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sábado, 29 de agosto de 2015

Lula: "se for preciso, eu vou pra disputa"


As forças de centro-esquerda podem se recompor, desde que falem para o futuro. Ninguém mais votará em Lula ou na esquerda só pelo discurso (verdadeiro) de que “tiramos milhões de pessoas da miséria”.

por Rodrigo Vianna

No inicio do mês, escrevi que a verdadeira tragédia de agosto não era o avanço conservador, os ataques à democracia e à esquerda. Isso é o que se espera da direita brasileira…

A tragédia mesmo era ver Lula (a maior liderança popular produzida por esse país, ao lado das figuras de Vargas e Prestes) acompanhar isso tudo calado.

Pois bem… Lula voltou.

Luis Inácio está de volta. Num encontro em Minas Gerais, anunciou nesta sexta-feira (28/agosto) que pode, sim, ser candidato em 2018 (clique aqui para saber mais). E isso ajuda a evitar o desmanche do campo que desde 2003 se organiza em torno de Lula.

Os erros cometidos por Dilma no início de seu segundo mandato, somados à mais dura campanha midiática contra um partido em meio século (a campanha de aniquilamento do PT só guarda paralelo com o que foi feito com o velho PCB nos anos 40 e 50), ameaçam provocar um estouro da boiada.

E é nesse quadro que Lula ressurge.

Sim, as pesquisas mostram que hoje ele perderia no segundo turno para Aécio e mesmo para Alckmin. Mas quem entende de pesquisas faz a seguinte leitura: é quase inacreditável que Lula, depois de passar os últimos seis meses apanhando todos os dias, ainda tenha um terço dos votos.

Sim, o quadro não é fácil. Mas por outro lado, todos os levantamentos sérios e mais profundos na sociedade brasileira indicam que há um “campo político-social” que está descontente com Dilma e o PT, mas (ainda) não se bandeou para o outro lado.

As forças de centro-esquerda podem se recompor, desde que falem para o futuro. Ninguém mais votará em Lula ou na esquerda só pelo discurso de que “tiramos milhões de pessoas da miséria”.

A maior parte dos brasileiros comprou a versão (vendida pelo próprio Lula) de que esse é um país de classe média. Quem ganha mais de 2 mil reais por mês já não se vê como pobre. E não vai apoiar um projeto apenas porque ele no passado ajudou a tirar milhões de pessoas na miséria.

Agora é a hora do futuro.

O brasileiro médio não quer bater panela, nem quer a volta da ditadura. Nem quer que a Dilma morra. Mas quer um projeto que garanta igualdade de oportunidades para seus filhos. E o governo Dilma/Levy aponta para tudo, menos para o futuro.

Lula pode ser a liderança a recompor esse campo, se oferecer um projeto novo. E Dilma pode ajudar se, em paralelo com sua disposição inabalável para manter as instituições funcionando (mesmo contra o PT e contra o governo), ousar um pouco, e sair da pura agenda levyana.

Sim, é preciso reconhecer que a corrupção não é “um probleminha menor”. O erro é transformar a corrupção em centro do debate (como faz a UDN tucana). O centro do debate segue a ser a desigualdade. Mas é preciso dizer em alto e bom som que foi um erro não se combater os desvios com ainda mais vigor – em que pese o fato de jamais o MPF e a PF terem trabalhado com tanta liberdade(e, às vezes, com alguma irresponsabilidade).

Sim, os tucanos não tem moral pra falar em corrupção. Ok. Mas o povo, especialmente o mais jovem, não quer esse campeonato de “eles roubaram mais, e a mídia não fala nada”.

Isso serve para escancarar a hipocrisia da velha imprensa. Mas não serve como horizonte de futuro.

Luis Inácio voltou. Mas esse retorno não pode significar a volta também do velho “sebastianismo” luso-brasileiro. O rei heróico morto em combate (Dom Sebastião) não voltará. Primeiro porque Lula não é rei. E segundo porque ele e o projeto que representa não estão mortos. Esse projeto precisa ser atualizado. E o “grande líder” sozinho não cura todas as feridas.

Todas as pesquisas qualitativas sérias (especialmente as que envolvem a classe C) indicam que hoje o centro da disputa é para atrair um amplo campo da população (cerca de 40% dos eleitores – que já votaram em Lula e Dilma, mas estão descrentes do governo e do PT). Um “salvador da pátria”(pela direita) pode conquistar parte desse público. Um tucano mais moderado (que reconheça os avanços do lulismo) também pode conquistar…

Mas ninguém mais do que Lula pode cumprir esse papel de reordenamento. A centro-esquerda precisa de um novo projeto, precisa falar para o futuro. Sem enterrar as bandeiras do passado.

A multidão que foi à concha acústica da UERJ ouvir o uruguaio Mujica (o esquerdista sóbrio e anti-consumista) é um sinal de que há espaço para um novo projeto.

A saída é apostar na generosidade do povo brasileiro. Enfrentar a direita, sim. Mas falando também para a imensa maioria que não tem ódio no peito, mas está desanimada. E, cá entre nós, tem motivos pra isso.

Lula e a esquerda no Brasil precisam de uma pitada de Mujica. Não é à toa que os dois estarão juntos neste sábado – simbolicamente, em São Bernardo do Campo, a cidade operária que Lula ajudou a transformar numa “cidade de classe média (clique aqui para saber mais sobre o ato com Lula. e Mujica).

Luis Inácio voltou. Mas sozinho não vai ganhar a parada. O Brasil precisa de um novo projeto.

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

A revolução por que passa São Paulo

Paulista fechada para veículos aos domingos: 
ousadia que vai virar exemplo para outras cidades
(Foto: André Tambucci/Fotos Públicas)

O papel de São Paulo como centro difusor de cultura é inquestionável. 

Se o Rio ainda é capaz de influenciar alguns padrões de comportamento, São Paulo vai além e exporta tanto seu conservadorismo político como seu vanguardismo artístico, numa aparente contradição de difícil entendimento.

Essa última medida do prefeito paulistano Fernando Haddad é exemplar. 

Sua ousadia de querer fechar para a circulação de veículos a Avenida Paulista, transformando-a, nos domingos, num amplo parque para o lazer da população, certamente fez com que fosse ainda mais odiado por setores que rejeitam mudanças e que querem continuar a viver num Brasil acostumado a uma iníqua desigualdade social. 

São os que gritam, histericamente, "fora PT", "fora Dilma", "fora Lula", pois, para eles, até a social-democracia é uma ameaça aos privilégios seculares a que se aferram.

Há, porém, como se viu na Paulista neste último domingo, ocupada por milhares de pessoas das mais variadas extrações sociais, uma imensa parcela da população que deseja muito mais que a metrópole lhe oferece hoje em termos de lazer, mobilidade, arte, serviços básicos...

Haddad, pode-se dizer, descobriu a roda.

O impacto dessas medidas que vem tomando - criação de uma malha cicloviária, ampliação das faixas de ônibus, redução da velocidade dos veículos nas vias públicas, instalação de equipamentos culturais na periferia, adoção de novo plano diretor etc -, algumas aparentemente simples, é extraordinário para a concepção de uma cidade que atenda minimamente as necessidades de seus moradores.

E mais: elas representam uma revolução urbanística que será notada brevemente, já que serão inevitavelmente replicadas em outras comunidades Brasil afora.

Como disse no início desta croniqueta, a influência de São Paulo no resto do país é enorme.

Daqui a pouco tempo haverá, nos fins de semana, um monte de Avenidas Paulistas, ou "ruas de lazer", por todo o país.

Assim como muitas cidades começarão a construir ciclovias, ampliarão os quilômetros de faixas de ônibus, reduzirão a velocidade máxima de suas ruas...

O processo evolutivo da civilização é assim mesmo, dialético, feito de embates, de brigas e discussões.

Nesse sentido, Haddad é uma benção para o Brasil, além de ser o mais que necessário contraponto para o conservadorismo radical do governador do Estado.

Viraliza no Twitter foto da Globonews em que delator acusa Aécio de receber dinheiro de corrupção




Diário do Centro do Mundo

O doleiro Alberto Youssef reafirmou nesta terça-feira durante depoimento à CPI da Petrobras que Aécio recebeu dinheiro de corrupção de Furnas, subsidiária da Eletrobras.

“Eu confirmo (que Aécio recebeu dinheiro de corrupção) por conta do que eu escutava do deputado José Janene, que era meu compadre e eu era operador dele”, disse o doleiro, segundo registro da Reuters.

Aécio não pôde ser imediatamente contatado para comentar o assunto, disse a Reuters.

terça-feira, 25 de agosto de 2015

Os três patéticos



Ricardo Melo

Isolada de sua base histórica, a banca e o empresariado, à tropa do impeachment só resta a debandada


Aécio Neves, Gilmar Mendes e Eduardo Cunha atuam como protagonistas de uma causa falida. Mesmo assim, não perdem uma oportunidade de expor em público sua estreiteza de horizontes. São golpistas declarados. Não importa a lógica, a política, a dialética ou mesmo o senso comum. Suas biografias, já não propriamente admiráveis, dissolvem-se a jato a cada movimento realizado para derrubar um governo eleito.

Presidente do PSDB, o senador mineiro-carioca pouco se incomoda com o ridículo de suas atitudes. Aécio sempre defendeu um programa de arrocho contra os pobres. Gabou-se da coragem de adotar medidas impopulares para "consertar o Brasil".

Agora sobe em trios elétricos como porta-voz do povo. Critica medidas de ajuste, jura pensar no Brasil e usa qualquer artimanha com uma única finalidade: isolar a presidente. Convoca sabujos para atacar um jornalista que revelou o escândalo do aeroporto construído para atender a ele e à própria família. Maiores informações na página A3 desta Folha publicada ontem (23/08).

Seu ajudante de ordens, ou vice-versa, é o ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes. Sintoma da fragilidade do equilíbrio de poderes vigente no Brasil, Mendes emite toda sorte de opiniões fora de autos. Muda de ideia conforme as conveniências. De tão tendencioso e parcial, seu comportamento público seria suficiente para impugná-lo como síndico de prédio. Na democracia à brasileira, pontifica como jurista na mais alta corte do país. Quem quiser que leve a sério.

Mendes endossou as contas da campanha da presidente eleita alguns meses atrás. Coisas do passado. Esqueçam o que ele votou. De repente, detectou problemas insanáveis na mesma contabilidade e ruge ameaçadoramente contra o que ele mesmo aprovou. No meio tempo, acusa o Planalto de comandar um sindicato de ladrões financiado por empreiteiras envolvidas na roubalheira da Petrobras.

Bem, mas as mesmas empresas financiaram a campanha dos outros partidos. O que fazer? Vale lembrar: Mendes até hoje trava o julgamento favorável à proibição do financiamento empresarial de campanhas políticas. Seu pedido de vistas escancara um escândalo jurídico, legal e moral que o STF finge não existir. Ora, isso não vem ao caso, socorreria o juiz paladino Sergio Moro.

E aí aparece Eduardo Cunha, o peemedebista dirigente da Câmara. Terceiro na linha de sucessão presidencial, Cunha encenava comandar um exército invencível. Primeiro humilhou o Planalto na eleição para o comando da Casa. Depois, passou a manobrar o regimento para aprovar o que interessa a aliados nem sempre expostos. Tentou ainda se credenciar como alternativa golpista. Curto circuito total. Pego numa mentira de pelo menos 5 milhões de dólares, a acreditar no procurador geral, Cunha atualmente circula como um zumbi rogando piedade de parlamentares muito mais interessados em salvar a própria pele.

Cambaleante, o trio parece ter recebido a pá de cal com os pronunciamentos dos verdadeiros comandantes da nossa democracia. O mais recente veio do chefe do maior banco privado do país, Roberto Setubal. Presidente do Itaú Unibanco, Setubal afirmou com todas as letras não haver motivos para tirar Dilma do cargo. Tipo ruim com ela, pior sem ela ""que o digam os lucros pornográficos auferidos pela turma financeira.

Sem a banca por trás, abandonada pelo pessoal do dinheiro grosso e encrencada em acusações lançadas contra os adversários, à troupe do impeachment não resta muito mais que baixar o pano.

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

A guerra primitiva dos paulistanos contra a bicicleta e contra o progresso


Punido por tentar tirar SP do atraso




Você mede hoje o avanço social de uma grande cidade pelas bicicletas.

Quanto mais ciclistas, mais avançada.

Copenhague e Amsterdã são modelos mundiais.

Londres, Nova York e Paris se empenham tenazmente para aumentar o número de bicicletas nas ruas e reduzir o de carros.

São Paulo, miseravelmente, ficou para trás, por conta de administrações ineptas como a de Serra.

E quando aparece enfim um prefeito disposto a corrigir um atraso humilhante ele é recebido não com aplausos – mas com uma camada selvagem de resistência.

Um dia vamos tentar entender como São Paulo se tornou uma cidade tão infestada de pessoas que abominam inovações e mudanças.

O túmulo do samba se converteu no túmulo das novidades.

Um episódio simbólico ocorreu neste domingo, quando Haddad, de bicicleta, inaugurava uma ciclovia. Um casal de patetas imobilizou sua bicicleta e proferiu insultos. Sinal dos tempos, as mulheres dos desvairados se tornaram cúmplices. Antes, sensatas, elas eram um contraponto a maridos encrenqueiros. Agora, contribuem para o incêndio.

Haddad não inventou a roda. Estava na cara, quando ele assumiu a prefeitura, que o maior drama da cidade era a mobilidade.

Se antecessores como Serra e Kassab não viram isso é porque a incompetência deles é desumana.

Haddad viu, portanto, o óbvio.

E agiu.

Sob o estímulo de uma mídia cujo cérebro estacionou no século passado, os donos de carros começaram a criar problemas sobre problemas.

É como se a cidade pertencesse a eles.

Em sua cegueira egoísta, não se deram conta de que a diminuição dos carros nas ruas seria um bem para todos.

Haddad teve a explicar a jornalistas ignorantes como o professor Villa que primeiro você tem que abrir ciclovias para depois aparecerem e se multiplicarem os ciclistas.

Nas eleições municipais do ano que vem, é possível que Haddad seja punido por ter tentado tirar São Paulo do primitivismo em termos de bicicletas.

Mas a história da cidade reconhecerá nele um espírito sintonizado com o sue tempo.

Pois não é possível que, indefinidamente, os paulistanos serão cobertos pelo grau de obtusidade e reacionarismo que é hoje a marca de uma metrópole que foi sempre tão dinâmica e aberta a novas ideias.

domingo, 23 de agosto de 2015

Sobre os desafios políticos de Dilma Rousseff


Eu participei ativamente da chegada do Lula à presidência, militando na política de 1989 a 2003, e fiz muitos amigos nessa jornada. Mas, já no primeiro ano do governo, assisti a desfiliação de muitos dos meus companheiros de militância dos partidos que faziam a base do governo. A justificativa era que Lula e o PT tinham renegado as bandeiras da esquerda e se aliado com aqueles que deveria repudiar.

Eu concordo com Deleuze quando ele diz que não existe governo de esquerda. No máximo, diria ele, teremos um governo sensibilizado com as causas da esquerda. 

Ser de esquerda sempre supõe questionar e romper com o que está instituído, porque é uma proposta de visão de mundo para além: além do próprio umbigo, além de hoje ou amanhã ou além das necessidades imediatas. Só que assumir um governo pressupõe a peleja de ter que lidar com o pragmatismo necessário ao trabalho cotidiano. Ao governar podemos sustentar um olhar além, mas, não podemos deixar de olhar hoje e amanhã. E o problema é que olhar para hoje e amanhã pode significar algo muito diverso do que se pretendia quando se olhava para além. Então, esse é o desarranjo no qual os partidos de esquerda se metem quando assumem o poder – aqui ou em qualquer lugar do mundo. E é preciso ter maturidade política para entender o significa tal mudança de posição, para que ela não se torne uma armadilha ou uma maldição.


Política e laço social

Para fazermos qualquer tipo de laço social precisamos entrar numa rede discursiva, sendo assim, a política também é uma tentativa de fazer laço social. Algumas posições discursivas têm como objetivo exercer comando sobre outros. Outras se dispõem a questionar e mover tais posições de comando do seu lugar. Um bom exemplo seria a relação dos pais com seus filhos. Os primeiros tentarão, por meio do saber ou do poder que possuem, comandar seus filhos. Já estes últimos, por sua vez, farão de tudo para demover seus pais do lugar de comando. Tem sido assim, de geração a geração.

Mas então acontece uma coisa interessante. Aquele filho rebelde e questionador quando se torna pai ou mãe, se vê tomando com seus filhos, medidas e atitudes semelhantes as que ele questionou um dia de seus pais. Isso significaria que ele mudou suas convicções e princípios? Não necessariamente. Às vezes, isso acontece apenas pelo fato dele ter mudado sua posição no discurso. E é importante que tal mudança aconteça. Inclusive, muitos não conseguem assumir a condição de pai e mãe exatamente por não suportarem ter que mudar de posição. Não suportam ter que ficar no lugar de comando e alvo da crítica e da queixa dos filhos. 

Muitos dos meus amigos que migraram para outros partidos quando Lula ganhou a eleição – apesar de suas justificativas serem totalmente plausíveis – o fizeram simplesmente por não conseguirem fazer uma mudança discursiva. Não suportaram ficar no lugar da vidraça que leva a pedrada; só sabiam ficar no lugar daquele que joga a pedra na vidraça do outro. E temos muitos políticos assim – que são excelentes – mas que só conseguem se figurar como oposição. 

Temos também o caso daquele que, ao mudar seu lugar no discurso – de querelante para comandante – encarna o poder e se fixa a ele de tal modo, que não consegue mais se mover. Torna-se um comandante duro e inflexível, que vai tentar exercer seu comando pela força (poder) ou pelo apego demasiado a regras e teorias (saber). Numa empresa, temos o exemplo do encarregado mais questionador e que se torna o mais rigoroso dos chefes, quando colocado na posição de gerente. 

Enfim, a metáfora do filme Senhor dos Anéis é perfeita para explicar o que eu estou tentando dizer. São poucos os que sabem usar o anel do poder. Muitos não suportam a pressão de usá-lo e outros ficam seduzidos e inebriados demais com seu uso. Ou seja, fazer bom uso da condição de comando seria ter coragem suficiente para usar o anel quando necessário, mas também saber abrir mão dele. É saber da responsabilidade que implica estar com o anel e da humildade de entender que não se pode tê-lo todo o tempo ou usar dele para fazer o que bem entender.

A política é a arte de fazer bom uso do anel. É a arte de fazer uso dos vários discursos para governar. O bom político é aquele que não se fixa em uma determinada posição discursiva. Sabe quando chamar a liderança para si e quando delega-la. Sabe que tomar uma decisão implica em responsabilizar-se e saber sobre ela, mas, sobretudo, em negociar, ceder poder, escutar o saber do outro, recuar de suas próprias certezas e convicções, ainda que temporariamente, ainda que a contragosto. Quem acha que um bom governante é aquele que vai fazer tudo o que disse que iria fazer na época da eleição não entendeu nada de política. Bom político é aquele que conseguirá negociar o que prometeu da melhor maneira possível. Na política é necessário compreender profundamente a metáfora: “vão-se os anéis, ficam os dedos”. 

É por isso que a boa governança não se faz apenas com bons administradores. Bons administradores podem ser inteligentes, corretos e muito bem intencionados. Podem saber muito sobre teorias e técnicas de gestão, podem ter condições de assumir posições de liderança e comando, mas se não souberem fazer política, sofrerão amargamente. 


Uma crise política

Engana-se quem acredita que a crise que vivemos atualmente no Brasil é econômica. Aqui dentro, nossa crise é eminentemente política, mas, tem servido de combustível para alimentar uma crise econômica que é mundial. Não tenho motivo nenhum para duvidar da capacidade administrativa, da dedicação ao trabalho, da boa intenção e da integridade moral e ética da presidenta Dilma, mas tem faltado a ela uma coisa fundamental para o cargo que assumiu: habilidade política. 

Em seu segundo mandato, Dilma conseguiu o feito improvável de desagradar os que estavam a seu favor e os que estavam contra, os que estavam à sua direita e os que estavam à sua esquerda. Economicamente falando, tomou as diretrizes que seu oponente nas eleições disse que tomaria (desagradando grande parte de seu eleitorado) sem, no entanto, conseguir receber os aplausos daqueles que derrotou nas urnas. Por que isso foi possível? Porque o maior desafio de um governante não está, exatamente, no sucesso das decisões que vai tomar, mas, sobretudo em quantas pessoas, instituições, partidos, redes, organizações, coletivos, instâncias e movimentos ele conquistará para fazer com que sua decisão tenha sucesso. Na política, o sucesso nunca vem antes, vem depois. Na política, o sucesso não está no ato em si, é diretamente proporcional ao tamanho da força que se aglutinou a ele. Todo ato político, para ter sucesso, precisa ser o ato de muitos. É por isso que o pior que pode acontecer a um político é o seu isolamento. 


A histeria quer impeachment

Um dos reflexos da inabilidade política de Dilma é a histeria generalizada que ganhou as redes sociais, as conversas do dia a dia, as sacadas da classe média e as ruas. Tal histeria – não se enganem – não é resultado das denuncias de corrupção e da tão falada crise, afinal, já vivemos dias muito piores nos dois aspectos (quem não sabe disso não viveu aqui nos últimos 30 anos ou sofre de amnésia grave). Então, o que significa tamanha histeria? Lacan dizia que a histeria quer é “um mestre sobre o qual ela reine. Ela reina e ele não governa". Traduzindo para o Brasil de hoje: a histeria quer impeachment. 

Entretanto, uma das habilidades do bom governante é conseguir evitar que a posição queixosa e querelante própria dos governados se fixe num discurso histérico sintomático, imaturo e vazio. Para escapar do discurso da histeria, só resta ao mestre (foi Freud quem nos ensinou isso) esvaziar-se da sua condição de mestria. Diante deste mesmo impasse outros governantes que tivemos, simplesmente abdicaram do seu lugar, de diferentes modos. Dilma já afirmou que não irá usar desse recurso, e é bom que seja assim. É bom que tenhamos alguém com coragem para suportar e sustentar este lugar numa condição política tão adversa. Entretanto, isso por si não resolve o impasse que está posto para este governo. Ainda sim, Dilma precisa esvaziar um pouco seu lugar para que a histeria não se sinta tão impelida em desbanca-la. É assim que funciona: quanto mais o mestre se impõe e se endurece, mais a histeria aumenta na tentativa de esvaziá-lo. 

Então qual a saída para Dilma? Dilma precisar esvaziar um pouco seu lugar, flexibilizar-se, permitir-se, abrir-se para o outro, admitir suas próprias limitações. Outro dia alguém sugeriu que a presidenta: erotize-se e isso foi interpretado como uma sugestão de que ela estivesse precisando de sexo. Erotizar-se não tem nada a ver com fazer sexo, erotizar-se é abrir-se ao outro, se mobilizar em direção ao outro. Erotizar-se é acreditar que o outro possa ter algo que eu não tenho. Na verdade ninguém tem essa coisa que todos procuramos, mas sempre que procuramos essa coisa juntos estamos fazendo laço, ou seja, estamos fazendo política.

Resumindo: ou Dilma aprende a fazer política (o que pode significar admitir sua inabilidade neste aspecto para buscar alguém que faça isso junto com ela) ou está fadada ao fracasso.

Não é por acaso que a ultima medida do governo foi convocar Lula para assumir a articulação política do governo. Podem-se fazer mil críticas ao Lula, mas ninguém pode negar sua habilidade para fazer política. Muitos não entenderam e não entendem, mas o sucesso do governo Lula não se deu exatamente pelo acerto nas suas decisões, mas pela sua capacidade de aglutinar forças que pudessem fazer com que um projeto de Brasil possível pudesse acontecer. Obviamente que o possível na política, não é o ideal.

E retomando o início no texto, o imbróglio da esquerda é que ela mora sempre no campo do ideal. Mas o desafio da política é fazer o ideal tornar-se possível através do trabalho de ligação e aglutinação de forças numa mesma direção. 


A extrema direita, a extrema esquerda e a criminalização da política

Não por acaso vemos duas forças surgindo a partir dessa nossa crise política: a extrema direita e a extrema esquerda. Vale lembrar que ambas são dois lados da mesma moeda. As duas querem acabar com a crise de liderança por meio de um pulso forte que diga: “acabou essa bagunça, agora vai ser do jeito que eu mandar”. A extrema direita quer intervenção militar e a extrema esquerda quer intervenção armada do proletariado. Em ambos os casos abrimos mão da política para fazer uso da força. Não pode dar certo! 

Em alguma medida, criminalizar a política, desejar a explosão do Congresso Nacional, a morte de todos os políticos ou coisa parecida, também é flertar com a abdicação da política como modo de governar. Mas é preciso ter clareza de uma coisa. Se a saída por meio política da tem sido uma saída especialmente difícil e frustrante para nós brasileiros, sem a política não há saída alguma. 

Que apostemos mais uma vez na saída pela via política! Que Dilma consiga aceitar a colaboração e a parceria dos seus aliados e do seu povo para que todos nós sigamos em frente! Este é o meu desejo. Tomara que ele seja escutado!

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Maringoni: A política dos puros





As manifestações de protesto contra o ajuste fiscal, de oposição à direita e pela democracia, marcadas para esta quinta (20) em diversas cidades, está suscitando séria celeuma entre as próprias forças progressistas.

Ela é convocada por entidades, como o MTST, o MST, a CUT, a CTB, a UNE, a Intersindical, a UBES e o PSOL.

Os eventos podem vir a ser ser um marco e um contraponto importante à escalada reacionária que toma conta da sociedade.

Grupos puristas de ultraesquerda lançam manifestos, declarações à praça e ucasses acusando os movimentos e o PSOL de estarem organizando um ato de apoio ao governo Dilma.

É bom deixar claro que isso não está na pauta da comissão organizadora da manifestação.

CONVOCATÓRIA

A convocatória, aprovada por diversas entidades, deixa explícito o que se pretende:

“Contra o ajuste fiscal! Que os ricos paguem pela crise!

A política econômica do governo joga a conta nas costas do povo. Ao invés de atacar direitos trabalhistas, cortar investimentos sociais e aumentar os juros, defendemos que o governo ajuste as contas em cima dos mais ricos, com taxação das grandes fortunas, dividendos e remessas de lucro, além de uma auditoria da dívida pública. Somos contra o aumento das tarifas de energia, água e outros serviços básicos, que inflacionam o custo de vida dos trabalhadores. Os direitos trabalhistas precisam ser assegurados: defendemos a redução da jornada de trabalho sem redução de salários e a valorização dos aposentados com uma previdência pública, universal e sem progressividade”.

Simples e direto.

É bem verdade que o evento está aberto à participação de quem quer que seja. Inclusive dos partidos que integram a base do governo. Afinal, acontecerá nas ruas e elas são públicas.

CONTAMINAÇÃO

Imaginar que o ato será “contaminado” por algum tipo de governismo demonstra um dois mais nocivos comportamentos para quem faz política, o purismo.

Quem faz política conversa com todos, faz acordos com quem pensa diferente, busca alianças com base em interesses comuns, mesmo que pontuais.

Os puros, não.

Esses não se misturam. Não convivem com a pluralidade. Não estão na vida para convencer e – eventualmente – serem convencidos.

Podem não realizar nada, pois para exercer sua pureza, precisam apenas conviver entre iguais, em ambientes de convertidos, em espaços reiterativos, nos quais nunca terão de muitas vezes colocar a mão nas impurezas do mundo. Mas isso não lhes importa.

Os puros são assépticos, limpinhos e almejam serem cheirosos.

Mas os puros apresentam uma vantagem, uma sacrossanta vantagem sobre todos os demais.

Podem – depois de tudo – erguer o dedo e acusar os que julgam impuros. E podem bradar a frase mágica:

– Eu não disse?? Eu não disse que não ia dar certo?

Sim, as coisas na vida podem dar certo e dar errado.

Mas o ruim não é isso. O ruim é não tentar.

SABEDORIA ORIENTAL

Os puros certamente são personagens como os que Vladimir Lenin (1870-1924) criticava em uma de suas obras mais conhecidas, o “Esquerdismo, doença infantil do comunismo”, escrito em 1920.

Nesse pequeno livro, o líder da Revolução Russa ataca pesadamente os ativistas de ultraesquerda que, sob o pretexto de manter o purismo de suas organizações, acabam por se distanciar da consciência popular.

A citação é quase um Danoninho teórico. Ou seja, vale por um bifinho político.

Ao comentar a recusa dos comunistas alemães em fazer acordos com facções burguesas no parlamento, Lenin diz:

“Há compromissos e compromissos. É preciso saber analisar a situação e as circunstâncias concretas de cada compromisso, ou de cada variedade de compromisso.

É preciso aprender a distinguir o homem que entregou aos bandidos sua bolsa e suas armas para diminuir o mal causado por eles e facilitar sua captura e execução, daquele que dá aos bandidos sua bolsa e suas armas para participar da divisão do saque.

Em política, isso está muito longe de ser sempre assim tão difícil como nesse pequeno exemplo de simplicidade infantil.

Seria, porém, um simples charlatão quem pretendesse inventar para os operários uma fórmula que, antecipadamente, apresentasse soluções adequadas para todas as circunstâncias da vida, ou aquele que prometesse que na política do proletariado nunca surgirão dificuldades nem situações complicadas”.

GUETO

O purismo é o caminho para o gueto e o isolamento.

Os puros não querem nem saber. A teoria, eles a querem pura, a política querem pura, a sociedade, querem pura e a vida idem ibidem…

Pura, pura.

Pura que o pariu!


(Puros, só os Havana).

DIREITO À ESPERANÇA


Nunca vivemos crise igual! 
Algumas mentiras, insistentemente repetidas, viram verdades e se cristalizam como blocos de concreto, impedindo que o olhar avance para as infinitas possibilidades que se apresentam.
Então, acreditamos no Estado do bem estar social e canalizamos nossas crenças e energias para o mercado, solução de todos os males e cura para todas as injustiças?
Imaginamos que os esforços individuais enfrentariam com maestria os abismos da desigualdade, e nos elevariam aos templos do consumo e da saciedade que resolveriam as nossas angústias inexplicáveis?
Então explodimos o mundo em duas grandes guerras, assassinamos judeus, escravizamos pessoas, investimos em armas e repressão para garantir a ordem necessária à convivência pacífica?
Como vitória da nossa arrogância, matamos nossos deuses, desconstruímos nossas instituições e nossos muros, fragmentamos nossos valores e nos apropriamos das palavras “liberdade” e justiça”, como panaceia de todo o mal que continuamos a alimentar?
Na nossa casa, pactuamos consensos inexistentes e sepultamos a verdade na cova rasa da leniência com o arbítrio cometido, e do qual não deveríamos jamais ter esquecido?
Conseguimos, contudo, chegar até aqui. Diante desse complexo mar de contradições, precariedades, avanços e retrocessos, nada melhor para amenizar o nosso desamparo, do que escolher alguém ou alguma coisa que se responsabilize por nossos erros e acertos ao longo da história.
O personagem de Simone de Beauvoir, em “Todos os homens são mortais”, condenado à vida eterna, se entedia diante da dolorosa repetição da realidade. Nos raros momentos em que retoma o desejo, se encontra diante do afeto, tímida medicação que o permite tréguas na eternidade compulsória.
Vivemos sim, uma grave crise. Mas vivemos também tempos dignos de serem celebrados.
Com tantas notícias de corrupção entranhada na vida pública, vem também a afirmação da democracia, com o funcionamento das investigações e da Justiça.
Com a economia em frangalhos, há também a expectativa e a esperança de muitos, que há até poucos anos, nunca precisaram se ocupar de nenhuma crise porque eram invisíveis a ela e aos benefícios que a inclusão trouxe.
Mesmo com a incômoda sensação de instabilidade, ganhamos a liberdade para falar, ouvir e pensar, o que parece óbvio, mas não é pouco, se confrontado com nossa recente história.
Mesmo com as representações políticas em xeque, temos encontrado mecanismos para nos reunir coletivamente, nas cidades, nas comunidades, nos afetos e temos exercido, criativamente, nosso direito ao pertencimento.
O mundo nunca será perfeito. O Brasil nunca será perfeito. Nós nunca seremos perfeitos. Melhor ou pior dependerá da utopia que desejamos.
A ingenuidade não é o desejo de esperança, mas a escolha do lugar onde a depositamos.
Pode ser tão ingênuo continuar acreditando na capacidade do ser humano para se reinventar e celebrar o bem que conseguimos até aqui, quanto imaginar que destruindo um partido ou criminalizando a política, chegaremos ao paraíso.

O vácuo





Houve um tempo em que os cachorros corriam atrás dos carros. Era uma cena comum: vira-latas perseguindo carros, latindo, como se quisessem expulsar um intruso no seu meio. Às vezes, viam-se bandos de cães indignados perseguindo carros que passavam e dava até para imaginar que um dia conseguiriam alcançar um, dos pequenos, pará-lo, cercá-lo e... E o quê? Comê-lo? Nunca ficou claro o que os cachorros fariam se alcançassem um carro. Era uma raiva sem planejamento. (Hoje, a cena de cachorros correndo atrás de carros é rara. Os cachorros modernizaram-se. Renderam-se ao domínio do automóvel. Ou convenceram-se do seu próprio ridículo). 

Os manifestantes contra o governo sabem o que não querem - a Dilma, o Lula, o PT no poder -, mas ainda não pensaram bem no que querem. Se conseguirem derrubar o governo, que cada vez mais se parece com um Fusca indefeso sitiado por cães obsoletos, o que, exatamente, pretendem fazer com o vácuo? A política econômica atual é um sonho neoliberal. Seu oposto seria uma volta à política econômica pré-Levy? Dependendo de como for impedida a Dilma, o vácuo pode ser preenchido pela ascensão do vice-presidente (tudo bem), pelo eleito num novo pleito (seja o que Deus quiser) ou pelo Eduardo Cunha (bate na madeira). O que os manifestantes preferem? A raiva precisa de um mínimo de previsão. 

Uma parte dos manifestantes não tem dúvida do que quer. Da primeira grande manifestação de 2013 passando pelas duas deste ano, o que mais cresceu e apareceu foi a linha Bolsonaro, que pede a volta da ditadura militar e lamenta, abertamente, que os militares não tenham matado a Dilma quando tiveram a oportunidade. Por sinal, o Fernando Henrique talvez se lembre que o Bolsonaro disse a mesma coisa a seu respeito. Mas, enfim, as guerras fazem estranhos aliados.

Sugiro a quem se preocupa com o momento nacional que faça um pouco de arqueologia histórica para manter as coisas em perspectiva. Procure na imprensa da época a reação causada pela marcha da família com Deus pela liberdade contra a ameaça comunista. Também foi uma manifestação enorme, impressionante. E foi o preâmbulo do golpe de 64, e dos 20 anos negros que se seguiram e hoje tanta gente quer ver de novo. Pode-se argumentar que os tempos eram outros, tão distantes que os cachorros de então ainda corriam atrás de carros, e a luta era outra. Mas o triste é que ainda é a mesma luta.

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Não era amor, era cilada

Gregorio Duvivier

Nossa fraternidade é seletiva. Só temos fraternité com quem é cliente personnalité


Amor, Ordem e Progresso. O binômio positivista na verdade era uma tríade –assim como a Liberdade-Igualdade-Fraternidade dos franceses, só que sem rimar. Nosso trinômio era ainda mais chique, em verso livre. "O amor vem por princípio, a ordem por base/ O progresso é que deve vir por fim/ Desprezastes esta lei de Augusto Comte/ E fostes ser feliz longe de mim", cantava Noel.

O amor estava no princípio, antes do Verbo. Ou talvez o amor fosse um verbo –da quarta conjugação, daqueles verbos terminados em "or": por, depor, transpor, amor.

Imagina que lindo ter amor na bandeira –mas os inventores do país tiraram o elemento fundamental da tríade positivista. Amputaram a fraternidade da nossa tríade, e assim nasceu nossa república: amorfóbica.

Não sou o primeiro a levantar essa bandeira de uma outra bandeira. Jards Macalé fez campanha pela volta do amor na flâmula. Chico Alencar fez um projeto de lei. Suplicy (saudades) tentou emplacar o projeto. Nada. Ao contrário da bíblia, do boi e da bala, o amor não tem bancada. O amor não faz lobby e ficou do lado de fora da festa da democracia. Talvez aí tenham começado os nossos problemas: no recalque da fraternidade.

Lembro que uma vez reclamei para um francês que eles eram pouco afetivos, enquanto nós brasileiros vivíamos numa cultura mais amorosa. E o professor, roxo de raiva, perguntava, aos berros, onde estava, na história do Brasil, o amor pelos negros, pelos gays, pelos índios, pelas crianças de rua. O carinho que temos pelos nossos semelhantes é proporcional ao ódio que temos pela diferença. Nossa fraternidade é seletiva. Só temos fraternité com quem é cliente personnalité.

Nossa cultura é muito erótica –e muito pouco amorosa. O amor líquido aqui já tá gasoso. Ou como dizia o Poeta: não era amor, era cilada. Cilada. Cilada.

Não quero engrossar o coro dos que acreditam que protesto é coisa de gente mal amada. Acho que pode haver muito amor no protesto.

Mas não encontrei nesse. Houvesse mais amor, não estariam protestando contra o fato do DOI-Codi não ter enforcado a Dilma quando teve oportunidade. Não teria gente dizendo que "tinham que ter matado todos os comunistas em 64".

Houvesse mais amor, estariam pedindo o fim do programa nuclear brasileiro. Houvesse mais amor, estariam pedindo o fim do incentivo à indústria bélica. Houvesse mais amor, estariam protestando contra a polícia que acaba de cometer uma chacina –não estariam tirando selfie com ela.

Toda revolução é uma obra de amor –caso contrário, é golpe.

Ex-parceiro de Lobão em "Vida Bandida" diz que cantor vive “decadência patética”




O compositor Bernardo Vilhena reclamou no Facebook da versão “canhestra, machista e covarde” que o ex-parceiro Lobão tem cantado de “Vida Bandida”. Lobão trocou o refrão para “Dilma Bandida”.

Para Vilhena, é uma “decadência patética”:

O poema Vida Bandida foi escrito em 1975 e virou canção em 1987. Recentemente, fui alertado sobre uma versão canhestra, machista e covarde que o roqueiro Lobão vem cantando em seus shows, com a intenção de humilhar a presidente da república. 

Sempre evitei e jamais dei autorização para o uso de minhas canções em campanhas políticas. Cito o exemplo da música Revanche, escrita em 1986 em plena luta pelas diretas, quando neguei autorização ao PT para utilizá-la na campanha presidencial, a despeito de minha posição política. Esta mesma canção que, numa demonstração de sua ignorância, Lobão se nega a cantar em seus shows sob a alegação de ser datada. Passados 30 anos, ele ainda não entendeu a letra.

Quando escrevi O Eleito, em 1988, tive a intenção clara de criticar o então presidente da república. Escrevi por entender que seu governo era um reflexo nítido da oligarquia e do coronelismo que se instalou, desde o Império, nos diversos níveis do poder que controla este país. A minha visão política, me levava a desacreditar na autoridade de quem herdou o cargo conquistado em eleição indireta. 

Desde que nossa parceria se encerrou — ao fim do LP Cuidado! —, Lobão se recusa a cantar minhas composições em programas de TV. Mas, estranhamente, o tem feito em shows. Segundo alguns amigos, só canta devido aos pedidos da plateia.

Hoje, pelo que fui informado, não posso impedi-lo de cantar esta sua versão de Vida Bandida em apresentações ao vivo. Já declarei pela imprensa, mais de uma vez, que só voltaria a respeitá-lo quando parasse de cantar minhas canções em seus shows. De nada adiantou.

Diante deste quadro, só me resta assistir a decadência patética e desprovida de qualquer elegância deste meu ex parceiro que foi buscar abrigo para sua flagrante fraqueza no ninho da serpente.

domingo, 16 de agosto de 2015

Por quem as panelas batem



Temos toda a razão de bater panelas quando a presidente aparece na TV dizendo que a culpa por nossa pindaíba é da crise internacional. Mas por que não batemos panelas quando Eduardo Cunha, o líder dos "black blocs" brasileiros, vândalo que faz política com pedras, bombas e coquetéis molotov, vai em rede nacional dizer que trabalha "para o povo", "sempre atento à governabilidade do país"?

Temos toda a razão de bater panelas contra a corrupção da Petrobras. Mas por que não batemos panelas contra o mensalão mineiro ou o cartel do metrô paulistano? Por que não batemos panelas contra a compra de votos para a reeleição do FHC? Por acaso pagar apoio na Câmara é mais grave do que pagar emenda na Constituição?

Temos toda a razão de bater panelas contra o retrocesso econômico de 2015. Mas como podemos não bater panelas contra o anel de pobreza que desde sempre engloba as metrópoles brasileiras, essa Faixa de Gaza de tijolo aparente, essa Cabul de laje batida onde se amontoa boa parte da população?

Temos toda a razão de bater panelas quando o governo se cala diante dos descalabros venezuelanos e da ditadura cubana. Mas por que não batemos panelas diante do fato de nosso principal parceiro comercial ser a China, maior ditadura do planeta? O tofu que alimenta aquela tirania é feito com a nossa soja e os fazendeiros, ruralistas e empresários que acusam a "venezualização" do Brasil são os mesmos que lucram com o dinheiro comunista. Ninguém bate woks por causa disso?

Temos toda a razão de bater panelas contra o estelionato eleitoral do PT. Mas por que não batemos panelas contra o estelionato eleitoral do PSDB, que elege repetidamente um governador tipo "gerente", prometendo "e-fi-ci-ên-ci-a" em cada sílaba, mas coloca São Paulo à beira do co-lap-so-hí-dri-co"? Um cristão cuja polícia, não raro, participa de grupos de extermínio, na periferia. Esta semana, foram 18 chacinados em Osasco e Barueri. Imagina se fosse no Iguatemi? E o estelionato das UPPs, no Rio, que prometem paz, mas torturam um cidadão até a morte e somem com o corpo?

"Não, não, isso não! Me mata, mas não faz isso comigo!", gritava o Amarildo, segundo um policial que testemunhou a barbárie, dentro de um contêiner. Como pode a nossa maior preocupação em relação ao Rio, hoje, ser com a qualidade das águas para as Olimpíadas de 2016? Cadê o Amarildo? Cadê as panelas?

Temos toda a razão de sair pra rua, neste domingo, para protestar contra a incompetência, a corrupção e a burrice do governo. Mas por que não sair pra rua para protestar contra a incompetência, a corrupção e a burrice do país como um todo? Um país que mata seus jovens, sonega impostos, polui, compra carteira de motorista, licença ambiental, alvará, dirige pelo acostamento, estupra, espanca e esfaqueia mulher (mas retira a discussão de gênero do currículo escolar), um país onde os negros correspondem a 15% dos alunos universitários e a 67% da população carcerária.

Este ódio cego, esta parcialidade hipócrita, este bombardeio cirúrgico que pretende eliminar o PT –e só o PT– para "libertar o Brasil", empoderando Renan Calheiros e Eduardo Cunha, não é o desabrochar da consciência cívica, é mais um fruto da nossa incompetência, mais uma vitória da corrupção; palmas para a nossa burrice.

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

A política vai às ruas



O crescimento da insatisfação popular e da polarização na sociedade faz a política transbordar para as ruas. Este fenômeno, próprio a momentos de crise, também expressa por aqui o fracasso de um sistema político ao mesmo tempo impermeável à influência do povo e escancarado aos interesses econômicos.

Agosto será um mês decisivo, em que as ruas colocarão em jogo projetos distintos para o Brasil.

De um lado, a "nova direita" convocou mobilizações para o dia 16, com apoio declarado do PSDB, da Rede Globo e da maior parte da mídia. A chamada tem sido feita explicitamente em programas de TV e rádio. Querem aproveitar o avanço da Lava Jato e a corrosão do apoio ao governo para emplacar o impeachment de Dilma.

Falamos "nova direita" por convenção, mas suas táticas são tão velhas quanto Carlos Lacerda. Valer-se de denúncias de corrupção; -pinçadas seletivamente para atingir um único partido- e do controle da mídia para derrubar governos é prática antiga na América Latina. Refinaram o método por um calendário de "coincidências" com prisões da Lava Jato, vazamento de delações e o dia D do TCU (Tribunal de Contas da União), apimentando o período anterior à mobilização.

Mas o que essa turma quer? Qual é o seu projeto? Livrar o Brasil da corrupção, dizem. Ao lado de Agripino Maia, Ronaldo Caiado e com apoio da Globo. Contra a corrupção, mas de mãos dadas com Eduardo Cunha. Sei, sei. Já em relação às políticas de austeridade, o programa econômico que defendem faria de Levy um desenvolvimentista.

Os que estão puxando o 16 de agosto não têm autoridade moral para falar de corrupção e usam fraseologias vagas para ocultar um projeto de país antipopular. No entanto, com apoio da mídia e de uma sucessão de eventos cuidadosamente planejados, podem levar muita gente às ruas, canalizando a insatisfação social com o governo.

Do outro lado, em 20 de agosto, movimentos sociais de todo o Brasil estão organizando mobilizações para apresentar outras saídas para a crise. MTST, MST, CUT, CTB, Intersindical, UNE, setores da Igreja Católica, movimentos negros e de juventude estarão nas ruas defendendo direitos sociais, enfrentando o ajuste fiscal do governo Dilma, mas enfrentando também a ofensiva da direita golpista e as manobras de Cunha.

Ao contrário do que um contraponto simplista possa fazer crer, o dia 20 não será uma manifestação de defesa do governo. O manifesto de convocação assinado pelos movimentos é claro: "A política econômica do governo joga a conta nas costas do povo. Ao invés de atacar direitos trabalhistas, cortar investimentos sociais e aumentar os juros, defendemos que o governo ajuste as contas em cima dos mais ricos, com taxação das grandes fortunas, dividendos e remessas de lucro, além de uma auditoria da dívida pública". Não há qualquer disposição em defender uma política econômica indefensável.

Mas o mesmo manifesto também é claro em enfrentar a ofensiva conservadora e antidemocrática conduzida por Cunha e sua trupe: "Eduardo Cunha representa o retrocesso e um ataque à democracia. Transformou a Câmara dos Deputados numa casa da intolerância e da retirada de direitos. Somos contra a pauta conservadora e antipopular imposta pelo Congresso e estaremos nas ruas em defesa das liberdades: contra o racismo, a intolerância religiosa, o machismo, a LGBTfobia e a criminalização das lutas sociais".

A manifestação do dia 20 defenderá pautas populares e enfrentará a política do governo e do Congresso, sem lugar para a indignação seletiva daqueles que convocam o dia 16. Aqueles que dizem "fora Dilma", mas se calam em relação ao "fora Cunha"; aqueles que denunciam a corrupção na Petrobras, mas assobiam diante da Zelotes e são apaixonados por Aécio Neves; enfim, os que dizem querer um "Brasil livre", mas dividem as ruas com defensores da ditadura militar.

De um lado ou de outro, uma coisa é certa: os caminhos da política brasileira passarão pelas mobilizações das próximas semanas.

O golpe não toca campainha, derruba a porta

Em breve



Sinto muito. O coração está apertado, a razão não consegue suplantar a emoção, há motivos e é preciso compartilhar.

Não sou petista, como já revelei em outras ocasiões, porém tudo aquilo que foi feito para as pessoas menos favorecidas em 12 anos de governo do PT é mais que suficiente para que deseje sua continuidade no poder. Não há nenhum outro partido com as mesmas condições de implementar um governo de esquerda.

Não se trata aqui, como alguns poderão pensar, de desejar que a corrupção continue.

Não foi o PT quem a inventou.

Pelo contrário, a corrupção existe no Brasil desde seu descobrimento e nos anos de PT pode ter sido ainda menor que no passado. Deve ter sido.

Esse passado oculto, nebuloso, situado numa zona de penumbra, pode estar escondendo um volume de recursos roubados do país incrivelmente maior do que agora se revela sob a administração petista, já que nada era investigado.

Foi Lula e Dilma quem deram independência ao Ministério Público, à Procuradoria Geral da República e à Polícia Federal para que se investigasse denúncias ou indícios de corrupção. E isso tudo agora aparece sob holofotes.

José Dirceu foi preso, delatado por prestar serviços de consultoria a empreiteiras da Lava Jato. Serviços comprovadamente executados e com impostos recolhidos.

Eduardo Cunha foi delatado por exigir 5 milhões de propina, sem executar nenhum tipo de serviço e segue solto.

O PT se cala sobre Dirceu exatamente como fez no tempo do mensalão.

Dilma não se pronuncia. O ministro José Eduardo Cardozo não se pronuncia. Deputados petistas postam fotos de seus gabinetes transformados em salas de recepções sociais onde não faltam canapés e regabofes.

Foi preciso que Roberto Requião, senador do PMDB, amigo pessoal do juiz Moro, se insurgisse contra a prisão de Dirceu classificando-a como ilegal.

Outras vezes vejo a deputada Jandira Feghali fazendo no plenário os discursos em defesa do governo que os deputados petistas deveriam fazer.

Alguns perguntarão: mas o que o governo pode fazer numa situação dessas?

Ora, para a presidenta falar fica difícil, mas o ministro Cardozo que afinal de contas é ministro e por isso comanda ou deveria comandar a PF, poderia abrir mão de seu republicanismo e demitir a cúpula da polícia por estar agindo com parcialidade, com gana de prender petistas, esquecendo-se dos outros políticos, inclusive da oposição que também estão metidos na operação. O republicanismo só se justifica quando há imparcialidade. Deveria cobrar Janot por não ter aberto investigação contra Aécio Neves, citado na lista de Furnas.

O que o legislativo poderia fazer?

Discursos no plenário já seriam muito bem-vindos, mas não são suficientes. Deveriam viajar, visitar suas bases, esclarecer a injustiça que está acontecendo, pedir união aos movimentos sociais e defesa do governo eleito democraticamente de Dilma, de Lula, da Constituição e do Estado de Direito.

O partido deveria procurar os movimentos, sindicatos, MST, FUP, etc., para preparar a reação. Deveria também conclamar o maior número de advogados e juristas que estejam prontos a defender a Constituição que está sendo violentada.

Se não for agora, não será nunca. Estamos incorrendo no mesmo erro daqueles que foram surpreendidos pela escalada do fascismo na Europa e não reagiram. Quando perceberam a fria em que se encontravam, não havia mais reação possível.

Zé Dirceu foi preso e não tenham dúvidas, Lula está bem próximo de sê-lo.


Dirão: ora, mas existe uma Constituição, ninguém pode ser preso sem provas, o STF não deixará e blá, blá, blá.

Inclusive há muita gente formadora de opinião descartando completamente o golpe, o impeachment e a prisão de Lula, como se a lógica ainda fosse do 2 + 2 = 4.

Entendam que se o STF quisesse segurar o juiz Moro já o teria feito.

Esqueçam as leis. Já vivemos o golpe.

Dia 16 próximo será o termômetro.

Se realmente for o sucesso que parece que vai ser, Moro se sentirá muito à vontade para prender Lula.

E depois leremos as manchetes dos jornais e ficaremos nos lamentando estupefatos, aguardando que o STF impeça mais essa arbitrariedade.

Estou pessimista. Não acho que resistiremos. A oportunidade é muito boa para a direita e ela não a desperdiçará.

A reação está difícil, as pessoas não se sentem confortáveis em defender um governo que está fazendo quase tudo aquilo que a oposição faria caso tivesse sido eleita. E Dilma não fala, não age, não reage...

A oposição assiste de camarote.

A hora de defenestrar o PT é agora, senão Lula volta em 2018.

Falta pouco para entregarmos os pontos.

Está tudo perdido? Devemos jogar a toalha? Claro que não, mas a hora de reagir é agora.

Gostaria que entendessem o texto não como uma desistência da luta, mas como um chamamento de atenção para o risco que está bem próximo de nós.

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

O medo que eles têm do Lula




Por Ricardo Amaral, para o GGN


Luiz Inácio Lula da Silva é hoje a maior ameaça ao projeto conservador e regressista, o retorno ao “Brasil simples” (e injusto) de que fala Fernando Henrique Cardoso. A força de Lula, como síntese pessoal e política de um projeto de transformação social, é o verdadeiro motivo da ofensiva midiática contra o ex-presidente. É por medo de Lula que precisam interditá-lo e até prendê-lo, como sugere Merval Pereira em sua coluna no Globo.

Prender Lula com base em quê, ó, imortal? Nas cinco capas da Veja, apenas este ano, que venderam a notícia falsa de delações que nunca ocorreram? Na farsa da revista Época, que manipulou um documento do Ministério Público para forjar um inquérito inexistente? Ou seria com base na adulteração do conteúdo de um telegrama diplomático, cometida pelo próprio Globo, o que levou o jornal a ser desmentido pelo primeiro-ministro de Portugal?

Conjecturas, ilações e mentiras servem para caluniar. No estado de direito, não formam um processo. Por mais estranhos que sejam os tempos, ainda há ritos a serem observados antes que se possa conjecturar sobre a prisão de alguém, como faz Merval sofregamente. É preciso, antes de tudo, que haja um crime a ser investigado, para que se abra um inquérito, haja o indiciamento, a denúncia, a defesa, o julgamento e a sentença.

Com Lula inverteu-se a ordem natural do direito, porque a sentença já foi determinada, como se constata no tortuoso raciocínio de Merval. O que falta é um crime – qualquer um – para justificar o início do processo, para justificar uma investigação contra Lula.

Não importa que o juiz da Lava-à-Jato tenha afirmado, em nota oficial, que Lula não é investigado. Nem que o porta-voz dos procuradores tenha afirmado ao Globo que não há nada de errado nas palestras de Lula. De alguma coisa ele tem de ser culpado, para ser preso, humilhado, interditado.

Lula é culpado, sim, de ter promovido a maior ascensão social na história País. É culpado por ter tirado o Brasil do vergonhoso Mapa da Fome. É culpado por abrir as portas da Universidade aos pobres e aos pretos. Por ter aberto oportunidades que a maioria dos brasileiros nunca teve. É culpado de ter feito o melhor governo desse País em que os doutores sempre governaram. De ter mostrado que o Brasil pode ter o tamanho dos nossos sonhos.


Isso, sim, é imperdoável. E é por isso que eles têm tanto medo do Lula.

domingo, 2 de agosto de 2015

Fé na propaganda enganosa (meditações sobre a alma dos negócios evangélicos)






Como faço todo sábado, sai de casa cedo para ir visitar minha mãe. Ela mora a alguma distância, portanto, peguei o ônibus. Quando o mesmo cruzou a Av. Antonio C. Costa, escuto a propaganda veiculada por um caminhão de som:

"Dia primeiro de agosto inauguração da nova Igreja Mundial em Osasco. Não percam a maior concentração de fé e milagres de todos os tempos..."

O Apóstolo Valdemiro segue expandindo sua religião e ampliando seus negócios. A frase " concentração de fé e milagres de todos os tempos" merece alguma atenção.

Não sou religioso, nem teólogo, mas aprendi algumas coisas sobre o cristianismo. Para os cristãos o maior milagre de todos os tempos foi o nascimento de Jesus. As maravilhas discursivas e os feitos milagrosos executados por Cristo estão entre os maiores que já ocorreram justamente porque são os primeiros (aqueles que fornecem os paradigmas para os demais e justificam a fé dos seguidores dele desde o século I dC). Portanto, não me parece que o Apóstolo Valdemiro possa realizar os maiores milagres de todos os tempos. Ele é um cristão que ousa se colocar acima de Jesus?

Na Idade Média, Valdemiro certamente seria acusado de heresia e queimado como bruxo ou necromante.A heresia deixou de ter relevância jurídica, mas a propaganda da Igreja Mundial pode ser avaliada à luz da legislação em vigor.

O Apóstolo Valdemiro gerencia sua religião como um negócio e a transformou num balcão de negócios. Tanto que amealhou uma considerável fortunahttp://noticias.r7.com/brasil/noticias/apostolo-milionario-mora-em-mansa.... Os fiéis pagam o dizimo que sustenta financeiramente o empreendimento e a vida luxuosa dele. A propaganda da Igreja Mundial deveria ser avaliada e julgada à luz do Código de Defesa do Consumidor? Quem for à inauguração e não receber um milagre pode processar a Igreja por propaganda enganosa?

Já existem estudos sobre o estelionato religioso:http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/outros-destaques/a-ma-fe-de-p... . Não seria o caso da Polícia monitorar a referida inauguração para investigar se os milagres prometidos serão autênticos ou forjados?