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sábado, 18 de fevereiro de 2017

A receita para destruir um país




Há três formas de destruir um país. As duas primeiras são por meio da guerra e de catástrofes naturais. A terceira, a mais segura e certa de todas, é entregando seu país para economistas liberais amigos de operadores do sistema financeiro.

Em todos os países onde eles aplicaram suas receitas de "austeridade", a recompensa foi a pobreza, a desigualdade e a precarização.

Alguns países, como a Letônia, vendido por alguns como modelo de recuperação bem-sucedida, viu sua população diminuir em quase 10% em cinco anos, algo que apenas as guerras são capazes de fazer.

Ou seja, o preço para essa peculiar noção de sucesso foi expulsar quase 10% da população para refazer suas vidas em outros países.

No Brasil, não faltou economista a eleger, meses atrás, o Espírito Santo como um modelo de ajuste econômico e responsabilidade fiscal. O mesmo Espírito Santo que tem números piores do que média nacional (retração de 13,8% até o terceiro trimestre de 2016) e que há algumas semanas simplesmente entrou em colapso, virando uma zona de anomia em meio à greve de policiais. Não poderia ser diferente.

No mundo desses senhores não existe gente, não se levam em conta reações populares a medidas econômicas, muito menos experiências de sofrimento social e revoltas políticas contra processos de pauperização vendidos como "remédios amargos, porém necessários".

Outros tantos desses economistas encheram as páginas de jornais e tempo de televisão para levar a sociedade brasileira a acreditar que, conduzindo Michel Miguel à Presidência, a "confiança" dos mercados daria o ar de sua graça e, com ela, viria a estabilidade.

Bem, nos últimos dias, o Banco Mundial divulgou uma análise segundo a qual espera que, até o final do ano, 3,6 milhões de pessoas voltem à pobreza no Brasil. Para ser mais claro, 3,6 milhões de pessoas verão seus rendimentos caírem para menos de R$ 140 por mês.

Isso em um cenário no qual o Brasil tem a maior taxa de capacidade ociosa da indústria dos últimos 70 anos, já que não há mais compradores para seus produtos.

Se somarmos a isso a reforma da Previdência, a limitação de investimentos estatais para guardar dinheiro a fim de pagar os mais de R$ 400 bilhões em serviços da dívida pública, a proposta de terceirização irrestrita e o colapso do sistema brasileiro de serviços públicos teremos um cenário simples: o Brasil foi destruído pelas políticas implementadas desde a guinada neoliberal do governo Dilma. O próximo passo será a imigração em massa dos que puderem, normalmente os mais bem formados.

Enquanto isso, uma parcela da população aplaude tudo, já que acredita ficar imune à degradação econômica nacional.

Essa mesma parcela julga-se hoje detentora de alguma forma de superioridade moral que faria calar os descontentes com este governo.

No entanto, que as coisas sejam ditas de forma clara: eles nunca estiveram nem estão, de fato, preocupados com julgamentos morais.

Os mesmos que gritam contra corruptos do antigo governo sempre votaram e continuaram votando em políticos notoriamente corruptos, continuaram calados diante de casos gritantes de corrupção neste governo, como ficaram calados quando, nesta semana, o STF publicou uma decisão inacreditável e criminosa para permitir o gato Angorá, vulgo Moreira Franco, com suas citações na Lava Jato, ocupar um ministério.

Nada estranho, já que o problema deles nunca foi a corrupção, e sim a luta contra políticos com os quais eles não se identificam. O discurso contra a corrupção era apenas uma grande farsa, senão produziria ações simétricas contra toda classe política brasileira.

Julgamentos morais não aceitam usos estratégicos. Quem usa moral de forma estratégica é um "moralista da imoralidade". Na verdade, essas pessoas são atualmente cúmplices de um governo cuja única preocupação é se blindar e escapar da cadeia. Até porque, Michel Miguel e os seus não governam, eles têm coisas mais urgentes para fazer.

Enquanto tentam salvar a própria pele, terceirizaram o Brasil para gestores da catástrofe.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

O estelionato do MBL e Vem Pra Rua





O MBL (Movimento Brasil Livre) e o Vem Pra Rua convocaram uma manifestação para o próximo mês. Andavam sumidos ultimamente. Também pudera.

Esta turma praticou um incrível estelionato político. Venderam a seus seguidores a ideia de que a saída de Dilma representaria a salvação nacional. Seria o fim da corrupção e o caminho para a recuperação econômica. Diante da incredulidade de alguns recorriam ao bordão "primeiro tiramos Dilma, depois os outros".

Foram desmoralizados pelos acontecimentos. Na prática ajudaram a alçar ao poder o grupo mais fisiológico da política brasileira, com acusações de corrupção dos pés à cabeça. Um governo que demonstra ter perdido até mesmo a preocupação com as aparências de decoro, como na recente indicação de Alexandre de Moraes ao Supremo Tribunal Federal.

Quando Lula foi indicado ministro gritaram raivosos pelas ruas. Diziam que era um acinte ao povo brasileiro. Agora, na recente indicação de Moreira Franco saíram pela tangente. No máximo, algumas postagens envergonhadas na internet.

Quanto à economia, bem a economia... caminha aceleradamente para a maior recessão da história brasileira. O austericídio pretende combater a doença matando o paciente. Em breve não terão sequer como recorrer ao discurso da "herança maldita".

Se Dilma saísse, os investimentos iriam voltar. Não voltaram. Se aprovassem a PEC do Teto, então, os investimentos voltariam. Nenhum sinal deles. Agora, a bola da vez é a reforma da Previdência e, em seguida, a Trabalhista. É de se pensar o que poderão dizer após terem destruído o Brasil, sem tirar a economia do fundo do poço.

Ora, o que essa turma que apresentou a derrubada de Dilma como solução para o país tem a dizer? Nada, por isso ficaram quietos nos últimos meses. Qualquer um com um pingo de bom senso teria vergonha de apresentar-se publicamente após um estelionato de tal magnitude. Quem ajudou a colocar Temer no poder não tem credibilidade para falar sobre corrupção. Menos ainda sobre um programa de saída para a crise.

Não por acaso, a última manifestação que chamaram, ainda no ano passado, foi um fiasco. Reduziram estes grupos a seu tamanho real. Sem convocação ao vivo pelas redes de televisão a vida fica mais difícil.

As declarações à Folha dos líderes da próxima manifestação foram esclarecedoras sobre sua relação com Temer. Falando da manifestação, Rogério Chequer, do Vem Pra Rua, fez questão de ressaltar "as várias coisas boas que o governo está fazendo". O representante do MBL, mais chapa-branca, foi além: "queremos deixar bem claro que este não é um ato Fora Temer". Desnecessário o alerta, todos sabem.

Quem pariu o governo Temer que o balance.