"DE AGORA EM DIANTE, QUEM CUIDA DELE SOU EU"
De volta à Papuda, ex-deputado José Genoino completa 68 anos neste sábado sem receber visitas; segundo amigos próximos, reencontro com o companheiro José Dirceu foi marcado por emoção e ex-ministro passou um recado para a família, preocupada com seu estado de saúde: "Fiquem tranquilos porque tomarei conta dele, verificarei horários, dosagens de remédios e farei tudo para que fique bem"; na próxima segunda-feira 5, os advogados de Genoino entrarão com recurso junto ao STF, pedindo que seja revista a decisão, em razão da necessidade de ele ser submetido a medicamentos e dieta rigorosos
3 DE MAIO DE 2014 ÀS 09:03
por Hylda Cavalcanti, da Rede Brasil Atual
Neste sábado (3), o ex-deputado José Genoino Guimarães Neto passará seu aniversário de 68 anos no complexo Penitenciário da Papuda, no Distrito Federal, para onde retornou na última quinta-feira por decisão do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Joaquim Barbosa. Seus filhos, Miruna, Ronan e Mariana, e a esposa Rioco planejam encaminhar uma encomenda e uma carta para que chegue às suas mãos, numa forma de homenagem pela data, mas ainda não sabem se isso será possível. Caso o presente – muito mais simbólico que de caráter material – seja entregue, será por meio de uma tentativa do advogado Cláudio Alencar, porque os dias de visita aos detentos na Papuda são quartas e quintas-feiras, nunca os sábados.
Na família Kayano Genoino, o clima é de inquietude e preocupação com o estado de saúde de Genoino, condenado a prisão em regime semiaberto na Ação Penal 470 (mensalão) em novembro passado, mas que vinha cumprindo a pena em regime domiciliar por conta de seu estado clínico até receber a decisão de Barbosa para que retornasse ao presídio.
"Eles estão preocupados e tristes, mas não abatidos", afirmou uma amiga próxima, numa forma de definir os principais sentimentos dos filhos e da esposa. Na próxima segunda-feira (5), a defesa do ex-deputado entrará com recurso junto ao STF, pedindo que seja revista a decisão, em razão da necessidade dele ser submetido a medicamentos e dieta rigorosos – além de outras especificidades que uma unidade prisional não tem condições de oferecer.
A família, desde que chegou o comunicado de que Genoino teria de retornar ao cumprimento da pena em regime semiaberto, passou a receber telefonemas diversos de amigos próximos. Três deles se deslocaram de São Paulo a Brasília, assim como o filho Ronan, para passar com o ex-parlamentar os últimos momentos antes de se apresentar. Conforme informações dessas pessoas, foi o próprio José Genoino que confortou a todos, dizendo que não se preocupassem porque estava se sentindo bem e resignado a cumprir o que lhe tinha sido determinado.
Reencontro emocionado
Um momento relatado como emocionante foi o reencontro dele com José Dirceu, no complexo penitenciário. José Genoino chegou ao presídio acompanhado do seu médico particular, Geniberto Paiva Campos, e do advogado, Cláudio Alencar, e recebeu grande e afetuoso abraço de Dirceu, que mandou um recado para a família. "De agora em diante, quem cuida dele sou eu", disse o ex-ministro. "Fiquem tranquilos porque tomarei conta dele, verificarei horários, dosagens de remédios e farei tudo para que fique bem".
No laudo elaborado pela junta que avaliou o quadro clínico de Genoino pela segunda vez, os médicos asseguraram que a situação de saúde do ex-deputado é estável e intensificaram o termo "sem excepcionalidades" para explicar suas condições de um modo geral. A filha mais velha de Genoino, Miruna, no entanto, divulgou notas com documentos de médicos cardiologistas renomados internacionalmente, além do laudo do seu médico particular, que mostram as exigências e cuidados necessários para pacientes com o mesmo problema de saúde.
Geniberto Paiva Campos, cardiologista que o atende desde o início, durante entrevista concedida ao site Viomundo, foi taxativo: "Genoino não conseguirá atingir o nível ideal de anticoagulação na cadeia". Ele chamou a situação de "temerosa". Conforme suas explicações, em razão de ter tido um pequeno derrame (acidente vascular hemorrágico) em meio às complicações cardíacas, o deputado precisa tomar varfarina, anticoagulante que afina o sangue e evita a formação de trombos (coágulos que vão crescendo e podem chegar a obstruir a passagem do sangue para áreas nobres do organismo).
Acontece que para que esse anticoagulante tenha o efeito desejado, é preciso que se atinja o nível ideal no sangue do paciente. E o índice necessário de regularização normatizada internacional (sigla identificada como RNI) fica entre os níveis 2 e 3. O do ex-deputado, segundo o médico, estaria pouco abaixo de 2.
"Mesmo Genoino tomando todos os cuidados com a varfarina e a alimentação em casa, ele ainda não está anticoagulado em nível ideal. Isso é grave, pois ele tem risco de novo tromboembolismo. Se o Genoino não atingiu o nível ideal de anticoagulação em casa, com todos os cuidados, protegido, não será na cadeia que conseguirá", afirmou. Paiva Campos, indo mais além, definiu o retorno do ex-parlamentar para o complexo penitenciário como "uma irresponsabilidade". "Genoino tem risco de novo tromboembolismo, que pode ser fatal", completou.
Junta médica
Outra crítica que tem sido feita diz respeito à junta médica que elaborou, pela segunda vez, o laudo com avaliação do ex-deputado. Com exceção da médica Hilda Barros, que não integrou a segunda junta por estar de licença, os demais profissionais são os mesmos designados anteriormente. Embora não tenha sido questionada a credibilidade destes médicos – detentores de currículo renomado – alguns se destacam por já terem apresentado preferências políticas contrárias ao PT e favoráveis ao julgamento do mensalão, motivo pelo qual a escolha tem sido questionada quanto à isenção.
Quando foram convocados para integrar o grupo pela segunda vez, o entendimento que prevaleceu, inclusive apresentado por representantes do STF, foi de que é considerado mais preciso um laudo médico efetuado por profissionais que já tinham avaliado o paciente anteriormente. Mas a repetição dos nomes não agradou a militantes do PT e tem sido vista como um erro de percepção por parte do presidente do tribunal, inclusive na opinião de acadêmicos e operadores de Direito.
Dos integrantes da junta designada para examinar a situação de Genoino, ao menos três médicos chegaram a se manifestar explicitamente favoráveis à prisão dos réus da AP-470. Paulo Machado Ribeiro Junior costuma publicar, em sua página no Facebook, várias críticas ao PT e à vinda de médicos cubanos ao país. Ele também elogia o resultado do julgamento da AP-470 constantemente nas redes sociais. Fernando Antibas Atik, outro dos médicos, festejou, em comentários diversos no Twitter, a condenação dos réus da ação, pelo STF, em novembro passado.
Hilda Arruda, que não integrou a última junta, também tem feito em mídias sociais reclamações diversas ao programa Mais Médicos, do governo petista. Mesmo os demais componentes do grupo que não expressaram posições sobre a AP-470, são tidos como profissionais que possuiriam ligações antigas com parlamentares da oposição.
"O que está em jogo é a questão do critério médico, da ética, não a ideologia política destas pessoas. Um profissional da medicina examina um paciente e ponto. O partido que ele apoia é irrelevante", chegou a colocar, em reunião, representante de uma entidade médica de Brasília, em tom irritado e defendendo tal colegiado, diante das especulações sobre as preferências político-partidárias desses profissionais.
Mesmo assim, o ex-diretor de um hospital de São Paulo e uma cardiologista que atua no Distrito Federal, que preferiram manter seus nomes reservados, disseram, em entrevista à RBA, que independentemente de ideologias políticas ou qualquer contestação ao laudo emitido pela junta designada pelo STF, o tribunal poderia ter escolhido quaisquer outros profissionais sem que isso viesse a representar problemas para a avaliação do paciente.
Isso porque o exame de ressonância do miocárdio, ao qual foi submetido José Genoino, é de grande precisão, sem falar na quantidade de exames correlatos realizados no paciente. Um destes médicos chegou a afirmar que, clinicamente, consideraria mais viável, até, que a junta tivesse sido formada por médicos diferentes – para uma melhor percepção sobre o paciente.
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