Gil Marçal
Especial para o UOL
A Virada Cultural da Cidade de São Paulo é um dos maiores festivais de arte do mundo, conta com diversas atividades artísticas e envolve todos os públicos. Antropofágica de nascimento, a nossa Virada projetou a noite branca e fez acrobacias com a maratona circense de Barcelona, mas imprimiu uma cara única com sua multiculturalidade brasileira. Inspirou versões estaduais e em diversos municípios do Brasil.
A Virada Cultural da Cidade de São Paulo é um dos maiores festivais de arte do mundo, conta com diversas atividades artísticas e envolve todos os públicos. Antropofágica de nascimento, a nossa Virada projetou a noite branca e fez acrobacias com a maratona circense de Barcelona, mas imprimiu uma cara única com sua multiculturalidade brasileira. Inspirou versões estaduais e em diversos municípios do Brasil.
Diversas críticas são tecidas ao evento, mas o fato é que a Virada Cultural é uma unanimidade, não necessariamente em sua forma, mas no mínimo em seu acontecimento.
Com a Virada, o direito a cidade, a qualidade de vida dos centros urbanos, o acesso à arte, ao lazer e a diversão se fortalecem. Não pode ser considerada suficiente para promover todos os direitos culturais que a população necessita, mas sem dúvidas ajuda na mobilidade para a ampliação desses e outros direitos. É um momento em que a cidade se mobiliza para a apreciação artística.
Não é possível ver todas as apresentações que são ofertadas, mas é possível escolher, fazer uma programação e ter boas horas assistindo coisas que gosta, mas nunca viu ao vivo, como também se encantar com o que não conhece.
Os recursos financeiros aplicados no evento são revertidos em ingressos muito baratos, como nos casos de compras coletivas, porém pago com os impostos dos contribuintes. É neste momento que, para além da classe média, as pessoas de baixa renda conseguem acessar artistas que normalmente não podem pagar para ver em grandes casas de shows e teatros privados.
Em médio prazo a Virada impulsionou outras atividades na própria cidade como as edições do Quebrada Cultural, SP na Rua e o Mês da Cultura Independente. Todos dialogam com as pessoas na rua, mostram que é possível um uso do espaço público, sobretudo para a juventude.
Nesses momentos a cidade tem a oportunidade de refletir sobre sua juventude. Como se portam? O que vestem? O que pensam? O que gostam de ouvir ou de assistir? Sabemos que em sua maioria não é uma juventude que busca a briga, que faz parte de gangues ou que destrói. Fatos isolados não podem comprometer o todo.
Todos na mesma festa
A Virada em seus primeiros anos reunia uma concentração de palcos no centro e outros palcos nas periferias, ao longo dos anos o centro foi privilegiado como seu grande palco. Um dos fatores foi o transporte público funcionar na madrugada do evento, o que ampliou o acesso dos residentes da periferia ao centro da cidade.
Naquele momento houve uma aposta de que todo mundo gostaria de ser convidado para a mesma festa, que o centro era o espaço que poderia reunir as diferentes regiões da cidade e que a festa era para todos.
As atrações são de portes grandes, médios e pequenos, com artistas consagrados, com a fina nata das belas artes, com os contemporâneos, os eruditos, mas também as atrações da cultura marginal, dos emergentes, das culturas tradicionais e populares, da cultura da periferia.
De certa forma esse momento promove uma horizontalidade entre os artistas, independentemente do tamanho dos seus palcos ou dos seus cachês, ambos são importantes para a cidade. Não me entenda raso neste ponto, muito menos ingênuo.
Em 2011 aconteceu a primeira experiência do Palco Cultura Periférica no evento, na ocasião foram 17 atrações entre Saraus Literários e bandas ou músicos emergentes que circulavam nos espaços de referência das periferias da cidade. Em 2015 a programação reúne mais de 80 apresentações com centenas de grupos agregados em suas atividades.
Agora um dos cartões postais da cidade, o Vale do Anhangabaú, se abre para apresentar uma programação que reúne um Palco Black, 24 grupos de cultura popular, 24 saraus, diversas etnias Indígena, os quatro elementos do hip hop e ações de mobilidade multural itinerante com bicicletas, kombis e outros.
Esta edição do evento pode retomar a força desta maratona cultural em diversos cantos da cidade, porque é necessários fazer os dois. Serão cinco CEUs como polos de atividades em cada macro região promovendo o encontro entre artistas de grande visibilidade e grupos locais.
Acontece ainda o projeto "Funk SP" em regiões como a Capela do Socorro, Brasilândia e Vila Prudente. Os teatros e centros culturais Vergueiro, da Juventude e de Cidade Tiradentes também escancaram suas portas, como também a rede do SESC, que participa desde o início.
O fato é que, mais de dez anos após da primeira edição da Virada Cultural, a cidade está bem diferente do que quando começou. Naquele momento não havia uma rede de ônibus vinte e quatro horas, não havia ciclovias, nem a cultura periférica, que sempre existiu, estava tão forte quanto agora.
A Virada é para todos os cidadãos, da periferia e do centro, inclusive para os moradores de rua porque é na casa deles que o evento acontece. Convoco-nos a tratarmos eles com respeito. Uma boa Virada Cultural para todos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário