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domingo, 9 de julho de 2017

Corrupção por Prof. Rodrigo Perez Oliveira



Corrupção

Por Prof. Rodrigo Perez Oliveira

Professor Adjunto de Teoria da História e Historiografia Brasileira da Universidade Federal da Bahia


Acho que em uma coisa estamos todos de acordo: “corrupção” é a palavra chave da gravíssima crise institucional que está desestabilizando a vida de todos nós desde 2013.

Isso nem é exatamente uma novidade; de alguma forma, a corrupção também estava no centro de crises institucionais anteriores, como aquelas que aconteceram nas décadas de 1880, 1920 e 1960.

Mas nos concentremos na crise atual.

Todos os que saíram, e saem, às ruas clamando pela prisão de Lula e Dilma e pela criminalização do PT estão agindo em nome de um significado específico do termo “corrupção”.

Pois sim, meus amigos, essa palavrinha mágica tem vários significados, cada qual traduzindo uma certa maneira de compreender a dinâmica do jogo político.

É exatamente porque existem esses muitos sentidos que tanto eu como os coxinhas podemos dizer, em alto e bom som: o Brasil está atolado na lama da corrupção.

É claro que não estamos falando da mesma corrupção.

Explico melhor.

Os coxinhas são movidos por um sentido muito estreito de corrupção.

Para eles, corrupção só acontece no espaço público, especificamente quando os políticos profissionais roubam dinheiro público. Temos aí um tratamento muito pobre da ideia e da prática da corrupção, limitado a dois aspectos:

1) A corrupção é tratada apenas na perspectiva liberal-burguesa, entendida como sinônimo de roubo . É possível tratar esse conceito, pelo menos, em duas outras perspectivas (a marxista e a republicana), como mostro daqui a pouco.

2) A corrupção é vista como algo exclusivo da esfera da política, como se não houvesse roubalheira no poder judiciário ou em grandes empresas privadas.

Já cá do meu lado, a corrupção é pensada de outras maneiras, tendo desdobramentos muito mais complexos.

Primeiro, inspirado em Marx, que abordou o assunto no livro “A luta de classes na França em 1848”, parto do princípio de que o mundo regulado pelo poder do capital, em si, é corrupto.

Tipo, como disputar uma eleição em um sistema político no qual as grandes empresas fazem volumosas doações aos partidos políticos? Não aceitar essas doações significa não competir em situação de igualdade, significa não vencer.

Aqui pra nós, né amigos, partido político de esquerda que optou por jogar no campo da democracia que não vence eleições não serve pra nada. Mais honesto é ir fazer luta armada.

Por isso, encaro com muita naturalidade o fato de o Partido dos Trabalhadores ter se enroscado com as grandes empresas, pois deixar de fazê-lo significaria absolutamente não existir como protagonista na cena política nacional.

Então, é óbvio que João Vaccari, Lula e Dilma dançaram a ciranda da corrupção geral do sistema, e qualquer um no lugar deles faria a mesma coisa. Agora, nenhum dos três roubou, nenhum deles botou dinheiro no bolso ou em conta fantasma na Suíça.

Desafio qualquer um a provar o contrário.

Lula não é Eduardo Cunha; Dilma não é Michel Temer. São corrupções diferentes e, ao menos na minha métrica pessoal, incomparáveis entre si.

Segundo, inspirado em autores como Aristóteles e Maquiavel, tendo a valorizar o poder regulador da República.

A República tem uma função primordial: garantir a convivência civilizada, possibilitar que adversários políticos convivam sem se esfaquearem.

Sabem por que? Porque em uma República virtuosa, as pessoas acreditam nas instituições. Ou em outras palavras, para que o meu ponto fique bem claro:

Se eu acredito nas instituições que me governam, mesmo quando eu perco algum conflito (seja com meu vizinho, com a mãe do meu filho ou mesmo com o meu adversário político), eu coloco meu rabinho entre as pernas, choro na cama que é lugar quentinho e sigo a vida. No máximo, tento reverter o jogo, mas sempre no plano das instituições.

O problema maior da atual crise, meus amores, não está nem nos partidos políticos, nem nas grandes empresas e nem no financiamento privado de campanha.

O problema atual está nos juízes, que deveriam zelar pela capacidade da República em limitar os conflitos as instituições.

Os juízes viraram estrelas, cada um querendo brilhar mais que o outro. Os juízes são os verdadeiros corruptores da República.

Como fico, meus amigos, vivendo num país onde um juiz manda sequestrar um jornalista, apreende seus documentos e depois vaza o material para outros veículos da imprensa? Para veículos que são adversários ideológicos do jornalista preso. Como isso é possível?

Como podemos confiar nas instituições?

Como a Polícia Federal pode se tornar uma espécie de milícia a serviço de um juiz?

E o próximo cidadão que se sentir violentado pelas instituições? E se as pessoas começarem a receber a Polícia Federal à bala?

E se Sérgio Moro decidir prender Lula, assim, sem provas? O que vai impedir uma parcela relevante da sociedade brasileira de agir à revelia e contra às instituições?

Sim, concordo com os coxinhas: nossa República está corrompida.

A diferença entre nós é que eles aplaudem o corruptor maior, o Sabotador Geral da República.

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