Por um bom tempo entre as mensagens e material visualizados por mim em facebook predominaram os compartilhados por simpatizantes de esquerda, conhecidos e amigos vinculados a movimentos sociais e vários educadores populares, seguidores dos ensinamentos do filósofo e pedagogo Paulo Freire. Provavelmente por conta dos desdobramentos dos movimentos de junho, este pessoal tornou-se mais silencioso. Creio que estejam por demais ocupados com as atividades práticas exigidas pela educação popular neste momento histórico tão importante.
Ultimamente, a orientação se inverteu e os simpatizantes de direita têm se manifestado mais. Na verdade, eles parecem estar gritando bastante... E eu achei até interessante prestar atenção ao que eles dizem. Apesar de não ter nenhuma simpatia pela direita, entendo que meu papel como filósofa – que é o que eu tenho me esforçado para ser –, não é exatamente defender esta ou aquela tendência, mas antes tomar contato e compreender as várias perspectivas próprias de um fenômeno em estudo, no caso os movimentos políticos contemporâneos.
Filósofo não é ideólogo, ou pelo menos não deveria agir como tal. A paixão de um filósofo antes deve ser (entendo eu) o processo de questionamento, reflexão, compreensão e síntese em busca de verdades que são utopias no horizonte. Então, importa ouvir o que os lados opostos dizem. E daí, como chaves de interpretação do que eu tenho observado, me vêm dois conceitos de Nietzsche: o de ressentimento e o de nobreza.
Enquanto a esquerda parece empenhada em estudar e trabalhar pela mudança social (e não digo que façam isso da melhor forma, pois para afirmar tal coisa seriam necessárias muitas e muitas considerações) a gritaria da direita se resume a escárnio, xingamentos, disseminação de preconceitos e ódio. Pelo menos é isso o que eu tenho visto.
Se ideologias conflitantes são conjunto de ideias desarmônicas entre si, então seria de se esperar um debate de ideias entre os envolvidos para o benefício de todos. Mas a contribuição dos intelectuais de direita (e ai me refiro aos acadêmicos) também vem se resumindo a manifestações reacionárias, que não contribuem com nada além de disseminação de ódio e preconceito. A contribuição desses intelectuais tem se resumido a apontar o dedo para o outro com a máxima soberba e fazer julgamentos negativos sobre fundamentos que eles mesmos não explicam (se é que realmente existem e se justificam).
Lugar comum é afirmar que a direita se ressente, egoisticamente, contra aqueles que ameaçam suas posses e privilégios supérfluos. E fico eu procurando o que contrarie esta tese, talvez simplista... E não encontro. A direita dirige seus discursos inflamados, frequentemente de baixíssimo nível, contra o Lula, contra a Dilma, contra o PT. E ignora que o PT está no poder há pouco mais de uma década, enquanto o país tem problemas seculares.
Então, a categoria do ressentido parece fazer sentido. Ressentimento pelo avanço do outro que lhe ameaça as posses e privilégios e, não duvido, ressentimento contra si mesmo, contra as próprias origens e fragilidades neste mundo de instabilidades e incertezas. Assim, escondem-se por trás da soberba e do ódio e perdem a chance de alcançar o estado de nobreza.
Para Nietzsche o nobre é um conquistador que vence o outro e as próprias limitações num processo de constante superação. Porém, a nobreza mais elevada é aquela que transborda e, assim, acaba por beneficia os não nobres, os vencidos, os deserdados... E transborda ao culminar com o não contentamento com o que é mesquinho e baixo. Um nobre não pode conviver com a miséria de seus subalternos, pois esta daria testemunho da sua insuficiência como provedor daqueles que o rodeiam. O nobre também se orgulha de prover a todos.
Não me lembro de exemplos reais desse transbordamento de nobreza por parte da direita. Me lembro de nazismo, fascismo, totalitarismo... Formas de controle que também os regimes de esquerda exerceram... E aí as elites das duas tendências, em situações extremas, se equiparam... Na prepotência de ignorar perspectivas contrárias e visualizar onde está o que beneficia o máximo de indivíduos, independentemente de disputas ideológicas. Ideologias são para serem transcendidas.
Enquanto os homens não se tornarem apaixonados pela busca por aquilo que beneficie toda a humanidade e não primeiramente seus próprios interesses e egos, a humanidade continuará envolvida em conflitos vãos e gritarias de baixo nível. Me parece que a esquerda percebe isso melhor do que a direita. Até onde eu posso ver, nos dias de hoje, quando a esquerda se manifesta com ódio é porque não lhe restou outra opção.
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