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terça-feira, 29 de abril de 2014

Quem tem medo do Lula?



Ninguém é mais atacado do que Lula, ninguém causa mais temor nas elites tradicionais do que o Lula, pela força política e moral que ele adquiriu.

Emir Sader, Blog do Emir

Lula incomoda. Basta ele falar sobre algo, que as que se creem “autoridades” deitam falação para contestá-lo, criticá-lo, acusá-lo, denunciá-lo, homenageando-o como a ninguém se homenageia, com sua atenção, sua energia, seu rancor, suas insônias.

Lula nasceu do nada, do quase nada, de uma região que era para não dar nada ao país, de uma mãe amorosa, que lutava para que seus filhos sobrevivessem e, se pudessem, chegassem àescola – como o extraordinário filme sobre o Lula recorda. Ele foi chegando: da sobrevivência à escola, da formação profissional ao emprego industrial, do operário metalúrgico ao líder sindical, do desafio à vida para sobreviver ao desafio aos patrões e à ditadura. Se houve um milagre brasileiro, foi ele.

Entre paternalismo e temor, lideres políticos tradicionais e meios da imprensa tiveram que reconhecer seu papel, que tentavam restringir a um dirigente corporativo, com um papel determinado num certo momento, que mereceria carinho e compreensão. Mas quando ele foi se transformando em dirigente político, em fundador de um partido dos trabalhadores começou a incomodar não apenas ao Dops e à ditadura, mas aos que pretendiam restringi-lo a um papel limitado.

Até que aquele nordestino, operário, que perdeu um dedo na máquina, mas que nunca perdeu a esperança, ousou ser candidato a presidente e a quase ganhar. Denunciando a desigualdade e a injustiça, apontando que um Brasil melhor era possível e necessário. Até que um dia, depois de fracassarem bacharéis e políticos de profissão, o Lula se tornou presidente.

Ia fracassar, tinha que fracassar, para que as elites pudessem governar com calma o Brasil – como chegou a dizer um ex-ministro da ditadura. Haviam fracassado a ditadura, Sarney, Collor, FHC, ia fracassar Lula e a esquerda e o movimento popular estariam condenados por décadas – como ameaçou um outro ex-procer da ditadura.

Mas Lula encontrou a forma de dar certo. Em meio à herança maldita de uma década de desarticulação do Estado, da sociedade e das esperanças nacionais, Lula foi o responsável por uma arquitetura que permite ao Brasil resgatar a esperança, combater a desigualdade e a miséria, resgatar o Estado, projetar um Brasil soberano e solidário. Lula preferiu enfrentar os desafios de construir uma alternativa a partir do pais realmente existente do que dormir tranquilo com seus sonhos nunca realizados, em meio a um povo sem sonhos.

Lula saiu dos 8 anos mais formidáveis de governos no Brasil com mais de 90% de referências negativas da mídia e mais de 80% de apoio do povo. Não pode haver maior consagração. Elegeu sua sucessora, está prestes a conseguir que ela tenha um segunda mandato, mas ele não dá trégua aos que achavam que eram donos do Brasil, que ainda acham, apesar de terem perdido as três ultimas eleições presidenciais e estarem em pânico pelo risco iminente de perderem uma quarta, ficando já quase duas décadas sem dispor do Estado que construíram para perpetuar-se como donos do Brasil.

Lula incomoda. Uma forma de tentar neutralizá-lo é especular que ele vai ser candidato de novo agora. Ele nega, mas não aceita comprometer-se a que não volte a ser candidato. E quando abre a boca, quando escreve, quando aparece em publico, as elites tradicionais entram em pânico. Porque sabem que atrás daquelas palavras, daquela figura, está o maior dirigente político, o maior líder popular que o Brasil já teve, que quando se pronuncia, suas palavras não são palavras que o jornal amanhecido leva pro lixo, mas expressam realidades pelas quais ele é responsável.

Quando ele fala de miséria e de desigualdade, fala com a autoridade de quem mais contribui para sua superação. Quando fala da construção de um outro tipo de Brasil, se pronuncia a partir de mais de uma década de passos nessa direção, iniciados por seu governo. Quando critica as elites tradicionais – sua mídia, seus juízes, seus partidos e seus políticos – fala como quem é um contraponto real e concreto a essas elites. Fala como quem é reconhecido pelo povo como um dos seus, como alguém em quem confiam – ao contrario da mídia, de juízes, de partidos que já mostraram ao que vieram e em quem o povo não confia.

Lula incomoda. Não apenas pelo que foi, pelo que é, pelo que pode vir a ser. Mas por sua vida, argumento contra o qual ninguém pode contrapor nada. Ele é a prova viva que se pode nascer na pobreza e se tornar um dos maiores estadistas do mundo atual, se pode nascer na miséria e se tornar quem mais faz para superar a miséria. Se pode enfrentar as maiores dificuldades na vida e na política e manter a dignidade, a grandeza, o sorriso franco e o espirito de solidariedade. Se pode ser de esquerda e enfrentar os desafios de construir uma vida melhor para o povo, em meio a aliados e instituições que foram feitos para outra coisa. Se pode topar os desafios de receber um país desfeito e recuperar a esperança, a auto-estima, uma vida melhor para dezenas e dezenas de milhões de pessoas. Se pode prometer que ia fazer com que todos os brasileiros teriam três refeições diárias e cumprir. 

Isso é insuportável para quem promoveu sempre a miséria e a passividade do povo, para quem governou para as elites e foi sempre recompensado pelas elites, enganando o povo e se enganando que iam ficar para sempre no controle do Estado e da política. 

Lula incomoda. Por isso é atacado, atacado, atacado. Ninguém é mais atacado do que o Lula, ninguém causa mais temor nas elites tradicionais do que o Lula, pela força política e moral que ele adquiriu e que o povo reconhece nele.

Lula mostrou que se pode governar sem falar inglês, sem almoçar e jantar com os donos da mídia, sem ter medo das elites tradicionais, sem temor a aliar-se com quem se faz necessário para fazer o que é necessário e fundamental para o povo e para o Brasil. Lula mostrou que se pode defender os interesses do Brasil e ao mesmo tempo ser solidário com os outros países e com os outros povos.

Lula desmentiu mitos, sua vida é uma afirmação de que um outro mundo é possível, de que as elites podem falar todos os dias contra os interesses populares, mas quando o povo consegue visualizar uma política diferente e lideres que as defendem, se pronuncia contra as elites.

Lula tinha que dar errado, na vida e na política. E deu certo. Isso é insuportável para as elites tradicionais, isso gera medo neles, acordam e dormem com o fantasma do Lula na cabeça, nas redações dos jornais, revistas televisões, nas reuniões dos especuladores e dos seus partidos, nos organismos que pregam um mundo de poucos e para poucos.

Quem tem medo do Lula, tem medo do povo, tem medo das alternativas populares, tem medo que o Brasil vá se tornando, cada vez mais uma democracia social, de forma irreversível. Por isso cada palavra do Lula, cada sorriso, cada viagem, cada homenagem, cada abraço que dá e recebe do povo, incomoda tanto a alguns e provoca esse sentimento de confiança que o Brasil está dando certo em tanta gente. 

Ter medo ou esperança no Lula é a própria definição de onde está cada um no Brasil e no mundo de hoje."

sábado, 26 de abril de 2014

Jornalista da Globo tem acesso de raiva e é rechaçada em Copacabana

Emicida: "Não tenho estômago para as análises superficiais feitas pelos orgulhosos “entendedores de tudo” que habitam a rede mundial de computadores. Pouco conhecimento da prática e um oceano de teoria dá a eles uma arrogância para a qual não tenho paciência."


Emicida

Carta aberta ao Blogueiro Joseh Silva

Há algum tempo, abandonei totalmente o hábito de opinar em polêmicas. Não tenho estômago para as análises superficiais feitas pelos orgulhosos “entendedores de tudo” que habitam a rede mundial de computadores. Pouco conhecimento da prática e um oceano de teoria dá a eles uma arrogância para a qual não tenho paciência. Desisti. Facebook é só pra trampo... Twitter, Instagram? Mesma coisa. É melhor. Quando se é bem-sucedido em algo, então, é a coisa mais saudável que se pode fazer: evitar os milhares de boatos e teorias sobre seu sucesso que terceiros fazem sem o menor respeito à sua pessoa, à sua família, trajetória, história... enfim, já disse um sábio: a internet é o melhor lugar do mundo - quando se sabe sair dela.

Gosto de ler sobre política, artes, coisas do Brasil em geral. Eis que na semana passada chega até meu email um texto ilustrado por uma foto minha com o MC Guimê e o título: “O funk e o Hip Hop contemporâneo têm muito que aprender com o Hip Hop noventista”. Obviamente haveria de ser o de sempre, mas fui ler esperando algo ao menos interessante e, por que não dizer, inteligente também. Até pelo fato de a pessoa responsável pelo texto ser um jornalista que se diz entendedor de periferia chamado Joseh Silva.

Bem, ele discorre sobre a riqueza do trabalho de base de construção ideológica realizado pelo Hip Hop nos anos 90, sobre como os saraus poéticos que hoje fervem nas quebradas são de alguma forma frutos dessa semente. Concordo e acho isso fascinante, mas isso é mais do que claro e não é de hoje (pelo menos para nós). Aliás, até aí concordamos tranquilamente.

Mas daí pra frente percebo que o tema é tratado de forma superficial e triste, pois este é um assunto que interessa a muitos e limitá-lo à nostalgia pobre de que nos anos 90 tudo foi maravilhoso e hoje nada presta é correr atrás do rabo gritando que vê um novo caminho que é bom para todos. Os tempos mudam, tudo muda, a não ser as coisas mortas. Essas permanecem como estão pela eternidade e até onde entendo Hip Hop é vida. A minha pelo menos. A de meu pai também, que deu a dele sonhando em viver disso e foi levado pela frustração para o alcoolismo e enfim, houve o que sempre acontece nas quebradas.

Concordo que o aprendizado é sempre válido (tanto para novos quanto para veteranos). Particularmente, até acho que a "oreiada" é válida, é sempre bom lembrar do começo. O que me entristece é a facilidade para criticar a produção de hoje embasado em nada - não vi no texto UM único argumento seu que sustente isso.

O Hip hop abandonou seus princípios? Óbvio que não. Bate-papos, palestras, work-shops, oficinas, encontros e sei lá mais o que produzidos na intenção de disseminar o conhecimento seguem acontecendo em favelas, cadeias, quebradas, lugares do Brasil inteiro, mas, infelizmente, dar luz aos caras que fazem isso diariamente não dá ibope. Polêmica dá ibope. O pior do nosso jornalismo é rico (de dinheiro) por esse motivo. Em tempos de Facebook, então, o mais bravinho é o que tem mais likes.

Qual a receita simples para ser visto por aqui? Cola uma foto do Emicida, mostra que você não faz a menor ideia do que ele tá falando ou fazendo, mas discorda de tudo. Odeia o que o Rap se tornou, mesmo que você não saiba do que está falando. A massa adora ignorância. Informar-se antes de construir uma crítica séria parece ter ficado no século passado. Nem toda alienação é sorridente, amigos.

Há alguns anos, observamos que a imprensa do hip hop passava por uma crise. Com amigos decidi fazer algo para reverter aquele quadro: criamos um site chamado Nóiz. Fazíamos a cobertura de eventos, postávamos ali fotos bacanas, vídeos, músicas, realizávamos encontros com profissionais e amadores para compartilhar a sabedoria, o quinto elemento. Tudo foi foda, mas feliz e infelizmente todos os envolvidos foram obtendo êxito em sua vida profissional, e o projeto foi ficando de lado. Sentimos que de alguma forma tínhamos oxigenado esse lado da coisa e esperávamos que ele caminhasse competitiva no que diz respeito à qualidade em nossa ausência, Que outros veículos produzissem mais informações sobre o hip hop nacional com aquele gás.

Infelizmente não aconteceu, os blogs/sites estão fracos. Triste constatação, mas estão fracos, alguns lutam árdua e diariamente para oferecer algo relevante a seus leitores, como o Rap Nacional (que inclusive virou uma revista, pela qual torço muito) e o Vai Ser Rimando, que talvez seja o blog mais rápido e sem preconceito que o hip hop brasileiro já teve. Vai de Trilha Sonora do Gueto a Pollo, tratando a todos com respeito. Acho foda.

Por que conto essa história? Por que jogar pedras é muito fácil, meus manos, quero ver arregaçar as mangas e mudar de verdade alguma coisa, expor-se com as mãos na massa. Um ótimo exemplo: Consciência Humana e DMN são grupos clássicos, históricos, lançaram trabalhos novos e inéditos recentemente. Que ironia: esse blogueiro saudosista, com fetiche no Emicida, tem nas mãos o canal para expor que esses grupos continuam vivos e ativos, representando o que ele diz ser o rap de raiz, mas ele prefere criticar o que desconhece a mostrar o que admira.

Não quero soar desrespeitoso, mas não é difícil encontrar a verdade, difícil é depois de encontrá-la não tentar fugir dela. A verdade é que estamos trabalhando pelo que acreditamos, apenas isso, lutando pelas bandeiras que queremos que sejam vistas, e você, Joseh?

Devem ser características de um movimento que “deu as costas a suas raízes e caminha em direção à burguesia” apoiar/participar diretamente de algumas destas lutas:

- Pinheirinho; foi foda, eu estava lá, você estava, Joseh Silva?

- Eliana Silva; me posicionei em prol das famílias em BH e fui detido por isso;

- Quilombo Rio dos Macacos; tá foda, situação horrível, precisando de visibilidade. podemos contar com seu Blog Joseh?

- Santuário dos Pajés, em Brasília; outra situação com pouquíssima visibilidade que não aparece em seu blog;

- Ocupações Mauá e Prestes Maia; eu fui, contribuí da minha maneira, estou sempre em contato com eles, procure saber;

- Passeata ‘Por que o senhor atirou em mim?’, em memória do Jovem Douglas, morto pela polícia assassina do Geraldo Alckmin; ajudei a organizar e fui pra linha de frente com meus irmãos, você estava onde?

Estes são apenas alguns dos casos onde estivemos “fortalecendo” lutas populares importantes e cansativas, que infelizmente não contam com a atenção da imprensa. Odeio ter que listar isso, mas me sinto ofendido pela sua ignorância, chapa. O fato de eu não divulgar, não ambicionar ser famoso por ajudar meus irmãos, não significa que eu não os ajude. Minha música me dá popularidade. Sinto-me abençoado por poder dividi-la com bandeiras que considero urgentes. Onde elas estão no seu blog? Achei uma ou outra, sabe por quê? Pobre não dá ibope. Gente igual a você reproduz direitinho o que aprendeu com nossa mídia reacionária.

Bem obediente você. Não quero ser leviano. Li seu blog inteiro, por isso demorei a responder. Aproximadamente 40 textos com temas relevantes, espero que continue realizando esse trabalho de uma forma cada vez mais séria. Embora eu não tenha encontrado vários temas que acredito serem urgentes em um espaço dedicado à periferia, não tenho o direito de lhe considerar um fantoche do sistema. Mesmo que seja inevitável pensar nisso por algum momento ao ver seus ataques ao que desconhece, que é o meu trabalho, reconheço a importância do seu. Desejo força na sua caminhada. Não é fácil lutar pela periferia no anonimato. Imagine com alguma visibilidade, como eu. Todo dia aparecem mil novos “juízes”.

A desunião que você semeia embasado em sua ignorância é fruto da política de separar para destruir iniciativas de organização popular, orquestrada há mais de 30 anos por veículos como a revista Veja, que conseguiu criminalizar para a população do Brasil um dos movimentos mais sérios de toda a história deste país, que é o MST. Ele acabou? Não, segue firme e forte lutando, fez 30 anos em 2014 e fará mais 30, 50, 100, firme e forte. Poderia estar mais, se a desunião não fosse tão presente. Fico triste por ver sua incapacidade imensa de reconhecer quem é seu inimigo.

Nada do que você ou gente como você faz, alimentado por essa burrice que parece cegar, vai diminuir minha disposição na luta, Acordo cedo todos os dias (quando durmo!) e me dedico a fazer, não julgar e nem falar sobre os outros, mas sim fazer. Isso consome minha saúde e meu tempo, minha vida pessoal praticamente inexiste, peço sabedoria por você. Para mim, que sei dos azares da guerra contra os quais não se pode lutar, peço apenas inimigos melhores.

Em tempo, você diz:

- "Quando o grupo Z'África Brasil se apresentava, o público ia para casa conhecer mais sobre Zumbi dos Palmares".

O Z'África ainda se apresenta irmão, não são passado, são presente acabaram de lançar um single chamado O Rap é grande, aliás gravamos junto do potencial 3 uma música chamada Estado de alerta, que deve ser mais uma destas letras que caminham sentido a burguesia na sua visão.

outra fala sua:

"Não levar em consideração que as letras do estilo funk ostentação são fruto de uma política de consumo, é uma ingenuidade. Há pelo menos cinco ano, o governo federal vem pregando a falácia do surgimento de uma nova classe média. A inclusão pelo consumo tem sequelas. Hoje, nas periferias, os adolescente andam com boné de 300 reais, tênis e celulares de mil reais. Há sempre relatos de jovens que foram assaltados quando voltam de festas ou baladas durante a madrugada. Corrente e relógio também são bem vindos. Muitas vezes quem comete os assaltos são adolescente de bairros mais afastados. Eles querem ter. Eles anseiam ser a nova classe média. Eles querem exercer o consumo. Tenho, logo existo."

Você acha mesmo necessário deixar claro que as letras do funk ostentação são fruto de uma política de consumo? Ok, isso para mim já era mais do que óbvio e não diminui em nada a legitimidade do movimento, mas ok. O que não quer dizer que nasceu com a música deles essa política. Ingenuidade, pra não dizer "burrice" mais uma vez, é responsabilizar o funk (!!!) pelos assaltos nas madrugadas. Ou traçar uma linha reta para ligar o crime ao atual governo federal (?!). (blindou o Alckmin, manda um curriculum pra Veja, Joseh.) E as propagandas na TV, e os shoppings centers, a péssima distribuição de renda, o racismo e a horrenda desigualdade social, não cumprem papel nenhum nisso na sua opinião? Não influenciaram em nada no fato de essa molecada que hoje faz/ouve funk ostentação ter crescido em suas quebradas podendo comprar muito pouco ou nada, mas assistindo na TV - a única opção de "lazer" para muitos - que para ser alguém é preciso "ter" e não "ser", que o cara que conquistava todas as mulheres era o que tinha o carrão, as roupas de grife... Estou com esses meus dizeres endossando esse discurso, esse modo de vida "ostentação"? Óbvio que não - bom, a essa altura, melhor deixar claro. Estou dizendo que apenas que é fruto, sim, do que é enfiado goela abaixo nesses jovens nas quebradas desde que eles se entendem por gente. Cômodo deixar de lado a origem de tudo isso para agora simplesmente apontar o dedo para eles. Queria que eles cantassem Karl Marx? Francamente, Joseh. Logo você, um entendedor da periferia?

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Nossa Idade Média: bancada da jesuscracia ataca Plano de Educação




Para conservadores, ideologia de gênero é marxista e não cabe no Plano de Educação


por Cíntia Alves, Jornal GGN


ter, 22/04/2014 - 18:26 - Atualizado em 22/04/2014 - 23:26

Após quase três anos tramitando no Congresso, a última redação do Plano Nacional de Educação (PNE) chegou para análise, na tarde desta terça (22), na comissão especial que discute o tema na Câmara dos Deputados. O grosso do projeto – que, entre outros pontos, direciona 10% do Produto Interno Bruno (PIB) para a educação – teria sido votado em definitivo e pela maioria expressiva dos deputados presentes na Casa, não fosse uma questão polêmica que despertou calorosas discussões: um trecho que defende o combate à discriminação de gênero e de orientação sexual. 

Mesmo com a intervenção de militantes, o discurso conservador de representantes de bancadas religiosas venceu a votação do PNE. Figuras como Jair Bolsonaro (PP), Pastor Eurico (PSB) e Marco Feliciano (PSC), infiltrados nos 45 do segundo tempo no grupo que debate o assunto, defenderam que o Estado brasileiro, apesar de laico, é formado por “maioria cristã” e, diante disso, dissera, não seria possível contemplar um texto que defenda o combate à discriminação e a propagação de políticas de combate à violência contra homossexuais ou mulheres, "pois isso fere os princípios da família cristã".

O relatório do deputado Angelo Vanhoni (PT), relator do PNE na Câmara, incluia a superação das desigualdades educacionais "com ênfase na promoção da igualdade racial, regional, de gênero e de orientação sexual". O texto aprovado anteriormente pelo Senado era mais abrangente e não citava “gênero e orientação sexual”, e prevaleceu, fato que agrada os conservadores.


Defendendo o ponto de vista do grupo, Pastor Eurico alegou que as questões de gênero são reflexo de "ideologias marxistas" e, por isso, devem ficar de fora das salas de aula. “Não somos contrários à educação no Brasil e destacamos que não há uma ditadura religiosa nessa comissão. Mas devemos reconhecer que apesar da laicidade do Estado, a maioria da população é cristã. Não vemos por que razão um movimento [em defesa dos direitos das mulheres e do segmento LGBT, majoritariamente] quer introduzir no PNE a ideologia de gênero. A ideologia de gênero é marxista, é a mesma que se espalhou pela Europa e, no futuro, [os que a defendem] vão perceber que estão trabalhando contra si próprios”, sustentou o Pastor.

Bolsonaro, por sua vez, aproveitou a oportunidade para ressaltar que a rejeição desse artigo livra as escolas brasileiras, em definitivo, do que ele classificou como “kit gay”. “Com o não acolhimento desse destaque, ficaria de fora o Plano Nacional de Promoção de Cidadania e Direitos Humanos de LGBT. Esse é o kit gay que Dilma Rousseff disse que tinha recolhido, mas que está saindo do armário”, afirmou, em alusão ao projeto enterrado pelo PT em 2011.

10% do PIB para a educação

O segundo ponto polêmico na votação do PNE é a destinação de 10% do Produto Interno Bruto brasileiro para investimentos em educação. O impasse está entre congressistas que divergem sobre aplicar esse recurso apenas na rede pública ou também investir na privada e em núcleos de caráter filantrópico. 

Deputados do PSol destacaram que votaram a favor do PNE para não emperrar a discussão em torno das metas para a educação para os próximos 10 anos. Porém, ressaltaram que discordam totalmente de direcionar qualquer parcela desses 10% do PIB para a educação privada. 

O texto de Vanhoni diz que o investimento público deve ser feito em educação pública, embora estabeleça que, nos 10% do PIB, sejam incluídos programas como o Universidade para Todos (ProUni), o Ciência sem Fronteiras e o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies). 

A votação segue nesta quarta-feira (23).

Via:http://opensadordaaldeia.blogspot.com.br/

domingo, 20 de abril de 2014

As realizações da administração Haddad que a oligarquia midiática esconde e que a falta de uma política de comunicação do seu governo impede de ser notícia


Os grandes, e pouco divulgados, avanços do governo Haddad

Em primeiro lugar, cabe destacar o destravamento do processo de participação popular, embotada pelos obscurantistas governos de Serra e Kassab.

por Francisco Fonseca (*)

O Governo do prefeito Fernando Haddad vem promovendo algumas importantíssimas reformas e transformações que não aparecem na grande mídia, mas têm sido captadas pelo cidadão comum que vive e transita na cidade de São Paulo. Torna-se fundamental compreender quais e como esses avanços instituem políticas públicas transformadoras e incipientes novas relações democráticas.

Embora se trate de um governo com diversas ordens de problemas, tanto internos como derivados da draga do sistema político brasileiro, pois marcado pela coalizão e de financiamento privado, algumas grandes iniciativas merecem destaque, nesse cerca de um ano e meio de governo.

Em primeiro lugar, o destravamento da participação popular, embotada pelos obscurantistas Governos Serra/Kassab. Várias iniciativas merecem destaque: a criação do Conselho da Cidade, com mais de uma centena de membros, à luz do que ocorre no Governo Federal, é claramente a sinalização de um governo que quer ouvir a sociedade politicamente organizada. Mas destaque especial deve ser dado à criação do Conselho de Representantes em cada subprefeitura, pois se trata da mais significativa demonstração de apoio à democracia representativa de base, em que o cidadão comum pode se eleger e consequentemente participar, propor, vetar e fiscalizar ações das subprefeituras.

Várias subprefeituras já começaram a mobilizar seus representantes, assim como a ouvir suas demandas e as dos cidadãos em diversas regiões – por metodologias diversas –, o que é algo inteiramente inédito, em contraste ao obscurantismo simbolizado pela indicação de coronéis nas gestões Serra/Kassab para comandar as subprefeituras. Aliás, é fundamental lembrar que o então prefeito José Serra entrou com liminar no STF, ainda hoje não apreciada, vetando o Conselho de Representantes então aprovado pelo Plano Diretor da época.

Deve-se notar, nesse contexto, o profundo esvaziamento das subprefeituras em termos orçamentários, políticos, programáticos e de elaboração/implementação de políticas públicas efetivado nesses tempos sombrios do serrismo, o que torna essa iniciativa do Governo Haddad fundamental tanto à participação popular como à sinalização de que a descentralização – embora haja muito a avançar no próprio atual governo – é a alternativa ao enfrentamento dos grandes desafios de uma cidade como São Paulo.

Como aludido, algumas subprefeituras já têm realizado interessantes e inovadores processos de reflexão sobre o bairro – afinal, os conselheiros das subprefeituras atuam nos bairros – e a cidade e sobre o próprio papel dos conselheiros. Esse momento político democrático tem aberto espaço para a criação de métodos de audição das demandas, interesses e desejos dos cidadãos, na perspectiva “de baixo para cima”, isto é, sem pautas pré-definidas, o que implica a priorização potencial, por subprefeitura, de temas prioritários de debates e representação a partir dos próprios cidadãos, sendo, em determinados casos, os conselheiros porta-vozes dessas demandas surgidas na base da representação.

Por si só isso representa um rico processo de construção daquilo que Archon Fung chamou de “minipúblicos”, isto é, espaços de representação e deliberação relativamente autônomos surgidos da base da sociedade. Embora, no caso dos conselhos das subprefeituras, seja iniciativa do Poder Executivo municipal, há grande espaço para autonomia, invenção e participação autônoma, cabendo, dessa forma, o conceito de minipúblico em cada subprefeitura, uma vez que decididamente descentralizado.

Mesmo que, reitere-se, a agenda descentralizante – motivação para a criação das subprefeituras, em substituição às então Regionais – tenha muito a avançar quanto à autonomia orçamentária e administrativa e quanto à capacitação e empoderamento voltados à formulação, implementação e monitoramento de políticas públicas, entre outros aspectos, é alvissareira a retomada da agenda participatória e descentralizante em São Paulo. Retomada em razão de os únicos avanços nessa direção terem vindos das ex-prefeitas Luíza Erundina e Marta Suplicy, e seguidamente embotados pelos antipopulares Governos Maluf/Pitta e Serra/Kassab.

Ainda nessa linha, o Conselho do Transporte (público) também foi criado e representa resposta do poder público municipal às manifestações de junho/2013, abrindo pela primeira vez a “caixa preta” das planilhas de custos do sistema de transporte. Diversos outros conselhos têm sido criados nessa perspectiva de incluir o cidadão comum, seja diretamente seja por meio de representantes, na vida da cidade. Tem-se observado, nesse sentido, não apenas vontade de participar, como o demonstram os números dos eleitos e suas votações, dados num contexto de baixa divulgação e de quase desprezo da grande mídia, como a preocupação do cidadão comum com um dos aspectos mais drásticos das grandes cidades: a especulação imobiliária. Mesmo sabendo-se não ser da competência legal dos representantes das subprefeituras atuar num tema exclusivo de legislação parlamentar, inúmeros conselheiros e, mais ainda, parcelas expressivas de cidadãos comuns têm demonstrado preocupação com a tomada do Estado pelos interesses do capital imobiliário: daí o tema da especulação imobiliária ser uma espécie de símbolo da redemocratização atual da cidade e da apropriação de seus espaços, pois vigorosamente esvaziados e travados pelos Governos Serra/Kassab.

Do ponto de vista das políticas públicas, a democratização do transporte é marcante, isto é, a priorização do transporte público sobre o particular tem sido outro aspecto fundamental de retomada, pelo Governo Haddad, de iniciativas instauradas pelos Governos Erundina e Marta, agora com novas modalidades que ampliam a utilização do bilhete único, mas sobretudo com a implantação das faixas exclusivas para ônibus em toda a cidade. Trata-se de medida com custos baixos, de efeito imediato e que aponta para a criação de uma nova cidade, em que o espaço das vias públicas progressivamente está sendo direcionado à esmagadora maioria dos habitantes e transeuntes de São Paulo: os que se utilizam do transporte público, notadamente do ônibus, que em São Paulo transporta cerca de seis milhões de passageiros ao dia. Mais ainda, os indicadores demonstram que a velocidade média dos ônibus tem aumentando constantemente, e que em determinadas faixas chega a até 80% a mais.

Não é por acaso que os 12% dos habitantes que se utilizam exclusivamente de automóveis e que são – desproporcionalmente – representados pela grande imprensa (jornais, revistas, rádios e televisões) têm no Governo Haddad seu inimigo declarado. Igual destaque deve ser dado à criação dos corredores de ônibus em locais estratégicos. Não é por acaso também que a foi a Fiesp a instituição que conseguiu barrar, no Poder Judiciário, outra iniciativa democratizando do Governo Haddad referente ao aumento do IPTU progressivo, uma vez que democratizador de um dos principais impostos municipais. Grande mídia, Fiesp e Poder Judiciário – sempre com exceções honrosas – formam uma tríade elitista sempre disposta a barrar políticas públicas e programas que revertam as históricas prioridades governamentais em prol dos pobres na principal cidade do país.

Voltando às inovações quanto ao transporte, o Projeto “CET no Seu Bairro” tem feito também inédita reversão de prioridades, isto é, voltado suas ações à mobilidade, além de atuar para além do centro expandido, isto é, em direção às grandes periferias historicamente esquecidas. Trata-se de um conjunto de intervenções, que vão desde a instalação das referidas faixas exclusivas de ônibus que cortam a cidade até intervenções urbanísticas na área de transporte, trânsito, acessibilidade, sinalização e mobilidade, entre outras, que significam a presença do Estado (municipal) nas áreas periféricas. Guardadas as devidas proporções, simbolicamente há certa semelhança com a ocupação das favelas do Rio de Janeiro pelos aparatos públicos, não apenas policiais, uma vez que, reitere-se, o poder público no que tange ao transporte/trânsito/mobilidade historicamente relegou a periferia a, de fato, um lugar periférico também na agenda governamental.

Nunca é demais assinalar o descaso com que os Governos Serra/Kassab e, antes, Maluf/Pitta, trataram o amplo e majoritário universo periférico de São Paulo: as poucas iniciativas inclusivas tiveram o tom ou de populismo casuístico ou de mera vitrine eleitoral de programas ínfimos. Avanços na área de participação e transporte colocam o Governo Haddad na linhagem dos Governos Erundina e Marta, o que pode ser exemplificado pelas aludidas revisões de prioridades, o que não é pouco para uma cidade complexa e elitista como São Paulo.

Por fim, e também em contraste com os governos conservadores da linhagem Maluf, Pitta, Serra e Kassab, ressalte-se os vigorosos progressos na área de transparência e combate à corrupção com a criação da Controladoria Geral do Município (CGM). A partir da experiência de sua congênere federal, da qual o controlador geral e outros membros provieram, a CGM tem desbarato máfias poderosíssimas e com potencial lesivo bilionário: as máfias de licenciamento de imóveis e do IPTU, sem contar a criação de mecanismos de gestão capazes de cruzar dados de servidores públicos envolvidos com fiscalização.

Nesse sentido, a suposta e autointitulada marca do PSDB de “partido da gestão competente” se desfaz inteiramente, tendo em vista o completo sucateamento dos mecanismos fiscalizatórios, dos recursos humanos públicos – que na gestão Serra/Kassab tiveram aumentos vexaminosos de 0,01% ao ano durante os dois mandatos – e da gestão pública, uma vez que fortemente privatizada, terceirizada e contratualizada e sem diretrizes e fiscalização programática e financeira.

Não bastasse isso, o processo de transparência, por meio seja da ampliação da participação popular, seja da criação da CGM e de mecanismos de gestão fiscalizatórios afins, seja ainda da reversão de prioridades com a participação das comunidades locais torna-se claramente mais eficaz e eficiente, diferentemente do que prega a cartilha neoliberal. Afinal, numa sociedade democrática os fins (políticas públicas transformadoras) e os meios (formas pelas quais se pretende atingir tais fins, notadamente pela gestão e pelo controle social) devem ser consoantes.

Por todo esse contexto, do qual o legado Serra/kassabisa é trágico – fins e meios –, a Gestão Haddad, apesar de inúmeras fragilidades e problemas, é, sem qualquer dúvida, infinitamente melhor aos pobres do que as de seus dois últimos predecessores. Certamente seu até aqui um ano e meio é muito superior aos oito anos de flagrante atraso dos Governos Serra/kassab.

A expectativa dos setores populares e progressistas é que as medidas aqui analisadas possam ser aprofundadas, e outras tantas criadas, tornando-se a gestão na cidade de São Paulo um possível paradigma para outras gestões progressistas nas macrometrópoles.

Falta, contudo, ao Governo Haddad, melhorar significativamente sua comunicação com a população – por meios diversos, sobretudo os populares –, saindo do cerco elitista dos privilegiados que querem a priorização do automóvel individual, o baixo valor de seus IPTUs nos bairros de classe média alta e a cidade voltada aos negócios, ao capital e ao consumo. A batalha da comunicação é uma batalha política, tal como as analisadas aqui.

Além disso, a descentralização, por meio das subprefeituras, como dissemos tem amplo potencial ainda pouco utilizado: caberia de fato ter um projeto político de descentralização a ser implantado em curto prazo e, para tanto, a experiência dos Conselhos de Representantes, paralelamente aos movimentos sociais, é fundamental na construção desse histórico projeto.

Por fim, a revisão do Plano Diretor é igualmente alvissareira, embora – como não poderia deixar de ser – se dê em meio a pressões assimétricas de todo tipo, a começar pelo impetuoso capital especulativo. A relatoria do vereador Nabil Bonduki tem sido garantia de um processo aberto e orgânico e sua própria visão de urbanista contempla vastos interesses populares. A questão, como sempre, é a capacidade da maioria dos cidadãos, constituída por pessoas pobres e sem acesso à cidade – que cada vez é mais sitiada –, de pressionar o poder público num sistema político pulverizado e de certa forma privatizado pelo sistema eleitoral e pelo financiamento privado das campanhas.

Apesar de todas as assimetrias, aliás históricas, os diversos avanços – estrategicamente pouco divulgados pela mídia – do Governo Fernando Haddad necessitam de divulgação e de ampliação com vistas a interceder na correlação de forças sociais no município de São Paulo.

O que tem sido feito nesse um ano e meio é um sinal de que o que se considera “possível” é sempre relativo e depende de vontade política, de projeto de governo, de apoios e de visão tática e estratégica do que está em jogo a partir do município de São Paulo. 



(*) Francisco Fonseca, cientista político e historiador, é professor de ciência política no curso de Administração Pública e Governo na FGV/SP.

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Pesquisas, manifestações e mudanças

Nova rodada de pesquisas de intenção de voto apontam um cenário que indica a vitória da presidenta Dilma Roussef ainda no primeiro turno da eleição presidencial de outubro próximo. O resultado é frustrante para os adversários e inimigos do PT, em razão de que todos as entrevistas dos levantamentos estatísticos foram realizados em um período de tempo em que a presidenta e o governo se encontram sob intenso tiroteio da mídia tradicional e da oposição.

Um dos destaques das manchetes é a queda (previsível) nas intenções de voto da presidenta Dilma. A referência, no entanto, omite a dimensão pouco significativa dessa situação e a ausência de crescimento de outras candidaturas. O objetivo midiático é o de apontar, insistentemente, uma tendência que pretende ver materializada nas urnas. Os resultados das pesquisas, no entanto, não tem ajudado a estratégia midiática. Se as eleições fossem agora, a presidenta Dilma venceria a eleição presidencial no primeiro turno.

O resultado das pesquisas, entretanto, deve ser examinado com cuidado por todos os que apostam (e trabalham para isso) numa vitória eleitoral do PT em outubro. É óbvio que o dado estatístico da vitória no primeiro turno, especialmente em razão do verdadeiro bombardeio midiático, é digno de comemoração. O tratamento dado pela mídia eleitoral ao resultado do levantamento estatístico é tendencioso também quando estimula a associação de Eduardo Campos com Marina Silva, sem que, com isso, consiga qualquer resultado perceptível.

O ódio ao PT, manifestado publicamente pelo conservadorismo, deve ser aprofundado nos próximos meses. As armas a serem utilizadas por nossos adversários e inimigos são, desgraçadamente, ilimitadas. Diante do previsível insucesso eleitoral, a desmoralização generalizada da atividade política pretende criar um caldo de cultura propício a uma aventura golpista, uma ideia estúpida que tem o repúdio da imensa maioria da população.. 

Os grandes veículos de comunicação destacam também um aumento na desaprovação do governo comandado pela presidenta Dilma. A insatisfação captada pelas pesquisas, no entanto, pode estar ligada com a perceptível insuficiência das mudanças realizadas até aqui. O fato de candidatos da oposição não subirem na mesma proporção dessa insatisfação, segundo as pesquisas, pode ser um indicador de que a esperança de aprofundamento das mudanças está ligada à permanência do PT no governo federal.
As manifestações populares de meados de 2013 foram disputadas pelo conservadorismo, que pretendeu dar aos protestos um conteúdo de oposição ao governo federal. Isso não aconteceu, em grande medida, porque as manifestações reivindicavam um aprofundamento das mudanças iniciadas com a posse do presidente Lula em janeiro de 2003. 

É improvável para a opinião pública acreditar que figuras como Aécio Neves, Eduardo Campos e Marina Silva sejam capazes de, eleitos, realizar enfrentamentos que já não estejam na pauta do governo federal. É bem mais provável que eles tentem conquistar o voto do eleitorado conservador e a simpatia do mercado financeiro. 

Não há a mínima possibilidade que os candidatos mais fortes da oposição expropriem o latifúndio improdutivo para implantar a reforma agrária, que estabeleçam a taxação das grandes fortunas para promover a distribuição da renda e da riqueza do país ou que deixem de pagar os juros da dívida interna e externa para o aprofundamento de políticas públicas de inclusão social. 

De modo muito semelhante à maioria dos manifestantes de meados do ano passado, o resultado das pesquisas indicam uma tendência, majoritária e importante, a favor do aprofundamento das mudanças. E a maioria do povo brasileiro prefere que essas mudanças aconteçam através do governo do PT comandado pela presidenta Dilma Roussef.

Via:http://diferenteolh.blogspot.com.br/

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Natiruts - Quero Ser Feliz Também

Tem muita gente aí precisando crescer, viver em paz e ser feliz!


Cresça! Independente do que aconteça eu não quero que você esqueça que eu gosto muito de você Ah! Ah! Ah! Chego! E sinto o gosto do teu beijo. É muito mais do que desejo. Me dá vontade de ficar. Teu olhar. É forte como água do mar. Vem me dar novo sentido pra viver encantar a noite...Quero ser feliz também. Navegar nas águas do teu mar. Desejar para tudo o que vem flores brancas, Paz e Iemanjá!

O papel da mídia no Golpe de 64

terça-feira, 15 de abril de 2014

Barão Vermelho - Bete Balanço

A canção faz parte da última faixa do terceiro álbum do Barão Vermelho, “Maior Abandonado” de 1984 sendo a música mais regravada e de maior sucesso da banda.

“Quem vem com tudo não cansa Bete balança meu amor Me avise quando for a hora…”

Liberdade para defender a ditadura?



Dois ou três episódios recentes tematizam a pergunta: liberdade para quem diverge de nós? liberdade para quem defende a ditadura? Amigos discutem. Vou analisar esta questão sem me perder nos fatos, porque estes só respondem se os casos se enquadram ou não na regra geral, e é esta que precisamos definir.

A liberdade de expressão é suprema na democracia. Tanto o é, que está se emancipando da liberdade de imprensa. Esta última é exercida por organizações de mídia. A de expressão começava com o maluco inglês falando num caixote do Hyde Park e hoje está nas redes sociais.

A liberdade, dizia a líder marxista Rosa Luxemburg, é sempre a liberdade de quem pensa diferente de nós. Não pode haver liberdade só para o "nosso" lado. A liberdade incomoda. A democracia não é um regime da unanimidade. É o regime no qual os leitores convencidos de que o PT é um partido de ladrões veem gente votar nele, e os que acusam o PSDB de indiferença aos dramas sociais sentem igual frustração... Dependendo de nosso grupo social, uma dessas convicções pode predominar, a ponto de só convivermos com gente que pensa como nós. Mas a divergência existe e é essencial.

Todavia, a liberdade de expressão inclui o direito de incitar ao crime? Não. Incitar a cometer um crime é crime. Não há liberdade de expressão para pregar "mate policiais". Então, por que seria livre pedir a repressão aos negros, a desigualdade entre homens e mulheres, a cassação de direitos de quem não é criminoso, a tortura, prisão e assassinato de quem não concorda conosco? Defender a ditadura é pregar que se cometam crimes contra muitas pessoas; mais que isso: é defender que se cometa, contra a sociedade inteira, o megacrime que é privá-la do direito de escolher. É pregar crimes de altas proporções. Tanto assim que no Brasil é ilegal o racismo, nos EUA se punem crimes de ódio (como a homofobia) e na Alemanha, a pregação do nazismo.

Essa linha divisória deve ser nítida. Devem ficar claros os temas cuja prédica a democracia tipifica como crimes. Deve se evitar o julgamento por inferência ("se disse isso, significa que também disse aquilo...). Mas não esqueçamos, aqui, os dois princípios em choque. Um é a liberdade de expressão. O outro é o direito de cada um a não ser vítima de crime. A liberdade de falar e agir cessa onde fere o direito do outro à integridade física e pessoal. Por isso defender a tortura e mesmo a desigualdade dos gêneros pode constituir crime.

Não entro no detalhe dos casos recentes, como o do professor de Direito da USP. Entrar neles é checar se os fatos precisos se ajustam ou não aos princípios éticos que validamos. O que quero é esclarecer estes últimos. Por exemplo, se alguém acredita que a democracia deve admitir até os discursos contra a democracia (posição oposta à minha), ele avaliará de outra forma o caso do professor. Mas a diferença dirá respeito aos princípios, não aos fatos. E cada país legislará do seu modo sobre os crimes de pregação de ódio. Com nosso histórico de racismo e ditadura, esses dois temas exigem, de nossa parte, uma ação mais firme do que em países que não viveram tais experiências de desumanidade.
...

Renato Janine Ribeiro é professor titular de ética e filosofia política na Universidade de São Paulo.

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Valesca, a polêmica


E eis que me vejo na obrigação de parar tudo para escrever o que penso a respeito da polêmica que estourou na semana passada sobre a grande pensadora brasileira “Valesca Popozuda”. Isto, para que minha opinião fique clara até para mim mesma. Pode ser que depois deste texto também a minha capacidade como “pensadora” seja questionada. Paciência!

Em primeiro lugar, ao contrário dos colegas filósofos, ou seja, “pensadores”, o que me chamou a atenção não foi que um professor de filosofia colocasse uma questão de múltipla escolha sobre Valesca Popozuda numa avaliação (não é função da filosofia investigar conceitos e fenômenos?). Muito menos que o enunciado se referisse a ela como uma “grande pensadora” (e a ironia socrática?). O que me deixou um tanto quanto estarrecida foram os comentários debochados, de uma agressividade velada ou explícita e sempre cruel para com a moça em questão e, acima de tudo, superficiais quando vindos de quem se entende como pensador.

Tal reação dos pensadores fala muito de cada um e da atual situação do grupo ao qual pertencem. E se junta à montanha de reticência que venho guardando contra o comportamento “superior” de certo tipo de acadêmicos não é de hoje. 

Pelo meu lado, comecei a trabalhar aos quatorze anos. Aos quinze atravessada a cidade diariamente para trabalhar “do outro lado do mundo” e por isso tive que parar os estudos várias vezes. Lia nos pontos de ônibus, lia nos ônibus, lia nas horas de almoço, lia nos finais de semana, por mera curiosidade apaixonada. E porque ganhar o pão de cada dia sempre foi prioridade, só entrei na faculdade com mais de trinta anos. Talvez por isso eu não seja tão zelosa de diplomas, títulos, méritos e honrarias. Valorizo sim, muitíssimo, o meu lado autodidata que conseguiu se virar bem quando a educação formal não me foi possível.

E por assim ser, entendo que a “vontade” , a “potência” de cada um (Schopenhauer, Nietzsche, sim!) manifesta-se das mais variadas formas, encontra as mais variadas soluções, se expressa pela mais variadas linguagens. E também entendo que não faz sentido que alguém se ache no direito de estipular o padrão do que seja a “superioridade do pensar” ou os meios pelos quais ela deve ser atingida. Aí, estou no registro de experiências pessoais e também numa abordagem antropológico e genealógica.

Hoje, tenho a certeza de que o princípio de toda forma de sabedoria está na necessidade de perseverar na existência e expandir-se, que é característica de todo ser humano. Cada um aprende suas lições de vida do jeito que pode, cada um fala a sua verdade do jeito que lhe é possível... E cada um entende o outro do jeito que é capaz... E esta capacidade é muito delimitada pelas experiências de cada um. Filosofia não se faz só com textos clássicos e suas teorias; se faz com vida plena de sofrimentos, angústias, desesperos, lutas doloridas, superações, alegrias e êxtases. Quem só teoriza realidade, imagina e cria ficções. Congela-se ao tentar moldar o mundo às suas concepções limitadas, ao invés de investigá-lo para compreendê-lo.

Não eu não gosto de funk... Muito pelo contrário! A melhor referência que eu tenho da Valesca, o ser humano, é a entrevista que ela concedeu a Marília Gabriela, em 2012. E o que eu vejo ali é uma menina que sabe o que é a vida e luta por dias melhores. Simples, humilde, surpreendentemente ingênua até, que hoje tem uma carreira artística porque dá voz a uma forma de linguagem típica de seu tempo, gostem os intelectuais de elite ou não. E o que faz um artista, embora contaminado pelo princípio comercial característico do nosso sistema econômico? O que ela considera como “vida melhor”, qual a influência que a mídia, que feminismo e machismo têm nisso pode render muitas teses. Mas, o que ela faz fala de uma forma de resistir e de ir além que sempre existiu e nem sempre foi tomado como vulgar. 

Os intelectuais sabem que entre linguagem e pensamento há relações íntimas. Tão intrínsecas quanto as energias sintetizadas em manifestações sexuais, que boa parte da sociedade dita civilizada toma por primitiva, selvagem, vulgar... Oras, instinto e impulso são naturais, o sentido que se dá a eles não é inerente a eles. A ação nem sempre é consciente e racional, como a própria razão pode se formar a partir de elementos inconscientes inescrutáveis.

Então, no fim das contas, estou dizendo que a Valesca é uma “grande pensadora”? Estou dizendo que é hora de suspender o juízo, despir-se de preconceitos, e esforçar-se por compreender o que a vida e a nossa época estão a nos dizer. A vida está muito além de academicismos e meritocracia. 

E a Valesca me faz lembrar a Madonna da década de 80, que a todos escandalizava com sua “vulgaridade”, mas que naqueles mesmos anos já dava mostras de estar adquirindo cada vez mais domínio de seus atos. No início dos anos 90, ela concedeu uma entrevista à Som Três, em que ficava claro o quanto havia se desenvolvido e se colocado culturalmente acima de muitos dos que a execravam. Que quem simplesmente debocha da Popozuda hoje tome muito cuidado. O apegar-se a padrões e preconceitos costuma ser tão nocivo ao conhecimento quanto egos inflados.

Via:http://claro-escuro.blogspot.com.br/

sábado, 12 de abril de 2014

Dilma: Brasil precisa de nova “Diretas Já” por Reforma Política


Por Luana Lourenço, da Agência Brasil

A presidenta Dilma Rousseff recebeu hoje (10) cerca de 30 jovens, representantes de movimentos sociais e organizações da sociedade civil, e cobrou mobilização das entidades juvenis para pressionar o Congresso Nacional pela aprovação da reforma política. Os jovens também disseram que Dilma se comprometeu a não enviar ao Congresso projetos de lei que endureçam o controle sobre manifestações.

“Ela anunciou que não enviará ao Congresso nenhuma lei que venha para aumentar a repressão sobre os movimentos sociais. Isso é muito importante, porque hoje os movimentos de rua, assim como a juventude negra e pobre, sofre muita repressão policial”, disse a presidenta da União Nacional dos Estudantes (UNE), Vic Barrros.

Segundo relatos de participantes quanto ao debate sobre a reforma política, a avaliação da presidenta é que, sem pressão das ruas, a bancada governista não tem força suficiente para aprovar as mudanças no Congresso. A presidenta chegou a comparar a necessidade de pressão pela reforma política ao movimento Diretas Já, que entre 1983 e 1984 pediu a volta das eleições diretas no país.

“Ela disse que não é uma questão só de caneta, que a maioria que ela tem no Congresso não é uma maioria em todos os temas e que é preciso uma conjuntura que envolva as ruas para pressionar o Congresso a fazer a reforma política”, contou a criadora do movimento “Não mereço ser estuprada”, Nana Queiroz.

Em 2013, após as manifestações de junho, Dilma sugeriu um plebiscito sobre a reforma política, mas a proposta não foi adiante no Congresso. A secretária nacional de Juventude, Severine Macedo, disse que o plebiscito ainda está nos planos do governo.

“A presidenta é simpática à ideia de se construir um processo exclusivo, um plebiscito, uma consulta à sociedade sobre a reforma política. Nosso entendimento é o de que o Parlamento precisa discutir e ampliar o debate, mas que a sociedade precisa opinar sobre que reforma política ela quer”, disse a secretária.

Segundo Nana Queiroz, Dilma também se comprometeu a avaliar uma proposta de plano nacional para enfrentamento do estupro intrafamiliar, aquele que é cometido por um parente da vítima. O movimento “Não mereço ser estuprada” vai sugerir uma ação nacional com treinamento de médicos do Sistema Único de Saúde e professores de escolas públicas para informar às famílias sobre como identificar sinais de abuso sexual em crianças e adolescentes. Dilma ainda se posicionou contra a redução da maioridade penal e defendeu a inclusão de temas ligados à igualdade de gênero no Plano Nacional de Educação – proposta que enfrenta resistência dos grupos religiosos.

Durante a reunião, a presidenta “levou uma bronca” do rapper Mc Chaveirinho, representante da Associação dos Rolezinhos, que cobrou do governo uma linguagem mais informal e próxima dos jovens, principalmente nas periferias. “Não é questão de chamar de ‘mano’, mas falar em ‘caros companheiros’ para o jovem, ele não vai se identificar. A gente tem que falar a linguagem do jovem para ele entender. Tem muito curso, muito benefício para levar para a comunidade, mas que não chega no meio da favela. Por que não chega? Porque às vezes a linguagem não é adequada, não é certa”, ponderou.

Mc Chaveirinho também cobrou investimentos em lazer e segurança nas comunidades pobres, principal reivindicação dos rolezinhos, encontro de jovens marcado para osshoppings. “O rolezinho ocorre há muito tempo e foi exposto pela mídia como uma baderna. Mas não é isso que a gente quer passar, a gente está aqui brigando por espaço cultural, por espaço na comunidade. A gente quer curtir o shopping sim, mas a gente quer trazer o rolezinho para a comunidade, que é lá que está faltando cultura”, disse.

Para o representante do Movimento Passe Livre, Clédson Pereira, a reunião com Dilma teve poucos resultados práticos. Pereira reclamou que, desde a última reunião do movimento com o governo, em 2013, a pauta de reivindicações ligadas ao transporte público não foi adiante. “Neste momento, a gente enfrenta forte aumento de passagem em quatro capitais do país e uma intensificação de políticas e projetos de lei para repressão das manifestações”, listou. “Se não existir intervenção prática na vida das pessoas, as manifestações vão continuar. A gente só vai ser convencido com ações práticas”, advertiu.

Via:http://saraiva13.blogspot.com.br/

quarta-feira, 2 de abril de 2014

64 Nunca Mais


Duke Chargista

Filha de Prestes pede revisão da Lei de Anistia

Filha de Prestes pede revisão da Lei de Anistia: É um absurdo, um escândalo


Para Anita Leocádia Prestes, só revisão da Lei de Anistia e punição de culpados por crimes podem fazer do golpe de 64 uma página virada no País.

Maurício Thuswohl - Carta Maior


Somente a revisão da Lei de Anistia promulgada em 1979 e a punição dos culpados pelos crimes cometidos à sombra do Estado durante a ditadura militar no Brasil (1964-1985) poderão fazer com que o golpe que tirou do poder o então presidente João Goulart, ocorrido há 50 anos, possa se tornar de fato uma página virada da história nacional. Essa é a opinião da historiadora Anita Leocádia Prestes que, durante um debate sobre a ditadura militar promovido na terça-feira (31) pelo Movimento em Defesa da Economia Nacional (Modecon) na sede da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) no Rio de Janeiro, também criticou a Rede Globo e outros setores conservadores da sociedade por estarem aproveitando o aniversário do golpe para tentar construir novas teses e narrativas que justifiquem em certa medida a derrubada de Jango.

“A Lei de Anistia é um absurdo, um escândalo. No continente latino-americano, os nossos vizinhos estão há muito tempo processando e condenando esses torturadores, como é o caso da Argentina, onde até ex-presidentes ditadores foram condenados à prisão perpétua. No Brasil, os criminosos da ditadura estão morrendo de velhice, de morte natural, sem sequer serem processados”, afirmou a filha do histórico líder comunista Luís Carlos Prestes.

Anita Leocádia, que é professora da UFRJ e tem vários livros publicados, lamenta o espaço dado pela grande mídia aos militares da reserva que têm vindo a público “para dizer que fariam tudo de novo” e critica o trabalho da Comissão Nacional da Verdade (CNV) criada pelo governo federal: “Somente 40 anos depois do golpe se cria uma Comissão Nacional da Verdade extremamente limitada, frente a qual os torturadores estão aí, soltos e se gabando dos crimes que cometeram sem que nada lhes aconteça. Eles depõem na Comissão e depois vão tranquilamente para casa viver suas vidas”, diz.

Apesar da defesa que faz da revisão da Lei de Anistia, Anita Leocádia diz não acreditar que ela se concretize, a menos que ocorra uma intensa pressão popular: “A lei reflete a correlação de forças e o fato de que o processo de transição da ditadura para a democracia aqui no Brasil se deu de forma muito restrita e liderada pela burguesia liberal, com quase nenhuma participação popular. Enquanto não houver um forte movimento popular apoiando, não vai sair essa revisão da Lei de Anistia. Tanto é que, recentemente, o Supremo Tribunal Federal (STF) reafirmou a justeza dessa anistia para ambos os lados”, diz. A historiadora, no entanto, afirma que “essa é uma luta que tem de ser travada” pelos movimentos sociais: “Os escrachos feitos pelos jovens nas portas dos torturadores é uma forma de pressionar, mas isso tem que ser intensificado”, diz.

Outros presentes ao debate realizado na ABI também defendem a revisão da Lei de Anistia. O jornalista e professor Arthur Poerner, que teve seus direitos políticos cassados pela ditadura aos 26 anos, citou o recente depoimento do coronel reformado Paulo Malhães à CNV: “A questão da anistia deveria ser rediscutida e mudada, inclusive com a incorporação dessa evolução jurídica que passou a considerar a tortura como um crime que não prescreve. Isso deveria ser modernizado no Brasil, pois o mundo inteiro aceita a nova versão e nós ainda estamos com a versão antiga. Há poucos dias, tivemos uma confissão espantosa do Malhães, contando as atrocidades que cometeu, as torturas e assassinatos, tudo, e não vai lhe acontecer nada. Isso é um choque para a população e fere todo um conceito de justiça nacional. Tem que haver necessariamente uma mudança na Lei de Anistia”, diz.

Anistia possível

Doutor em História Social e presidente do Modecon, Lincoln de Abreu Penna analisa a questão sob uma perspectiva histórica: “É preciso entender que essa anistia que vigora até hoje no Brasil foi possível em uma conjuntura completamente diferente desta em que estamos vivendo agora. Não basta apenas ousadia, vontade, valentia e determinação se a correlação de forças não permitir avanços significativos. Na época, a anistia conquistada foi a anistia possível, uma anistia recíproca que representa o que se passou naquele instante final da década de 70. Hoje, certamente ela terá que ser revista. A própria Comissão da Verdade tem provocado a necessidade dessa revisão”, diz.

Penna diz acreditar que esteja em curso dentro do governo federal um embate no que diz respeito a uma possível revisão da lei: “Outro dia, o ministro da Justiça fez uma declaração solene pedindo desculpas pelas barbaridades perpetradas pelo Estado brasileiro durante a ditadura. Por outro lado, as Forças Armadas até hoje silenciam. O comando militar, toda vez que é indagado, diz que não tem nada a declarar à Comissão da Verdade”, lamenta. Ele também afirma que somente a mobilização popular pode alterar o quadro atual: “A revisão da Lei de Anistia vai depender da correlação de forças”.

Mentira sem tamanho

Durante o debate na ABI, Anita Leocádia Prestes citou o editorial publicado no mesmo dia pelo jornal O Globo como uma “autocrítica meio canhestra” e exemplo das “teses contrárias aos interesses dos trabalhadores” que estão sendo veiculadas na grande mídia por “intelectuais a serviço dos donos do poder que estiveram interessados no golpe e agora querem justificar o golpe”. Entre as falsas teses mais comumente apresentadas por esses setores, segundo a historiadora, estão: a) dizer que houve violência após o golpe, mas, em compensação, o Brasil se desenvolveu economicamente durante a ditadura; b) que a chamada “revolução de 64” teria sido uma continuidade dos ideais do tenentismo; c) que a esquerda também se preparava para dar um golpe, o que igualmente levaria o país a uma ditadura, só que ainda mais “autoritária”; d) que a sociedade brasileira sempre foi conservadora e queria o golpe.

“Essas teses interessam a quem? Elas não são ideologicamente neutras, são mentiras que não têm tamanho”, diz a filha de Prestes, antes de rebater uma a uma as teses da direita: “É verdade que o Brasil cresceu no período da ditadura, mas com terrível concentração de renda e aumento da corrupção do Estado. Durante o tenentismo, aqueles jovens militares que se rebelaram na década de 20 tinham ideais de liberdade. Houve sim, no movimento pelo golpe em 64, alguns antigos traidores do tenentismo, como, por exemplo, Costa e Silva. Também interessa aos defensores do status quo a ideia de que havia o perigo de dois golpes em 64. Quem viveu aquela época sabe que isso é outra mentira, pois não havia nenhum golpe de esquerda em preparação, mas sim uma preparação de longa data para um golpe de direita apoiado pelo alto empresariado capitalista nacional e estrangeiro”, diz.

Sustentar a tese de que o povo brasileiro apoiou o golpe, do ponto de vista de um historiador, segundo Anita Leocádia, é uma irresponsabilidade: “Sem dúvida, havia uma parte da classe média que foi ganha pela mídia e pelos setores mais reacionários da Igreja para as marchas de rua com a família, etc. Mas, isso não quer dizer que a sociedade brasileira toda estivesse a favor do golpe. Pelo contrário, naquele período a mobilização dos mais variados setores era a favor de se avançar no caminho das reformas de base e do apoio ao governo de João Goulart. Esses historiadores cumprem o papel de intelectuais orgânicos a serviço dos interesses dominantes. Essas teses, como já não conseguem mais negar a violência, as torturas, a repressão, os desaparecimentos, procuram mostrar aspectos positivos da ditadura e jogar a culpa pelo golpe sobre a sociedade brasileira”.

Alunos de Direito da USP invadem aula de professor que comemorava Golpe Militar

"O professor Gualazzi lia o documento - de sua autoria - em que afirma que "tiranias vermelhas terminaram afogadas no holocausto de sangue humano e corrupção", além de indicar que em 1964 o "socialismo esquerdista totalitarista almejava apodeira-se totalmente do Brasil"."

A voz que comemora a ditadura é a mesma voz que silenciou milhares de vozes.


Deputado Fascista: Jair Bolsonaro xinga repórter da RedeTV!