No último dia 22, um grupo foi até a casa do ministro Teori Zavascki intimidá-lo por conta de sua decisão de enviar a investigação contra Lula para o Supremo. Decisão esta que foi confirmada ontem pelo plenário da Corte.
O seu endereço foi divulgado nas redes sociais pelo movimento "Vem pra Rua". O "músico" Lobão foi além e divulgou o endereço do filho do ministro, estimulando um cerco à sua casa.
No dia seguinte, o cardeal de São Paulo Dom Odilo Scherer foi agredido durante a missa e chamado de comunista por uma senhora fora de si. Odilo foi lançado ao chão e arranhado no rosto. O cardeal –diga-se de passagem, um católico conservador– havia sido "acusado" de comunista anteriormente num vídeo gravado por Olavo de Carvalho.
Nessa semana, na madrugada do dia 29, um grupo de playboys foi ao prédio onde mora o jornalista Juca Kfouri para xingá-lo. Juca, conhecedor da covardia dos fascistas que se escondem no anonimato, desceu e deu-lhes uma boa lição de moral.
A estes três episódios ilustrativos somam-se inúmeras agressões contra pessoas vestidas de vermelho e intimidações a quem destoe da narrativa "Fora Dilma. Lula na cadeia". Uma pediatra do Rio Grande do Sul recusou-se a atender uma criança por sua mãe ser petista. Até um cachorro foi chutado em Brasília por estar com um lenço vermelho pendurado no pescoço.
CLIMA HOSTIL
Situações como estas nos ajudam a entender quem de fato está incendiando o Brasil. Setores da imprensa e políticos antipetistas estão insuflando irresponsavelmente um clima hostil e incendiário no país.
Curioso é que atribuam isso à esquerda e aos movimentos populares.
Há alguns dias o jornal "O Estado de S. Paulo" lançou um editorial acusando este colunista de criminoso por declarar que o resultado de um golpe contra a democracia e os direitos sociais não seria a "paz dos cemitérios", mas greves, ocupações e mobilizações. As acusações foram estendidas ao MTST e ao MST.
O deputado José Carlos Aleluia (DEM/BA), famoso desde a CPI dos Anões do Orçamento e lembrado pela lista do caixa dois de Furnas, pegou carona e entrou com uma representação na Procuradoria da República contra mim por incitação ao crime.
Ora, o país sabe qual é o programa de Michel Temer.
Para quem não sabia, a língua grande de Moreira Franco fez questão de informar : fim do subsídio para programas sociais, desindexação do salário mínimo, privatização do SUS, redução do Fies e por aí vai.
Acreditar que medidas como essas –implementadas ainda por um governo sem a legitimidade do voto– não enfrentarão decidida resistência popular é uma estupidez. Só consideram isso uma ameaça aqueles que não conhecem a história das lutas sociais em nosso país. A resistência é certa.
Fica, portanto, a questão de quem está incendiando o Brasil.
Aqueles que querem impor um presidente que tem 1% de intenções de voto, com um programa de devassa nos direitos sociais, ou os que resistem a isso?
Aqueles que saem às ruas agredindo os adversários, que cercam casas de juízes e jornalistas e agridem um cardeal, ou os que estão sendo vítimas das agressões?
A resposta não exige nada além de bom senso. Mas, nesses tempos, mesmo isso é pedir demais.
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