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segunda-feira, 4 de junho de 2012

São Paulo caminha a passos largos para a decadência



Estou voltando hoje ao comando deste blog, depois de 5 meses de licença-maternidade. Nesse tempo, diversas discussões ligadas ao planejamento urbano ocorreram pelo país, especialmente no contexto da preparação do país para a Copa de 2014. Mas hoje o foco é em São Paulo, nossa maior metrópole, que, para o bem e para o mal (nos últimos tempos mais para o mal) é o modelo de urbanização seguido pelas outras metrópoles.

A cidade em que nasci e morei por quase 27 dos meus 30 anos está pior que há 5 meses, e no fim do ano estará pior do que hoje. Estou no Rio de Janeiro e é com pesar que digo aos cariocas que, da maneira como está, não tenho nenhuma vontade de viver em São Paulo novamente. Não que o Rio seja um paraíso urbano, longe disso.

Esse período em que apenas observei, sem precisar noticiar os fatos, ajudou a retomar uma perspectiva mais ampla do que acontece com São Paulo. O caminho para a decadência urbana não tem um ponto de partida fácil de identificar, mas que a direção das ações públicas na cidade está equivocada, disso não há dúvidas. A insistência em um modelo urbano voltado para o carro é velha conhecida nossa, mas não é mais justificável em um momento em que a produção de conhecimento por universidades, think tanks, ONGs e outras entidades está voltada para novos modelos. As alternativas existem e são aplicáveis.

Nosso prefeito está dando mostras de que em momento algum deixou de atender aos interesses da indústria imobiliária, a qual está ligado desde a década de 80, quando atuou no Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação e Administração de Imóveis Residenciais e Comerciais de São Paulo (Secovi) e no Conselho Regional de Corretores de Imóveis (Creci).

Traduzindo, na era Kassab é mais fácil construir um prédio em São Paulo do que ser atendido pelo 156 para descobrir o itinerário de uma linha de ônibus. Bairros inteiros são levantados em grande velocidades, sem qualquer preocupação com a mobilidade, com o meio ambiente, com a justiça social ou com a saúde da população. Exemplos não faltam: Vila Nova Leopoldina, Chácara Santo Antônio eMorumbi Sul são apenas alguns deles.

A parada quase completa de investimentos em transporte público também mostra que os interesses do prefeito estão longe de corresponder aos da cidade. A multiplicação de obras viárias é de envergonhar qualquer um que pense em mobilidade nas metrópoles hoje. Em toda a gestão Sera/Kassab apenas o Expresso Tiradentes (no lugar nunca terminado Fura-Fila de Celso Pitta) foi inaugurado, em 2007. A obra liga o Terminal Parque Dom Pedro ao Sacomã.

Os planos mudaram, o corredor virou monotrilho, que deveria ficar pronto até o final deste ano, mas já se sabe que não sairá antes de 2014. Mesmo que estivesse pronto, seria uma contribuição ridícula para o sistema de ônibus em uma gestão de 8 anos. Além disso, há cada vez mais restrições para o trânsito de caminhões na cidade (para aumentar o espaço para os carros e dar a sensação de que o trânsito diminuiu) e os ônibus fretados não podem circular nas vias de maior demanda.

Outro ponto a se destacar é que, enquanto fica cada vez mais permissiva para grandes investidores, São Paulo se torna mais proibida para a população. Os bares têm que fechar a uma da madrugada; os ambulantes, mesmo os registrados, estão sendo expulsos; os moradores de rua perseguidos; a comida de ruaproibida. É como se uma onda de moralismo tacanho e burro digna do Tea Party americano assolasse a cidade, capitaneada pela Prefeitura. Infelizmente, no campo dos costumes o paulistano médio acompanha a mentalidade de seu governante, mas isso não é desculpa para a prática do higienismo. Democracia não deveria se confundir com ditadura da maioria.

Todos esses temas serão desenvolvidos aqui no blog, especialmente no contexto das eleições municipais deste ano. É preciso apontar a cidade que queremos com informação e debate e pressionar os candidatos a tomarem posição diante de temas importantes. Sem isso, continuaremos reféns de interesses que sequer conhecemos.

Agradeço ao meu amigo Nicolau Soares, que me substituiu por esses cinco meses, por manter a discussão sobre as cidades rolando por aqui.



Por: Thalita Pires, Rede Brasil Atual

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