Polícia Militar realiza abordagens em bairros na zona norte de SP durante a Operação Saturação.
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
O delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo, Marcos Carneiro Lima, criou uma saia-justa nesta quinta-feira 22 ao afirmar, durante a posse de Fernando Grella Vieira na Secretaria de Segurança do estado, que moradores da região metropolitana tiveram suas fichas criminais acessadas pelo sistema interno da corporação antes de serem assassinados. Segundo o delegado, as mortes estão acontecendo na periferia porque a sociedade acha que “matar pobre é matar o marginal de amanhã”.
A fala de Carneiro Lima acontece após meses de atritos entre a Polícia Civil e a cúpula da Segurança Pública de São Paulo. Durante a gestão de Antonio Ferreira Pinto, que caiu na quarta-feira 21 diante da alta no número de assassinatos ocorrida no estado em 2012, a corporação foi deixada de lado e as investigações sobre o crime organizado passaram a ser concentradas pela Polícia Militar, sobretudo a Rota. A mudança aconteceu depois que policiais civis foram investigados por envolvimento e extorsão a integrantes do Primeiro Comando da Capital.
Desde então o delegado-geral da Polícia Civil se tornou uma das vozes mais críticas dos planos de segurança do governo Alckmin. Ele verbalizou as queixas mais uma vez ao dizer que as mortes de civis no período têm relação com os assassinatos de 95 policiais desde janeiro – a maioria cometida em sequencia desde setembro.
Para Carneiro Lima, ela legitima a ação dos criminosos responsáveis pela onda de violência na Grande São Paulo. De acordo com reportagem publicada pelo site da Folha de S.Paulo, o delegado diz ver “indícios” de ações de extermínio em São Paulo, mas a polícia ainda não foi capaz de identifica-los.
“A gente nunca teve chacina nos Jardins aqui em São Paulo. Por que será? Por que é tão fácil matar pobre na periferia? Por que ainda existe uma grande parcela da sociedade que acha que matar pobre na sociedade é matar o marginal de amanhã. Isso é uma visão preconceituosa da própria sociedade que encara que essa ação de matar é uma ação legítima. Não é legítima.”
Para Carneiro, é difícil solucionar os crimes em São Paulo porque eles possuem uma lógica diferente de outros lugares do mundo. “Em São Paulo existe um diferencial. Quem tem interesse em matar um único alvo no boteco, muitas vezes mata mais dois ou três inocentes. Daí a dificuldade da polícia chegar à autoria”, afirmou.
Muito trabalho. O novo secretário, por sua vez, declarou durante a cerimônia de posse que buscará novas formas de atuação policial para combater o crime em São Paulo. “O tempo agora é de trabalho, de muito trabalho”, declarou.
Ainda segundo a Folha de S.Paulo, Grella recebeu a incumbência de botar uma “focinheira” na PM para evitar abusos.
O novo secretário foi procurador-geral do Ministério Público por quatro anos. Com perfil de conciliador, ele foi nomeado em 2008 pelo então governador José Serra e reconduzido ao cargo em 2010.
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