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quinta-feira, 16 de outubro de 2014

O risco que se corre quando o ódio tenta derrotar a democracia


Por Renato Rovai

O Brasil vive um dos seus melhores momentos da história do ponto de vista democrático. E o impressionante é que em alguns setores à esquerda e à direita isso não é valorizado da forma que deveria. Do lado dos brucutus que têm saudades dos tempos das casernas, vivemos hoje num Estado aparelhado pelos comunistas. Mas à esquerda também não é incomum ouvir gente séria fazendo coro à tese de que o Brasil não é democrático porque, entre outras coisas, a polícia é muito violenta e a injustiça social imensa.

Aos que seguem a cantilena de Olavo de Carvalho, Lobão, Roger, Rodrigo Constantino e outros importantes e ilustres pensadores, dá pra entender que busquem a todo custo destruir o que foi construído nos últimos 30 anos.

Do outro lado da corda, às vezes o desprezo pelo já construído tem relação com os limites da democracia direta. Que precisam ser testados e reformulados a partir de lutas como o do projeto de Lei da Constituinte Soberena e Exclusiva para a Reforma Política, que obteve cerca de 8 milhões de assinaturas.

Mas até para avançar é preciso que se valorize o que já se conquistou. E nos limites deste atual modelo o Brasil já avançou muito nos últimos anos. Somos um país muito melhor. Há muito menos gente passando fome, construímos legislações avançadas, como o Estatuto da Criança e Adolescente, sistemas universais, com o SUS, um sistema político onde há distribuição de poder e no qual partido algum consegue controlar o país inteiro, melhoramos a fórceps a distribuição de renda, temos movimentos sociais fortes e que garantem estruturas de participação popular, tivemos imensa ampliação da consciência de direitos e lutas de grupos como mulheres, negros e LGBT. Enfim, a despeito de uma série de problemas, o saldo a favor é muito grande.

E neste processo há grupos políticos que entregaram mais do que outros, mas o fato é que um país não é feito de apenas uma parte. Ele também é fruto das suas contradições.

Nesta eleição, porém, o clima atual é muito perigoso. Talvez até menos pelo discurso dos candidatos e mais pelo ódio que é estimulado por segmentos da mídia e por algumas de suas sub celebridades. Aquelas que só têm compromisso com alguns minutos de fama e nada mais. Que desprezam tanto as consequência do que dizem e escrevem como também as suas biografias.

E é isso que tem gerado agressões em bairros mais elitizados a pessoas que se posicionam a favor de candidaturas, em especial, nesta eleição, vinculadas ao PT. Há um setor da direita buscando impedir o posicionamento daqueles que consideram que os avanços dos últimos 12 anos no Brasil foram maiores que nos anos anteriores. E que por isso preferem Dilma.

É inaceitável que artistas que estão declarando votos sejam constrangidos em restaurantes, que militantes sejam expulsos aos gritos e pontapés de áreas de classe média, que ativistas de rede social incitem a violência contra aqueles que divergem. A convivência democrática entre as partes que divergem é um dos principais valores a serem defendidos pelos que são de fato democratas. Quem buscar caminhos tortos para se impor, pode ganhar no curto prazo, mas perde na hora que a história pede sua prestação de contas.

Bolsonaro, Malafaia e Felicianos da vida quando somam diminuem o candidato que apoiam. E quando se tornam protagonistas de um dos lados da disputa, maculam seus propósitos.

O ódio capturou boa parte dos militantes mais ativos da candidatura de Aécio, em especial em São Paulo. Jovens classe média que votam em Dilma não têm coragem de declarar isso para seus familiares. Pessoas que residem em prédios nobres, não se sentem à vontade para colocar um adesivo no carro por medo de retaliação. Quem trabalha em empresas mais tradicionais que declarou o voto, tem sofrido assédio.

Isso não é do jogo e precisa ser combatido, mas não com o mesmo ódio. O contraponto tem que ser pelo diálogo e com tolerância. Mas sem se deixar intimidar por esse brucutonismo. Se eles passarem, seremos reféns de seus caprichos e demônios. E os demônios dessa gente gostam de sangue. Sangue que já foi vertido em outros momentos da história do país e não levou o país a avançar. Ao contrário, que fez com que quase todos perdêssemos muito naquele período.

A melhor resposta a isso é exercer seu direito cidadão, defender seu candidato, desfraldar sua bandeira, conversar sobre política e saber que aquele que não pensa como você não é seu inimigo. É adversário político. Porque é do jogo ter adversários, porque faz parte da batalha querer vencer. Mas há limites. E ultrapassá-los ou negá-los é a pratica dos intolerantes. E esses precisam ser combatidos mais do que todos.

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