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segunda-feira, 11 de maio de 2015

Sangue negro



Não que o Brasil precise de mais um feriado, mas é significativo que 13 de maio esteja fora das "datas nacionais". Pouco celebramos aquele dia de 1888 em que, com vergonhoso atraso, aboliu-se a escravidão. Ela é a nossa tragédia maior e, paradoxalmente, também a nossa glória, pois não seríamos nada, em qualquer aspecto, sem a presença africana. 

A antropóloga Lilia Schwarcz, que está lançando com a historiadora Heloisa Starling o livro "Brasil: Uma Biografia", relatou nesta Folha a indignação que sentiu ao ouvir pessoas, após uma sessão do filme americano "12 Anos de Escravidão", dizerem coisas como "que bom que no Brasil não foi assim". 

Por desconhecimento ou má-fé, encampamos falácias como as de que a ditadura militar não foi tão dura quanto de fato foi e que a corrupção é obra de alguns malfeitores --e não uma chaga que está no DNA do país e que praticamos no nosso cotidiano. 

Entre os séculos 16 e 19, chegaram ao Brasil, em navios negreiros, 4,8 milhões de seres humanos escravizados --e outros 300 mil morreram nas viagens. A fantasia de uma boa convivência entre casa-grande e senzala e o consequente mito da democracia racial não resistem aos fatos nem a um mínimo de inteligência. 

Cegos para a verdade, banalizamos a brutalidade. Pesquisa divulgada no dia 7 --por Unesco, governo federal e Fórum Brasileiro de Segurança Pública "" aponta que jovens (12 a 29 anos) negros são duas vezes e meia mais vítimas de homicídios do que os brancos. O último Mapa da Violência, com dados de 2010, mostra que são negros 75% dos jovens que tiveram morte violenta. 

E ainda há o quartinho de empregada, a entrada de serviço, a roupa branca das babás, os salários menores... Pode ser que falte festa para o fim da escravidão porque ela ainda não acabou de fato.

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