Por Edemilson Paraná.
Várias leituras da história brasileira no último século, algumas delas já canônicas entre nós, adequadamente contextualizadas em termos da inseparabilidade dos grandes embates políticos de seus respectivos contextos culturais e intelectuais, apontam para um antagonismo clássico, que vive a nos assombrar de tempos em tempos: de um lado um suposto liberalismo cosmopolita, democrático e sustentado na pregação das liberdades individuais e de mercado; de outro certo estatismo nacionalista de tons positivistas, desenvolvimentista e voltado para os problemas da “organização nacional”. Em sua busca conjunta pela superação do “atraso” na luta prometeica por um “Brasil moderno”, ambos denunciam-se mutuamente como inimigos mortais: de um lado o anti-nacionalismo submisso, dependente, elitista e inautêntico; de outro o dirigismo populista, burocrático, corrupto e autoritário.
Ainda que seja absolutamente questionável a pureza desses “tipos-ideias” quando se fala de gestão do capitalismo aqui ou alhures, ler a disputa entre tais “projetos” a partir de seus supostos antagonismos pode até ser útil do ponto de vista taxonômico. Compreender a história política do país no último século a partir desta chave interpretativa, no entanto, é o mesmo que tornar-se refém de uma meia verdade, simplória e simplificadora em sua incompletude. É que, dessa forma enquadrada, tal contraposição esconde as flagrantes homologias entre tais (o)posições por meio das quais um acordo tácito fica nebulosamente encoberto: a manutenção das graves e intocadas estruturas de poder, controle e propriedade social no Brasil. Talvez seja mais adequado, alternativamente, caracterizar nossa história política como um pêndulo: um movimento previsível que varia entre centralização e descentralização, liberalismo e estatismo, nacionalismo e cosmopolitismo, sustentado por um mesmo eixo de tensão: nossa condição dependente em termos da divisão internacional do trabalho e escandalosamente desigual em termos de configuração interna.
Os pontos de encontro a sustentar o eixo desse pêndulo das elites são muitos: estadocentrismo político, elitismo e ideologia anti-popular (seja pelo porrete, seja pela “assistência”, as massas são vistas como submissas, perigosas ou incapazes), o racismo (implícito e/ou explícito), a crença na força do “império da lei” como via para o controle social e manutenção da estrutura de desigualdades, de onde emana o compartilhamento de certo autoritarismo judicial e, por fim, a crença na tecnocracia meritocrática como saída para o “atraso” por ambos diagnosticado: a leitura, em suma, do país primitivo, do Estado sem sociedade, do capitalismo sem iniciativa, da revolução sem proletariado.
Contemporaneamente, em especial a partir da Nova República, mas com raízes mais profundas, o apego a um conceito vazio de democracia, bonito no papel e pavorosamente violento na prática, reificado na estabilidade institucional e macroeconômica (rentista e patrimonial) como remédio para todos os males de que padecemos, consubstancia-se num pacto nada silencioso dessas mesmas elites, que a cada quatro anos, no entanto, voltam a encenar para o grande público o grande espetáculo de seus viscerais desafetos.
É evidente, e sobretudo quando o gotejar desse copo cheio ameaça transbordar, que o povo em movimento e resistência joga papel fundamental nas tensões, arranjos e rearranjos de poder antes como hoje. Mais do que desconhecimento desse fator, o que há de parte de nossas elites dirigentes é um medo inconfesso da raiva justa, encaminhado de forma cínica e brutal. Tudo somado, há entre Geisel e Dilma, Getúlio e Lula, JK e FHC, Beto Richa e Paulo Garcia menos diferenças do que se supõe: ruidosas na superfície, talvez, mas quase imperceptíveis em suas profundezas. Eis algumas das origens do mal-estar atual: já é passada a hora de desestabilizarmos de vez a “máquina” pendular do poder no Brasil.
Várias leituras da história brasileira no último século, algumas delas já canônicas entre nós, adequadamente contextualizadas em termos da inseparabilidade dos grandes embates políticos de seus respectivos contextos culturais e intelectuais, apontam para um antagonismo clássico, que vive a nos assombrar de tempos em tempos: de um lado um suposto liberalismo cosmopolita, democrático e sustentado na pregação das liberdades individuais e de mercado; de outro certo estatismo nacionalista de tons positivistas, desenvolvimentista e voltado para os problemas da “organização nacional”. Em sua busca conjunta pela superação do “atraso” na luta prometeica por um “Brasil moderno”, ambos denunciam-se mutuamente como inimigos mortais: de um lado o anti-nacionalismo submisso, dependente, elitista e inautêntico; de outro o dirigismo populista, burocrático, corrupto e autoritário.
Ainda que seja absolutamente questionável a pureza desses “tipos-ideias” quando se fala de gestão do capitalismo aqui ou alhures, ler a disputa entre tais “projetos” a partir de seus supostos antagonismos pode até ser útil do ponto de vista taxonômico. Compreender a história política do país no último século a partir desta chave interpretativa, no entanto, é o mesmo que tornar-se refém de uma meia verdade, simplória e simplificadora em sua incompletude. É que, dessa forma enquadrada, tal contraposição esconde as flagrantes homologias entre tais (o)posições por meio das quais um acordo tácito fica nebulosamente encoberto: a manutenção das graves e intocadas estruturas de poder, controle e propriedade social no Brasil. Talvez seja mais adequado, alternativamente, caracterizar nossa história política como um pêndulo: um movimento previsível que varia entre centralização e descentralização, liberalismo e estatismo, nacionalismo e cosmopolitismo, sustentado por um mesmo eixo de tensão: nossa condição dependente em termos da divisão internacional do trabalho e escandalosamente desigual em termos de configuração interna.
Os pontos de encontro a sustentar o eixo desse pêndulo das elites são muitos: estadocentrismo político, elitismo e ideologia anti-popular (seja pelo porrete, seja pela “assistência”, as massas são vistas como submissas, perigosas ou incapazes), o racismo (implícito e/ou explícito), a crença na força do “império da lei” como via para o controle social e manutenção da estrutura de desigualdades, de onde emana o compartilhamento de certo autoritarismo judicial e, por fim, a crença na tecnocracia meritocrática como saída para o “atraso” por ambos diagnosticado: a leitura, em suma, do país primitivo, do Estado sem sociedade, do capitalismo sem iniciativa, da revolução sem proletariado.
Contemporaneamente, em especial a partir da Nova República, mas com raízes mais profundas, o apego a um conceito vazio de democracia, bonito no papel e pavorosamente violento na prática, reificado na estabilidade institucional e macroeconômica (rentista e patrimonial) como remédio para todos os males de que padecemos, consubstancia-se num pacto nada silencioso dessas mesmas elites, que a cada quatro anos, no entanto, voltam a encenar para o grande público o grande espetáculo de seus viscerais desafetos.
É evidente, e sobretudo quando o gotejar desse copo cheio ameaça transbordar, que o povo em movimento e resistência joga papel fundamental nas tensões, arranjos e rearranjos de poder antes como hoje. Mais do que desconhecimento desse fator, o que há de parte de nossas elites dirigentes é um medo inconfesso da raiva justa, encaminhado de forma cínica e brutal. Tudo somado, há entre Geisel e Dilma, Getúlio e Lula, JK e FHC, Beto Richa e Paulo Garcia menos diferenças do que se supõe: ruidosas na superfície, talvez, mas quase imperceptíveis em suas profundezas. Eis algumas das origens do mal-estar atual: já é passada a hora de desestabilizarmos de vez a “máquina” pendular do poder no Brasil.
Via:http://blogdaboitempo.com.br
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