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domingo, 3 de março de 2013

A violência é a mais nova esperança da oposição

Em 1954, um atentado contra o jornalista e político Carlos Lacerda, até hoje não esclarecido, precipitou o suicídio de Getúlio Vargas. Quase 60 anos depois, há um clima estranho no ar. Porta-vozes da oposição, como Marco Antônio Villa e Reinaldo Azevedo, antecipam que, em breve, serão agredidos por "petistas fascistas" e Merval Pereira conta que viveu seu "momento Yoani Sánchez" na última sexta-feira, ao ser xingado e ter seu carro cercado. Os três culpam o ministro Gilberto Carvalho. Será que buscam um novo caso Tonelero?


Brasil 247 - O jornalista Carlos Lacerda, o principal opositor de Getúlio Vargas, tinha uma grande vantagem em relação a seus imitadores atuais. Era também político e não escondia seu objetivo natural, que era a busca do poder. Em 5 de agosto de 1954, quando sua campanha contra o "mar de lama" getulista não surtia os efeitos desejados, um acontecimento mudou o curso da história: o atentado da rua Tonelero, em Copabacana, que matou um de seus seguranças, e lhe deixou ferido no pé. Com a responsabilidade atribuída ao Palácio do Catete, Getúlio avisou que só sairia morto do Catete. Dito e feito. No dia 24, ele foi encontrado morto, depois de suicidar-se. Ainda hoje, há interpretações divergentes sobre o atentado – alguns historiadores sustentam que tudo foi planejado para tirar Getúlio da presidência e as versões de Lacerda sempre foram contraditórias.

No Brasil de hoje, o principal líder da antiga UDN tem diversos seguidores. Não na política, mas no jornalismo. Eles fazem política 24 horas por dia, mas não assumem esse papel. Têm como principais inimigos o ex-presidente Lula e, por tabela, a presidente Dilma. Assim como em 1954, o discurso do mar de lama, a despeito do julgamento da Ação Penal 470, também não surtiu os efeitos desejados. Nas últimas eleições municipais, por exemplo, o PT se fortaleceu e o cenário para 2014 ainda indica o partido como franco favorito.

No entanto, uma nova linha de ataque começa a se desenvolver: a de que petistas trabalham para minar, por dentro, a democracia. Tudo começou no fim do ano passado, quando o ministro Gilberto Carvalho se dirigiu aos filiados do partido e, num vídeo, sugeriu aos militantes que fossem às ruas defender o legado dos governos de Lula e Dilma, diante dos ataques do principal adversário, que seria o chamado "Partido da Imprensa Golpista". Uma frase, a de que em 2013 "o bicho vai pegar", tem sido interpretada por opositores de Lula como uma prova de que o PT estaria incitando atos de violência contra seus opositores.

Neste domingo, o jornalista Merval Pereira relata que, na sexta-feira passada, viveu seu momento Yoani Sánchez, depois de ser xingado de "fdp" e de ter seu carro cercado. De quem é a culpa? De Gilberto Carvalho, segundo Merval Pereira (leia mais aqui).

Quando a cubana Yoani Sánchez veio ao Brasil, a revista Veja, de Roberto Civita, desenvolveu a tese de que diversos ataques a ela estariam sendo orquestrados dentro do Palácio do Planalto, também por Gilberto Carvalho. E a frase "o bicho vai pegar" foi novamente resgatada. "A ação dos fascistas petistas contra Yoani Sanchéz confirmou a “previsão” do ex-seminarista Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência da República. Em dezembro, disse que “em 2013 o bicho vai pegar.” Pelo que assistimos, o bicho já pegou”, disse Marco Antonio Villa, que se apresenta como historiador, mas é apenas um militante político, além de representante do Instituto Millenium.

Quem foi ainda mais longe nessa tese foi Reinaldo Azevedo, blogueiro de Veja.com. "Gilberto Carvalho prometeu: em 2013 o bicho vai pegar! Hoje, eles só nos xingam; amanhã, começarão a nos espancar", antecipou. Não será surpresa se, nos próximos dias, os personagens de sempre, como Marco Antonio Villa, Augusto Nunes e próprio Reinaldo, se levantarem contra a agressão perpetrada pelo PT à "imprensa livre", representada pela figura de Merval Pereira.

Afinal, como disse o colunista do Globo, "a violência está no ar". E talvez ela, a violência, seja a esperança que resta à oposição.

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