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domingo, 27 de março de 2016

Um golpe e nada mais

A crer no andar atual da carruagem, teremos um golpe de Estado travestido de impeachment já no próximo mês. O vice-presidente conspirador já discute abertamente a nova composição de seu gabinete de “união nacional” com velhos candidatos a presidente sempre derrotados. Um ar de alfazema de República Velha paira no ar.

O presidente da Câmara, homem ilibado que o procurador-geral da República definiu singelamente como “delinquente”, apressa-se em criar uma comissão de impeachment com mais da metade de deputados indiciados a fim de afastar uma presidenta acusada de “pedaladas fiscais” em um país no qual o orçamento é uma mera carta de intenções assumida por todos.

Se valesse realmente este princípio, não sobrava de pé um representante dos poderes executivos. O que se espera, na verdade, é que o impeachment permita jogar na sombra o fato de termos descoberto que a democracia brasileira é uma peça de ficção patrocinada por dinheiro de empreiteiras. Pode-se dizer que um impeachment não é um golpe, mas uma saída constitucional. No entanto, os argumentos elencados no pedido são risíveis, seus executores são réus em processos de corrupção e a lógica de expulsar um dos membros do consórcio governista para preservar os demais é de uma evidência pueril. Uma regra básica da justiça é: quem quer julgar precisa não ter participado dos mesmos atos que julga.

O atual Congresso, envolvido até o pescoço nos escândalos da Petrobras, não tem legitimidade para julgar sequer síndico de prédio e é parte interessada em sua própria sobrevivência. Por estas e outras, esse impeachment elevado à condição de farsa e ópera bufa será a pá de cal na combalida semi-democracia brasileira.

Alguns tentam vender a ideia de que um governo pós-impeachment seria momento de grande catarse de reunificação nacional e retomada das rédeas da economia.

Nada mais falso e os operadores do próximo Estado Oligárquico de Direito sabem disto muito bem. Sustentado em uma polícia militar que agora intervém até em reunião de sindicato para intimidar descontentes, por uma lei antiterrorismo nova em folha e por um poder judiciário capaz de destruir toda possibilidade dos cidadãos se defenderem do Estado quando acusados, operando escutas de advogados, vazamento seletivo e linchamento midiático, é certo que os novos operadores do poder se preparam para anos de recrudescimento de uma nova fase de antagonismos no Brasil em ritmo de bomba de gás lacrimogêneo e bala.

Uma fase na qual não teremos mais o sistema de acordos produzidos pela Nova República, mas teremos, em troca, uma sociedade cindida em dois.

O Brasil nunca foi um país. Ele sempre foi uma fenda. Sequer uma narrativa comum a respeito da ditadura militar fomos capazes de produzir. De certa forma, a Nova República forneceu uma aparência de conciliação que durou 20 anos. Hoje vemos qual foi seu preço: a criação de uma democracia fundada na corrupção generalizada, na explosão periódica de “mares de lama” (desde a CPI dos anões do orçamento) e na paralisia de transformações estruturais.

Tudo o que conseguimos produzir até agora foi uma democracia corrompida. A seguir este rumo, o que produziremos daqui para a frentes será, além disso, um país em estado permanente de guerra civil.

Os defensores do impeachment, quando confrontados à inanidade de seus argumentos, dizem que “alguma coisa precisa ser feita”. Afinal, o lugar vazio do poder é evidente e insuportável, logo, melhor tirar este governo. De fato, a sequência impressionante de casos de corrupção nos governos do PT, aliado à perda de sua base orgânica, eram um convite ao fim.

Assim foi feito. Esses casos não foram inventados pela imprensa, mas foram naturalizados pelo governo como modo normal de funcionamento. Ele paga agora o preço de suas escolhas.

Neste contexto, outras saídas, no entanto, são possíveis. Por exemplo, a melhor maneira de Dilma paralisar seu impeachment é convocando um plebiscito para saber se a população quer que ela e este Congresso Nacional (pois ele é parte orgânica de todo o problema) continuem. Fazer um plebiscito apenas sobre a presidência seria jogar o país nas mãos de um Congresso gangsterizado.

Em situações de crise, o poder instituinte deve ser convocado como única condição possível para reabrir as possibilidades políticas. Seria a melhor maneira de começar uma instauração democrática no país. Mas, a olhar as pesquisas de intenção de voto para presidente, tudo o que a oposição golpista teme atualmente é uma eleição, já que seus candidatos estão simplesmente em queda livre. Daí a reinvenção do impeachment.


Vladimir Safatle
No folha

sábado, 26 de março de 2016

Roteiro de um golpe?



Peço licença para aproveitar este interregno de Semana Santa e relembrar fatos que todos conhecem. Mas acho necessário destacar que até pouco tempo atrás o impeachment, hoje em franco progresso, estava morto. É preciso retroceder um pouco para entender o que, de fato, aconteceu.

O pedido de impeachment foi aceito pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha, em 2/12/2015, depois de o PT ter votado contra ele no Conselho de Ética. Alvo de inúmeras acusações e processos, o patrocínio do parlamentar foi visto como forma de grosseira retaliação.

Não obstante a baixa legitimidade do gesto de Cunha, menos de uma semana depois, a 7/12, o vice-presidente da República, Michel Temer, envia carta a Dilma em que explicita o seu afastamento do governo. Escrita em tom de bolero, a missiva fez aumentar as dúvidas sobre a capacidade de ele liderar o país para fora da crise, caso a presidente fosse impedida.

Mesmo assim, diversos movimentos conclamam a população a ir às ruas em favor do pedido recém aceito. O resultado é um fiasco. Em São Paulo, apenas 40 mil pessoas se reuniram na avenida Paulista em 13/12, contra 210 mil em março do mesmo ano.

A manobra dera com os burros n'água. Sem o calor das ruas, o impeachment não prospera. A situação estava assim, quando na quinta-feira, 3/3/2016, a "Isto É" publica, em edição imprevista, suposta delação premiada do senador Delcídio do Amaral. Nela, o ex-líder do governo no Senado afirmava, em síntese, que Dilma e Lula tinham atuado para obstruir a Operação Lava Jato.

Segue-se uma cobertura de imprensa monumental. Telejornais de grande audiência dedicam edições extraordinariamente longas a detalhar as acusações senatoriais. Extensas reportagens sobre os supostos imóveis de Lula são acrescentados ao noticiário daquela noite. No dia seguinte, Lula é conduzido coercitivamente para depor em Congonhas (SP).

Com a detenção do ex-presidente, as acusações penais lançadas sobre ele ganham outra dose maciça de exposição. O país entra em estado de emergência comunicacional, com a televisão pisando e repisando denúncias que poderiam levá-lo à cadeia. Menos de uma semana depois, alguns procuradores paulistas efetivamente pedem a prisão do líder petista, propiciando mais tempo televisivo para os ataques à sua imagem.

Não espanta que, diante desse massacre eletrônico, setores de direita e de centro tenham decidido esquecer os graves problemas que pesam sobre o impeachment e produzido, em 13/3, a maior manifestação da história política do Brasil pela saída de Dilma e a prisão de Lula. A partir daí, legitimado pelas ruas, o impeachment começa a andar. Tudo coincidência?


domingo, 6 de março de 2016

Bem-vindos a 1964: Globo chama os militares para salvar o país

Dois dos principais porta-vozes da família Marinho, Ricardo Noblat e Merval Pereira, publicaram textos apontando que as Forças Armadas estão de prontidão para fazer o serviço de organizar o país.


globo manifestacao


Um texto complementa o outro, até porque a voz que os ditou é a mesma. Artigos como esse são escritos na mesa do dono.

Vamos a trechos:

Noblat:

“A crise ganhou um novo componente. Ele veste farda e tem porte de arma.Sua entrada em cena, ontem, foi o fato mais importante do dia em que o país quase parou, surpreso com o que acontecia em São Paulo.

Os generais estão temerosos com a conjugação das crises política e econômica e com o que possa derivar disso. Cobram insistentemente aos seus interlocutores do meio civil para que encontrem uma saída.”

“Não sugerem a solução A, B ou C. Respeitada a Constituição, apoiarão qualquer uma – do entendimento em torno de Dilma ao impeachment ou à realização de novas eleições. Mas pedem pressa.”

“Por inviável, mas também por convicções democráticas, descartam intenções golpistas. Só não querem se ver convocados a intervir em nome da Garantia da Lei e da Ordem como previsto na Constituição.”

Merval:

“Os confrontos entre petistas e seus adversários políticos nas ruas de diversas capitais do país, enquanto Lula depunha na Polícia Federal, insuflados por uma convocação do presidente do PT Rui Falcão, acendeu a luz amarela nas instituições militares, que pelo artigo 142 da Constituição têm a missão de garantir a ordem pública.

“O fato de terem oferecido apoio às autoridades civis mostra que, ao contrário de outras ocasiões, os militares não estão dispostos a uma intervenção, que seria rejeitada pelas forças democráticas, mas se preocupam com a crise e se dispõem a auxiliar as autoridades civis em caso de necessidade.”

As milícias petistas mobilizadas na confrontação física nas ruas podem transformar o país em uma Venezuela, e quanto mais os fatos forem desvelados, mais a resposta violenta será a única saída”

Perceba que na narrativa de ambos são sugeridos “alertas” e apresentado justificativas para uma ação militar em nome de garantir a ordem publica e a paz social.

Ao mesmo tempo o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso publica hoje um artigo na página 2 do Estadão com o título “Cartas na Mesa”. O tópico frasal é: “É preciso abrir o jogo: não se trata só de Dilma ou do PT, mas da exaustão do atual arranjo político brasileiro“.

Isso pode ser entendido como um sinal para o diálogo.

Mas no meio do texto o ex-presidente depois de falar de tudo que poderia ser feito, solta um parágrafo assim:

“Agora é tarde. Estamos em situação que se aproxima à da Quarta República Francesa” (…). Aqui as Forças Armadas, como é certo, são garantes da ordem, e não atores políticos.

Parece um sinal de que o ex-presidente sentiu o cheiro de queimado e topa agir como bombeiro. Mas também pode ser um sinal para o PSDB de que os ateadores de fogo já estão na rua e que para se preservar como solução o partido não deve ajudar no serviço sujo.

E no final do artigo FHC coloca na mesa a solução do semi-parlamentarismo. O que no meio de um mandato é também um golpe branco.

Ao mesmo tempo que isso acontece, recebo um alerta de um leitor que me envia, inclusive, o comunicado que um general das Forças Armadas teria enviado a membros do alto comando da corporação.

A Fórum vai checar a autenticidade da mensagem antes de publicá-la. Mas ela teria sido enviada a militares da reserva pró-ativa e chamaria a atenção para a atual situação política do país.

O militar que recebeu o texto na Europa disse que após isso houve um encontro presencial com a tropa onde o alto comando teria inflamado a tropa e reclamado da falta de recursos.

Enfim, são muitos sinais de que um pré 64 está em curso. E, de novo, com apoio das organizações Globo que sempre esteve no mesmo lugar da história.

A foto que ilustra essa matéria é de uma manifestação que ocorreu há pouco na frente da emissora no Rio, com aproximadamente mil pessoas. Na segunda, no Sindicato dos Jornalistas, em São Paulo, haverá um ato contra a postura golpista da Globo. Num momento como esse em que está em jogo o processo democrático não se pode errar o alvo.

Moro é apenas uma peça no tabuleiro, a Globo é o golpe.

sábado, 5 de março de 2016

O futuro do Brasil é agora!

:


EMIR SADER

O futuro do Brasil depende do que aconteça com o Lula. Ou a direita o exclui da vida política, pela repressão física e jurídica e faz o que bem entende do país, de novo. Ou o Lula supera tudo isso e se elege de novo Presidente do Brasil e retoma o caminho do melhor governo que o país já teve.

A direita sempre teve a obsessão de que um dia o PT terminaria ganhando, teria que fracassar e ela pode dirigir o pais com tranquilidade. Lula ganhou e, ao contrario, deu mais certo do que qualquer expectativa otimista. Aí a direita se pôs a caçar o Lula e o PT.

Tentou derrotá-lo em 2006, não conseguiu. Tentou impedir que ele elegesse sua sucessora, não conseguiu. Tentou impedir que ela se reelegesse, tampouco conseguiu.

Agora se dedica a tentar impedir que o Lula se candidate de novo, ganhe e volte a ser Presidente do Brasil.

É o golpe branco: castrar a democracia brasileira do seu principal líder por uma via institucional completamente conspurcada. Excluir o Lula da vida política é ferir de morte a frágil democracia que temos. Primeiro foram invadindo os espaços institucionais com o Judiciário, depois com a Polícia Federal. O pretexto de combate à corrupção é uma farsa, dado que os tucanos são totalmente preservados. Trata-se de uma operação política contra o Lula.

Se conseguirem dar esse golpe branco, o país se tornará uma "democracia restringida", um Estado de exceção, excluindo os setores populares da vida política do país, porque em seguida virá a repressão contra os movimentos sociais, contra todas as forças democráticas, contra o mundo da cultura, contra tudo o que resistir. A mídia se encarregara de esconder tudo e promover a ideia de que a democracia sai fortalecida, que o obstáculo para o país voltar a crescer é o Lula.

Ou o Lula consegue superar mais essa e sai ainda mais fortalecido, a campanha eleitoral de 2018 começa diretamente, as denúncias sobre a politização e fascistização de setores do Judiciário e da PF virão à tona.

Ou o Brasil democratiza seu Estado ou a direita incrustrada no Estado terminará com a democracia no Brasil.

O momento decisivo é este. Ou se detém a ação das forças do golpe branco ou é a democracia e todos os direitos conquistados pelo povo que se reverterão. O governo Dilma será definitivamente avassalado pela direita golpista.

É a hora decisiva do Brasil. Seu futuro se decide agora. No destino do Lula se decide o futuro do país.

sexta-feira, 4 de março de 2016

Não vai ter golpe!






Lula e o PT são apenas os alvos visíveis. O que se teme é o novo projeto de nação que vem sendo implantado há treze anos no brasil. O que está acontecendo é que a elite que dominou este país durante meio milênio tem medo da continuidade e da consolidação desse projeto que, entre outras virtudes, tirou 40 milhões de brasileiros da miséria. Que fez uma revolução sem dar um tiro. É disso que eles têm medo. 

Setores do ministério público, do judiciário e da polícia federal têm agido impunemente de forma política, partidária e eleitoral para tentar minar o projeto instalado no brasil pelo PT – partido ao qual, que fique claro, não sou filiado. 

Os interesses e personagens que estão na margem direita desse rio são velhos conhecidos dos brasileiros. São os mesmos que levaram Getúlio ao suicídio, em 1954, que tentaram impedir a posse de JK, que tentaram derrubá-lo com os frustrados golpes militares de Aragarças e Jacareacanga, que tentaram impedir a posse de Jango em 1961 e depois o derrubaram em 1964. 

Nada disso, no entanto, seria possível se os golpistas de hoje não tivessem à sua disposição dois dos jornalões nacionais – Folha e Estadão –, a revista Veja e a poderosa máquina dos Marinho: as organizações Globo, com a TV Globo, o jornal O Globo e a revista Época. Mas as coisas mudaram: imprensa de papel está com os dias contados, assim como a TV, como nós conhecemos, também vai acabar. Agora eles mentem à noite na televisão e nós desmentimos de dia, na internet. Acabou a moleza.