Dizer que vivemos no paraíso seria alienação, mas dizer que vivemos hoje num país pior do que aquele que nos deixou a turma de Aécio e FHC, é má vontade. Não se supera quinhentos anos de abandono em dez anos de opção preferencial pelos mais pobres
A ascensão social de 40 milhões de pessoas, a redução das desigualdades sociais, a geração de mais de 20 milhões de empregos com carteira assinada, o ingresso de milhões de jovens nas universidades, a ampliação de oportunidades para todos, enfim o surgimento de um novo Brasil é real.
Esse novo país atravessou a crise econômica mundial sofrendo os menores abalos entre as grandes economias globais e permitiu a seres humanos de carne e osso o acesso à faculdade, férias, casa própria, formação no exterior, aquisição de carro, carne na mesa, emprego formal ou mesmo compras em shoppings – benefícios que grande parte dos brasileiros desconhecia até a expansão da chamada “nova classe média”, criada a partir de 2003.
Na área de mobilidade urbana, que levou às ruas manifestantes em centenas de cidades do país, o partido que comanda a frente de governo foi, historicamente, protagonista de medidas inovadoras, como o Bilhete Único, em São Paulo com Marta Suplicy, que resultou na redução de 30% no valor da tarifa. Fernando Haddad, o atual prefeito da maior cidade do país, projeta ampliar o benefício, com validade mensal e novos ganhos para os usuários que ainda serão beneficiados com a decisão da abertura de corredores e duplicação de importantes vias de acesso à periferia.
Lembrada pelo nefasto salário mínimo de 100 dólares, a era FHC passou ruidosamente sem que nenhum trabalhador fosse beneficiado com casa própria. Depois de décadas sem construir nenhuma unidade habitacional, o governo federal criou o programa Minha Casa Minha Vida. Mais de R$ 2,8 bilhões foram aplicados na construção de moradias populares em 2012.
Outros R$ 33 bilhões foram destinados para o PAC da Mobilidade Urbana e Medida Provisória zerou as alíquotas de PIS/PASEP e Cofins incidentes sobre as empresas operadoras de transporte coletivo municipal rodoviário, metroviário e ferroviário de passageiros, possibilitando a redução das tarifas.
Desde 2003, o salário médio real dos trabalhadores cresceu acima dos ganhos de produtividade no Brasil. Entre 2003 e 2010 o aumento acumulado da produtividade foi de 13,2% ante a expansão de 20,8% do salário médio real. Para cada aumento de 1% na produtividade, o salário médio real aumentou 1,6% durante os governos Lula e Dilma, enquanto nos governos imediatamente anteriores, a quase inexistência de aumentos na produtividade resultou no decréscimo da remuneração dos trabalhadores.
No combate à miséria, o Brasil silente também avançou. De acordo com a FAO, apenas vinte países cumpriram o Objetivo de Desenvolvimento do Milênio, reduzindo pela metade a proporção de pessoas que sofrem de fome, de acordo com critério estabelecido pela comunidade internacional na Assembleia Geral da ONU em 2000. O Brasil foi o primeiro a cumprir a meta.
Dizer que vivemos no paraíso seria alienação, mas dizer que vivemos hoje num país pior do que aquele que nos deixou a turma de Aécio e FHC, é má vontade. Não se supera quinhentos anos de abandono em dez anos de opção preferencial pelos mais pobres.
Embora ainda haja muito que fazer em educação e existam distorções em função da distinção entre o que é responsabilidade das prefeituras, dos estados e do governo federal, a expansão do ensino superior mostra o quanto o país vem avançando na área. Os últimos dez ano presenciaram um crescimento de 150% em matrículas. Hoje são 6,7 milhões de alunos. Até 2003, o país contava com 148 campi de universidades federais, em 114 municípios. Em 2010, o número chegou a 274, em 230 municípios. Até 2014, serão criadas mais quatro universidades federais, totalizando 63 instituições com 321 campi em 275 municípios.
Lançado pela presidente Dilma Rousseff, em 2011, para qualificar estudantes brasileiros de áreas-chaves para o desenvolvimento tecnológico do país, como engenharia, física e computação, o Programa Ciência sem Fronteiras enviará, até 2015, 100 mil universitários para cursar parte do ensino superior fora do Brasil. Os estudantes selecionados pela iniciativa federal recebem ajuda financeira para pagar o curso, as despesas da viagem, alimentação e hospedagem
Um dos gritos mais ouvidos nas ruas dá conta do desmonte da saúde pública no Brasil, que deveria receber “o mesmo tratamento que a Copa do Mundo”, mesmo com a insistência do governo da inexistência de recursos públicos diretos investidos nas obras da copa Copa e sim na infraestrutura das cidades que receberão os jogos, para viabilizar o acesso e garantir a rentabilidade do evento para as cidades-sedes.
Se o Brasil fosse gastar com saúde o que gastou com a Copa zeraria seu investimento em saúde, que é de aproximadamente R$ 109 bilhões/ano, a maior parte repassado às prefeituras e governos estaduais. De acordo com dados da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), 56% do que é investido em saúde no Brasil vem de recursos federais.
Um governo com esse histórico, com esse cabedal, com essas realizações e com o prestígio internacional que angariou graças a um desempenho acima da média, não deveria sofrer com críticas de ineficiência e incompetência, nem deveria assimilar críticas por prática de corrupção, que sempre combateu.
Por que sofre, então? Porque essa informação, de modo claro e insofismável, não chegou à população, não alcançou a juventude, não integrou os setores alcançados pelos benefícios através de pontos de contato formais e participação virtual ou real. Sem identificar o que era produto de políticas públicas e o que era obra das orações nos cultos, uma parte expressiva das massas não reconhece os avanços nem identifica sua origem.
Isso acontece quando a arrogância do “estamos certos” encontra eco numa política de comunicação conservadora e autossuficiente, que retroalimenta o poder da grande mídia e acha que poderá dobrar com dinheiro o que foi edificado em ideologia e preconceito.
A indigente comunicação do governo federal, burocratizada, despolitizada e pasteurizada por uma linguagem desengajada, por uma dissociação de ferramentas e pelo entendimento incorreto da função da comunicação pública, fala javanês em um país onde os nativos falam português.
Em busca de tradutor, o governo não deve perder a oportunidade de aprender com o alarido das ruas aquilo que sua comunicação foi incapaz de entender desde sempre: percepção é realidade. Tudo o mais é ilusão.
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