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quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Dilma acusa o golpe, rechaça o golpe e ataca o golpe em discurso que “inaugura” o seu segundo mandato






Nesta terça-feira 13, dia em que o Presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, poderia receber e encaminhar um pedido de impeachment sem fundamento e até pavimentar o caminho para se tornar Presidente interino do Brasil, Dilma Rousseff realizou um dos mais contundentes e agudos discursos de sua carreira política.

Foi durante a cerimônia de abertura do 12º Congresso Nacional da CUT – CONCUT, em São Paulo, quando o STF já havia sepultado de vez o golpe articulado pela oposição.

Ladeada pelos Ex-Presidentes Pepe Mujica, do Uruguai, Luiz Inácio Lula da Silva e pelo Presidente da Central Única dos Trabalhadores, Vagner Freitas, Dilma fez valer as três liminares não contestadas que sua base ganhou no Supremo. Ela foi na jugular dos golpistas. “O que era inconformismo por terem perdido a eleição transformou-se em desejo de retrocesso e ruptura institucional, em golpismo. O golpe que os inconformados querem cometer é, mais uma vez, e como sempre, contra o povo. Mas podem ter certeza: não vão conseguir.”

Não por acaso, o Presidente Lula fez questão de afirmar, em discurso posterior, que Dilma, com este discurso incisivo, deixava de ser alguém que iria simplesmente se manter ali, no cargo de Presidente, para se tornar uma verdadeira líder política do país. Dilma realmente fez uma fala de força, e chamou para si a responsabilidade política do consenso – como desejava o Vice Michel Temer, meses atrás – “A hora é de unir forças. A hora é de arregaçar as mangas e combater o pessimismo e a intriga política. Quem quiser dialogar, construir a paz política, construir o futuro, terá meu governo como parceiro.”

Depois da ducentésima quadragésima sétima vez que Aécio Neves perdeu a oportunidade de virar Presidente, as suas credenciais foram direta e seriamente cobradas. Afinal de contas, culpa no cartório também é uma questão de comportamento social, responsabilidade administrativa e companhias, como insistem os moralistas de plantão. “Quem tem força moral, reputação ilibada e biografia limpa suficientes para atacar a minha honra? Lutarei para defender o mandato que me foi concedido pelo voto popular, pela democracia e por nosso projeto de desenvolvimento.” Disse a presidente, ovacionada de pé por um auditório lotado de líderes sindicais de todo o país.

Ataques à democracia não são novidade. O Brasil já passou, por exemplo, por tentativas malfadadas de transformar um conjunto de mestiços em arianistas fanáticos, um projeto fascista que pretendeu hegemonia. Um de seus líderes, depois jurista de renome, deu cria a um dos que subscrevem as peças jurídicas dos golpes de hoje. Pois é. As elites fascistas não só vingaram como se multiplicaram no país, insistindo em projetos demófobos, nefastos e autocráticos.

Então, a preocupação da Presidente tem fundamento. Ela identifica grupos que desejam o poder a qualquer custo e por quaisquer meios, inclusive os anti-democráticos – as elites gostam menos que tudo do povo, e a democracia, se sabe, é forma de governo que se sustenta pelo procedimento do voto popular. “Vivemos uma crise política séria, que se expressa na tentativa dos opositores ao nosso governo de fazer o terceiro turno. Essa tentativa começou após as eleições. Agora, ela se expressa na busca incessante da oposição de encurtar seu caminho ao poder. Querem chegar ao poder dando um golpe, com impedimento de um governo eleito pelo voto direto de 54 milhões de pessoas.”

O golpe foi sepultado. Os golpistas não. Eduardo Cunha ainda é Presidente da Câmara dos Deputados. Aécio, Serra e Aloysio – sem suspeitas na “Operação Lava-Jato” e sem alcaguetes na “Operação Zelotes” – ainda são Senadores da República. A mídia hegemoniza a pauta a favor dos grupos políticos golpistas e partes politicamente relevantes do judiciário ainda controlam delações, vazamentos seletivos e prisões sem fundamento, trazendo o terror usual das ditaduras veladas.

Mas a Presidente sentiu que este era o momento para funcionar politicamente. E, com certeza, com o apoio e influência de gente do gabarito de Jacques Wagner e do próprio Lula, que não escondia o orgulho de ver a sua sucessora ir para a batalha da política, sem medo de bater.

Dilma encarou o desafio e reafirmou porque todos deveriam estar ali pelo governo, pelo projeto político e pelo Brasil. Não restou dúvidas. “Sou presidenta porque fui eleita pelo povo, em eleições lícitas. Tenho a legitimidade das urnas, que me protege e a qual tenho o dever de proteger. Sou presidenta para dar continuidade ao processo de emancipação do nosso povo da pobreza e da exclusão, e para fazer do Brasil uma nação de oportunidades para todas e todos.”

Depois de responder a uma reivindicação insistente da militância, de que reafirmasse seus compromissos com um projeto de esquerda, sobrou um afago para o já lendário Pepe Mujica, o quixotesco cruzado pela democracia social e política da América Latina. “Democracia não se reduz, se amplia.” E se pode dizer, sem sombra de dúvida que Dilma, finalmente, iniciou o seu segundo mandato.

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