Sequência de eventos e visões políticas ocidentais e russas que ajudam a entender o cenário maior. Entender o quadro geopolítico é diferente de concordar com a atual invasão ou invasões anteriores.
Anos 1990: fragmentação da URSS. 1994: Rússia e Ocidente garantem soberania territorial da Ucrânia em troca de sua desnuclearização, já que o país tinha boa parte do arsenal nuclear soviético (Memorando de Budapeste).
1994: A Crimeia, região de maioria russa na Ucrânia, recebe status de república autônoma, sujeita a Kiev, com parlamento próprio.
1999: Expansão da OTAN sobre países da ex-Cortina de Ferro, contrariando acenos feitos à Rússia.
1999: Alteração do estatuto da OTAN permite que a organização ataque sem ser atacada. Ação da OTAN no Kosovo, contra a Sérvia (aliada da Rússia) a favor dos separatistas kosovares, com ataques a outras partes da Sérvia, incluindo a capital Belgrado.
Sérvia, acusada de limpeza étnica, era protegida pela Rússia no Conselho de Segurança da ONU. Poder de veto russo impediu ação da ONU, mas não existe em relação à OTAN.
2003: Invasão dos EUA ao Iraque, pautada em denúncias falsas sobre colaboração com o extremismo e armas de destruição em massa. Ação foi criticada pela Rússia como tentativa dos EUA de impor seu poder, violando o direito dos povos. Na ONU, Rússia usou seu veto.
Invasão ao Iraque foi feita mesmo sem aprovação da ONU, liderada por EUA e alguns aliados, com destaque para o Reino Unido.
2008: Kosovo realiza referendo para independência sem participação do resto da Sérvia. Resultado aceito por diversos países ocidentais.
2008: Geórgia, ex-URSS, se aproxima da EU/OTAN. Alegando defesa de minorias russas, Rússia ataca o país por 6 dias e reconhece a independência das regiões separatistas da Abkházia e Ossétia do Sul.
2011: Ataque da OTAN à Líbia, no contexto da Primavera Árabe, sem que houvesse ataque da Líbia à OTAN. Queda de Muanmar Kadafi, ditador antiocidental.
2013/14: Ucrânia Governo pró-Rússia derrubado após manifestações contra a decisão de não assinar acordo de aproximação com a Europa. Justificativa foi o uso da violência contra manifestantes, remoção do presidente pelo parlamento, mesmo sem obter todos os votos necessários.
Crimeia declara independência unilateral, pedindo apoio russo em seguida. Anexação à Rússia aprovada por referendo sem participação do resto do país. Ocidente e Kiev não reconhecem, Rússia anexa. Movimentos separatistas pró-Rússia em Donetsk e Lugansk (Donbass), guerra civil.
Acordos de Minsk não resolveram a questão. Região do Donbass teve participação nas eleições vetada pelo governo de Kiev.
Ocidente acusa Rússia de violar território ucraniano, Rússia acusa Ocidente de incitar a queda do governo e armar milícias neonazistas que participaram das manifestações. Crise dividiu o país (mapa), não houve consenso sobre a queda do governo, não foi um movimento nacional.
2021 - 22: derrota da OTAN no Afeganistão, troca de governo nos EUA, Europa ainda abalada pelo Brexit, troca de poder na Alemanha. Ocidente "enfraquecido". Alegando que a expansão da OTAN é uma ameaça à sua segurança, Rússia invade Ucrânia.
Por anos a Rússia acusou o Ocidente de desrespeitar o direito dos outros países à autodeterminação e enxergou nas ações ocidentais uma ameaça. A Ucrânia não ameaçou formalmente e militarmente a Rússia e foi invadida.
Por anos a URSS dominou o leste europeu, apoiando as ditaduras da Cortina de Ferro e ajudando a reprimir os levantes de 1956 na Hungria e 1968 na Tchecoslováquia.
Ocidente, por sua vez, não reconhece como legítima a independência/anexação da Crimeia, porém reconheceu a do Kosovo. O Ocidente fala em defesa da democracia e apoia diversos governos autoritários pelo mundo, como a Arábia Saudita, Egito ou Argélia.
Fonte: HO
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