O julgamento do "mensalão", na verdade, mentirão, está chegando ao fim. De todos os envolvidos e apenados com a prisão, dois se destacam: José Dirceu e José Genoíno. São políticos históricos, que participaram da guerrilha de esquerda nos anos 1970, foram perseguidos, presos e processados pelos tribunais brasileiros vergonhosamente subservientes aos generais da ditadura militar.
José Genoíno é um homem de classe média e que mora em uma casa comum comprada com sua renda de pessoa financeiramente modesta. Sofreu muito durante toda sua vida política e partidária e até os dias atuais é alvo de uma mídia de mercado impiedosa, de políticos direitistas porta-vozes de nossas "elites" perversas e de passados escravocratas, bem como desassossegado por algumas acusações que nunca foram comprovadas.
No entanto, apesar de Genoíno ser perseguido e desrespeitado, sistematicamente, como cidadão brasileiro, a pessoa e o político mais perseguido e odiado pela direita que eu tive o desprazer de verificar no decorrer dos últimos oito anos é sem sombra de dúvida o ex-ministro da Casa Civil e ex-deputado do PT, José Dirceu. O ódio a ele consegue superar o ódio a Lula, que também é muito denso e disseminado por toda a sociedade.
A direita, as classes sociais ricas e de classe média simplesmente odeiam o petista de passado revolucionário que nunca se deixou cooptar pelos donos e meninos de recado do poder capitalista e por causa disto jamais foi perdoado. O sentimento de classe é enraizado na grande maioria das pessoas e quando alguém que pertence originalmente a uma classe privilegiada e se torna dela um dissidente, o ódio de classe vai à tona e se insurge ferozmente contra aquele que é considerado traidor.
Os integrantes, os representantes e as lideranças das classes dominantes se comportam e se conduzem dessa maneira através dos séculos e em qualquer país ou nação. Primeiro, eles tentam cooptar a quem não reza pela cartilha dos privilegiados e economicamente poderosos. Se não conseguem, rapidamente tratam de se mobilizar para destruir a reputação de quem lhes desagrada.
Tentaram atrair Getúlio Vargas e João Goulart. Quando perceberam que os dois presidentes trabalhistas estavam dispostos realmente a efetivar seus projetos de País e programas de Governo, o establishment passou a tratá-los de forma extremamente desrespeitosa na high society, além de conspirar dentro de vários órgãos e instituições do Governo e da iniciativa privada, a exemplo do Exército e das federações empresariais urbanas e rurais.
A imprensa de negócios privados entrou com tudo, e passou a tratar o Governo de Getúlio de "mar de lama". Anos depois a mesma imprensa golpista passou a chamar o Governo de Jango de "república comunista e sindicalista", e que estaria prestes a dar um golpe. A direita combateu também, e de forma feroz, o trabalhista Leonel Brizola e o comunista Luís Carlos Prestes. E o golpe veio da direita. Golpe violento e criminoso e que implantou uma ditadura na qual os empresários se locupletaram e os militares aproveitaram parar ficar no poder por longos 21 anos.
Todos esses políticos foram satanizados e pagaram caro por não serem cooptados. Eles foram acusados de tudo o que é irregular e ilegal, bem como chamados de ladrões e corruptos. As manchetes dos jornais e revistas, as chamadas das rádios e anos depois das televisões faziam e até hoje fazem campanhas insidiosas contra aqueles que o sistema midiático comercial e privado e dos donos dos meios de produção consideram como inimigos.
O mesmo acontece com o José Dirceu, político do campo da esquerda que sofre há quase dez anos com uma campanha infamante, injuriosa e que tem por finalidade desconstruir a imagem de um homem acusado por intermédio de "provas tênues", conforme as palavras do ex-procurador da República, Roberto Gurgel, no plenário do STF.
Agora, as denúncias e as acusações ao Policarpo Jr., ex-diretor de Veja, ao senador cassado, Demóstenes Torrres, e ao bicheiro Carlinhos Cachoeira nunca foram relevantes para o Gurgel. O procurador sentou nas provas e contraprovas durante quase três anos, o que permitiu que o triunvirato ficasse livre para fazer os seus planos de conspiração contra governos, governantes e autoridades.
Além disso, certos da impunidade, as chantagens e as ameaças se tornaram a tônica a quem não quisesse ceder aos interesses de tal grupo, com o inegável apoio de Veja, além da revista Época, que publicavam matérias manipuladas e distorcidas, que davam eco a interesses até, então, inconfessos daqueles que transformaram o jornalismo das grandes corporações midiáticas em um libelo de direita, partidário e frontalmente hostil aos governos trabalhistas de Lula e Dilma Rousseff.
A verdade é que o julgamento político de José Dirceu e também de José Genoíno, acontece muito mais por causa de questões ideológicas, históricas e de ódio de classe social do que propriamente por causa do caixa dois do PT. José Dirceu é um dos articuladores, se não for o principal articulador da ascensão de Lula ao poder. O ódio das classes abastadas por Lula é imenso, afinal o ex-presidente trabalhista tem todos os predicativos que as "elites" detestam: operário, nordestino, migrante, sem um dedo e pobre.
Contudo, a direita rastaquera e com ares de nobreza compreende esses fatores, apesar de rejeitá-los por causa de incontáveis preconceitos e intolerâncias. Lula é Lula. Veio de baixo e teve a ousadia de sentar na cadeira presidencial até então somente destinada aos representantes da casa grande. Fato este que não ocorre com o José Dirceu, advogado, branco, apessoado, culto, inteligente, de classe média, estudado e, segundo seus amigos, leitor contumaz de livros.
Dirceu, desde jovem, rompe com o establishment e vai viver no anonimato para não ser preso ou morto. Pagou caro. O sistema o transformou em tudo o que representa ser ruim. Sua imagem foi desconstruída; sua moral, degradada; e sua carreira interrompida após 40 anos de lutas contra o arbítrio, a prepotência e a arrogância dos que querem um Brasil para poucos privilegiados. O líder petista foi transformado em um monstro.
Por seu turno, todo mundo sabe que nada é melhor que o tempo para colocar as verdades e as realidades em seus devidos lugares. A história é contada de forma fria, por meio de pesquisas intermitentes e pontuais, o que, inegavelmente, não acontece com os jornais e revistas do sistema midiático privado e hegemônico. O sistema pertence ao empresariado e capitalista quer muito dinheiro, além de concretizar seus interesses pessoais, políticos e econômicos.
José Dirceu cometeu erros e tem defeitos como qualquer ser humano. Por sua vez, o seu passado não vai ser apagado da memória de todos aqueles que conhecem a fibra e a coragem do político singular. O seu linchamento público de quase uma década é um processo draconiano e vil, pérfido e que se contrapõem ao estado democrático de direito.
A demonização de sua imagem tem propósitos obscurantistas, porque até hoje não se sabe o porquê de uma pessoa sem ter a culpa realmente comprovada poderá acabar na prisão. Todavia, o político socialista vai ser julgado pela história e não pelos seus inimigos e adversários, muitos deles envolvidos em escândalos e malfeitos, mas que nunca foram alvos da imprensa alienígena, de investigações imparciais do Ministério Público e muito menos julgados pelo STF. A verdadeira história de José Dirceu é o tempo que vai contá-la. É isso aí.
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