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terça-feira, 7 de julho de 2015

Como preparar a resistência a um golpe

Professor Thomas de Toledo

Tenho visto pessoas aflitas com a possibilidade de um golpe reacionário ser praticado no Brasil, mas quero ao mesmo tempo dar a esperança de que este golpe não ocorrerá, também alertar para que todos estejam prontos para uma reação imediata caso ocorra uma ruptura institucional.


Primeiro entendamos qual é a estratégia golpista e como ela tem procurado instalar o clima do golpe. Em segundo lugar, compreendamos como agir a fim de não deixar o golpe acontecer e caso aconteça, como revertê-lo. Por fim, que fique claro que não existe nada na história que é dado até que aconteça e mesmo o que acontece pode ser um fator aglutinador de resistência.

As forças interessadas no golpe atualmente são exatamente as mesmas que o fizeram em 1954 e 1964. São os meios comunicações hegemônicos (Globo, Veja, Folha, Estadão, etc), as grandes empresas multinacionais (em especial as petrolíferas concorrentes da Petrobrás), o imperialismo dos Estados Unidos (que não aceita a integração latino-americana e o BRICS) e a direita golpista (fascistas, ultraliberais e fundamentalistas religiosos). Este consórcio perdeu as eleições de 2002, 2006, 2010 e 2014 e está disposto a ir às útlimas consequências com o golpe para barrar o projeto de desenvolvimento autônomo com distribuição de renda que, aos trancos e barrancos, ainda é o que de melhor o cenário político nacional é capaz de oferecer.

A estratégia golpista tem sido experimentada de várias formas. A tentativa de invalidar as eleições, a rejeição das contas do governo pelo TCU ou da campanha de Dilma pelo TSE, alguma delação "premiada" que mesmo virtualmente associe a operação "Lava Jato" ao governo ou qualquer outro tipo de pretexto. Tudo isto está fácil com o Congresso controlado pelo PMDB de Eduardo Cunha e Renan Calheiros, que ainda têm o vice-presidente Michel Temer (os três na linha de sucessão). Muito provavelmente eles tentarão o golpe da mesma forma usada em Honduras ou no Paraguai, via legislativo ou judiciário. Vale lembrar que a mesma embaixadora dos Estados Unidos em Assunção na ocasião da deposição de Lugo, está hoje alocada em Brasília.

Mas um golpe sem apoio de parcelas significativas da população não se sustenta. Por isto vem o bombardeio dos meios de comunicação. Neste fim de semana, estava uma chuva tremenda, a estrada cheia de lama e o ônibus largou todos os passageiros no meio do caminho. Todos ficaram indignados, mas um senhor surpreendeu-me dizendo: "culpa dessa Dilma que essa estrada está deste jeito". Por sorte recordei-o de que quem deveria cumprir este papel era o prefeito e, depois de um certo conflito mental, parece que o senhor aceitou que nem todos os problemas políticos do mundo são culpas do bode expiatório fabricado pela mídia: a presidente e seu partido (Hoje, o bode espiatório chama-se Dilma. Ontem chamou Jango e anteontem seu nome era Getúlio). Este é um típico exemplo da desinformação propagada pela mídia.

E assim funciona a onda da ignorância: espalham por todos os meios que a culpa é de uma pessoa e de um partido. Enquanto só falam deles, todos os outros roubam à vontade, tocam o terror nos poderes legislativos e judiciários, fazem os piores crimes de descaso com a população no nível municipal e estadual, mas sempre nos fazem lembrar que a culpa é do bode expiatório. Os outros partidos, em especial o PSDB e o PMDB, podem roubar à vontade que ficam blindados pela mídia. E é exatamente por isso que interessa a eles o golpe.

Depois das manifestações "contra a corrupção com a camisa da CBF", a direita golpista mostrou sua cara. Mas seu intento de seguir mobilizada fracassou com o discurso do ódio prevalecendo na pauta. No entanto, várias ações fascistas isoladas têm proliferado como agressões a membros do partido da presidente e mesmo ataques à suas sedes. Isto, infelizmente, não tem sido enfrentado por parte do governo, que parece inerte perante tantas agressões. Além de ter uma péssima política de comunicação social, o governo tem agido de forma burocrática com despachos de gabinete sem travar o debate na sociedade, o que dificulta a resistência. Mas mesmo assim, é preciso lutar para que o golpe não ocorra e caso ocorra, ele precisa ser revertido, denunciado seus autores punindo-os devidamente.

É preciso construir uma frente ampla em defesa da democracia com partidos, movimentos sociais e a sociedade civil organizada. Também deve-se avançar na luta antifascista e na formação ideológica das forças populares e democráticas. Este caldo é fundamental para resistir a uma eventual quebra da institucionalidade democrática. Vale lembrar que existem muitos exemplos de contragolpes que foram não apenas bem sucedidos, mas principalmente reverteram as limitações do governo anterior e repactuaram as forças políticas do país num sentido mais progressista.

De fato, é preciso ter claro que este golpe não visa melhorar o país, tampouco salvá-lo de qualquer coisa. Ele simplesmente pretende barrar os avanços sociais da última década que foram importantes, mas pequenos. Porém, foram o suficiente para despertarem o ódio das elites que sempre entregaram nossos recursos naturais ao imperialismo e sempre tiveram por projeto a submissão do Brasil ao grande capital estrangeiro. Ou seja, trata-se de um golpe para mudar tudo, desde que tudo fique como está.

Portanto, transformemos a crise em oportunidade. Ao invés de cairmos num pessimismo ou autoflagelo da esquerda, estejamos com a certeza de que vale a pena lutar e resistir. Não esperemos uma reação do governo. Tomemos as ruas e as redes com palavras de ordens consequentes. Derrotar o fascismo, o golpismo e o entreguismo é dever e honra desta geração. Lutemos de cabeça erguida para que fique registrado nos anais da história não apenas que esta geração não fugiu à luta, mas que ela foi vitoriosa em garantir a democracia.

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