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quinta-feira, 28 de agosto de 2014

O que pode salvar o Brasil é a política, não a sua negação

Já que o brasileiro não liga para a política, detesta os políticos, acha que todo político é ladrão ou corrupto, o jeito é eleger para presidente alguém que não seja político.
E aí, como mágica, surge o nome dessa doçura de pessoa chamada Marina Silva.
Ela é, para esse brasileiro que tem pelos políticos um ódio visceral, tudo de bom.
Como o brasileiro que cultiva a ojeriza pela política, Marina também externa esse sentimento, garantindo que com ela essa raça de abominações que tem acabado com o Brasil vai ser posta devidamente em seu lugar, ou seja, ficará completamente fora da máquina administrativa.
Marina diz que esses partidos que estão aí fazem parte de um modelo ultrapassado, que todo o sistema político brasileiro não presta, que é preciso colocar algo novo - ela, é claro - em seu lugar, que é necessário mudar tudo para que a sociedade brasileira, e a própria democracia, avancem.

Quando eu era adolescente, de certa forma, também pensava mais ou menos dessa maneira.
Com o tempo, porém, percebi que só há duas formas de se fazer mudanças sociais num organismo tão complexo quanto uma nação: devagar, de modo quase imperceptível, para que os afetados pelas transformações possam absorvê-las, ou abruptamente, pela força de uma revolução.
Como a segunda hipótese, por razões óbvias, é uma possibilidade inviável no Brasil, resta apenas a primeira.
Desde 2003 o governo trabalhista vem mudando o país.
Devagar, devagarinho.

Parece que quase nada foi feito, mas esse pouco, essas migalhas que melhoraram a vida de milhões de pessoas, conseguiram tirar o sono daqueles que sempre consideraram o Brasil sua propriedade particular - uma enorme senzala controlada por meia dúzia de casas grandes.
A Marina que surge nesta eleição como a representante de uma "nova política" parece não entender o que se passa no país.

Ignora todos os avanços sociais e econômicos dos últimos anos.
E, o pior, com a sua pregação juvenil, rejeita a única forma que existe para levar o Brasil ao Primeiro Mundo, que é exatamente a política, feita e conduzida por políticos dedicados à vida pública, pessoas preparadas para entender o sofisticado mecanismo social - e não por operadores do mercado financeiro, aventureiros e carreiristas, socialites e herdeiras de fortunas, fanáticos religiosos e ambientalistas, picaretas de todos os matizes.

Só a política, e não a sua negação, é capaz de salvar o Brasil.

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