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sexta-feira, 1 de maio de 2015

A legitimidade da greve dos professores



Esta semana a greve dos professores da rede estadual de São Paulo completa 50 dias, sem negociação nem reconhecimento por parte do governo Alckmin. 

Em vez de dialogar com as demandas apresentadas, o governo optou por atacar os grevistas e desqualificar o movimento. Alckmin chegou a declarar que não existia greve alguma. Reafirmou suas palavras na última segunda-feira (27), apesar dos fatos. 

Não há como não recordar do já folclórico "não falta água em São Paulo, não vai faltar água em São Paulo!", dito em debate eleitoral no ano passado. Isso não impediu o desabastecimento sistemático nas periferias. Negar a realidade não costuma ser uma boa tática para resolver problemas. 

A greve cresceu e se prolongou desde seu início, em 13 de março. Milhares de professores de todo o Estado têm lotado as assembleias semanalmente e feito grandes manifestações na capital paulista. Acamparam em frente à Secretaria de Educação, foram à Assembleia Legislativa e ao Palácio dos Bandeirantes. 

A reação do governo estadual? Atacou o direito constitucional de greve, com apontamento de faltas injustificadas e ameaças de demissão. Permaneceu sem apresentar nenhuma proposta e Alckmin, num discurso recente, classificou a greve como "política". 

Aliás, o governador precisa decidir-se: ou a greve não existe ou ela é política. 

De todo modo, em relação à tentativa de desqualificação, vale mencionar que toda mobilização social é política, talvez com exceção do carnaval. Uma greve que defende políticas públicas de educação e valorização dos educadores é obviamente política. 

Mas, para além deste truísmo, parece que o governador quis dizer outra coisa: que o movimento seria politicagem contra seu governo, sem pauta real. 

Vejamos as reivindicações dos professores. Reabertura de salas de aula fechadas, desmembramento de salas visando um máximo de 25 alunos, garantia de condições básicas de infraestrutura nas escolas e reajuste salarial. Politicagem? 

Segundo a Apeoesp (Sindicato dos professores da rede estadual), foram mais de 3 mil salas fechadas só em 2015. O resultado foi a superlotação, com classes com mais de 50 alunos e desemprego para profissionais da educação de diversas disciplinas. 

Além disso, o governo anunciou neste ano corte de um terço das verbas para manutenção das escolas. Há relatos de falta de papel higiênico e giz em escolas paulistas. A situação é crítica. 

O salário dos professores está profundamente defasado em relação aos demais profissionais com ensino superior. Em São Paulo, o professor recebe pouco mais que R$11 por aula. 

Os motivos da indignação, portanto, são mais do que legítimos. Como ensinar num ambiente sem as condições básicas de trabalho? Como dar aulas em salas superlotadas? Como esperar motivação de profissionais sem plano de carreira e com salário de R$11 por aula? 

Engraçado é ver os mesmos que agora atacam ou condenam a greve dos professores fazer, de tempos em tempos, seu proselitismo sobre a importância da educação para o futuro do país. "Valorizam" a educação, mas desvalorizam os educadores. A equação não fecha. 

O movimento dos professores estaduais paulistas merece respeito e reconhecimento. Alckmin faria melhor ao Estado se, em vez de negar o óbvio, abrisse negociações efetivas para atendimento da pauta da categoria.

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