Total de visualizações de página

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Lampião - Literatura de Cordel



Lampião uma história inglória


Amigos tomem assento

Nessa roda de cordel

Que vou cantar um lamento
Um pouco de mel e fel.

Vou falar de um brasileiro

Em Vila Bela nascido

Que tornou-se cangaceiro
Arrojado e destemido.

Foi há cerca de cem anos

Na Fazenda Ingazeira

Isso salvo algum engano
Me avisem se é besteira.

Veio ao mundo um menino

De José e de Maria

Foi chamado Virgolino
Oito irmãos ele teria.

Era um menino comum

Tinha uma boa família

E assim como qualquer um
Foi seguindo a sua trilha.

Cedo parou de estudar.

Pra ajudar no sustento

Foi para o pasto aboiar,
Pra garantir o alimento.

Foram Antonio e Levino

Dois de seus oito manos

Que mudaram o destino
E criaram novos planos.

Envolveram-se em brigas

Por marcações de terrenos

E muitas outras intrigas
Outros conflitos pequenos.

Graças à antiga guerra

Que a todos envolvia

Pelas preciosas terras
Uma grande rixa havia.

Lampião foi envolvido

Por essa luta de classe

E enfim virou um bandido
Nesse terrível impasse.

Um seu José Saturnino

Com eles vivia às turras

E o pai de Virgolino
Morreu nessa guerra burra.

O delegado Batista,

Junto com um imediato

De forma meio alarmista
Foi lá desvendar um fato.

Mas sendo bem trapalhão

Matou o José Ferreira

Em desastrada ação
Fazendo grande besteira.

Pra resolver o dilema

O infeliz delegado

Criou um maior problema
Matando um pobre coitado.

Virgolino transtornado,

Resolveu buscar vingança

A ação do delegado
Acabou-se em matança.

Uma tropa existia

Sinhô era o comandante

E Virgolino iria
Entrar nela nesse instante.

Sinhô passa o comando

Para o amigo Lampião

Que vai liderar o bando
Com uma implacável mão.

Ele jamais se cansa

De procurar o conforto

E de buscar a vingança
Pelo seu pobre pai morto.

Mas também há ambição

E há sede de poder

Que guiam a sua mão
Transformando o seu ser.

Virou um temido bandido

Lá pras bandas do Nordeste

Vivia sempre escondido
Num sofrimento inconteste.

Em Juazeiro do Norte

Chamado por Padim Ciço

Pensou que mudaria a sorte
Com valoroso serviço.

Levou uma reprimenda

Pelo seu mau proceder

E teve por encomenda
No interior combater.

A Coluna Prestes era

Causa de muitos transtornos

Uma medonha quimera
No Nordeste e entorno.

Esse forte movimento

Político-militar

Era um grande tormento
Um mal a se extirpar.

Em troca receberia

Pela colaboração

Uma total anistia
E patente de Capitão.

E lá se foi Lampião

Embrenhar-se pelo mato

No cargo de Capitão
A fim de cumprir o trato.

Mas na verdade era falso,

Uma mentira fajuta.

A polícia foi no encalço
O que rendeu muita luta.

Paraíba, Ceará,

E também em Pernambuco

Unidos para caçar
Era coisa de maluco.

Para evitar o fracasso

Enquanto estava no prumo

O nosso Rei do Cangaço
Partiu para outro rumo.

Bandeou-se pra Bahia,

Sergipe e Alagoas.

Lá teve melhores dias
Aquela área era boa.

Por lá um dia ele vem

Conhecer Maria Bonita

Maria Déia Nenén
Numa paixão infinita.

Filha de um sapateiro

A morena enfeitiçou

O temido cangaceiro
E com ele se casou.

Mais tarde, Maria Bonita,

Com Lampião por parteiro

Deu à luz Expedita
Embaixo de um imbuzeiro.

Mas a vida era dura

E o destino sombrio.

No meio da mata escura
Era bomba sem pavio.

A criança foi deixada

Com um fiel guardião

E seguiu sua jornada
O bando de Lampião.

O Benjamin Abraão,

Com carta de Padim Ciço

Teve a autorização
Assumiu o compromisso

De filmar o acampamento

Para um documentário.

Mostrando alguns momentos
Numa vida de calvário.

E ele filmou a vida

Daquela sociedade.

Suas roupas, a comida
E toda a fraternidade.

Lampião em sua roda

Desenhava o figurino.

Ele ditava a moda
Criando modelos finos.

Os chapéus, as cartucheiras

Ornados de ouro e prata

Pra vida sem eira nem beira
Para andar pela mata.

Pra que andar bem vestido?

Parece até contra-senso.

Porém isso faz sentido
Quando a respeito eu penso.

Eles tinham sua arte

E regras de convivência

Em um mundinho à parte
Com sua própria ciência.

Lampião era uma lenda

Até uma madrugada

Quando estava na fazenda
De nome Angicos chamada.

Chegou, então, a volante

Eu um proceder perfeito.

Devagar e num instante
O estrago estava feito.

Tenente João Bezerra

E o sargento Aniceto

Naquele momento encerra
A busca do desafeto.

Cuspiam fogo as metralhas

Criando imenso horror.

Não se conhece o canalha
Que foi o seu traidor.

Uns poucos tiveram sorte

E escaparam com vida.

No meio de dor e mortes
Encontraram uma saída.

Lampião foi dos primeiros

A receber um balaço.

Era o fim do cangaceiro
E era o fim do cangaço.

Lampião é degolado

Num proceder bem covarde.

O corpo é esquartejado
Pra ser exemplo mais tarde.

Maria Bonita, ferida,

Também foi sacrificada.

Ela perdeu a vida
Naquela infame cilada.

Naquele inferno de Dante,

Numa sanha assassina

Os malditos da volante
O cangaço extermina.

As cabeças arrancadas

Do bando de Lampião

Correram o mundo mostradas
Numa vil exposição,

Agora, meu bom amigo,

Eu peço sua atenção

E que reflita comigo
Em delicada questão.

Lampião não era santo,

Ao menos pelo que sei

Mas convenha, no entanto,
Que pra isso existe a lei.

O proceder da volante

Foi coisa de carniceiro.

Atitude revoltante
Pior que a dos cangaceiros.



de Josafá Maia da Costa

2 comentários: