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quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

A situação escandalosa dos professores do Estado de São Paulo



Do professor Silvio Prado

Por que os professores não se revoltam?

Os salários são ofensivos e desrespeitosos. As condições de trabalho são incrivelmente estafantes e detonam o professor já no primeiro semestre. No segundo semestre, o professor busca ânimo em alguma força desconhecida para ver se chega inteiro até dezembro. Ufa, que luta insana!

Sobre a violência que circunda a maioria das escolas estaduais paulistas e explode inclusive dentro da sala de aula, ela é tão escandalosa e rotineira que a imprensa, mesmo sendo tucana e financiada por verbas da FDE (Fundação para o Desenvolvimento da Educação), não consegue escondê-la como gostaria o governador Geraldo Alckmin.

Difícil a escola que não tenha professor ou funcionário agredidos fisicamente, pois agressão moral e verbal professores e funcionários sofrem todo o dia. Devido a esse massacre moral, não é por acaso que em São Paulo um número elevado de professores vivem largados à depressão, sem cuidado algum do estado, responsável direto pelo acréscimo desmedido de profissionais doentes.

No riquíssimo estado paulista (204 bilhões de reais é o orçamento de 2015), o caos toma conta do setor mais importante para o desenvolvimento social e econômico do país, a educação.

Nela, encontramos professor com mais de duas décadas de ensino tendo um mínimo de aulas e sob salário miserável, deteriorando suas condições materiais de vida e zerando seu ânimo para trabalhar em sala de aula.

Milhares de outros professores estão na humilhante categoria O, chantageados (e sacaneados) moral e profissionalmente pela politica irresponsável de um governo que em vinte anos mexeu e remexeu na educação e a ela nada acrescentou de positivo.

Aqui na região de Taubaté, Vale do Paraíba, encontramos professores trabalhando em até 4 escolas, recheados de aulas picadas, horários que se chocam, gastos escandalosos com combustível , alimentação, saúde sendo destruída.Alguns outros amargam, da residência ao local de trabalho, entre ida e volta, até 160 quilómetros de distância e ainda são castigados com o pagamento de pedágios, como acontece com quem sai de Taubaté para lecionar no bairro do Cedro, na distante cidade de Paraibuna.

Dentro do quadro macabro desenhado por Mario Covas, José Serra e Geraldo Alckmin encontramos o drama do funcionário adoecido e que não recebe do estado sequer uma aspirina como socorro imediato. Da rotina do professor doente podemos extrair histórias dignas de Kafka. Professores de educação física, com artrose comprovada por laudo médico, obrigados a dar aula como se estivessem em condições físicas ideais. Outros professores doentes, devido ao desmonte do sistema de perícias médicas, viajam 1400 km para serem periciados. Sabe-se de professores comprovadamente destruídos física e moralmente que, depois de gastar o que não tinham nas mãos de médicos particulares, ou de sofrer humilhações permanentes nas filas do IAMSP, mesmo não curados se viram obrigados a voltar para a sala de aula.

Num outro quadro de sofrimento e descaso, São Paulo tem hoje de cinco a dez mil professores com direito a aposentadoria humilhados numa espécie de fila indiana que não se sabe onde começa e nem termina. E a aposentadoria tão sonhada nunca chega para, finalmente, livra-lo do campo minado da escola pública, algo, antes que os tucanos transformassem num pesadelo, era para o magistério um sonho tão bonito.O clima da educação de São Paulo vive marcado pela insegurança, caos administrativo, mão dura implacável do secretário da educação e do governador, queda na qualidade de ensino, escola divorciada dos interesses estratégicos da sociedade, assédio moral adotado como prática administrativa dos negócios do ensino.Tudo isso tem consequências graves, como produção massiva de analfabetos funcionais, um nivelamento cultural primário e o despreparo intelectual e politico da juventude paulista, hoje refém das perniciosas ideias neoliberais assumidas por um Estado que foge de seu papel social transformador e se adequa aos interesses que não são os da população.

Vejam que aqui nem foi tocada na questão da tal FDE, cofre de 3,5 bilhões de reais arrombados faz tempo por inúmeras gangs de engravatados ligadas ao mundo de negociatas tucanas.Compras superfaturadas,reformas de prédios escolares com preços estratosféricos, destruição criminosa de material didático, assinaturas de jornais e revistas (sem o processo de licitação), que dão amparo ideológico ao PSDB e blindam o governo na grande mídia.

Todos esses e mais outros fatos receberam a confirmação do Ministério Público, por investigações de deputados na Assembleia Legislativa e pela imprensa que não tem o bolso preso com os tucanos. Só em Taubaté, o Ministério Público confirmou que o PSDB arrancou 1,7 milhões de reais para financiar a eleição de Ortiz Jr, filho de Bernardo Ortiz, amigo pessoal de Geraldo Alckmin, que até 2013 tinha a chave dos cofres daquela fundação, criada para financiar a educação, mas que...

Olhando de perto a educação de São Paulo não é possível entender porque a grande mídia hoje tem centrado fogo apenas na questão da Petrobras. Se há crimes e estão ocultos naquela poderosa e estratégica estatal, em São Paulo os crimes cometidos contra a educação estão visíveis há 20 anos e não se vê na imprensa denúncias que mostrem a tragédia da escola pública paulista, afetando negativamente 250 mil professores, outros milhares de funcionários, quase cinco milhões de alunos e toda uma população de 40 milhões de habitantes impactados pelo crescimento da violência e criminalidade entre os jovens, fato que pode ser computado ao descaso do governador com a formação da juventude, impossível de ser realizada com uma escola pública intencionalmente funcionando sob frangalhos.

Fala-se tanto em impeachment da presidente Dilma. E o impeachment do médico anestesista (e anestesista social) Geraldo Alckmin, quando é que a grande mídia vai tocar no assunto? Nunca. Afinal fica muito chato investigar os podres de quem lhe enche os cofres e, com tanto dinheiro, coloca um pouco de gás nessa mafiosa organização jornalística que perde a cada dia terreno para a Internet.

Para encerrar, diante de quadro tão desfavorável é sempre bom perguntar: por que as 4500 escolas e os duzentos e cinquenta mil professores paulistas não se revoltam contra tantos desmandos de um governo autoritário, destrutivo e irresponsável?

Silvio Prado

Professor da rede Estadual de Ensino

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

MPF protocola ações contra aluguel de horário de TV para igrejas



Jornal GGN – O Ministério Público Federal de São Paulo protocolou duas ações civis públicas contra emissoras de TV e Rádio que alugam horários para programas religiosos. Uma das investigadas, a Rede 21 (do grupo Bandeirantes) aluga quase 100% dos seus horários para a Igreja Mundial do Poder de Deus.

O Ministério Público diz que esse tipo de contrato é ilegal, pois caracteriza alienação da concessão pública. No entanto, sem veto explícito na lei, a prática tornou-se comum no mercado.


Ricardo Mendonça

Da Folha de S. Paulo

Numa iniciativa inédita, o Ministério Público Federal de São Paulo resolveu recorrer à Justiça para combater o milionário mercado de aluguel de horários da programação de canais de rádio e TV.

O órgão mira as emissoras que lucram arrendando nacos de sua grade, as igrejas com forte presença midiática e o governo federal, responsável por fiscalizar o setor.

Em duas ações civis públicas protocoladas no dia 28, a Procuradoria lista acusações contra a Rede 21 (UHF do grupo Bandeirantes), a TV CNT e a Igreja Universal do Reino de Deus, além de seus respectivos representantes legais.

A Presidência da República e o Ministério das Comunicações também são citados.

A Rede 21, o vice-presidente da Band Paulo Saad Jafet e o superintendente de operações e relações com mercado José Carlos Anguita são acusados de violar normas do Código Brasileiro de Telecomunicações, regulamentações do setor e a Lei Geral de Telecomunicações ao firmarem contrato que concede 22 horas diárias da programação da emissora à Igreja Universal.

Assinado em outubro do ano passado pelo pastor Maurício Cesar Campos Silva, o contrato marca um dos mais importantes capítulos da disputa das neopentecostais por espaço na TV.

Desde 2008 a Rede 21 era quase 100% alugada à Igreja Mundial do Poder de Deus, concorrente que nos últimos anos mais tirou fiéis da instituição de Edir Macedo.

Comenta-se no mercado que a igreja liderada por Valdemiro Santiago teria perdido o púlpito eletrônico para a Universal após dar calotes milionários nos donos da Band.

O Ministério Público diz que o contrato Rede 21-Universal é ilegal, pois caracteriza alienação da concessão pública. Para reforçar a acusação, os procuradores que assinam a ação citam pareceres dos juristas Celso Antônio Bandeira de Mello e Fábio Konder Comparato.

"A outorga foi conferida à Rede 21, que promoveu sua transferência à Universal sem a observância de qualquer certame licitatório (...) A concessão da radiodifusão acabou sendo atribuída a entidade que não participou de concorrência", diz a ação.

Os procuradores afirmam que, mesmo que seja interpretado como publicidade, o contrato seria irregular porque a legislação limita a propaganda a 25% da programação. A entrega de 22 horas diárias extrapolaria esse teto e configuraria "enriquecimento sem causa", delito previsto no Código Civil.

Prática Comum

Globo e SBT não alugam horário. Mas, sem veto explícito na lei, a prática tornou-se comum no mercado, também com empresas de televenda e entidades sindicais como locatárias. São casos diferentes da produção independente, prevista em lei, em que a emissora remunera o responsável pelo programa.

Na ação contra a Rede 21 e a Universal, o Ministério Público pede a invalidação da outorga e a declaração de inidoneidade dos envolvidos, impedindo-os de participar de novas licitações.

Pede também que indenizem a União e sejam condenados por danos morais. No fim, pleiteia provisoriamente a decretação da indisponibilidade dos bens dos citados e a suspensão da transmissão da Rede 21.

Uma segunda ação, questionando contrato que também concede 22 horas diárias à Universal, foi protocolada contra emissoras do Grupo CNT (controlado pela família Martinez, de José Carlos Martinez, presidente do PTB morto em 2003), seus responsáveis legais e a igreja. São pleiteadas as mesmas sanções.

Há ainda uma ação sobre o arrendamento da Rádio Vida, de São José dos Campos, à Comunidade Cristã Paz e Vida.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Enfim, o desespero



"A situação desesperadora da época na qual vivo me enche de esperanças." A frase é de Marx, enunciada há mais de 150 anos. Ela lembrava como situações aparentemente sem saída eram apenas a expressão de que enfim podíamos começar a realmente nos livrar dos entulhos de um tempo morto. 

Há tempos, insisti que o lulismo entraria em um esgotamento. Era uma questão de cálculo. Chegaria um momento em que o crescimento só poderia continuar por meio de políticas efetivas de combate à desigualdade e acumulação. Afinal, estamos falando de um país que, ao mesmo tempo, apresenta crescimento econômico próximo a zero e bancos, como o Itaú, com lucro anual de 20 bilhões de reais. Um crescimento de 29% em relação a 2013, com inadimplência recuando para mínima recorde. 

"Políticas efetivas de combate à desigualdade e acumulação" significa, neste contexto, ir atrás do dinheiro que circula no sistema financeiro e seus rentistas blindados. Mas isto o governo não seria capaz de fazer. Difícil fazê-lo quando você também se torna alguém a frequentar a roda dos dançarinos da ciranda financeira. Ninguém atira no próprio pé, ainda mais quando se é recém-chegado à festa. 

Restou ao governo federal duas coisas. Primeiro, chorar por não ser tratado como um tucano. É verdade. Nada melhor no Brasil do que ser tucano. Como acontece hoje no Paraná, você pode quebrar seu Estado, colocar quatro de suas universidades públicas em risco de fechamento por falta de repasse e, mesmo assim, irão te deixar em paz. Nenhuma capa de revista sobre seus desmandos nem sobre seus casos de corrupção. 

Por estas e outras, o sonho de consumo atual de todo petista é ser tratado como um tucano. Eles até que se esforçaram bastante. 

Fora isto, resta ao governo ser refém de um Congresso que ele próprio alimentou. Na figura de gente do porte de Eduardo Cunha e seus projetos de implementar o "dia do orgulho heterossexual", entregar o legislativo à bancada BBB (Bíblia, Boi e Bala) e contemplar cada deputado com seu quinhão intocado de fisiologismo, o Brasil encontra a melhor expressão da decadência e da mediocridade própria ao fim de um ciclo. 

Neste contexto, podemos enfim ver claramente como as alternativas criadas após o fim da ditadura militar não podiam de fato ir muito longe. Nenhuma delas sequer passou perto da necessidade de quebrar tal ciclo de miséria política dando mais poder não aos tecnocratas ou aos "representantes", mas diretamente ao povo, que continua a esperar seu momento. 

Por isto, a situação desesperadora me enche de esperanças.

domingo, 22 de fevereiro de 2015

Haddad, ao 247: mudar é valorizar o espaço público



SP 247 - A julgar pelos índices atuais de popularidade, o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, está bem distante de sua reeleição, em 2016. A despeito disso, ele mantém o otimismo e aposta que o eleitor irá enxergar as transformações em curso na cidade de São Paulo.

"Nossa gestão mudou o paradigma. Tudo o que é espaço público está sendo ocupado na cidade. Pelo público. Tem um conceito que perpassa toda a administração: é a reapropriação do público pela cidadania. A praça wi-fi é isso, a ciclofaixa é isso, a faixa exclusiva de ônibus é isso, a comida de rua é isso, o carnaval de rua é isso. Agora, dois anos não mudam o que se fez nos últimos 50 anos. Mas minha aposta é que as pessoas compreenderão que uma nova cidade está sendo forjada", disse ele, em entrevista aos jornalistas Leonardo Attuch e Marco Damiani.

No encontro, ele manifestou seu receio diante da negação da política e defendeu o PT. "Não me vejo em outro partido. O militante do PT empunha as bandeiras que eu considero mais modernas, que são o combate à desigualdade e à intolerância", afirmou. Ele também condenou o financiamento privado de campanhas políticas e comentou a eventual volta de Lula em 2018. "Se ele o fizer, terá o entusiasmo dos petistas e de muitos não-petistas".


Confira, abaixo, a íntegra:

247 - Depois de enfrentar resistência para implantar faixas exclusivas de ônibus, o sr. se vê diante da oposição às ciclofaixas. Qual é sua posição a respeito?

Fernando Haddad - As ciclofaixas vivem exatamente o mesmo tipo de campanha que as faixas de ônibus viveram no início da gestão. É um período de acomodação. Daqui a pouco, as pessoas percebem os benefícios e isso se resolve. Hoje, ninguém mais fala das faixas de ônibus e foram 360 quilômetros. Isso, sim, com um impacto gigantesco na cidade.

247 - Qual é o seu balanço sobre as faixas de ônibus?

Haddad - Houve um aumento de 46% na velocidade dos ônibus. O usuário ganhou 38 minutos por dia. Eu acredito que não haja precedente histórico nisso: devolver, em média, 38 minutos/dia ao trabalhador. As ciclovias vivem o mesmo momento, mas com uma incompreensão maior, porque essa mudança é mais transformadora.

247 - Como assim?

Haddad - A ciclovia dialoga com outras dimensões da vida. Dialoga com a agenda da saúde, do esporte, do meio ambiente – e não apenas com a questão da mobilidade. Ela atinge vários setores.

247 - Mas muitos criticam a pouca utilização e também o custo de implantação.

Haddad - Não haverá plena utilização enquanto toda a malha não estiver instalada. Há quem diga que só será plenamente utilizada quando atingir mil quilômetros de malha. Eram 60 quilômetros quando eu assumi e hoje são 230. Vamos chegar a 500 até o fim do meu mandato.

247 - Há quem diga que a topografia de São Paulo, com subidas e descidas, não é adequada para o uso das bicicletas, assim como o clima.

Haddad - Várias cidades têm subida e descida. É o caso, por exemplo, de São Francisco, que tem uma das maiores malhas cicloviárias do mundo. Eu consultei vários especialistas com a seguinte questão: 'o que vem primeiro, o ciclista ou a ciclovia?'. Todos são unânimes em dizer que a ciclovia vem primeiro, com excecão do cicloativista que é uma figura à parte nesse processo. O cicloativista é o pioneiro que toma risco, em defesa da causa.

247 - Muitos estavam morrendo...

Haddad - Pois é. Se você for a Buenos Aires, o prefeito Macri tem excelentes níveis de aprovação e as ciclovias são tão ou menos utilizadas do que em São Paulo. Estivemos lá recentemente e ele nos disse que as pessoas querem ter à disposição a ciclovia. É um serviço a mais.

247 - Mas pegou na classe média a acusação feita por Veja São Paulo sobre o custo de R$ 650 mil por quilômetro.

Haddad - Bom, mas é uma acusação falsa, com falhas aritméticas. Dei várias entrevistas demonstrando isso. Misturavam outras obras, como o aterramento de fios na Paulista, a reforma semafórica na Faria Lima, como se isso fosse o custo da ciclofaixa.

247 - Má-fé?

Haddad - Acredito que não, mas talvez essa ânsia de escandalizar, de querer dizer que ninguém presta.

247 - Essa política sofre um cerco midiático?

Haddad - Pode até ser, mas a pesquisa mostra que 66% dos paulistanos aprovam a mudança. Podem até tentar, mas não vão conseguir mudar essa percepção. As pessoas querem esse serviço e querem se conectar com a modernidade. Além disso, mandamos todas as planilhas para os tribunais demonstrando que o custo é de R$ 185 mil por quilômetro e não de R$ 650 mil.

247 - Mas a classe média não se sente mais espremida, ao se ver entre a ciclofaixa e a faixa exclusiva de ônibus?

Haddad - A ciclofaixa não tirou nenhuma faixa de rolamento do carro. E o que muita gente não sabe é que, por incrível que pareça, o trânsito piora a taxas decrescentes desde que eu assumi. Vou te dar um dado técnico da CET. De 2011 para 2012, último ano da administração anterior, o trânsito piorou 14%. De 2012 para 2013, primeiro ano das faixas exclusivas, piorou 7%. De 2013 para 2014, piorou 2%.

247 - Não tem como melhorar?

Haddad - Olha, nós estamos fazendo muita obra viária em São Paulo. Mas muitas pessoas não veem porque essas obras estão acontecendo na periferia. Agora, túnel e viaduto, eu tô fora. Aí é uma questão de concepção de cidade. Está provado cientificamente que quanto mais viário, mais trânsito. Isso é cientista falando, não é o prefeito. Veja o que o José Serra fez na Marginal Tietê. Destruiu o pouco verde que havia, fez duas faixas de rolamento pra carro e o trânsito é pior do que era antes disso. Como é contraintuitivo, as pessoas não acreditam. Mas também era contraintuitivo que a Terra girava em torno do sol.

247 - Do ponto de vista quantitativo, os investimentos estão maiores ou menores do que nas gestões anteriores?

Haddad - Olha, a demagogia tirou R$ 2,5 bilhões dos cofres de São Paulo. Primeiro, com o congelamento das tarifas de ônibus. Depois, com a suspensão da revisão do IPTU. Apesar disso, investimos no ano passado R$ 4,4 bilhões, o que foi um recorde.

247 - De onde vieram os recursos?

Haddad - Combate à corrupção e redução dos gastos de custeio. Só na recuperação de ativos desviados pela corrupção, vamos chegar a R$ 300 milhões. Isso, numa cidade, é inédito. Só os bancos que foram usados nesse processo já devolveram mais de R$ 100 milhões. Esse dinheiro será carimbado para as creches.

247 - Um setor em que o ritmo de investimentos segue abaixo do prometido.

Haddad - Nós perdemos R$ 2,5 bilhões em arrecadação, mas estamos correndo atrás disso.

247 - O sr. citou vários pontos, mas sua popularidade segue baixa. Há uma incompreensão?

Haddad - É preciso olhar a série histórica. São Paulo é uma montanha russa. Um dia você tem 40%, no outro 20%, depois 30% e assim por diante. Não é só a complexidade dos problemas. É a única cidade do mundo em que todos os meios de comunicação falam mal da cidade simultaneamente. O Bom Dia Rio, Bom Dia Bahia e outros do tipo não têm 10% do mau humor do Bom Dia São Paulo.

247 - É hora de valorizar o orgulho de ser paulistano?

Haddad - Eu não só tenho orgulho de ser paulistano, como tenho certeza de que é a melhor cidade para se viver no Brasil. Outro dia fizeram uma pesquisa sobre trânsito. São Paulo ficou em sexto lugar. Rio, Salvador, Recife, Fortaleza e Belo Horizonte são piores.

247 - Um sucesso recente foi o Carnaval, especialmente com os blocos de rua. Como isso aconteceu?

Haddad - Nossa gestão mudou o paradigma. Tudo o que é espaço público está sendo ocupado na cidade. Pelo público. Tem um conceito que perpassa toda a administração: é a reapropriação do público pela cidadania. A praça wi-fi é isso, a ciclofaixa é isso, a faixa exclusiva de ônibus é isso, a comida de rua é isso, o carnaval de rua é isso. Agora, dois anos não mudam o que se fez nos últimos 50 anos. Mas minha aposta é que as pessoas compreenderão que uma nova cidade está sendo forjada.

247 - Mas hoje sua reeleição parece distante.

Haddad - Em alguns locais, existe um padrão. No Rio Grande do Sul, por exemplo, ninguém se reelege. Aqui, em São Paulo, há também um padrão. A direita fez sucessores e a esquerda, não. O Maluf elegeu o Pitta e o Serra fez o Kassab. Marta e Erundina não se reelegeram.

247 - O sr. está conformado ou espera mudar esse padrão?

Haddad - Se o padrão vai mudar, 2016 é que vai dizer. 2016 vai dizer se São Paulo quer se encontrar com a modernidade ou não. É isso, a meu ver, o que está em jogo. Uma concepção de cidade como espaço público ou como espaço privado. Agora, eu nunca me prendi a pesquisas. Se levasse isso em consideração, não teria vencido em 2012. Até porque eu nunca cheguei a aparecer nem em segundo lugar.

247 - O fato de ser petista, a ser ver, afeta sua popularidade?

Haddad - Sim, o PT hoje está sob ataque. Mas a conduta de uma pessoa, ou de um dirigente, não pode ser estendida a um partido. É muito perigoso criminalizar a política, ou assumir a negação da política. E tem muitas outras coisas, que não têm nada a ver com o município, como a crise de segurança e a crise da água, que também afetam o bom ou o mau humor do paulistano. Você acha que o cidadão tem os compartimentos federativos na cabeça? Quando eu vou à periferia, a primeira coisa que me questionam é sobre o policiamento. O que não é da nossa esfera.

247 - Como o sr. vê o ambiente político de hoje no País?

Haddad - Com muita preocupação. A democracia não é apenas o espaço da divergência. É também o espaço da construção de consensos, entre forças antagônicas. Uma democracia que é só consenso é utopia, jamais vai existir. Uma democracia que é só divergência cria as condições da sua destruição. É o que estamos vivendo hoje. Um Fla-Flu radical solapa as bases da democracia. Você precisa ser tem um espaço do entendimento, nem que seja apenas no plano institucional. E nem esse está sendo respeitado.

247 - Em São Paulo, o clima de radicalização política parece mais acentuado. Isso já o atingiu?

Haddad - Eu ando a pé pelo meu bairro e nunca foi hostilizado, nem ofendido na rua. Há quem aborde, cobre, peça explicações. Mas uma ofensa jamais ocorreu.

247 - Mas o PT vem sendo muito associado à corrupção.

Haddad - Criminalizar agremiações ou coletivos é muito errado. Isso vale para igreja, time de futebol, partido, o que for. Se há problemas, eles têm que ser combatidos. Você não pode rifar uma instituição porque um outro indivíduo cometeram erros. Você depura e retoma os princípios originais. Não creio que possa ser positivo para a democracia brasileira rifar o PT.

247 - O sr. vê esse desejo de depuração?

Haddad - Sim, mas com as cautelas devidas. É preciso esperar as pessoas serem julgadas.

247 - O sr. se orgulha de ser petista?

Haddad - Eu não me vejo em outro partido porque entendo que o militante médio do PT está comprometido com princípios nos quais eu acredito, sobretudo o combate à desigualdade e à intolerância. As bandeiras mais avançadas ainda são empunhadas pelo militante do PT.

247 - Numa entrevista recente, o sr. disse que não aguenta mais a corrupção. Qual é a solução? O fim do financiamento privado?

Haddad - Eu acredito que o financiamento empresarial de campanha é um mal que deve desaparecer. Inclusive, o Supremo Tribunal Federal já decidiu isso e só não promulga isso porque houve um pedido de vista. O empresário financiar a política é uma perversa Lei Rouanet da política. Assim como os departamentos de marketing das empresas passaram a definir o que merece ser apoiado, no limite, os empresários definirão as políticas públicas. Está errado isso.

247 - Como seria sua reforma política?

Haddad - Acho que com pequenos reparos é possível fazer uma boa reforma. Cito dois exemplos: o fim do financiamento privado e a proibição das coligações proporcionais. Resolvendo esses dois pontos, resolvemos 80% dos problemas da democracia representativa do País.

247 - Como o sr. vê o Brasil pós-Lava Jato? Veremos a 'berlusconização' do Brasil, com salvadores da pátria, ou uma depuração mais madura, com uma reforma política?

Haddad - Hoje, a grande mídia favorece esse movimento de berlusconização. Eu tenho receio de um processo parecido no Brasil. Hoje, a coisa mais difícil é convencer alguém a ficar na máquina pública. A pessoa bem-sucedida abre mão de recursos. Ela vai se privar da família, do tempo livre, em troca de fazer o bem, se a pessoa for bem intencionada. Isso é reconhecido por alguém? Não vejo nenhum movimento no sentido de fazer a cidadania discernir sobre isso. Quando você criminaliza coletivos, ao dizer que ninguém de determinado partido presta, é um equívoco muito grande.

247 - O sr. é favorável à volta do ex-presidente Lula, em 2018?

Haddad - Na eleição passada, eu apostei com amigos que o Lula não seria candidato. Disse que ele respeitaria o espaço da presidente Dilma Rousseff. E agora? Lula será o candidato em 2018? Pode ser, mas não é certo que será. Se ele pudesse desenhar o futuro, talvez não quisesse voltar à presidência. Não custa lembrar que o Eduardo Campos vinha sendo preparado para isso. Todo mundo sabe disso e todo mundo se esquece disso. Acho que ele só poderá se recolocar se sentir que há ameaças às conquistas da população mais pobre. Se ele o fizer, terá o entusiasmo dos petistas e de muitos não-petistas.

247 - E em São Paulo? Haverá coesão interna, com a ex-prefeita Marta Suplicy o apoiando?

Haddad - Acredito que o PT inteiro deve trabalhar pela permanência da Marta. É um grande quadro, foi quem eu comecei na vida pública e fez uma administração reconhecida pela população. O meu mandato, em grande medida, é de continuidade ao que ela fez.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Em manifesto, intelectuais denunciam golpe

247 - Um manifesto em defesa da democracia e da Petrobras foi divulgado nesta sexta-feira por alguns dos principais intelectuais brasileiros. O texto denuncia a tentativa de destruição da Petrobras, de seus fornecedores e de tentativa de mudança do modelo que rege a exploração de petróleo no Brasil. Leia, abaixo, texto do jornalista Luis Nassif e, também, o manifesto dos intelectuais:


Por Luís Nassif, do jornal GGN


É hora de encarar os fatos: há uma conspiração em marcha para desestabilizar o governo, 
ainda que à custa da desorganização da economia. Não dá mais para tapar o sol com a peneira. É uma conjunção muito grande de fatores:


1 - A cobertura enviesada da mídia em cima de vazamentos seletivos da Operação Lava Jato. Conseguiram transformar até a Swissleaks em operação Lava Jato.

2 - O comportamento do Procurador Geral da República Rodrigo Janot, tratando o crime de vazamento de informações como se fosse uma ocorrência normal.

3 - As declarações sincronizadas da mídia, Joaquim Barbosa e Sérgio Moro, procurando manietar o já inerte Ministro da Justiça.

4 - A visita de procuradores ao Departamento de Justiça dos Estados Unidos, a pretexto de colaborar com as investigações contra a Petrobras.

5 - Finalmente, a decisão do Ministério Público Federal, de agora há pouco, de dar o golpe final contra as empreiteiras da Lava Jato, inviabilizando-as definitivamente.

Não tem lógica alegar estrito cumprimento da lei para liquidar com as empresas. Nem o mais empedernido burocrata ficaria insensível aos efeitos dessa quebra sobre a economia brasileira, sobre empregos e sobre o crescimento.

Qualquer agente público minimamente responsável trataria de apurar responsabilidades e punir duramente as pessoas físicas responsáveis, evitando afetar as empresas, ainda mais sabendo dos desdobramentos sobre a economia como um todo.

Só intenções políticas obscuras para justificar essa marcha da insensatez.

PS - Alô, presidente Dilma Rousseff. Esqueça essa preocupação sobre se as pessoas vão ou não duvidar da sua honestidade. Ninguém duvida dela. Eles não estão atrás da sua reputação: estão atrás do seu cargo. Acorde!

Abaixo, manifesto de personalidades contra o jogo político em andamento.

Manifesto: O QUE ESTÁ EM JOGO AGORA


A chamada Operação Lava Jato, a partir da apuração de malfeitos na Petrobras, desencadeou um processo político que coloca em risco conquistas da nossa soberania e a própria democracia.

Com efeito, há uma campanha para esvaziar a Petrobras, a única das grandes empresas de petróleo a ter reservas e produção continuamente aumentadas. Além disso, vem a proposta de entregar o pré-sal às empresas estrangeiras, restabelecendo o regime de concessão, alterado pelo atual regime de partilha, que dá à Petrobras o monopólio do conhecimento da exploração e produção de petróleo em águas ultraprofundas. Essa situação tem lhe valido a conquista dos principais prêmios em congressos internacionais.

Está à vista de todos a voracidade com que interesses geopolíticos dominantes buscam o controle do petróleo no mundo, inclusive através de intervenções militares. Entre nós, esses interesses parecem encontrar eco em uma certa mídia a eles subserviente e em parlamentares com eles alinhados. 

Debilitada a Petrobras, âncora do nosso desenvolvimento científico, tecnológico e industrial, serão dizimadas empresas aqui instaladas, responsáveis por mais de 500.000 empregos qualificados, remetendo-nos uma vez mais a uma condição subalterna e colonial.

Por outro lado, esses mesmos setores estimulam o desgaste do Governo legitimamente eleito, com vista a abreviar o seu mandato. Para tanto, não hesitam em atropelar o Estado de Direito democrático, ao usarem, com estardalhaço, informações parciais e preliminares do Judiciário, da Polícia Federal, do Ministério Público e da própria mídia, na busca de uma comoção nacional que lhes permita alcançar seus objetivos, antinacionais e antidemocráticos.

O Brasil viveu, em 1964, uma experiência da mesma natureza. Custou-nos um longo período de trevas e de arbítrio. Trata-se agora de evitar sua repetição. Conclamamos as forças vivas da Nação a cerrarem fileiras, em uma ampla aliança nacional, acima de interesses partidários ou ideológicos, em torno da democracia e da Petrobras, o nosso principal símbolo de soberania.


20 de fevereiro de 2015


Alberto Passos Guimarães Filho
Aldo Arantes
Ana Maria Costa
Ana Tereza Pereira
Cândido Mendes
Carlos Medeiros
Carlos Moura
Claudius Ceccon
Celso Amorim
Celso Pinto de Melo
D. Demetrio Valentini
Emir Sader
Ennio Candotti
Fabio Konder Comparato
Franklin Martins
Jether Ramalho
José Noronha
Ivone Gebara
João Pedro Stédile
José Jofilly
José Luiz Fiori
José Paulo Sepúlveda Pertence
Ladislau Dowbor
Leonardo Boff
Ligia Bahia
Lucia Ribeiro
Luiz Alberto Gomez de Souza
Luiz Pinguelli Rosa
Magali do Nascimento Cunha
Marcelo Timotheo da Costa
Marco Antonio Raupp
Maria Clara Bingemer
Maria da Conceição Tavares
Maria Helena Arrochelas
Maria José Sousa dos Santos
Marilena Chauí
Marilene Correa
Otavio Alves Velho
Paulo José
Reinaldo Guimarães
Ricardo Bielschowsky
Roberto Amaral
Samuel Pinheiro Guimarães
Sergio Mascarenhas
Sergio Rezende
Silvio Tendler
Sonia Fleury
Waldir Pires

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

A quem interessa o impeachment?

Se Dilma quer ter condições de apelar às ruas em defesa de seu governo precisa antes tornar seu governo defensável




"Golpe pela democracia". Esta pitoresca expressão foi cunhada por ninguém menos que Carlos Lacerda. Golpista nato, farejador de oportunidades, tentou derrubar em uma década quatro governos democraticamente eleitos. Derrubou dois: Getúlio em 54 e Jango dez anos mais tarde. No meio-tempo, investiu contra as posses de Juscelino e do próprio Jango em 61, sem o mesmo sucesso.

O lacerdismo combinou controle patrimonialista da imprensa, avalanches de denúncias de corrupção –criando a expressão "mar de lama" contra Getúlio– e servilismo aos interesses da elite, buscando atalhos para chegar ao poder que o voto popular insistia em lhe negar.

Eis que cinquenta anos depois ressurge o lacerdismo, com bico de tucano e pintado de verde e amarelo. O maior partido de oposição ao governo Dilma, o PSDB, passou a pregar abertamente o impeachment mal passado o luto pela derrota eleitoral. Lembra Hamlet: "Economia, Horácio! Servem os pastéis do enterro, mesmo frios, na mesa do noivado".

Ainda estavam quentes, na verdade. Mesmo antes da derrota, o ex-presidente do partido José Aníbal já havia postado em sua conta no Twitter: "Se tomar posse, não pode governar" (https://twitter.com/jose_anibal/status/524697787116830721). Logo após, Aécio pediu recontagem dos votos. Em janeiro, já depois de posse, foi a vez de José Serra e Alberto Goldman, ex-governadores de São Paulo, defenderem o impeachment.

Na semana passada, FHC entrou em cena e encomendou um parecer nível porta de cadeia para o jurista Ives Gandra Martins. Vale dizer: membro da Opus Dei, apoiador da ditadura militar e direitista contumaz. Seguindo a trama, após a divulgação da queda brutal de popularidade do governo Dilma, os senadores tucanos –Aécio, inclusive– passaram a falar do sentimento social em defesa do impeachment.

O circo foi montado, com direito até a convocações apócrifas para uma mobilização nacional. Agora, coloquemos a bola no chão e façamos diretamente a pergunta: a quem interessa um impeachment de Dilma?

Ao mercado? Com Levy na Fazenda, ajuste fiscal severo e aumento de juros, a elite financeira não tem razão alguma para apoiar manobras políticas arriscadas. Estão bem, obrigado.

Ao PMDB? É verdade que a eleição de Eduardo Cunha como presidente da Câmara e o fato de Michel Temer ser o primeiro na linha sucessória alimentam especulações e despertam interesses. Mas Cunha é acima de tudo um negociante. O mais provável é que ele pratique uma extorsão sistemática do governo e inflacione o preço do apoio do PMDB, estabelecendo de quebra vetos a pautas mais progressistas. Interessa mais a ele ter a abertura de um processo de impeachment como trunfo permanente de chantagem do que utilizá-lo de fato.

E tem mais. A denúncia do procurador-geral contra os políticos envolvidos na Lava a Jato deve sair nos próximos dias. Se ela tiver um mínimo de seriedade –se não tiver sido elaborada nos porões do lacerdismo– não deixará pedra sobre pedra. Terá gente do PT, do PMDB, do PSDB e de quase todos os partidos do Congresso, sem esquecer do próprio presidente da Câmara, que já foi citado em vazamentos e guarda ligação notória com grandes empreiteiras.

A faca do impeachment ou da cassação estará no pescoço de muitos, inclusive dos lacerdistas do PSDB. Será difícil encontrar quem esteja disposto a atirar a primeira pedra. Poderá ter efeito bumerangue.

No entanto, certamente haverá agitação social. Setores da mídia continuarão apostando no emparedamento do governo, fortalecendo um clima pró-impeachment. Parte mais intrépida da elite financeira deve jogar fichas numa rendição total de Dilma no tema da Petrobras, com a revisão do modelo de partilha do pré-sal e avanço na privatização. E as camadas médias urbanas, que vestiram a camisa do antipetismo, farão sua parte com marchas de rua udenistas.

Neste cenário, quem defenderá Dilma de um desgaste irreversível? Os trabalhadores? Muito difícil. Com ataque a direitos, corte de investimentos sociais e tarifaço, o governo não deve esperar grande respaldo das ruas. A queda da popularidade revela isso de modo inequívoco.

Seria um erro pensar que a queda está associada às denúncias de corrupção, que foram uma constante durante os últimos anos. Nas eleições foram amplificadas aos quatro ventos e mesmo assim Dilma ganhou. A perda de apoio revela principalmente um sentimento popular de traição. O povo votou em mais direitos e levou ajuste fiscal.

É evidente que os movimentos populares não aceitarão golpismo. O PSDB não tem autoridade moral para falar de impeachment e sequer para acusar estelionato eleitoral. Mas também ninguém está disposto a dar um novo cheque a Dilma. O cheque dado nas eleições foi descontado na conta dos trabalhadores.

Se Dilma quer ter condições de apelar às ruas em defesa de seu governo precisa antes tornar seu governo defensável. Os movimentos enfrentarão o golpismo, mas com a mesma energia que enfrentarão as medidas impopulares do governo.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Carta Aberta aos Imbecis





Democracia é mesmo muito bacana. Mas tem os seus percalços. Um dos maiores é a gente ter que tolerar o sagrado direito de manifestação dos imbecis, um direito pelos quais muitos deles não brigaram mas do qual desfrutam com louvor. Pior é que esses imbecis tentam desqualificar os que não são com epítetos de "comunistas", "esquerdistas", "socialistas" e "petistas". Tentam colocar ideologia na discussão para se esconder atrás dos pilares da ignorância que representam. 

Ora, pois. Imbecis temos de todos os matizes mas hoje no Brasil os mais daninhos (e muitos deles nem sempre são tão inócuos pois atingem corações e mentes ignorantes como as deles) são aqueles que vituperam inverdades , sem nenhum conhecimento histórico ou sociológico . A maioria deles , aliás, pouco conhece de São Paulo além das ruas dos Jardins. Do Brasil então nem se fala.

Não vou nominar nenhum desses imbecis pois todos sabemos os seus nomes sempre associados a intolerância. São raivosos, agressivos, racistas, ignorantes, desinformados, maldosos, desumanos, preconceituosos e manipuladores. Imbecis que apostam na imbecilidade alheia , deformada por anos e anos de péssima educação escolar, analfabetismo crônico e manipulação midiática.Muita gente, mas muita gente mesmo, acha que ler a revista "Veja" e ver o "Jornal Nacional" é estar por dentro dos fatos. Esses milhares de imbecilizados não se envergonham de pôr seus preconceitos para fora e o fazem na forma dos mais toscos e nojentos comentários em grandes portais de notícias inverídicas . Não sou a favor que se censurem esses comentários que dão a exata medida de nossas trevas. Gente assim provavelmente queimaria Joana D'Arc e aplaudiria os discursos nacionalistas de Hitler e Mussolini. Não é de se espantar que preguem inclusive que as "raças impuras" das periferias não deveriam frequentar recantos onde eles põe os pés, inclusive os aeroportos.

O que me repugna nos imbecis não é serem imbecis. É terem a pretensão da superioridade ética , estética, imagética. É moldar a realidade conforme a conveniência deles e , nesse caso, rotular de "petistas", "petralhas" e congêneres a todos os que discordam deles. É justamente jogar uma cortina de fumaça na imbecilidade que representam. Como se todos nós que discordamos deles fossemos entusiastas do mensalão, do petrolão ou de qualquer outro escândalo politico empreendido por desonestos e canalhas. Aliás desonestos e canalhas que pululam em todos os partidos. Daí a generalizada descrença dos conscientes com partidos políticos em geral.

Buscar o conjunto de mazelas que levaram o PT de 35 anos recém completados ao impasse que vive hoje – o resgate da surrada credibilidade entre tantos escândalos – é desnecessário visto que seus detratores na grande mídia fazem isso dia e noite sem parar como uma borracharia 24 horas espancando pneus e os esvaziando de ar. Mas, para aqui evocar uma velha canção de Gil, o PT já é um copo vazio , cheio de ar. O PT, o PSDB, o PMDB e outras agremiações menores e vorazes em benefícios e cargos públicos. Está tudo dominado . Só que o jogo está sendo jogado e a cruzada dos imbecis quer embolar tudo ainda mais quando aposta no "impeachment", o mais rápido caminho para o caos, ainda mais quando se pensa que o presidente que ocuparia o lugar de Dilma é o nefasto Temer. Tudo a temer seus imbecis.

Um dos sinais dos péssimos caminhos da mídia é justamente o grande número de leitores que tem os imbecis . O grande número de ouvintes que tem os biltres e ignorantes golpistas. Dar guarida irresponsável a esses irresponsáveis que só apostam no "quanto pior melhor" é uma tragédia consumada. No meu tempo de jovem repórter você tinha que "pastar" muito tempo pra emitir opinião. E quando a fizesse tinha que vir acompanhada de um excelente texto. Hoje qualquer "fraldão" faz porcaria que é publicada. Antes fossem apenas "coxinhas". São coisa muito pior e devido ao horário me eximo de escrever aqui os adjetivos específicos.

Tem hora que a gente cansa. Eu cansei de ficar só vendo, ouvindo e lendo tanta imbecilidade irresponsável. Não tenho a menor pretensão de com esse protesto ser ouvido. Mas agora na minha trincheirinha de boca solta eu vou bradar contra a ignorância. Ignorância é o golpismo que vocês pregam. Ignorância é querer tirar o país dos trilhos. Ora, se quem conduz a nação não é apto vamos ajudar. Muita ajuda quem não atrapalha. Sabemos que a nossa presidente fala da boca pra fora quando diz que a Educação será prioridade. Vamos fazer com que ela leve a "prioridade" a sério e obrigue a todos os imbecis, jovens e velhos, adolescentes e de meia idade a voltarem para as aulas de história. Talvez só assim eles percebam que pregar golpe é um golpe contra o futuro . Já vimos no que isso deu no nosso passado. Perdão , esqueci que os imbecis não conhecem o retrovisor e nem dão seta. Querem ultrapassar pelo acostamento e , lógico, pela direita.

sábado, 7 de fevereiro de 2015

A falência da Fundação Casa

Em artigo, promotores de Justiça criticam fracasso de gestão do governo de São Paulo no atendimento a menores infratores

É passada a hora de reavaliar as políticas públicas relacionadas aos jovens e adolescentes em conflito com a lei

Inquestionavelmente, as políticas públicas relacionadas aos adolescentes infratores não apresentaram, ao menos no Estado de São Paulo, resultados minimamente satisfatórios. Exemplo típico que confirma esta constatação é a Fundação Casa, responsável pela execução das medidas de internação e semiliberdade. Contanto invista a expressiva quantia aproximada de dez mil reais por mês por cada adolescente, o serviço prestado está maculado por elevados índices de reincidência, superlotação de unidades, frequentes rebeliões, notícias regulares de torturas, e insalubridade das condições de moradia, dentre outras inúmeras deficiências do processo socioeducativo executado pela fundação estatal.

Este é o resultado das recentes apurações do Ministério Público do Estado de São Paulo. Promotores de Justiça de todas as regiões do estado detectaram diversas irregularidades no processo socioeducativo gerido pela Fundação Casa, a que são submetidos mais de dez mil adolescentes. E as graves falhas identificadas induzem a duas conclusões: a entidade não cumpre sua função adequadamente e, consequentemente, o produto do significativo valor despendido pelos cofres públicos é um serviço socioeducativo incompetente.

As provas incontestáveis destes entendimentos são o elevado índice de reincidência (54%, conforme CNJ) e a crescente escalada infracional, suportada e identificada pela sociedade, e que explica, dentre outros fatores, o apoio de mais de 90% da população à redução da maioridade penal. A própria entidade admite que de 2005 a 2013 ocorreu aumento aproximado de 111% nas internações.

As mesmas investigações também apontam para algumas das causas da imprestabilidade do serviço que o Estado está obrigado a fornecer. A principal delas, indubitavelmente, é asuperlotação das unidades, cujo excesso assola, aproximadamente, 91,37% do sistema de internação – o que representa déficit mínimo de 1.470 vagas. Há unidade onde foi identificado o espetacular índice de 158,33% de superlotação - quase três adolescentes/jovens por vaga.

A mantença de um número de adolescentes superior àquele comportado tem três graves consequências diretas: configura flagrante desrespeito aos direitos humanos; prejudica o processo de ressocialização; e permite que outros menores, cuja internação foi decretada pela justiça, sejam colocados imediatamente em liberdade (meio aberto) ante a inexistência de vagas de internação. Sim! É essa a regra do artigo 40, inciso II da Lei 12.594/12. E são inúmeros os casos já constatados.

Outro dos prováveis motivos da improficuidade dos trabalhos da Fundação Casa é o abreviadíssimo período de internação dos infratores. Contando o prazo máximo seja de 3 anos, o Estado de São Paulo – e cuja fundação cabe apresentar relatório sobre o cumprimento da medida socioeducativa –, em média, em apenas sete meses oferece parecer técnico recomendando a desinternação dos adolescentes. O próprio órgão confessa que o período de internação, a depender da sua avaliação, dificilmente supera 232 dias.

Considerando que 90,2% dos internados definitivamente lá estão em razão da prática de atos infracionais graves (roubo, roubo qualificado, latrocínio, homicídio doloso qualificado, e tráfico de drogas), e tendo em vista a elevada reincidência, forçoso concluir que o período de internação atualmente empregado – contanto deva atingir seu fim reeducador com brevidade – é insuficiente para atender sua finalidade. O prematuro parecer de soltura elaborado pela Fundação Casa, e que deveria pautar-se exclusivamente pela aptidão do adolescente de retornar ao convívio social, pode estar sendo influenciado pela superlotação do sistema, e a necessidade ininterrupta de abertura de vagas que dá causa.

É passada a ora de reavaliar as políticas públicas relacionadas aos jovens e adolescentes em conflito com a lei, e a consequente gestão da Fundação Casa, braço do Estado de São Paulo responsável pelos autores dos mais graves atos infracionais. Dentre as medidas a serem adotadas será preciso solucionar, vez por todas, o problema da superlotação, e garantir um processo socioeducativo satisfatório pelo tempo necessário à reeducação dos adolescentes, que apresente à sociedade resultados eficientes e proporcionais ao expressivo investimento feito pelos cofres públicos. É o que o Ministério Público tem buscado, cotidianamente, nas diversas investigações e ações judiciais.

Por: Adriana de Morais, Daniela Hashimoto, Fabio José Bueno, Fabíola Moran Falopa, Marcos de Matos, Oswaldo Barberis, Oswaldo Monteiro, Paula Pruks, Pedro Eduardo de Camargo Elias, Santiago Miguel Nakano Perez, Tiago de Toledo Rodrigues –Promotores de Justiça

domingo, 1 de fevereiro de 2015

“Quem são os reaças? Onde vivem? De que se alimentam?”

Os sete tipos de reacionários (e como debater com eles)




Se você já perdeu tempo tentando discutir política com reacionários, deve ter percebido que existem tipos diferentes desses indivíduos, cada um com um estilo particular de “argumentação”. Nesse artigo bem humorado tentaremos desvendar os sete tipos de reacionário, o que há de errado com eles e como devemos agir.

“Quem são os reaças? Onde vivem? De que se alimentam?” (Sérgio Chapelin, sobre reacionários)

Começaremos pelos mais inteligentes e depois seguiremos em direção aos de comunicação mais difícil.

Reacionários Educados
Esses são os mais raros. Eventualmente você esbarra em um em público ou num fórum on-line. Podem ser os mais difíceis de lidar. Eles aprenderam tudo o que há pra se aprender sobre suas posições (de uma perspectiva reacionária). Educaram-se sobre todas as razões que justificam seus posicionamentos como corretos, mas não estão interessados em nada que contradiga suas crenças.

O problema: Qualquer um com internet e cinco minutos livres consegue encontrar algo que descredite completamente sua versão dos “fatos”. Mesmo quando rebatidos, continuam a voltar aos argumentos iniciais, tentam mudar o assunto para algo onde se sintam mais confortáveis ou começam a expressar opiniões sem mérito factual.

Debatendo: Mantenha-os no assunto. Não deixe que ignorem seus contrapontos e mudem o assunto para você. São mestres nisso, mas se você conseguir mantê-los no assunto, começarão a expressar opiniões para as quais você poderá dizer “você tem fatos ou estatísticas que sustentem essa opinião?”.

Reacionários “Globais”
Estes estão entre os mais raivosos. Assistem aos jornais da Globo ou outras mídias de massa burguesas, leem a Veja e acreditam que isso os faz especialistas em política (do mesmo modo que acreditam que assistir ao jogo os faz técnicos e assistir à missa os faz santos). O único conhecimento político que apresentam é uma papagaiada sem base. Quando você os contrapõe, te chamam de “esquerdopata”, “comuna”, “socialista”, etc. Eles acham que todo revolucionário é um socialista que quer tirar seu dinheiro e entregar para pessoas que não merecem.

O problema: Eles não têm ideia do que estão falando. Geralmente estão repetindo coisas ditas pelo Arnaldo Jabor ou, com mais azar, pelo Olavo de Carvalho. Eles acreditam que movimentos anticapitalistas querem roubar sua liberdade (toda a liberdade que o dinheiro possa comprar), mas não compreendem o conceito de capitalismo, nem reconhecem como esses movimentos foram cruciais para que ele tivesse os direitos que têm hoje. Eles acham que o PT é comunista, e se você discorda dizem que você é um leitor da Carta Capital. Dizem que você é uma ovelha, mas esperam que você aceite cegamente tudo o que dizem, sem questionar.

Debatendo: Mantenha-se pedindo fatos e comprovações para as afirmações que fazem até que se desesperem e te chamem dos nomes já citados. Peça-os para enumerar quais os direitos que os movimentos anti-capitalistas já o roubaram (talvez eles digam que perderam o “direito de proibir a união homossexual” ou coisa do tipo, mantenha-se cobrando fatos). Eles tendem a ser violentos, então se estiver cara-a-cara, fique de olho em suas mãos.

Reacionários Cristãos
Estes reacionários são hipócritas. Eles fazem tudo em nome de Jesus, enquanto simultaneamente agem da maneira mais anticristã humanamente possível. Defendem armamento da população, são pró-militares, contrários à igualdade de direitos entre os sexos e à emancipação feminina e, principalmente, ignoram todos os trechos da bíblia que demonstram que Jesus era um personagem revolucionário (e libertário). As partes que mais esquecem são as de “amar o próximo como a si”, “não julgar” e a em que joga filhos contra pais e pais contra filhos. Porque o patriarcado não pode ser agredido, não é mesmo? Eles também acreditam que países em guerra estão assim por falta de Deus no coração, mesmo que quase a totalidade desses países seja de religião abraâmica e siga essencialmente o mesmo deus (com mais rigor!)… E eles odeiam os gays, claro.

O Problema: Eles fazem coisas horríveis em nome do Senhor. Eles acham que aqueles que discordam estão condenados ao inferno, porque são pessoas más. Eles acreditam que somos uma nação cristã, mesmo com uma influência inegável de cultos indígenas e afro-brasileiros em nossa cultura. E eles dizem defender a liberdade religiosa, mas condenam tudo o que não é cristão como “demoníaco”. Ah, eles também negam a evolução…

Debatendo: Insista na mensagem de “amor” cristão. Jesus os orientou a amar incondicionalmente e não julgar. Pergunte como eles acreditam que Cristo agiria no mundo de hoje frente à desigualdade social, e o que ele pensaria do dízimo que se paga às igrejas caça-níqueis. De qualquer forma, eles responderão com citações aleatórias e mostrarão que esse debate em específico é uma perda de tempo.

Reacionários “Contra a Corrupção”
Aqui estão os coleguinhas que vão aos protestos de branco, com a cara pintada de verde e amarelo, cantando o Hino Nacional ou a clássica do Geraldo Vandré. Eles querem um movimento bonito, higiênico, pacífico e, principalmente, passivo. Querem ir às ruas pra protestar por seus direitos, mas não conhecem seus direitos e menos ainda seus deveres. Acham que a polícia tem que sentar a borracha nos “vândalos” do Black Bloc, que eles nem sabem o que é. Dizem que a culpa do tráfico é do usuário, gostam de filmes como Tropa de Elite (alguns até citam Capitão Nascimento). O mais importante: defendem o fim da corrupção. Que corrupção? Não sabem. Mas quando dá preguiça de “vem pra rua”, eles ficam de “luto”.

O Problema: Esses indivíduos defendem pautas vazias. Aliás, eles querem enfiar essas pautas em qualquer lugar onde estejam, dizendo que as pessoas precisam ter foco (nas pautas vazias). São a pior praga dentro da Anonymous. Reproduzem-se como coelhos. Vão tentar levar qualquer debate para o eixo PT/PSDB, vão criminalizar movimentos sociais populares, mas vão defender reforma tributária (ignorando a transferência do poder do estado para o setor privado) e a reforma política (mesmo sem especificar o que é isso, significando, na prática, nada).

Debatendo: Peça que ele defina os conceitos que apresenta. Pergunte a que corrupção se refere, que reforma pretende. A melhor arma contra estes é a história. Tudo aquilo que eles almejam, na prática, até hoje foi conquistado com as práticas que eles condenam. Quando ironizarem o assistencialismo, traga estudos acadêmicos sobre seus resultados e deixe claro que esse é um pilar do capitalismo, para que ele mesmo não desabe em crise. Quando ele disser que o usuário financia o tráfico, pergunte se ele concorda que quem usa gasolina não é igualmente culpado pela guerra por petróleo no Oriente Médio.

Reacionários Xenófobos
Nessa categoria, incluem-se os que pensam que São Paulo é a locomotiva do Brasil, que defendem que o Sul se separe para formar um país de melhor IDH, que chamam tudo o que vive nas regiões Norte e Nordeste de “baiano” e os culpam pela crise urbana no Sudeste e, claro, as patricinhas e os mauricinhos que vão a aeroportos vaiar médicos cubanos. Esse tipo é complicado, porque é do tipo que tem medo de perder o pouquinho que tem pra “esses pobres”.

O Problema: Eles vão defender a superioridade de suas categorias. São meritocratas quando lhes convém, acham que um diploma te faz uma pessoa mais íntegra, mas colam em provas e compram carteiras de motorista. Eles acreditam que o êxodo rural encheu a cidade de gente “vagabunda”, mas dependem do serviço desses “vagabundos” até pra fazer um almoço. Quando você os contrariar, vão tentar te associar ao crime organizado ou ao terrorismo. E também vão dizer que “se usa chinelo não é índio”.

Debatendo: Desse grau pra baixo vai ficar difícil debater, já avisamos. Felizmente, as estatísticas atuam contra esses reacionários, assim como a política internacional, mas essas são esferas que eles não compreendem. E como eles também nunca “sentiram na pele” os problemas sociais, você vai ter que usar metáforas. Só não faça ironias com “Playstation” e “iPhone”, porque isso os deixa fora de controle.

Reacionários Racistas e Sexistas
Esses vêm quase por último por uma razão. Sabemos que racismo e sexismo não são exclusividade de reacionários. Sofremos muito com isso mesmo dentro dos grupos que se afirmam revolucionários. Mas essa junção funesta gera um dos piores tipos: o fascistóide. Eles não odeiam a Dilma pelas contradições de seu governo, mas essencialmente porque ela é mulher. Eles acreditam que liberdade de expressão é poder praticar ódio e discriminação sem sofrer consequências. Eles acreditam numa diferença “natural” fantasiosa entre homens e mulheres, entre brancos e negros, e entre heterossexuais e homossexuais que está muito distante da realidade científica. E por conta disso eles são máquinas de agressão e opressão, ainda que alguns de modo inconsciente.

O Problema: Eles são preconceituosos e discriminadores, mas quando você apontar isso, alegarão perseguição. Eles vão dizer que o dia da consciência negra e as cotas nas universidades é que são racistas, porque desprezam a história e a cultura do país, se pautando num silogismo pobre. Eles não sabem diferenciar a violência do opressor e a resistência do oprimido. Acima de tudo, eles não conseguem compreender porque as pessoas os chamam de machistas, racistas ou homofóbicos quando eles abriram um discurso com “eu tenho vários amigos gays, mas…” ou “eu respeito muito minha mulher e minhas filhas, mas…”. Pra finalizar, eles não entendem que democracia é o governo do povo. Todo o povo, e não só a maioria do povo.

Debatendo: Não se debate com fascistóides. Se os expurga. Você teria mais trabalho tentando convencer algum desses xucros sem educação do que são direitos humanos do que se tentasse convencer uma macieira a dar laranjas.

Reacionários Mal Educados
Esses reacionários são reacionários porque eles acham descolado. Eles têm amigos economistas, ou assistiram a uma meia dúzia de vídeos do Olavinho ou do Dâniel Fraga, então eles pensam que sabem do que estão falando. Eles têm uma gramática horrível, ignoram pontuações e têm uma tendência a escrever tudo em caixa alta (caps lock) e com vários pontos de exclamação, ASSIM!!! ACORDA BRASIL!!! ESSE É O PAÍS QUE VAI SEDIAR A COPA!!!???!!!. Irritante, não? Eles também esperam que você acredite em tudo o que eles dizem, só porque estão dizendo. E também citam vídeos de opinião quando você pede fontes que comprovem o que eles dizem.

O Problema: É difícil categorizar problemas num debate de ogros que não sabem se comunicar. Eles mal compreendem qual é seu posicionamento político, só repetem o que ouviram de um amigo ou viram num vídeo. Eventualmente, publicarão essas correntes mentirosas, com casos de um “famoso professor” que nunca existiu, ou do “grande economista” que nunca disse aquilo. Eles são 100% cegos aos fatos e só dão atenção ao que reforça suas crenças irracionais.

Debatendo: Não há lógica ou fatos que os vá convencer de nada. Você pode ser doutor na área, eles vão inventar uma desculpa do tipo “seu professor de história mentiu pra você” ou “esquerda e direita é coisa do passado”. No lugar de discutir com eles, tente explicar álgebra ao seu animal de estimação. Há mais chances de sucesso.

Esperamos que esse informativo lhes seja útil, ou ao menos que tenha servido como um desabafo coletivo. Lembrem-se disso antes de entrar em debates incansáveis nas redes sociais, pois nem sempre vale a pena. E saiba que esses grupos de reacionários reproduzem entre si e evoluem, como pokémons, então você poderá encontrar híbridos ou formas muito extremas de qualquer um deles.