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terça-feira, 12 de março de 2013

O mundo neoliberal e paralelo de Sardenberg


Por Davis Sena Filho — Blog Palavra Livre

Estava a ouvir a CBN, conhecida também como a rádio que troca a notícia — e não se importa. Estava a deitar falação o “especialista” em economia, Carlos Alberto Sardenberg, notável porta-voz da direita brasileira e intrépido defensor do neoliberalismo, apesar de o jornalista saber que tal doutrina político-econômica é ou foi um fracasso retumbante, porque derreteu, como gelo em asfalto quente, as economias da Europa e dos Estados Unidos, além de ser mais do que comprovado que esse sistema de pirataria e rapinagem levou centenas de povos à miséria moral e material, bem como alienou o patrimônio público de inúmeras nações, que ficaram sem as estatais planejadas e construídas através de gerações, sendo que o dinheiro auferido com as vendas não foi revertido em novos investimentos, para as sociedades prejudicadas com tal farra efetivada e concretizada pelos neoliberais.

  Para Sardenberg, o Brasil vai de mal a pior, apesar de as estatísticas mostrarem o contrário.

Sardenberg é certamente um dos jornalistas mais radicais de direita que tem voz ativa nos meios de comunicação privados e hegemônicos, de propósitos imperialistas e responsáveis pela defesa e difusão do pensamento liberal, que prega a diminuição do estado e a não interferência por parte dele na economia. Ou seja, Carlos Alberto Sardenberg é a favor da minarquia, cujo significado é quanto menor a participação do estado na economia, os indivíduos serão livres e terão mais poder para exercer, por exemplo, o livre arbítrio para comprar e vender. Enfim, dar rumos e fomentar os negócios e as atividades humanas lucrativas, que levam, principalmente, as classes ricas, donas dos meios de produção, a ficarem cada vez mais ricas, enquanto as pobres... que se virem.

Contudo, Sardenberg sabe o que acontece, até mesmo por ser um profissional com conhecimento junto ao establishment dominado por banqueiros, oligarcas do petróleo, grandes proprietários de terras urbanos e rurais, megaempresários midiáticos e fabricantes de armas, por exemplo. Acontece que Sardenberg é um neoliberal, jornalista-especialista das Organizações(?) Globo, como o é também a grande jornalista Miriam Leitão, que tem mais espaço para falar de economia do que qualquer economista de real grandeza, conhecimento e notório saber do passado e do presente. Somente no Brasil uma rede de televisão e seus “especialistas” influem e combatem tanto as diretrizes e os projetos de governos, ainda mais quando a cadeira da Presidência da República é ocupada por mandatários trabalhistas.

A verdade é que a banda não toca como o senhor Sardenberg deseja e quer. A banda desafina, e como desafinou no decorrer de 30 anos de neoliberalismo, ampliado e colocado em prática em termos mundiais, por intermédio da primeira-ministra britânica, Margaret Thatcher, e do presidente estadunidense, Ronald Reagan, que controlaram a ferro e fogo o Banco Mundial (Bird), o Fundo Monetário Internacional (FMI) e a Organização Mundial do Comércio (OMC). O mundo passou, realmente, por uma onda de transformação, que beneficiou as grandes potências mundiais, os trustes e conglomerados internacionais, além das classes ricas e empresariais do campo e da cidade dos países pobres e em desenvolvimento, a exemplo do Brasil, da Argentina e da Venezuela.

Sardenberg — o Neoliberal II, pois o I é o FHC — fala muito e defende o indefensável, justifica o injustificável e trata os ouvintes da rádio que troca a notícia como se todos eles fossem ingênuos ou meramente integrantes de parte da classe média de perfil lacerdista, udenista, e, portanto, conservadora e reacionária a mudanças. Sardenberg é o contrassenso em toda sua essência e a dissimulação da realidade em toda sua plenitude. Ele prega a continuação do que não deu certo, do que fracassou e foi derrotado, porque simplesmente o neoliberalismo, como doutrina política e econômica, não pensa no bem-estar social da humanidade, das pessoas, apesar de pregar que o indivíduo deve ser livre das amarras do estado, a não ser quando o estado é obrigado a salvar empresas insolventes, falidas de empresários gananciosos, irresponsáveis, que cometem crimes contra a economia dos países e seus povos, como ocorreu a exemplo da crise de 2008, bem como no Brasil, nos Estados Unidos e na América Latina. Neste momento, o estado é ótimo, e gente como o tenaz e obstinado Sardenberg se cala.

A verdade é que tudo não passa de teoria, porque na prática o neoliberalismo teve também seu muro derrubado, como ocorreu, simbolicamente, com o muro de Berlim em relação ao socialismo real. Sardenberg sabe disso, mas não se importa, porque o jornalista da CBN e da TV Globo cumpre seu papel, com dedicação e até mesmo crença no que fala, apesar de eu notar que, muitas vezes, tal escriba e âncora global não é sincero, porque não é possível que ele não perceba que a teoria do estado pequeno e nunca intervencionista não condiz com a realidade e a condição humanas. E por quê? Porque a economia neoliberal — volto a repetir — somente beneficiou os países ricos, enquanto os pobres e em desenvolvimento sustentaram o alto padrão de vida dos europeus, japoneses e estadunidenses, que passaram quase 40 anos a viver como se não tivesse o amanhã. Quem nunca comeu melado quando come se lambuza. E os europeus, ao contrário do que muitos dos nossos cidadãos colonizados e com um imenso complexo de vira-lata pensam, já comeram durante séculos ou milênios o pão que o diabo amassou. Só que "esqueceram" o passado de guerras e crises econômicas, e, a partir da década de 1970, lambuzaram-se.

Concomitantemente à farra neoliberal dos ricos, os nossos milionários tupiniquins também se lambuzavam com as sobras do melado, com o apoio e a cumplicidade irrestritos dos barões proprietários da imprensa de direita e dedicada a fazer propaganda de uma doutrina liberal que levou os países latino-americanos, africanos, árabes e asiáticos à bancarrota, à falência e à dissolução do tecido social, porque não eram criados empregos para os trabalhadores sem salários, não havia crédito para as classes médias e pobres, bem como os pequenos e médios empresários não tinham condições financeiras e logísticas para ampliarem seus negócios, e, por conseguinte, fomentarem a economia interna. O neoliberalismo aumentou os índices de violência e de pobreza e retirou das diversas sociedades deste planeta, exploradas e oprimidas, o direito de sonhar com dias melhores. A época dos princípios neoliberais impostos ao mundo, a partir do Consenso de Washington de 1989

O Brasil do ex-presidente tucano FHC — o Neoliberal — foi ao FMI três vezes, de joelhos e com pires na mão, porque quebrou três vezes. O Brasil, que hoje é a sexta economia mais poderosa do mundo, era humilhado e com a complacência de uma direita emplumada que tem por símbolo uma ave bela e tropical, que não merecia tal destino, que é o de ser vinculada ao PSDB, um partido que em sua nomenclatura tem as palavras social e democracia, mas que envergonha a verdadeira social-democracia, que, ao ver o que os tucanos fizeram com o Brasil, sentiram vergonha, porque, na verdade, o PSDB é um partido de direita e tão provinciano, que, basicamente, está restrito a São Paulo, estado que, historicamente, combateu e combate os governantes trabalhistas, que, em contraponto, sempre beneficiaram o estado bandeirante, mesmo após a vitória do trabalhista Getúlio Vargas contra as forças paulistas, em 1932.

O neoliberalismo é o darwinismo em sua máxima cuja frase “sobrevivência do mais apto“, como sinônimo de “seleção natural”, não coaduna com o direito de viver e muito menos representa a realidade dos entes humanos, que optaram por viver em coletividade para melhor enfrentar as agruras e os perigos no decorrer da vida, da existência. Quando Sardenberg defende o estado mínimo, na verdade ele está a colocar as ovelhas nas bocas dos lobos, que são os grandes capitalistas, que controlam os negócios privados ao tempo que têm influência nas esferas públicas e governamentais, e, dessa forma, impõem à maioria das populações fórmulas econômicas, financeiras e comerciais de exploração, draconianas, para terem seus interesses de classe, recorrentemente, atendidos.

O Torquemada da CBN — a rádio que troca a notícia — deveria, sim, envergonhar-se por defender, ininterruptamente e sem qualquer peso na consciência, uma doutrina criada pelos grandes capitalistas, seus economistas e governantes neoliberais para, juntamente com a globalização, explorar sem limites as riquezas dos solos, das florestas, dos rios e dos mares dos países emergentes e pobres, além de efetivarem, de forma insana e perversa, o neocolonialismo levado às últimas conseqüências, a tal ponto que a partir da primeira década do século XXI os povos explorados pela pirataria e roubalheira dos países ricos passaram a votar em candidatos trabalhistas, como ocorre até hoje em países como o Brasil, a Argentina, a Nicarágua, o Peru, a Venezuela, o Uruguai, o Equador, Honduras e o Paraguai, que, recentemente, foi vítima de um golpe de direita. Porém, o Paraguai foi enquadrado pelos países membros do Mercosul, o que revoltou muitos dos nossos “mervais” e "sardenbergs". Mesmo depois do fim da punição ao atual governo paraguaio de índole e propósitos golpistas, tal governante e seu gabinete vão continuar como párias, até que seja realizada uma nova eleição presidencial.

Não foi à toa que governantes trabalhistas e socialistas criaram os Brics, a Unasul, o G-20, fortaleceram o Mercosul e enterraram a Alca, projeto de espoliação dos EUA, que visava, na verdade, a abertura de mercados gigantescos e poderosos como o do Brasil para os produtos do país yankee, sem, no entanto, receber contrapartida. A Alca, como não deveria deixar de ser, foi sumariamente enterrada. Os governos progressistas da América Latina e do mundo deveriam também serem rígidos no que diz respeito às remessas de lucros das estatais que foram privatizadas, praticamente doadas, nas décadas de 1980 e 1990 por mandatários neoliberais, além de cobrarem duramente serviços de boa qualidade no que é relativo aos serviços de energia elétrica, telefonia e principalmente no que tange à banda larga, que tem de ser pública, barata e oferecida a todos os brasileiros independente de classe social.

Carlos Alberto Sardenberg é um tolo ou se faz de tolo. A verdade é que seus candidatos tucanos vão ter de comer um dobrado para se elegerem. Enquanto isso, o âncora da CBN — a rádio que troca a notícia — e comentarista da Globo News e do Jornal da Globo continua a tergiversar, a dissimular, a manipular e até mesmo mentir sobre as realidades brasileiras e da América do Sul, como o faz sempre no que concerne à Venezuela e aos governos trabalhistas de Lula e Dilma. Sardenberg criou um mundo paralelo para ele viver. O jornalista é tão assertivo e propositivo no que diz, que um dia ele vai se olhar no espelho e se levar a sério. É isso aí.  

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