O que dizer de um governo que anuncia a política de fechar centenas de escolas em nome da "melhora na gestão do ensino"?
Como alguém diz uma coisa dessas – aliás, um secretário de Estado – sem corar de vergonha? Como se pode chamar isso pelo eufemismo de "reorganização"?
É o mesmo que dizer que vai melhorar a gestão do SUS (Sistema Único de Saúde) fechando leitos hospitalares ou reorganizar o lazer de uma cidade fechando praças e parques. É simplesmente absurdo. Indefensável.
Mas é o que está ocorrendo no estado de São Paulo, por iniciativa do governo de Geraldo Alckmin (PSDB).
Os argumentos oficiais foram trazidos à cena pelo secretário de educação Herman Voorwald e também pela ex-secretária Rose Neubauer. Esta última tem notório saber quando o assunto é "fechar escolas". Em 1995, Rose era secretária de educação no governo Covas e conduziu outra "reorganização", que levou ao fechamento de 150 escolas, mais de 10 mil classes e a milhares de professores demitidos.
O argumento apresentado por eles é de ordem pedagógica. A proposta seria dividir as escolas de acordo com três ciclos de ensino: do 1º ao 5º ano; do 6º ao 9º; e o ensino médio. Assim, os equipamentos escolares poderiam estar melhor adaptados às especificidades de cada faixa etária de estudantes.
Pois bem, suponhamos a validade desse argumento. Agora, que diabos isso tem a ver com fechar escolas?
A resposta dada pelo secretário Herman é que "há uma ociosidade na rede". Ociosidade com 50 alunos por sala? Ociosidade com lista de espera em várias escolas da periferia? A única ociosidade, no caso, parece ser de política educacional no estado de São Paulo.
A "reorganização", se mantida por Alckmin, trará efeitos desorganizadores para a rede pública de educação. Estima-se que mais de 1 milhão de alunos sejam deslocados de suas escolas para outras com até 1,5 km de distância. Muitas crianças e jovens vão sozinhos para a escola dada a proximidade de suas casas. Como ficará agora? O Estado bancará o transporte e garantirá sua segurança? Parece que não.
Além disso, segundo a Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo), 155 escolas já foram notificadas quanto ao fechamento e milhares de professores serão demitidos.
Quando somamos o fechamento de escolas com a demissão de professores começam a ficar claros os verdadeiros motivos — nada pedagógicos — da reorganização: dinheiro, dinheiro e dinheiro. Trata-se simplesmente de arrochar as contas do Estado cortando verbas da educação.
É a versão paulista e tucana do ajuste fiscal que tem sido conduzido por Dilma e Levy no governo federal. Adequação a "necessidades pedagógicas" e à "ociosidade da rede" são apenas o blá-blá-blá necessário para encobrir uma política antipopular de ajuste. Cai no embuste quem quer.
Estudantes, professores e pais já começaram a manifestar os primeiros sinais de resistência, com várias mobilizações nas últimas semanas. Têm ocorrido atos praticamente todos os dias em escolas da periferia de São Paulo.
A esperança é que a ampliação dessas manifestações populares faça o governo do Estado recuar da política desastrosa de fazer caixa fechando escolas.
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