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domingo, 13 de setembro de 2015

Os jornais, o ódio fabricado e a terceirização do ridículo

O país tem poucos jornais. E ainda assim quase sempre estampam as mesmas fotos e manchetes. A maioria da sociedade, embora passe longe deles, acaba atingida pelo ódio que fabricam


Por Lalo Leal

Hoje os jornais são poucos e quase sempre iguais. É comum vermos em determinados dias fotos e manchetes idênticas estampando suas capas

Houve época no Brasil em que a oferta diária de jornais passava de uma dezena. Embora a maioria­ estivesse alinhada com interesses conservadores, existiam alternativas. Basta lembrar o Última Hora, de Samuel Wainer, comprometido com a defesa de causas populares.

Hoje os jornais são poucos e quase sempre iguais. É comum vermos em determinados dias fotos e manchetes idênticas estampando suas capas. Mesmice que acompanha os conteúdos, unificados em linhas editoriais voltadas para fustigar diariamente o governo federal.

Mas evitam ultrapassar certa linha de ataques que os levaria ao ridículo. Afinal, têm uma aura de seriedade que precisa ser preservada. Para escapar dessa encruzilhada, abrem espaço para que terceiros digam o que eles gostariam de dizer.

Nos editoriais, em que se expressa a “voz do dono”, surgem por vezes argumentos ponderados em defesa das instituições democráticas e de respeito aos resultados eleitorais. É a seriedade oferecida como álibi para dar a leitores radicalizados e personagens opacos os espaços necessários para as suas diatribes contra o governo, os movimentos populares e mesmo as instituições republicanas.

As seções de cartas dos leitores são um espaço muito mais nítido que os editoriais para conhecermos o que pensam os donos do jornal sobre determinado assunto. Alguns só publicam cartas que dizem o que lhes interessa, outros tentam disfarçar com mensagens divergentes, sempre em número e contundência menor que as outras.

Nas reportagens, a escolha das fontes é primorosa. Da noite para o dia surgem “líderes” de movimentos cujas origens e sobrevivência são obscuras. Ganham espaços generosos no noticiário porque dizem o que os jornais querem falar, mas não têm coragem. Não voltariam, por exemplo, a acenar com o “fantasma do comunismo”, mas deixam que seus entrevistados o ­façam à vontade.

Nem fazem a apologia escancarada do impeachment da presidenta, sabedores da sua inconsistência jurídica, mas colocam essa palavra na boca dos seus personagens e fazem questão de destacá-la nas fotos das manifestações conservadoras. Para não falar dos defensores da “intervenção militar”, igualmente abrigados nos jornais por textos e imagens. O crime contido na mensagem raramente é mencionado.

Não vale relativizar tudo isso dizendo que pouca gente lê jornais. É verdade que as tiragens no Brasil são baixíssimas, mas as mensagens impressas vão muito além da leitura do jornal. Elas reverberam pela internet, onde os sites de notícias que as reproduzem são os mais acessados.

Espalham-se pelas emissoras de rádio, tanto nas noticiosas como nas de entretenimento. As primeiras usando as notícias para a elaboração de suas pautas, indo atrás dos personagens dos jornais, para pôr no ar vozes até então desconhecidas. As outras, encaixando entre músicas, receitas e aconselhamentos pessoais a leitura do noticiário impresso, feita de forma sedutora, quase sempre coloquial. São os chamados comunicadores populares falando para milhões de ouvintes diariamente através do rádio.

Na televisão, esse aparelho que mesmo que não queiramos somos obrigados a ver em salas de espera, bares, restaurantes e outros lugares públicos, estão os telejornais e seus comentaristas repercutindo aquilo que está estampado nos jornais.

Para não falar das bancas nas ruas, onde transeuntes se juntam para ler e, às vezes, comentar as manchetes. Assim como dos outdoors e dos painéis nos pontos de ônibus e nas TVs dentro deles e dos vagões dos metrôs, mostrando as capas de revistas transformadas em peças de propaganda política fora do período eleitoral.

Resultado de tudo isso: a grande maioria da sociedade, mesmo passando longe dos jornais impressos, é por eles impactada absor­vendo o ódio que destilam contra governos, partidos e causas populares, vociferado em manifestações de rua e nas redes sociais.

A linha editorial desses jornais é responsável também pela­ exacerbação da crise econômica, fazendo com que muitas pessoas, mesmo imunes a ela, sintam-se atingidas. Os agentes econômicos se retraem, a crise se acentua e o país todo sofre as consequências.

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