Polarização absurda, radical e irracional" faz "mal ao Brasil", afirma Lira Neto
ISABELA HORTA
Brasília
Em entrevista ao SBT, o biógrafo Lira Neto afirmou que o PT “encarna” a herança do projeto nacional-desenvolvimentista de Getúlio Vargas. “Lula, queiramos ou não, é junto com Getúlio a personalidade mais popular de toda história brasileira”. Segundo o autor da mais recente biografia do ex-presidente gaúcho, o governo do PT tem ideias semelhantes as de Getúlio ao defender um Estado interventor.
Para o escritor, o espectro político brasileiro atual tem semelhanças com a cenário dos anos 1950. “Aquela polarização que tomou conta entre os getulistas e antigetulistas, eu vejo certa semelhança na mesma estridência polarizada que temos hoje. Essa polarização absurda, radical e irracional está fazendo mal ao Brasil.”
O biógrafo explicou a importância de Alzira Vargas, uma das filhas de Getúlio, para a volta do ex-presidente ao poder em 1951. “Ela era uma espécie de grilo falante do pai. Mesmo sendo muito mais nova que ele, tinha uma análise de conjuntura absolutamente sofisticada, arguta e perspicaz, chegando às vezes a dar conselhos a Getúlio.” Neto teve acesso a mais de 1.600 páginas de cartas trocadas entre os dois de 1945 a 1950. Nesse período, o ex-presidente estava “exilado” em São Borja (RS) e a filha acompanhava o cenário político no Rio de Janeiro.
Neto também comentou o discurso anticristianismo feito por Getúlio em sua formatura de Direito. Na ocasião, o estudante falava que a religião era “um retrocesso a grandes conquistas progressivas da história”. O texto foi escondido por Getúlio enquanto esteve no poder. Depois de muito tempo foi incorporado aos arquivos oficiais do ex-presidente. Para o biógrafo, a revelação desse discurso teria sido “fatal“ para a carreira de Getúlio. “Hoje, isso seria inadmissível um homem público ter esse juízo de valor sobre o cristianismo. Imagina naquela época.”
Segundo o escritor, a experiência de Getúlio no exército deu a ele “disciplina militar”. O ex-presidente chegou aos primeiros postos da carreira do oficialato, mas foi expulso da corporação. “O que surpreende é a capacidade de autodisciplina e de avaliação de cenário e das correlações das forças. Getúlio não se precipitava nunca. Calculava milimetricamente todas as suas ações.”
Neto afirma que, apesar dos “senões” da Era Vargas, é inquestionável o legado deixado pelo ex-presidente. “Ele levou o Brasil no rumo da industrialização: criou a Petrobras, Volta Redonda, o projeto da futura Eletrobrás.” Outra herança deixada por Getúlio seria, segundo o autor, a legislação trabalhista. “Ele tutelou os movimentos sindicais mais radicais e atualizou a relação entre capital e trabalho, patrão e empregado no Brasil.”
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