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terça-feira, 27 de junho de 2017

O Lulismo não é utopia, não é projeto. O Lulismo é experiência.


Rodrigo Perez Oliveira


Pesquisa eleitoral é aquele tipo de coisa que a galera despreza, diz que não serve pra nada, mas que atrai a atenção de todo mundo, fundamentando análises e pitacos aqui e acolá.


É justo.

Afinal, não há outra maneira de olhar para além do nosso próprio umbigo e de nossas relações pessoais mais próximas que não seja através das pesquisas, dos dados estatísticos.

Curto muito os dados. Muito mesmo.

Os institutos de pesquisa erram? De montão. Mas como é o que temos, vão lá os meus pitacos. Assim, organizadinhos, pois sou desses.

1°) Aos companheiros petistas orgânicos.

Não se iludam! A popularidade não é do PT. É do Lula.

Sim, isso mesmo, sem piti! Tem uma galera no PT que é mimizenta, parece até PSOL. Chatos até não poderem mais.

O PT sem Lula não chega nem a 4%, meus amores. Haddad, com todas ciclovias, com os prêmios internacionais, os projetos urbanos, com aquele charme de intelectual uspiano, não dá nem pra saída.

A força do PT está na combinação entre o carisma de Lula e a memória popular. As pessoas sabem que nos tempos de Lula a vida era melhor, que o prato estava mais cheio.

É que esse negócio de “classe trabalhadora” é mais uma abstração do que um dado real, entendem? É claro que o conceito é importante, pois é o fundamento da nossa identidade ideológica; tem alguma utilidade como ferramenta analítica.

Mas cá pra nós, assim, no miudinho, sem os reaças ouvirem: na prática a ideia de "classe", assim, fria, não serve pra muita coisa.

Os afetos, as demandas, as opções eleitorais das pessoas são configurados pelas suas experiências, entendem? É ali, no nível da prática, que a coisa acontece. O negócio é quente.

E num país como o Brasil, onde historicamente 35% da população é formada por pobres e outros 20% por miseráveis, o povão, o povão mesmo, tá preocupado com ganhos de curto prazo.

O povão só quer ter uma vidinha digna: trabalhar, ter acesso ao crédito, aposentadoria, 13°, colocar os meninos na escola. Comprar geladeira. Namorar. Fazer neném.

Só isso.

Essa galera não tá ligando pra revolução, pra reforma política, pra ciclovia, pra camada de ozônio, pra identidade de gênero.

Essas pautas aí vêm depois que a barriga tá cheia e cá no Brasil, amigos, nós só ensaiamos o Estado de Bem Estar Social. Mal começamos a encher as barrigas e os caras vieram e pá! Golperaram.

Só que o golpe se dá no plano das instituições, da política formal, e não nos afetos. Por mais que a mídia manipule, o povão não é burro.

O povão olha pra Lula e vê exatamente a tal vidinha digna, que via também na imagem do "Dr Getúlio".

O povão não quer sabe se o lulismo surfou na onda do boom das commodities, se é ideologicamente conservador, se tencionou ou não as estruturas do grande capital.

O povão não quer saber se o itaú ganhou milhões de reais.

O povão sabe, pela experiência, que antes a vida tava melhor, e isso já basta.

Não sei se se esses afetos serão suficientes para trazerem o povão pra rua numa eventual prisão de Lula: às vezes acho que sim, às vezes acho que não.

Mas tenho certeza de que esses afetos são mais que suficientes para fazerem as pessoas apertarem 13 nas urnas em 2018.

Apertar 13 se a foto que aparecer lá for a de Lula, com aquela barba, com as covinhas na bochecha.

Se não for a foto a de Lula, meus amigos, vai ser difícil, muito difícil.

Capital político não se transfere assim, como se fosse dinheiro em conta corrente.

Se rolar um empenho grande de Lula na campanha, pode até ser que se repita o que aconteceu com Dilma. Mas não se iludam, amigos petistas, isso não é garantido, não é nada garantido.

Quem sobreviveu à crise foi Lula, e não o PT.

Seria prudente, então, que os companheiros Lindberg e Tarso baixassem as bolas, pois parece que eles não entenderam o que está acontecendo. Tão cabaçando, pagando de psoletes, tão fechando na errada, fechando com gente errada.

2°) Sobre o bolsonarismo.

É claro que o que mais chama atenção nessa pesquisa divulgada pelo DataFolha é o tal bolsonarismo, que já bate nos 15%.

Bom, vamos lá, no meio termo entre o desespero e a indiferença.

Por um lado, é óbvio que o bolsonarismo não pode ser ignorado, não mais. Mas duvido, e muito, que tenha fôlego para vencer eleição majoritária.

Acho mesmo que numa campanha eleitoral, o fôlego político de Bolsonaro não é tão grande. É muita barbaridade junta, e isso seria explorado à exaustão.

Ele bate no teto dos 10% e daí não passa.

Só que o fato de termos 10% dos eleitores brasileiros votando na barbárie já é um problemão.

O termo é exatamente esse "barbárie": o bolsonarismo não é uma ideologia política, pois o que temos ali não são propostas políticas.

Tudo bem ser liberal e achar o que o Banco Central deve ter autonomia. Discordo, mas beleza, estamos aqui na esfera do debate politico.

Tudo bem ser conservador e questionar os debates sobre gênero no sistema educacional. Discordo, pois acho essas discussões fundamentais, principalmente para adolescentes. Pra crianças de primeira infância, tenho lá minhas dúvidas.

E sim, posso tê-las, pois aqui estamos no reino da opinião, da controvérsia, dos debates políticos. Nem adianta o piti!

Agora, não dá, de forma alguma, pra defender a tortura, o estupro, o extermínio como política de Estado.

Não dá pra debochar dos desaperecidos do Araguaia. É indigno.

Aqui, não estamos mais no terreno da opinião. Direitos Humanos não são matéria de opinião. Desrespeitar os direitos humanos não é uma opção. É crime.

Por isso, os 10% do bolsonarismo traduzem, de um lado, o aspecto mais terrível da crise; uma crise que não é apenas política, que não é só institucional. A crise é civilizacional.

Por outro lado, essa direita incivilizada, bárbara, não é exatamente uma novidade. Essa galera tava se escondendo sob as asas tucanas do PSDB desde os anos 1990.

Venho lendo muito sobre o PSDB. Tô muito convencido de que a face mais triste da dimensão política da crise foi o colapso do PSDB.

Um partido que nasceu marcado pelas ventos mais renovados do marxismo pós-estruturalista se tornou isso que é hoje: uma legenda de gangsters, um amontoado de golpistas. É triste.

Seria muito saudável para o nosso sistema político se o PSDB tivesse se tornado, de fato, um partido social-democrata, com tendências liberais.

Nunca foi.

Talvez tenha sido ali no comecinho, entre a fundação, em 1988, e o início do primeiro governo de FHC, em 1995.

Depois se tornou o portador de um neoliberalismo entreguista da pior espécie e, já no século XXI, um partido sustentado por um eleitor sem identidade, pelo voto antipetista, pelo voto de direita, de uma direita raivosa e violenta.

Uma pena, uma pena mesmo.

Cerca de 60% dos eleitores do PSDB, segundo dados de uma pesquisa realizada em 2006, tinham identidade eleitoral negativa. Ou seja, votavam no PSDB porque odiavam o PT. A semente do bolsonarismo já estava ali.

Acontece é que a crise está muito marcada por um certo conceito deontológico de corrupção. Aí o tal Bolsonaro consegue surfar nessa onda da “honestidade”.

Somem isso à mobilização de algumas tópicas com grande capilaridade na cultura popular, como "família" e "honra masculina", e temos a força do bolsonarismo. Uma força relevante, mas limitada, ao menos na minha avaliação.

O bolsonarismo, portanto, é um problemaço, mas não tem força pra vencer eleição majoritária. Sou capaz de apostar várias cervejas nisso.

3°) Por último, aquilo que anula tudo que falei até agora.

A pesquisa eleitoral, nas atuais circunstâncias, é pura ficção.

Por que estamos ainda muito longe das eleições? Não, não e não.

Eleição sugere a saúde do sistema político e a atual crise é, exatamente, a crise geral do sistema político.

A classe política, já há algum tempo, não está no controle da crise. Ela é um passageiro desesperado em uma locomotiva desorientada, sem comando central.

O capital especulativo não está comando da crise, e já entendeu que Temer não entregará as tais reformas, ao menos não como prometeu.

A classe política olha para Temer e vê nele a única esperança de salvação, através do controle do judiciário, especialmente da Procuradoria Geral da República.

Temer já mandou matar um ministro do STF e nomeou para vaga um homem da sua confiança. Temer nomeou três ministro do TSE para salvar o seu mandato.

Temer irá substituir Rodrigo Janot na PGR, nomeando um engavetador geral da Reública. E fará assim, tudo na base do "foda-se o que vocês pensam".

Uma coisa temos que admitir: Temer está dando uma aula de como defender um mandato.

A força de Temer, cuja popularidade é uma margem de erro de 2%, está no sentimento corporativo da classe política, quase toda envolvida em escândalos de corrupção.

Temer está manipulando esse sentimento, esse medo, com maestria.

Por isso, amigos, tirem o cavalinho da chuva: Temer não cai pela via da política. Rodrigo Maia não abre um processo de impeachment nem que a vaca dance forró. Os parlamentares estão com o Temer, não exatamente na agenda das reformas, pois o preço político desse apoio é caro.

Os parlamentares estão com o Temer no contra-ataque ao judiciário. O núcleo duro da crise tá aqui: Políticos X Juízes.

Então, amores, podemos colocar dez milhões nas ruas, tatuar "Fora Temer" nas nossas testas e nas nossas bundas que o vampiro não irá cair.

Se depender da política, Temer governará até 18, para proteger a si mesmo e os seus pares. O país ficará parado. Os pobres, que são os que mais precisam do governo, sofrerão muito.

A outra possibilidade é a Procuradoria Geral da República entrar em cena.

Provavelmente, Rodrigo Janot denunciará Michel Temer. Aí, o jogo muda um pouco, pois o Congresso Nacional precisará decidir se aceita ou não a denúncia. Até que ponto os parlamentares irão se expor para defender Temer?

Nesse cenário, a peça fundamental passa a ser Rodrigo Maia. Se o gordinho convencer a turma de que ele mesmo pode proteger a rapaziada da jornada moralizante de Janot, Temer tá fudido. Do contrário, nada muda, e Temer fica exatamente onde está.

Hoje, o grande problema do Brasil não é Michel Temer. O grande problema do Brasil é a PGR, comandada por Rodrigo Janot. Se o projeto de poder desses caras se concretizar, se eles escaparem da ofensiva comandada pela classe politica, sob a liderança de Michel Temer, joguem as pesquisas no lixo, pois eles darão as cartas e o voto será moeda sem valor.

Ah, vocês acham que o voto já não tem valor em um sistema político corrompido pelo captial? Esperem só pra ver numa ditadura da toga. A coisa sempre pode piorar.

Confesso pra vocês que nessa disputa, to torcendo pros políticos. O político corrupto nós podemos derrubar nas urnas. Já o juiz ninguém controla. O juiz é Deus. E brigar com Deus é "barril", como se costuma falar cá na Bahia.

"Barril"! Adoro essa expressão.

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