições governamentais, nas ruas e nas casas residenciais. Eles estavam presentes no dia a dia da vida brasileira e ajudaram, indubitavelmente, a construir o Brasil de hoje, País que tem um PIB de R$ 3,675 trilhões, segundo o IBGE, e que atualmente tem influência planetária. Sem sombra de dúvida, a plural e multirracial sociedade brasileira deve muito aos homens e mulheres negros que trabalharam, arduamente, sendo que milhares pagaram com a própria morte, como vítimas que foram da terrível e inominável escravidão.

Os negros, os cidadãos negros foram heróis da Guerra de Canudos e da Guerra do Paraguai e não receberam retorno algum, a não ser o abandono do estado e da sociedade brasileiros. Foram morar nos morros da Favela e da Providência, as primeiras favelas deste País. As desigualdades sociais são gritantes. A miséria e a pobreza, históricas, são a razão da prostituição, do tráfico e da violência. São essências da degeneração familiar e, consequentemente, da sociedade.

Os negros, observemos, pertencem às camadas mais pobres da sociedade brasileira, as que estão em risco constante de ser vítimas de todo tipo de miséria humana e de ignorância. O ignaro é mais perigoso que o marginal, porque ele é parte de milhares, quiçá milhões, e por isso se anulam as condições para que as nossas cidades e o País se desenvolvam, de maneira equânime, justa e democrática. Não há paz se não existir justiça social. Os governos, em todas as esferas, têm de deixar de ser patrimonialistas. O estado tem de ser devolvido ao povo e não continuar a servir à pequena parcela da sociedade, que há séculos confunde e mistura os interesses do estado com os interesses privados — particulares. É uma luta árdua, perene e constante.

Os governos trabalhistas de Lula e agora o de Dilma Rousseff têm lutado e conseguido mudar o quadro social e econômico das classes sociais carentes e populares. É uma revolução da grandeza da que o presidente Getúlio Vargas realizou em 1930 e depois em 1950, quando o Brasil deixou de ser rural e passou a ser urbano, por meio da industrialização, da organização do serviço público de forma centralizada, em âmbito federal, e da criação de meios de fiscalização das receitas públicas, bem como dos serviços de arrecadação de tributos do estado nacional, além da criação de estatais como a CSN, a Vale do Rio Doce (os neoliberais só querem chamá-la de Vale) e a Petrobras.

Os programas de Lula incluíram 30 milhões de brasileiros na classe média (quase a população da Argentina) e tiraram 20 milhões da pobreza. E grande parte dessa gente brasileira, caro leitor, é formada por brasileiros de etnia negra. É uma revolução ou não é? Só para ficar nisso, porque esse governo trabalhista fez muito mais, como, por exemplo, fortalecer nosso mercado interno ao ponto de o Brasil praticamente não sentir a crise econômica e financeira que aconteceu no mundo em 2008, apesar de a imprensa comercial e privada (privada nos dois sentidos, tá?) não reconhecer e por isso mentir e manipular, porque a verdade é que ela se tornou porta-voz dos trustes internacionais e nacionais, ponta-de-lança dos interesses da classe social que habita o pico da pirâmide social, além de se transformar em um partido de direita — o Partido da Imprensa. Se há alguma dúvida, basta pesquisar para confirmar o que eu afirmo e o que eu escrevo nesta tribuna chamada Palavra Livre.

O estado democrático de direito, conforme reza a Constituição de 1988, é o agente que determina as políticas públicas, no que é relativo à saúde, à educação, à moradia, à segurança e à luta para favorecer a distribuição de renda e a geração de empregos. Todas essas coisas boas são desejos dos brasileiros, principalmente os negros e os índios que ainda não foram resgatados historicamente e socialmente. O Brasil tem de continuar a ser dos brancos, dos amarelos, dos vermelhos e dos negros. Contudo, sabemos que a grande parcela negra da população tem de ser ouvida por todos os segmentos da sociedade, bem como ser alvo de políticas públicas positivas que garantam a inclusão dos negros (e também dos índios) no mercado de trabalho e nas escolas.

Até hoje, em pleno século 20, parte significativa do povo brasileiro não tem acesso a benefícios sociais e ao direito de ter uma vida de melhor qualidade. Os negros continuam a ter os piores empregos, a morar nas periferias, nas favelas, nas comunidades pobres. Seus empregos são os mais insalubres, os mais perigosos e mal pagos. Continuam a ser vítimas do pior sentimento dentre os piores sentimentos que é o racismo, porque, como cidadão negro, ele é medido por sua cor, por seu cabelo, por suas características físicas e não pela sua conduta, pela sua competência, pelo seu caráter, digo melhor, bom caráter, pelo seu coração. Os indivíduos são pertencentes à espécie humana. Raça é terminologia superada, que somente os desinformados, os ignorantes, os preconceituosos e os racistas insistem em assim se comportar. Comportar-se mal.

É um direito inalienável do homem e da mulher, independentemente de sua origem e cor, ter suas cidadanias ratificadas e reiteradas pelo estado e pela sociedade a qual pertencem. Ser cidadão não se reduz a pagar impostos. Ser cidadão é também saber de seus direitos e, dentre um elenco de direitos, é não ser humilhado ou esquecido ou relegado por sua condição social e por sua cor de pele e etnia. Os negros estão para sempre, eternamente, na história do Brasil e do seu povo. Ele é parte dele. Ele é o povo, e o Brasil é de todos e para todos os brasileiros.