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domingo, 24 de junho de 2012

A revolução dos cafés

Os cafés, tão populares, nasceram no século XVI, em Istambul, na Turquia, e já haviam desempenhado valioso papel nas revoluções burguesas do XVIII. Mas na virada do século XIX para o XX, quando o grupo de Bastos Tigre e Olavo Bilac se encontrava na Colombo, a inocência da bebida começava a criar um espaço onde escritores,intelectuais e artistas se encontravam para ler jornal, escrever, jogar conversa fora. Muitos cafés ficaram famosos por abrigar gerações de pensadores, artistas e escritores, como Picasso, Zola e Lenin, que, entre uma xícara e outra, planejavam, cada um à sua maneira, mudar o mundo.

1894
É aberto em Budapeste o New York Café. Reconhecido como o mais popular e elegante dos cafés da capital húngara. O New York foi local de encontro de intelectuais no final do século XIX. O escritor Ferec Molnar, esperando que o estabelecimento permanecesse aberto 24 horas, jogou as chaves da porta no Danúbio.

1898


O escritor Émile Zola, frequentador da roda da boemia parasiense do Café de la Paix, publica seu panfleto J'accuse...! no periódico L'Aurore. Nele, o autor acusa a alta cúpula do exército francês de antissemitismo e cumplicidade no acobertamento do Caso Dreyfus. É um dos primeiros episódios moderno em que um intelectual célebre utiliza influência com o objetivo de atrair atenção pública para uma causa política.

1900
Aberto em 1897, o Café EIs Quatre Gats, reduto de artistas e intelectuais de Barcelona, torna-se ponto obrigatório do iniciante movimento modernista na região da Catalunha. Ali, vários pintores exibem seus trabalhos. O jovem Picasso é um deles: com menos de 20 anos, ele inaugura sua primeira exposição individual em uma das salas do café.

1914
O político socialista Jean Jaurés, principal opositor da declaração de guerra à Alemanha na assembleia Nacional francesa, é morto no Café Le Croissant enquanto jantava, no dia 31 de julho. Jaurés iria falar no congresso da Internacional Socialista no dia 9 de agosto, numa última tentativa de mobilizar os deputados dos países beligerantes para não apoiarem o esforço de guerra.

1917
Quando a notícia da Revolução Russa chega a Viena, o ministro das Relações Exteriores do país, surpreso, diz que a Rússia não é um país onde aconteçam revoluções: "Quem diabos faria uma revolução lá?" E ainda ironiza: "Talvez o senhor Bronstein, que passa as tardes no Café Central". Bronstein é o nome verdadeiro e utilizado no exílio, de Leon Trotsky, que, junto com Lenin, frequentava o principal café da capital austríaca




1919
Em meio a primeira Revolução Egípcia, explode uma rebelião contra o protetorado britânico sobre o país. Àquela altura, o Café Riche, no Cairo, ganha destaque como ponto de encontro de organizações nacionalistas. De suas portas, no dia 15 de dezembro, uma bomba é lançada contra o carro do primeiro-ministro Youssef Wahba. O café continua aberto e fica a poucas quadras da Praça Tahir.

1921
É inaugurado o Sunset Café de Chicago, com música ao vivo. No seu palco se apresenta grandes jazzistas, como Benny Goodman e Louis Armstrong. O lugar viria a ser reconhecido como um dos primeiros a desrespeitar as leis de segregação racial.

1923
Enquanto em outros países da Europa a vida política era discutida nas mesas de cafés, em Munique tramas eram urdidas nos banquinhos das várias cervejarias da cidade. Na noite de 8 de novembro, véspera do aniversário de cinco anos da República de Weimar, o saguão da Cervejaria Burgerbraukeller foi tomado por tropas lideradas por Hitler e pelo general Ludendorff. O episódio anuncia o começo da marcha em direção a Berlim, para depor o governo e estabelecer a ditadura nacional-socialista. Em menos de 24 horas, a rebelião foi contida e Hitler, preso. Na cadeia, ele escreveria seu livro Mein Kampf.

1925
O Café A Brasileira, em Lisboa, passa a expor obras dos principais artistas da nova geração de Portugal. O lugar recebeu o pintor brasileiro Cícero Dias, além de gigantes da literatura portuguesa como Fernando Pessoa, que foi eternizado por uma estátua no lugar. O café continua funcionando e se tornou  ponto turístico da capital portuguesa.

1926
No dia 24 de maio, em Buenos Aires, na bodega de vinhos do lendário Café Tortoni, é fundada a Agrupação Gente de Artes e Letras, mais conhecida como La Pena, criada pelo pintor Benito Quinquela Martin. Com recitais, concertos e conferências, o grupo, que incluía nomes como José Ortega y Gasset e Jorge Luís Borges, buscava difundir o gosto pelas artes na capital portenha.

1933
O Café Les Deux Magts se torna reduto de artistas surrealistas, tendo entre sua clientela o poeta André Breton. Em 1933, quando o Prêmio Goncourt de literatura é concedido a André Malraux por A Condição Humana, uma turma decide criar um prêmio com o nome do café. A partir de então, o lugar seria visitado por diversos escritores, como Ernest Hemingway e Pablo Picasso, pintor que tabém escrevia.

1935
O Café Paraventi, em São Paulo, repleto de artistas falidos e militantes radicais, abriga Luiz Carlos Prestes e Olga Benário em sua passagem pela cidade, enquanto planejavam uma Revolta Comunista.






Fonte: Revista de História da Biblioteca Nacional.

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