Juremir Machado da Silva
O principal inimigo da inteligência é o senso comum. A sua grande astúcia é se exibir como o máximo da sabedoria e da sensatez. O senso comum é a inteligência da burrice. Em todas as situações, ele escolhe o caminho mais fácil e só aparentemente mais lógico. As cadeias estão lotadas, o senso comum sustenta que há impunidade. O combate às drogas fracassa, o senso comum garante que falta repressão. A desigualdade aumenta, levando com ela a violência, o senso comum explica que é melhor diminuir os investimentos sociais.
O senso comum é a ignorância ao alcance de todos pelo menor preço. O país está em crise, o senso comum entende que a saída é criar desemprego. Diante de qualquer crítica às distorções do capitalismo, com suas famosas devastadoras crises cíclicas, o senso comum reage simplificando: “Vai pra Cuba, comunista safado”. Se alguém critica a hipocrisia da oposição, também afundada em escândalos de corrupção e com percepção seletiva para denúncias, só vendo a ladroeira do adversário, que age da mesma maneira, o senso comum tem resposta pronta: “Coisa de petralha”. O senso comum é a pobreza de espírito satisfeita com sua performance esquálida, mas sem complexo de inferioridade.
O senso comum nunca se olha no espelho.
Inculto por excesso de confiança, o senso comum adora dar conselhos de especialista: “Fica no teu campinho, que tu dominas”. O senso comum é metástase do cérebro. O clichê torna-se medida de sofisticação, a banalidade vira parâmetro de originalidade, o reducionismo toma o lugar da complexidade, a estupidez se converte em argumento lógico. O senso comum costuma se expressar pela indignação moralista, que confunde com moralidade. O senso comum resulta da sistemática falta de observação do vivido, que se dissimula de realismo e de sistematização de “conhecimentos” práticos. O senso comum detesta intelectuais e teóricos, salvo quando eles legitimam seus dogmas. O senso comum é pragmático, oportunista e antagônico.
Antagônico, no caso, deve ser entendido como, digamos, um neologismo: anta fingida. O senso comum é alta filosofia do homem “midiocre”. O senso comum radicaliza as dicotomias ao mesmo tempo em que as declara ultrapassadas ou extintas. Considera chato tudo o que supera a sua lógica rasteira do entretenimento supostamente sem ideologia. De resto, para o senso comum ideologia é sempre o pensamento do outro, aquele que o contraria ou desmascara. Diante de qualquer pensamento desconstrutor, o senso comum saca o seu revólver falso e dispara uma saraivada de balas de goma açucaradas com o molho da mediocridade. Em 1888, o senador Paulino de Souza, representante máximo do senso comum escravista, indignava-se dizendo que a abolição da escravatura era inconstitucional, antieconômica e desumana.
O senso comum exala uma incomum capacidade para defender o pior como melhor. Motoristas cometem infrações de trânsito em demasia, o senso comum culpa a indústria da multa. As coisas andam mal, o senso comum tem a explicação: culpa da esquerda retrógrada ou da direita.
O senso comum tem a incomum capacidade de errar por excesso de acerto.
O principal inimigo da inteligência é o senso comum. A sua grande astúcia é se exibir como o máximo da sabedoria e da sensatez. O senso comum é a inteligência da burrice. Em todas as situações, ele escolhe o caminho mais fácil e só aparentemente mais lógico. As cadeias estão lotadas, o senso comum sustenta que há impunidade. O combate às drogas fracassa, o senso comum garante que falta repressão. A desigualdade aumenta, levando com ela a violência, o senso comum explica que é melhor diminuir os investimentos sociais.
O senso comum é a ignorância ao alcance de todos pelo menor preço. O país está em crise, o senso comum entende que a saída é criar desemprego. Diante de qualquer crítica às distorções do capitalismo, com suas famosas devastadoras crises cíclicas, o senso comum reage simplificando: “Vai pra Cuba, comunista safado”. Se alguém critica a hipocrisia da oposição, também afundada em escândalos de corrupção e com percepção seletiva para denúncias, só vendo a ladroeira do adversário, que age da mesma maneira, o senso comum tem resposta pronta: “Coisa de petralha”. O senso comum é a pobreza de espírito satisfeita com sua performance esquálida, mas sem complexo de inferioridade.
O senso comum nunca se olha no espelho.
Inculto por excesso de confiança, o senso comum adora dar conselhos de especialista: “Fica no teu campinho, que tu dominas”. O senso comum é metástase do cérebro. O clichê torna-se medida de sofisticação, a banalidade vira parâmetro de originalidade, o reducionismo toma o lugar da complexidade, a estupidez se converte em argumento lógico. O senso comum costuma se expressar pela indignação moralista, que confunde com moralidade. O senso comum resulta da sistemática falta de observação do vivido, que se dissimula de realismo e de sistematização de “conhecimentos” práticos. O senso comum detesta intelectuais e teóricos, salvo quando eles legitimam seus dogmas. O senso comum é pragmático, oportunista e antagônico.
Antagônico, no caso, deve ser entendido como, digamos, um neologismo: anta fingida. O senso comum é alta filosofia do homem “midiocre”. O senso comum radicaliza as dicotomias ao mesmo tempo em que as declara ultrapassadas ou extintas. Considera chato tudo o que supera a sua lógica rasteira do entretenimento supostamente sem ideologia. De resto, para o senso comum ideologia é sempre o pensamento do outro, aquele que o contraria ou desmascara. Diante de qualquer pensamento desconstrutor, o senso comum saca o seu revólver falso e dispara uma saraivada de balas de goma açucaradas com o molho da mediocridade. Em 1888, o senador Paulino de Souza, representante máximo do senso comum escravista, indignava-se dizendo que a abolição da escravatura era inconstitucional, antieconômica e desumana.
O senso comum exala uma incomum capacidade para defender o pior como melhor. Motoristas cometem infrações de trânsito em demasia, o senso comum culpa a indústria da multa. As coisas andam mal, o senso comum tem a explicação: culpa da esquerda retrógrada ou da direita.
O senso comum tem a incomum capacidade de errar por excesso de acerto.
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